Jogos Vorazes: O Início escrita por Luís Henrique


Capítulo 1
Capítulo 1: O dia da colheita


Notas iniciais do capítulo

O dia da colheita assombra o dia de Gabe Prior. Algo diz que o garoto terá má sorte.



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O nervosismo não me deixa dormir nesse dia de desespero. Encaro o teto enquanto deito em minha nova cama incrivelmente desconfortável – que na verdade era apenas um colchão de palha -, que também ajuda muito em minha insônia. Penso em todos esses novos acontecimentos. A grande guerra, minha vida nova. Sentirei falta da minha cama antiga, da minha casa antiga, da minha vida antiga.

Hoje será o grande dia em que aquele novo lugar que todos agora chamam de 'Capital' escolherá os dois vitoriosos de nosso distrito. Não entendi muito bem como estes Jogos Vorazes funcionarão. Pelo que eles mostraram em nossa TV, dois jovens de cada distrito serão escolhidos para lutarem em uma arena, para apenas um sobreviver, porém mesmo com a probabilidade de me escolherem para ser um dos jovens ser mínima, não consigo deixar minha paranoia.

"Gabe Prior!", penso na anunciante gritando, exibindo meu nome para todos, mostrando que eu seria o escolhido para morrer entre vários neste jogo cruel. Uma das minhas piores qualidades com certeza era a negatividade.

Como sempre eu era o último a levantar. Tinha apenas 14 anos, então ainda não podia trabalhar - ao contrário dos meus pais e meu irmão, Richard. Ficar sozinho em casa era um tanto entediante, mas isso me deixava também um tanto confortável. Assim eu não tinha minha família me consolando o tempo inteiro, prometendo que eu não iria ir para essa arena.

Eu era o único de minha família que ainda tinha idade para poder ser escolhido para esses jogos. Se não fosse pelo meu irmão ser apenas dois anos mais velho que a idade de escolha, seu nome também iria ir para a colheita. Não que eu quisesse que isso acontecesse.

Meu distrito: o 11. Ainda iria faltar mais dois para serem escolhidos depois do meu. Ainda estava tentando entender as novas leis e esses nossos distritos onde morávamos. Após a grande terceira guerra, a América do Norte se tornou Panem. Tudo foi substituído, vários estados se juntaram e se transformaram em distritos. O governo nos dividiu em apenas 13 distritos, e cada um tinha um tipo de trabalho, e no meu distrito a principal especialização era a agricultura.

O porquê disso? Porque há dois anos o pior aconteceu. Muitas pessoas ficaram paranoicas com a questão da água e comida estarem acabando. Vários desastres naturais começaram a ocorrer naqueles meses: terremotos, tsunamis... Suprimentos eram desperdiçados com essas questões, e também teve o grande problema da hiper população. Pessoas começaram a criar exércitos, e em alguns dias às guerras começaram. Estados contra estados, pessoas contra pessoas. Em pouco tempo o lar de todos - a grande América do Norte foi inteiramente destruída.

O governo não podia deixar que o caos continuasse a acontecer, então criou medidas. Seduziu a população com uma ótima proposta: Criar 13 distritos para todos morarem, e outra cidade chamada Capital para os políticos viverem. O povo achou a ideia ótima, e todos concordaram.

Porém o que não sabíamos: Essa Capital iria nos controlar. Demoliram todas as casas e criaram novas, menores e em menores condições. Separaram uma função para cada distrito, porém um dos distritos não gostou muito da ideia: O distrito 13.

O 13 organizou todos os distritos para uma grande rebelião, então todos foram a luta. Porém perderam. A capital era mais forte, e aniquilou o distrito 13, destruiu tudo que havia lá. Assassinaram cada homem, mulher e criança de lá, apenas porque o distrito pedia a liberdade - o que ele já devia ter por direito. A forma de punição contra nós: os Jogos Vorazes.

E agora, nesse mês de maio do ano 2021, ocorrerá a primeira edição destes dos jogos.

O povo dos distritos era a maioria, claro. Porém não fizemos nada contra isso. A capital tinha as armas, e nós apenas a força de vontade. Contra armas de fogo, nossa vontade não era nada.

– Olá meu irmão – Disse Brandon quando chegava.

Ele era um tanto parecido comigo, tirando o fato de ser bem mais alto e atlético. Tinha pele negra, cabelos pretos e curtos. Usava o uniforme azul que os trabalhadores da colheita de arroz costumavam usar.

– Olá Brandon. Onde está o pai e a mãe?

– Foram direto para o pátio da prefeitura. Vamos nos encontrar com eles durante a colheita.

– Tudo bem. E então, sobre a rebelião... Como está o assunto?

– Essa ideia acabou meu irmão. Não vai haver mais nada.

– Como assim acabou? Não pode! O que aconteceu?

– Aconteceu que os restos dos distritos acharam a ideia do 2 insana. E não temos como derrotar a Capital sem a ajuda de todos.

– Mas o 2 tem as armas, existem vários pacificadores lá! Conseguiríamos vencer a Capital com elas. A gente não pode desistir assim.

