-Você o que? – A sua voz embargava. Ele não acreditava no que tinha acabado de ouvir.

-Desculpa! Eu não tive culpa! Ele piorou Austin, e foi transferido para um outro hospital, lá em Washington. E é onde toda a minha família paterna mora. Eu não tenho opção.

-Ally, você não pode ir embora assim! E nós? Nossa amizade? – Uma lágrima escorreu por sua face, ao tempo em que várias já escorria pela da garota.

-Eu vou nesta madrugada.

-Mas já? E por que só veio me contar agora?

-Eu só soube hoje!

-Não, isso não pode estar acontecendo! – O garoto surtava internamente. Não conseguia se imaginar longe dela. Longe de suas broncas, de suas “nerdices”, de sua doçura. Longe da sua amizade. Ou até do “talvez amor” que sentia por sua pequena. Eles eram tipo unha e carne, se conhecem desde sempre, apesar de que sete anos, não é considerado um “sempre”.

Austin levantou suas mãos para o ar e depois as pousou no cabelo loiro, bagunçando-os.

-Eu ainda vou te ver? – Ele perguntou simplesmente, depois que um enorme silêncio se estabeleceu entre eles. Ela não lhe respondeu, apenas o abraçou forte. Separaram-se depois do que pareceu uma eternidade. Seus olhos fixaram-se, e ela tirou um envelope da mochila a qual carregava. Entregou em suas mãos, e depois tocou em seu rosto, depositando um beijo leve em sua bochecha.

-Adeus.– Ela disse e saiu caminhando. Ele a seguiu com os olhos, vendo-a desaparecer ao virar a esquina. Eles estavam numa praça bastante movimentada, mas que naquele momento estava deserta. Só tinha o garoto ali, desolado, procurando uma forma de conseguir entender toda aquela situação.

-Vejo você em breve... - Murmurou as palavras, com esperança de que elas um dia fossem se tornar realidade. Guardou o envelope no bolso de sua calça, ainda o fardamento escolar, e saiu também daquela praça.

Milhões de pensamentos enchiam a sua cabeça. O problema era assim tão grave? Ele não entendia praticamente nada da doença do pai da garota, mas ele não queria que ela se mudasse. Eles prometeram serem amigos para todo o sempre, e agora? O que acontece?

Pegou um atalho para sua casa, o mais longo que conseguiu, chegando em casa já a noite, o que fez com que a sua mãe o enchesse de perguntas. Ele apenas disse que ficou um tempo na biblioteca da escola e se atrasou. A mãe não engoliu a história, mas sabia que o filho não estava nada bem. Ela havia recebido a notícia da mudança também, e que não seria fácil para o Austin compreender.

O garoto subiu as escadas de sua casa, se trancando no seu quarto e pairando na beira da cama. A sua casa ficava ao lado da casa de sua amiga, que agora não moraria mais lá. Olhou pela janela, vendo o quarto da garota. As luzes estavam desligadas, e se via algumas caixas empilhadas. Daquele ângulo, ele podia ver, o quadro de fotos dela que tinha o formato de um coração. Tinham mais de cem fotos pregadas, dele, dela, dos dois juntos, de vários momentos da vida dos dois. Mas elas não estavam mais lá. Jogou seu corpo contra a cama e soltou um longo suspiro.

 -x-

-Ei, ei, Ally, não fica assim! - A sua mãe a consolava enquanto as duas caminhavam para o carro. A menina derramava uma lágrima depois da outra. Ela não queria partir de Miami, deixar toda a sua vida aqui.

-Mãe, mas e o Austin? Sabe o quão difícil foi para eu lhe contar que eu iria me mudar?

-Eu sei. Mas nós não temos escolha! Eu não vou esconder de você o estado de seu pai, ele não está nada bem Ally, e esse foi também, um pedido dele. Os seus avós, seus tios e primos, estão tudo lá em Washington! - Penny pôs sua filha no banco traseiro do carro, colocando o cinto. Limpou as lágrimas da garotinha e depositou um beijo em sua testa. -Voltaremos em breve. Pode confiar em mim... - A menina assentiu. A mãe entrou no carro, dando partida em seguida. O caminhão de mudanças já havia partido há algum tempo, e elas estavam indo direto para o aeroporto. Enquanto o loirinho observava toda a cena da janela de seu quarto. Viu o carro se distanciar mais e mais, até que desviou seu olhar para o envelope, que repousava em sua mesinha de cabeceira. Andou até lá e pegou-o. Leu uma curta mensagem que estava escrita na frente.

Então você perdeu sua confiança?

E você nunca deveria ter a perdido, nunca deveria ter perdido.

 Ele não entendeu primeiramente o que a Ally queria lhe dizer, ao escrever essa mensagem. Só, deu de ombros e viu o que tinha dentro. Primeiro tirou uma folha de caderno. Desdobrou-a e observou as letras curvadas, a famosa fonte da Ally. O título dizia "Been Here All Along". Era uma música. Ally era o tipo de garota, na qual possuía apenas nove anos, e que já era apaixonada por música. Ela amava compor músicas, criar as letras e isso era o que mais intrigava o garoto loiro, ele não conseguia entender a facilidade da amiga em escrever letras de músicas, por mais boba que seja às vezes. Ele leu algumas linhas e dobrou novamente a folha. Vasculhou novamente o envelope, retirando uma foto. Era ela, a Ally. Ela devia ter uns cinco anos naquela foto, ele virou-a e viu uma coisa escrita.

"Promete que não vai me esquecer?"

Ele olhou da folha de caderno dobrada, para a foto dela, depois para janela, onde mostrava novamente o quarto da menina, completamente vazio. Repousou as coisas em sua cabeceira, e apagou a luz do abajur, deixando o breu se estender pelo quarto. Se endireitou para dormir, olhando antes o relógio ao seu lado. Eram três horas da manhã, e ele não estava com um pingo de sono.

Fechou os olhos com força, tentando esquecer o que estava passando, e poder adormecer. Mas, por um momento lembrou-se dos momentos que eles passaram juntos, principalmente o primeiro beijo dos dois. Vindo a sua mente novamente a frase escrita no verso da foto.

"Promete que não vai me esquecer?"

-Nunca! - Murmurou para si mesmo, sendo finalmente dominado, pelo sono que o invadia.

Mas havia uma coisa importante. Estava claro o que aquela pequena mensagem dizia. Ele só não conseguiu entender, e com isso, perdeu totalmente a confiança. Nele, nela, no mundo.