Seus dedos se arrastaram pela madeira repleta de rachaduras,ora fazendo movimentos circulares, ora retornando e seguindo as linhas errôneas das pequenas fendas do balcão.

Tentava conter a ansiedade, mas as memórias do dia anterior sondavam sua mente, como um predador à espreita. Por mais que não desejasse a ajuda da petiz em seu conto de amor já repleto de complicação, não enxergava outra maneira de alcançar aquilo que tanto aspirava.

Orbes tão azuis quanto as profundezas fitaram o copo há pouco posto a sua frente. Juvia arqueou a sobrancelha e ergueu a cabeça para buscar o executor da aparente gentileza.

A seu lado a cartomante enviou-lhe uma breve piscadela, com o mesmo sorriso devasso que normalmente exibia. Ela apontou para o copo com o indicador, um olhar cúmplice remarcando o incentivo.

— Uh... A Juvia... — tentou recusar deslizando o copo para longe de si, mas a morena foi rápida em empurrá-lo de volta.

— Beba. — ela disse simplesmente, avaliando a quantidade restante no barril que segurava — Vai fazer bem. — encorajou-a novamente, agitando levemente o barril, como se fosse uma taça, e sinalizando para que fizesse o mesmo com o copo, que se uniu brevemente à madeira num brinde — apesar de não haver motivo real para o ato.

Ergueu o copo de vidro e, num ato de coragem, engoliu-o de uma única vez. Sentiu a bebida escovando-lhe a língua com ardência, para depois fazer o caminho por sua garganta enquanto a sensação de queimação a preenchia.

— Bom, não é?!

A maga assentiu, não se atrevendo a permitir a entrada de ar em sua boca, temendo que o mínimo contato contribuísse para a tortura que tentava mascarar.

— Tome, beba outro! — Cana postou outro copo em frente à ela.

A menina balançou a cabeça negativamente, movendo inquietamente os braços na mais clara recusa.

—Está queimando, não está? — a amiga perguntou, esboçando um sorriso insolente e apontando com o queixo o recipiente com mais do veneno que ela temia queimar suas entranhas.

Juvia assentiu veementemente, esperando receber a solução para seu problema.

— Se beber mais, a queimação vai passar. — alegou Cana, tomando outro longo gole do que deveria ser o quinto barril do dia.

Num ímpeto do desespero, ela agarrou o vidro e despejou a bebida em sua boca. O álcool teve um efeito terrível sob si. Sentia-se tonta, estava à beira de um colapso que claramente não chegaria; sua sobriedade, quase inexistente, logo passaria a refletir as mais profundas crenças da mente vertiginosa.

E a prova disso se deu quando um par de calças voou na direção dela, acertando o vidro em suas mãos e impedindo-a de se intoxicar ainda mais.

O dono do traje se apressou em recuperar o item, mas quando o tecido o exibiu as feições pálidas e embriagadas da mulher, instintivamente ele recuou.

— Gray-sama...