– Nós já desistimos tudo bem? Eu não queria isso, mas é isso. A maior parte das armas do 2 está com a Capital, então seria fácil pra ela nos aniquilar. O 11 também queria lutar, mas sem ajuda dos outros... Não temos chances, Gabe. Veja o que aconteceu com o 13.

Assenti com a cabeça. Não podia fazer nada sozinho. O 13 antes tinha mais armas que o 2, e mesmo assim perdeu. Eu entendia meu irmão.

– Tudo bem então. – Disse apenas isso.

– Não vai dar tempo de eu trocar de roupa, então vou assim. Vamos sair agora.

Saímos rapidamente de casa. A tarde estava clara, e eu observava as várias casas iguais da rua. Modestas e pequenas, mas um espaço suficiente para uma família morar.

Finalmente chegamos à praça da prefeitura, onde já estavam boa parte das pessoas em grandes filas. Antes de ir junto com os outros garotos, tive que fazer umas coisas: Um tipo de exame de sangue, não entendi bem.

Avistei meu pai e minha mãe, eles me abanaram e fiz o gesto de volta, e fui em direção à fila dos meninos.

– E aí Gabe – Disse Augustus, meu melhor amigo, quando cheguei.

– E aí Gus – Era um apelido dele.

Observamos uma movimentação do palco da frente: Uma mulher estava junto ao prefeito Jordan, conversando. Ele era alto negro e usava um terno elegante, e ela era um tanto estranha: Seus cabelos azulados caiam até os ombros, usava um vestido verde vibrante que ia até o chão – chegando a arrastar – e sapatos do tipo de elfos do papai Noel.

– Você está sabendo sobre essa mulher? – Perguntou Gus, referindo-se a mulher que conversava com o prefeito.

– Não. O que tem ela?

– Ela recebeu o castigo da Capital. Ela tentou organizar uma rebelião lá, mas como seu tio é um dos maiores políticos de lá, ele não deixou que a matassem.

– Mas se ela ainda continua morando lá, qual é o castigo?

– Ela vai ter que escolher quem vai pra arena até morrer. E depois, sua família toda também. Pobre Faye Trinket.

– Como assim? Eu não entendi.

– Por exemplo: Se ela tiver uma filha, depois que ela morrer, essa filha terá que escolher os tributos. Depois a filha da filha, e assim por diante. Sua família inteira.

Eu sabia que a Capital era cruel, mas não sabia que ela fizesse esse tipo de joguinho também – fazer a pessoa sofrer psicologicamente aos poucos. Imagino como deve ser ter que sempre escolher quem irá morrer nos jogos. Terrível.

– Silêncio, por favor! – Pediu o prefeito Jordan a todos – Agora nós mostraremos um vídeo que mostra o porquê dos Jogos Vorazes, e então a senhora Trinket ao meu lado anunciará quem representará o nosso distrito.

Quem morrerá pelo nosso distrito, isso sim.

Um vídeo ridículo iniciou, mostrando a guerra e a destruição que ela causou. Mostrou como a Capital nos manipulou, e como os adolescentes e crianças morreriam nos Jogos Vorazes. Após ele acabou, Faye Trinket se pronunciou.

– As damas primeiro. – Disse a mulher enquanto enfiava sua mão no grande globo de vidro. Rapidamente segurou um papel nas mãos, o abriu e gritou o nome da infelizmente azarada – Claudia Way!

Todos ficaram em total silêncio, e consegui até ouvir os passos da menina sorteada. Enquanto caminhava até o grande palco, consegui reconhecê-la: Era de minha escola, porém não estudava comigo, tinha 16 anos. Assim como a maioria das pessoas de nosso distrito tinha a pele negra, seus cabelos pretos não eram muito compridos.

– E agora, os cavalheiros! – Falou Faye quando Claudia finalmente chegou ao palco. Parecia perplexa – Gabriel Lino Prior!

Ela havia me chamado, não conseguia acreditar nisso. Fiquei perplexo, assim como Claudia. Meu corpo inteiro tremia, olhei para os lados e todos os garotos me encaravam. Gus tinha os olhos arregalados, ainda não acreditando no que acabara de acontecer.

Fechei meus olhos e meus pés começaram a caminhar no automático. Ouvi gritos: “Meu filho não!” pedia minha mãe, “Não, Gabe!” berrou Brandon. Pensei em fugir, mas haviam guardas da Capital em todos os lugares – me matariam sem dó se eu tentasse algo.

Sentia vários olhos sobre mim enquanto caminhava para o palco. Finalmente cheguei, encarei a multidão que já levantava três dedos da mão direita – um sinal que havia sido criado no distrito 12 que eu nunca havia entendido muito bem, provavelmente ele mostrava um tipo de sentimento boa sorte. Ou luto.

– E então Gabriel, oque você sente sabendo que representará seu distrito indo para a arena? – Perguntou Faye. Algo me dizia que ela já sabia o que eu iria responder.

– O que eu sinto senhora? Eu sinto que vou morrer. – Respondi.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo.