Trovão Do Leste escrita por T I Wright


Capítulo 10
Líf un Lífar


Notas iniciais do capítulo

Título do cap: Vida e Vidas

Desculpem mais uma vez pela demora para postar. Mas aqui estão eles, ainda que um pouco atrasados.
Eles quem? Bom... Leia para descobrir...

Boa leitura!

P.S.: esse cap é um pouco mais... humm, sentimental? Bom, é por aí. Veremos depois...



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Dor.

Foi tudo o que sentiu naquele momento.

Ela embaçou os cantos de sua visão e retorceu sua mente como um pano molhado, espremendo toda e qualquer gota de razão para fora de si, restando somente um sentido primitivo de sobrevivência alerta: escapar.

Mas não, havia outra coisa...

Dor!

Ela nublou sua mente novamente, ameaçando roubar-lhe a consciência –

...Mais importante do que ela mesma...

O que era?

***

Murtagh sentiu tudo isso de uma só vez.

Nenhuma de suas proteções havia sido ativada. Não era um ataque a nenhuma das pessoas que ele mantinha protegidas. Mas a dor, dor, fora tão intensa, tão próxima...

Ele se sobressaltou, percebendo o que estava acontecendo naquele instante, ao sul, na cidade de Illiera, no castelo da cidadela... No quarto de Nasuada.

Thorn!, ele gritou com sua mente, Ela está em perigo! O dragão vermelho entendeu a situação e mirou seu voo para o sul, batendo suas asas num frenesi rubro.

Não mais que alguns minutos depois a dor veio de novo. Ela atordoou o Cavaleiro novamente, seus efeitos passando para Thorn, que batia as asas mais rápido ainda.

O Cavaleiro, desesperado para chegar logo a se destino, lançou mão das reservas de energia de seu corpo e lançou um feitiço sem palavras, mas que continha tanta urgência que o efeito foi imediato: Cavaleiro e dragão foram arremessados para frente pelo vento, quase triplicando a velocidade de ambos.

Em menos de meia hora, os muros da cidade estavam visíveis no horizonte.

O castelo possuía um pátio logo abaixo do quarto mais ao Leste, que se projetava em uma sacada esculpida, com portas corrediças.

Era de lá que os gritos de dor vinham.

Thorn pousou no pátio, a repentina parada atordoando a ambos.

Antes mesmo que pudesse se livrar das fivelas que prendiam suas pernas no lugar, o capitão da guarda do castelo, Jörmundur, entrou correndo no pátio, seu rosto tencionado e sua espada semidesembainhada. Qualquer coisa que Murtagh pretendia dizer foi cortada quando Jörmundur se pronunciou:

– Você soube?

– Soube do quê? O que está acontecendo? Estamos sob ataque?

Jörmundur balançou a cabeça, murmurando desgostosamente para si mesmo:

– Ele mal sabe o que fez...

– O que houve, afinal? Eu...

A dor voltou, e com ela, um grito da janela metros acima. Ambos olharam para cima.

– Quer ser útil para seu sangue? Venha comigo! - e saiu correndo novamente pelas portas do pátio.

Murtagh o seguiu, agarrando o punho de sua espada com força. Meu sangue?...

Jörmundur o guiou por uma miríade de escadas e corredores que ele conhecia muito bem - até demais -, até chegar a um corredor forrado com tapeçarias altas nas paredes, interrompidas apenas por portas duplas e altas, entreaberta: o quarto de Nasuada.

Ele conhecia aquele quarto, aquelas portas. Havia passado por elas uma vez... Nove meses atrás.

Tudo veio com um estalo em sua mente.

Oh, não.

Isso não.

Agora não.

Mais um grito.

– Há quanto tempo?... - perguntou ele, as palavras difíceis de sair pelo nó de apreensão em sua garganta.

– Há uma hora - o homem retrucou ríspido.

– Há algo que eu possa...

– Trianna está lá dentro. Ela faz o que pode, mas não tem muita habilidade nesse tipo de magia. Nesse caso, tudo o que ela precisa é de tempo... E se manter acordada.

Murtagh não esperaria para ver o que aconteceria se Nasuada apagasse.

Ele atravessou a passos largos a extensão do corredor - ignorando os protestos de Jörmundur - e entreabriu uma porta, se esgueirando para dentro como uma sombra.

O nó de medo no pescoço se apertou com desespero.

Nasuada estava deitada em sua cama, a cabeça sobre meia dúzia de travesseiros ensopados de suor, seu rosto retorcido de dor. Em volta da cama, três mulheres se postavam para ajudar a rainha: uma mulher baixinha que aparentava ter cinquenta anos de idade estava do lado de Nasuada, sua mão sendo esmagada pelo aperto da mulher mais jovem; uma mulher alta e bonita do outro lado da cama tinha as mãos estendidas sobre a barriga inchada de Nasuada, enquanto murmurava encantamentos na língua antiga para amenizar a dor do processo. Uma última mulher estava em pé ao lado de Trianna, passando um pano molhado na testa ardente da Rainha.

