Lado Negro escrita por Srta Cipriano


Capítulo 14
Um quase beijo




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Nathan Miller

Ficamos todos em silêncio por um tempo, Peter olhou para mim e depois para o dono da voz parado, provavelmente, a alguns passos atrás de mim. Porém ainda assim estava relutante, pois ele poderia acabar com nós dois em um piscar de olhos enquanto estivesse segurando aquela arma tão poderosa contra nossa raça. O cachorro latiu e rosnou, mas apenas com um olhar daquele homem ele se aquietou, ouvi alguns passos sobre a brita do chão, e logo senti Jason ao meu lado, que ao invés de me olhar estava com seus olhos repousados sobre a seta estelar, ele parecia fascinado com tal visão.

 – Quem é esse? Aliás, que tipo de anjo ele é? – perguntou Peter, encarando meu amigo.

 – Jason. – Respondi. – Anjo da guarda de férias – na minha mente isso parecia menos bizarro, mas agora era um tanto engraçado falar isso em voz alta.

 – Será que você poderia baixar isso? – pediu Jason. – Não vamos atacá-lo...

 E assim o outro o fez, mas sem baixar a guarda, guardou sua arma e permaneceu com a mãe sob a capa, esclarecendo que qualquer coisa que tentássemos ele estaria pronto para revidar. Estralou os dedos e o animal passou por nós se sentando ao lado do dono, observando-nos.

 – Allyson sabe o que você realmente é? – ergui uma sobrancelha.

 – É claro que não! – respondeu-me como se fosse óbvio. – Não tenho permissão para falar de tudo que ela significa até... – ele parou de falar de repente, não confiava em mim, e porque confiaria? Fui mandado para pegar a garota. – Se não quer machuca-la, mantenha-se longe, é o melhor jeito. Até porque, ainda não acredito em você.

 – Ele está dizendo a verdade – Jason se intrometeu, tendo a atenção voltada para ele. – Nate é um idiota por isso – fazia tempo que não ouvia me chamarem pelo meu apelido. – Se ele fosse mesmo entregá-la já o teria executado, e assim virado um arcanjo novamente, mas como eu disse, o cara é um idiota e inventou de ter pena da loirinha da qual você é guardião e o tempo dele está se esgotando, pode até ter as asas arrancadas por isso e você ainda quer suspeitar dele?!

 Peter o observou percebendo que ele estava sendo sincero, suspirou e passou a mão pelo pescoço olhando para o céu, que parecia perder seu brilho. Seus olhos azuis se voltaram para mim, estreitos, fazendo sua concepção sobre mim, embora quase acreditando em tudo isso, ainda aparentava estar em dúvida. Só que realmente era verdade, Jason estava certo, mesmo parecendo um disparate.

 – Como disse antes: mantenha-se longe dela, já que se preocupa – Peter disse por fim e passou por entre nós, seguido pelo cachorro.

~ || ~

 Quando chegamos ao apartamento, Jason entrou sem falar uma palavra. Fora sempre assim, mesmo ele sendo o mais “fora da casinha” era eu quem entrava em encrencas e ele quem me tirava delas, ou pelo menos fazia o possível para isso, depois ele executava o tratamento do silêncio. Ridículo, não era mais uma criança. Porém ele sabia que aquilo me incomodava mais do que ele se ele me atacasse verbalmente com o que é certo e o que errado, pelo menos conforme As Leis.

 Fui para meu quarto e tirei as roupas ficando apenas de cueca, me deitei pensando em toda essa história e me perguntando no que realmente eu estava metido. Nunca tive muita curiosidade de ir a fundo nesse assunto todo, mas agora estava intrigado, e queria saber o que a linhagem Angnel significava para os dois lados, e onde Allyson se encaixava, mesmo não tendo ideia de todo esse outro lado de sua vida.

 No dia seguinte, acordei pela manhã com o sol batendo em minha face, devia me lembrar de fechar as cortinas da janela da próxima vez. Espreguicei-me, nem sei por que perco tempo dormindo, não preciso disso, é uma falta do que fazer, o que os humanos veem de tão interessante? Bem, talvez seja a melhor maneira de fugir da realidade do dia a dia, sonhando.

