Lado Negro escrita por Srta Cipriano


Capítulo 11
Tudo tão esquisito




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Allyson Angnel

Já era Segunda-Feira, e eu estava a caminho da escola com meu carro. Quando cheguei no portão entrei, e estacionei em uma vaga. Peguei as chaves e minhas mochila, desci trancando o mesmo, e logo avistei do outro lado Jennifer, Jason que a abraçava por trás escorado no carro dela, os dois conversavam com Nathan que estava sentado no capô do carro. Me juntei a eles com um bom dia.

– Adivinha!, adivinha! – Jen exclamou toda sorridente.

– Não dá, deixei minha bola de cristal em casa... – bati com a mão na testa como se realmente tivesse me esquecido daquilo.

– Há-há! Engraçadinha. – Ela mexia nos dedos de Jason enquanto falava comigo. – O aniversário de uma certa pessoinha está chegando... – cantarolou.

– Nem me lembre – revirei os olhos, não gostava de comemorar meu aniversário, mas todo ano, pelo menos uma semana antes, Jen não me deixava esquecer de tal coisa, como agora, que faltavam exatamente seis dias para o dia 17/05.

– Vai dar uma festa? – Nathan perguntou me olhando.

– Se eu for, eu vou de penetra, a não ser que me convide... – Jason sorriu e deu um beijo no rosto de Jennifer.

– Não vou dar festa nenhuma – cruzei os braços me escorando com a cintura no carro.

– Qual é, Ally! – reclamou ela. – Já demos várias festas, qual o problema de dar uma com o tema aniversário?

– Desde que não seja o meu... Não vejo problema nenhum – dei de ombros.

Por sorte o sinal ensurdecedor do Emerald College tocou, Jason se despediu de nós três e se retirou. Entramos então na escola, como alguns outros alunos e seguimos para a aula de Física, cuja eu fazia dupla com Nathan e Jen com uma outra garota. Sentamos nos lugares respectivos e rapidamente a Sra. Hermann adentrou pela sala, após largar algumas pastas e sua bolsa sobre a sua mesa escreveu no quadro branco com a caneta vermelha:Transmissão de calor.

Se virou para todos com seu olhar sério e juntou as mãos atrás das costas, e começou a explicar sobre tal assunto. Enquanto eu prestava atenção no que a mesma explicava, Nathan parecia entediado, mexia em uma caneta qualquer distraidamente, nem se dava ao trabalho de encarar o rosto velhusco da professora, que não parava de disparar suas palavras naquela voz fina. Parei para analisar, ela tinha o cabelo grisalho puxado em um coque, nem se quer tinha um fio fora do lugar, sua pele era clara e tinha pés de galinha nos cantos de ambos os olhos, que eram castanhos como duas amêndoas.

– Nathan – chamou-o, olhando para o garoto ao meu lado, que direcionou sua cabeça com toda calmaria em direção a ela e ergueu uma sobrancelha. – Seria bom se prestasse atenção no que eu estou falando, não acha?

– Na verdade você me dá vontade de dormir... – disse ele despreocupado, e a turma com certeza segurou o riso, eu tentei disfarçar, tinha um pequeno sorriso nos lábios, espero que ela não tenha percebido.

A mulher lançou-lhe um olhar ríspido, os olhos estreitos em sua direção e depois me olhou por uma fração de segundo com certa reprovação, voltou ao assunto de que falava, volta e meia olhava na direção de Nathan, que agora olhava para ela, mas duvido que estivesse realmente prestando atenção.


Após as primeiras aulas passarem, estava na hora do intervalo, eu fui para a biblioteca pois tinha de terminar um trabalho de História que acabei esquecendo de fazer no fim de semana. Chegando lá, estava vazio, nem a bibliotecária se encontrava em sua mesa de costume, afinal quem viria para cá quando podia estar curtindo algumas horas sem estudo? Andei entre as prateleiras de madeira e achei o livro de que precisava, o peguei e fui até uma das várias mesas dispostas no fundo da sala. Peguei meu caderno e comecei a escrever um pequeno resumo sobre O triunfo do liberalismo.

Quando havia terminado, guardei minhas coisas, porém escutei um barulho vindo das últimas prateleiras, como se alguém tivesse deixado alguma coisa cair. Fui até lá para conferir, mas encontrei tudo na mais perfeita ordem, nenhum livro no chão ou algo do gênero, e quando me virei para sair levei um susto, dei de cara com minha professora de teatro. Nada de mais, mas o bastante para fazer meu coração bater fortemente. Qual é, não esperava em dar de cara com alguém, assim do nada.

– Não queria assustar você, me perdoe – desculpou-se Claire, com um sorriso estampado em seus lábios vermelhos de batom.

– Tudo bem, é que escutei um barulho e vim ver o que era – lhe expliquei já mais calma.

– Fui eu, deixei uns livros caírem, mas já os arrumei... – deu de ombros ainda sorrindo e pareceu lembrar de algo. – Você faz aniversário daqui poucos dias, certo?

– É... Daqui uma semana... – forcei um sorriso.

– Tudo bem? – perguntou parecendo preocupada.

– Sei lá, não gosto de comemorar meu aniversário, todos me dando parabéns, só não quem eu realmente queria que estivesse aqui... – simplesmente falei, sem quase pensar e suspirei.

Ela me olhou confusa, aquilo realmente não tinha problema algum aos olhos dos outros, talvez a última parte a tenha deixado assim. Aquilo me fazia lembrar ainda mais dos meus pais, ou melhor, que eu não tinha e nunca tive pais, sabe, para me acordar cedo e desejar um feliz aniversário me encherem de beijos e abraços, comentarem o quanto eu cresci, eu não tenho nem uma família para um grande almoço, ou então só para receber várias ligações de pessoas com o sangue do meu sangue... Avós, tios; tias, primos, nada disso.

Olhei para o rosto de Claire que passou para um olhar compreensivo, como se entendesse pelo menos uma parte do que eu estava sentindo.

– Tem haver com o fato, de você... sabe... ser órfã? – disse hesitante, eu assenti e ela colocou uma mão no meu ombro o apertando levemente, aquilo foi reconfortante. – Você não deve ficar assim, pelo menos está cercada por pessoas que te amam e querem seu bem.

Eu sorri e sussurrei um obrigada, a mesma retribuiu o sorriso. E então o sinal bateu, infelizmente tinha mais duas longas aulas pela frente. Saímos juntas da biblioteca e cada uma foi para seu lado. Entrei na sala e assisti a aula, estava meio distraída, de um tempo para cá tinha mais curiosidade do que antes de saber a sobre meus pais, Peter nunca foi muito de falar deles, eu até entendo, afinal ele também não os conhecia e isso era mais estranho ainda, se não queriam um “estorvo” porque me fizeram? Para dar a um desconhecido? Não que eu reclame do desconhecido que cuida de mim, mas isso tudo é tão esquisito... Parece coisa de filme, isso sim.


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