Ninguém pareceu perceber sua presença no recinto, mas o olhar de Nasuada...

Como quando ele a torturara nas masmorras daquele mesmo castelo.

Ele não pode suportar.

Andou até a porta do quarto, sua mão tremia quando ele a esticou para tocar a maçaneta, mas foi detido por dedos finos e gelados que agarraram seu pulso. Ele olhou para cima.

Trianna o encarava com um misto de determinação e desespero.

– Não tenho as habilidades necessárias para ajudá-la. Preciso de ajuda.

– Também não possuo conhecimento sobre esse assunto. Sinto-me tão impotente como você - respondeu, a voz fria com a verdade.

Ele se livrou da mão da feiticeira e empurrou a porta para sair, mas ela disse em tom urgente:

– Pelo menos me dê um pouco de sua energia para ajudá-la - implorou.

Ele hesitou. A perspectiva de abrir sua mente para qualquer um que não fosse Thorn era repudiada pelo Cavaleiro, especialmente pela natureza auto centralizada da feiticeira. Mas Nasuada precisava de sua ajuda e ele não mediria esforços para atender às suas necessidades.

Murtagh assentiu lentamente e saiu.

A próxima hora passou lenta e dolorosa para os dois homens no corredor. Murtagh se sentou no corredor próximo da porta, conectado apenas por um fio de pensamento com Trianna para poder passar a ela um fluxo constante de energia.

Jörmundur não conseguia ficar parado por um segundo. Ele andava por toda a extensão do corredor, dava meia-volta e andava até a porta, levava a mão até quase encostar-se à maçaneta, hesitava e então recomeçava tudo de novo.

Entre os gritos sufocados que vinham do quarto e o silêncio sinistro que os seguia, Murtagh não conseguia desviar sua mente de uma única frase que se repetia continuamente em sua cabeça.

Você fez isso.

As palavras faziam tantas voltas em sua mente quanto Jörmundur fazia no corredor, explorando todas as facetas de seu ser, se embrenhando em lugares que ele nunca pensou que esse tipo de pensamento jamais fosse penetrar e questionando de que formas isso afetaria sua vida.

Mais uma vez um urro de dor cruzou o corredor.

Você fez isso.

Murtagh não sabia se essa frase era uma acusação ou um elogio. No fundo de sua mente ele ouviu Thorn comentando que provavelmente nenhum dos dois, mas também poderia ser uma mistura de ambos.

Na verdade, nenhum dos dois sabia.

O Cavaleiro começou a sentir suas mãos frias e soube que se continuasse assim, sua energia iria falhar e não seria de ajuda alguma.

Você fez isso.

Ele já não podia aguentar. Cada grito dela parecia uma faca em seus ouvidos e um punhal em seu coração.

Recorrendo às reservas de energia de seu dragão, Murtagh se reabasteceu e tocou de leve a mente de Nasuada, mandando uma onda maior ainda de forças diretamente para ela.

Um grito rasgou o silêncio do corredor de pedra.

Silêncio.

Um choro agudo substituiu a tensão no ar.

Murtagh suspirou de alívio e se levantou, ao mesmo tempo em que Jörmundur, que até então se mantivera parado como uma estátua na ponta do corredor, dirigia-se meio trêmulo para a porta.

Seu coração batia forte quando ele estendeu a mão para a porta.

Mas outro grito rompeu o ar.

E mais uma vez o choro infantil soou.

Os homens se detiveram na porta. Murtagh olhou para Jörmundur, que olhou para o Cavaleiro, que empurrou a maçaneta. Eles entraram no quarto.

Inicialmente, Murtagh achou que algo havia acontecido ao bebê e ele havia chorado novamente, mas ao adentrar o recinto e encontrar a pequena mulher segurando dois embrulhos pequenos em seus braços, a realidade o atingiu como o tapa que havia levado de Nasuada quando se encontraram naquele mesmo quarto a quase um ano atrás.

Ele bem que merecia aquele tapa novamente.

Ele olhou para a cama e viu sua Rainha deitada e exausta. A mulher se aproximou dela e entregou para ela os pequenos pacotinhos vivos, um de cada vez e um em cada braço.

A alegria que tingiu o rosto de Nasuada naquele momento foi tanta e tão intensa que transbordou pelos olhos dela, caindo por suas bochechas.

Sua alegria foi tanta que, por um momento, o Cavaleiro mais temido da Alagaësia, aquele que serviu ao rei tirano Galbatorix e matou o rei anão Hrothgar, tinha lágrimas de mais pura felicidade cintilando em seus olhos.