 Vesti uma calça jeans preta, uma camisa azul marinho com os primeiros botões abertos e calcei o mesmo par de coturnos da noite anterior. Quando saí do quarto e segui para a sala de estar dei de cara com uma cena um tanto... Inconveniente. Meu querido amigo, cujo estava de metido na minha casa e ainda me ignorando, estava usando meu sofá como uma parte do cenário de uma cena de beijos “quentes” em uma novela mexicana, Jennifer estava com as pernas sobre as dele e suas mãos não sabiam em que lugar parar, ele tinha uma das mãos repousadas sobre a perna dela, e a outra a apertando contra si.

 Fiz uma careta revirando os olhos e então segui para a cozinha, como se já não bastasse essas surpresas, encontrei Ally sentada sobre o balcão de mármore mexendo no seu celular distraidamente. Olhei o horário no relógio de parede, 7h40. Limpei a garganta para chamar sua atenção e ela me olhou com um pequeno sorriso, parecia um pouco constrangida.

 – Não sabia que meu apê havia virado bordel – comentei pegando uma jarra de suco na geladeira e a coloquei na mesa de centro, fui até Allyson já que ela estava bem abaixo do armário que continha os copos, uma de suas pernas ficou entre as minhas, senti sua respiração em meu pescoço quando me inclinei um pouco para pegar o copo, estiquei o braço pegando o objeto e percebi que ela ficou meio paralisada e nervosa, quando a olhei ela mordia o lábio inferior e olhava por sobre meu ombro, provavelmente evitando um contato visual que a constrangesse mais ainda.

 – Ãhn... – ela direcionou o olhar para mim. – Espero não ter se incomoda de eu... sabe, vir aqui sem ser convidada... mas é que... a Jen meio que me arrastou... 

 – Eu estou deixando você nervosa? – indaguei perto de seu ouvido largando aquilo que segurava na bancada e repousando minhas mãos uma de cada lado do seu corpo, ela estremeceu.

 – Cla-claro que não – Allyson se esquivou para trás, mas isso só vez com que nossas bocas ficassem centímetros distantes uma da outra, ela levou suas mãos ao meu peitoral e tentou me empurrar sem força alguma em tal ato, acabou deixando repousadas por ali. Encarei seus lábios rosados, acho que estávamos prestes a nos beijar quando uma voz feminina invade o ambiente.

 – Ally, temos que... – era Jen que parou subitamente de falar e eu me afastei da loirinha. – Desculpa se eu interrompi algo!

 – Não, claro que não, chegou na hora certa – Allyson desceu da bancado indo até a amiga que estava parada no arco da porta me olhando discretamente, dei um meio sorriso.

 – Espero que tenha se sentido em casa – disse ironicamente.

 – Muito!, e foi mal termos aparecido sem sua permissão – ela deu de ombros –, mas Jason me chamou para dar uma passadinha aqui...

 – Tudo bem, não ligo – falei guardando as coisas. – Ele que devia me pedir não você – a olhei e sorri sem mostrar os dentes, quando direcionei minha atenção a Allyson ela tinha as bochechas levemente coradas. – Agora é melhor irem, se não vão se atrasar, inclusive eu – como se eu realmente me importasse com o horário escolar.

 As duas saíram depois de Jen se despedir de Jason na porta do apartamento. E eu antes de deixar o recinto nas mãos do meu – como disse antes – querido amigo, parei em sua frente esperando que dissesse algo, ele me olhou sem expressão. Estava tentando me ignorar ainda. Não acredito que ele vai persistir nisso, esse veado! O mesmo se escorou na parede, demonstrando que podia aguentar aquilo ali até o fim dos tempos, bufei tentando jogar para longe a vontade de dar um soco em sua cara.

 Dei as costas pegando minha mochila no canto e saí batendo a porta atrás de mim. Passei por aqueles corredores nem tão atraentes, as paredes brancas já descascavam e estavam mau limpas em alguns lugares. Desci pelo elevador e peguei minha moto na garagem, o portão já estava aberto e então segui para o colégio. Aquelas duas já deveriam estar quase chegando se já não o fizeram, pois não era muito longe dali.


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