Então ela levantou o olhar de seus filhos e encontrou um par de olhos azuis claro observando a cena.

O Cavaleiro se aproximou da cama onde toda sua existência se resumia em apenas três vidas frágeis e delicadas.

Nasuada sorriu para ele, que sorriu para ela, que estendeu para ele seu braço esquerdo, contendo o pequeno ser que de alguma forma era uma parte de si mesmo.

Ele hesitou. Olhou para suas palmas sujas de lama e seu olhar vagou para o punho de Zar'roc.

– Minhas mãos estão sujas.

Nasuada deu de ombros.

– As minhas também.

Murtagh se sentiu por um momento grande e desajeitado, como se aquela tarefa simples como segurar um bebê fosse delicada demais para suas mãos calejadas.

Ele ajeitou o bebê em seus braços e olhou para ele.

Ele? Murtagh tocou a mente vaga e indefesa do pequeno e sentiu...

– É uma menina! - disse, como se fosse a maior descoberta que havia feito na vida.

Por um momento ele entendeu o que havia feito.

Você fez isso.

E seu orgulho parecia que iria sufocá-lo.

Meio sem jeito, Murtagh engoliu em seco perguntou:

– São dois? - e riu de si mesmo.

– São sim - Nasuada respondeu.

E passou o outro bebê para que ele pudesse ver.

– É um menino! - foi a outra descoberta de sua vida.

Ela riu dele e ele riu de si mesmo. Porém uma sombra cruzou seu rosto e Murtagh levantou o olhar para a Rainha.

– Me desculpe. Eu não sabia... - ele gaguejou - Se eu soubesse eu poderia ter dado um jeito...

– Dar um jeito? – ela indagou, meio distante - Não... Nada poderia ter me trazido mais alegria - ela respondeu.

– Mas eu peço desculpas mesmo assim - ele insistiu.

– Por quê? – ela questionou, a mente distante e os olhos voltados para seus filhos.

– Por não ter ficado.

Seus olhos se ergueram de súbito e entristeceram por um instante, mas o brilho logo voltou a seu rosto cansado.

– Você não podia. Deixe estar...

Ela suspirou e

Paz.

Maior do que Murtagh poderia imaginar existir. Seu coração estava cheio dela. Por um momento todo o mundo pareceu leve e livre. E feliz.

Uma mente grande e poderosa se aproximou de todos eles. Ouviu-se um barulho de pedras se quebrando e um nariz vermelho enorme apareceu na sacada do quarto.

Dois pequeninos!, Thorn exclamou. Pequeninos do pequenino... Que contraditório...

– De fato, ó dragão - riu Nasuada.

A garotinha em seus braços se remexeu e estendeu um punho fechado para Thorn, o que muito divertiu o dragão.

Um dia, disse o dragão para Murtagh, você tem que levá-los para um passeio comigo. Aposto que vão adorar minhas acrobacias.

– Acho que não tão cedo - comentou a rainha.

– É, não tão cedo.

Então um pensamento saltou por cima de toda a emoção do momento, aterrissando pesadamente no coração do Cavaleiro.

– Eu não posso ficar.

Ela assentiu levemente.

– É verdade; o povo ainda te vê com maus olhos, apesar de sua participação na derrota do rei.

– Mas eu posso vir visitá-los, certo?

Ela hesitou.

– Não vejo nada que o impeça. Mas não vamos pensar nisso agora. Temos muito tempo ainda para esses assuntos.

Ele assentiu.

Olhou para os pequenos e indefesos seres que agora faziam parte de sua vida, e concluiu que nem mesmo a morte os tiraria dele.


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Notas finais do capítulo

Então, digam-me: muito meloso? Concordam com a atitude de Nasuada ao deixar que Murtagh visite os pequenos? E a ideia de Thorn de levá-los para um passeio? - Ok, não respondam a isso. Deixem um review para que eu saiba como melhorar o próximo cap. Sugestões também são bem-vindas!

Enfim, espero que tenham gostado. Vejo vocês no próximo cap!

Edit: Hey, gente! Preciso da ajuda de vocês!!
Como chegaram até aqui em baixo, estão cientes de dois novos e pequenos personagens na história. Bem, temos um problema: Mini-Murtagh não tem nome!
Pois é! Minha criatividade não se estendeu ao filho do personagem mais sinistro e lindo de todo o Ciclo. O caso é: queria pedir a vocês, fãs da Herança, que me ajudassem com o nome do pequeno. Queria a opinião de outros pontos de vista e de leitores que conheçam Murtagh e Nasuada melhor que eu.
Se por acaso relerem esse cap e virem a nova mensagem AQUI, mandem-me um comentário no próximo cap com suas sugestões. Agradeço desde já!

Da autora abusada,

— T. I. Wright



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