Pov' Clarisse La Rue

Antes mesmo que eu abra meus olhos, eu percebo que não estou onde deveria, o cheiro é forte demais para que eu ignore. Já estive aqui uma outra vez alguns dias atrás.

Minha cabeça está explodindo em dor e a luz do sol que bate na minha cara só a faz piorar. Abro os meus olhos e encontro Percy dormindo ao meu lado e toda a memória da noite anterior me vem a mente, eu o beijando, eu dizendo que sempre gostei dele. E ainda por cima não consigo me lembrar o que fiz antes de dormir: será possível que eu transei com Percy e sequer me lembro?

Me levanto devagar e sem fazer barulho, não quero acordar o filho de Poseidon, estou envergonhada demais para lidar com ele. Vou direto para o banheiro, onde levo um susto ao me olhar no espelho apesar de não ligar muito para vaidade, confesso que me ver com tantas olheiras e pálida desse jeito não me deixam feliz. Por mais que seja pouco, agora eu me importo com isso, não quero que Percy me veja desse jeito.

Tomo um banho rápido e visto a mesma roupa, sem pestanejar eu saio, esperando que Percy não esteja acordado.

— Então, é verdade? - Fala Thalia, a filha de Zeus, quando me vê sair do banheiro.

— O que ela está fazendo aqui?- Pergunto, olhando para Percy que aparentemente está perdido demais para me dar uma resposta.

— Acho que a pergunta é o que você está fazendo aqui?- Diz a filha de Zeus rudemente.

— Thalia, por favor! Nós não temos nada a ver com a vida do Percy...- Diz Grover, o sátiro amigo deles. O que me pega de surpresa, não o havia visto até agora.

— Claro que temos. Annabeth é nossa amiga, e olha o que ele fez? A traiu com Clarisse, Grover! Isso é mais do que um golpe baixo.

— Eu pisei na bola, sei disso. Não queria magoar Annabeth, só aconteceu.

— Só aconteceu? É por isso que nós caçadoras odiamos garotos. Vocês e suas desculpas esfarrapadas.- Thalia sai, batendo a porta com força deixando nós três no chalé.

— Desculpe, Clarisse, você não precisava ouvir isso. - diz Grover.

— Tudo bem, não é nada diferente do que já escutei. Posso saber o que estão fazendo aqui, no Acampamento eu digo? Até onde eu sabia você estava atrás de novos meios sangues e ela com as caçadoras.

— Thalia está de volta pelo conselho, o representante de cada chalé deve votar e ela como única integrante da de Zeus teve que ser convocada.

— Que bom, né! Nada como ter mais um chalé me odiando.

— Odeia a nós dois!- Percy me disse rindo.

— E você porque está aqui? Os sátiros também votam por um acaso?

—Não exatamente, no conselho é exigido que alguém faça um depoimento a favor do réu e Quíron me convidou.

— Posso saber quem vai falar por mim?

— Não devo contar. Ordens de Quíron.- Fala o sátiro sério.

— Ela tem o direito de saber, Grover.

— Eu já sei, Quíron chamou Cisseus, não foi?- Digo raivosa.

— Eu não disse nada.- Diz Grover, em modo de defesa ele provavelmente vai se meter em encrenca por isso.

— Quíron vai se ver comigo.- Saio desesperada, Cisseus não pode testemunhar, ele é o único que sabe de tudo. Ele é o meu sátiro, aquele que me salvou dos maus tratos da minha própria mãe.

— O que você pensa que está fazendo colocando Cisseus para depor por mim?- Digo enquanto entro na Casa Grande, a situação é grave demais para eu perder tempo batendo em portas.

— Ele é sua melhor chance, Clarisse!

— Você não tem esse direito, Quíron! Essa é minha vida, não sua!

— Só estava tentando te ajudar...

— Para de tentar me ajudar... Você só está piorando tudo.

— Você precisa de alguém que deponha à seu favor e quem melhor que Cisseus?- Fala o centauro num tom de voz óbvio.

— Eu posso defendê-la, Quiron!- Diz Percy, atrás de mim, olho pra trás surpresa, não sabia que ele estava ali.

— Não, não pode. Ninguém levaria você a sério, é um réu também.

— Eu não preciso que ninguém me defenda.

— Você não está entendendo. Todo réu tem que ter uma testemunha de defesa. Você tem que escolher Percy ou Cisseus?

— Percy. - É melhor acabar expulsa, do que fazer com que todos soubessem de onde eu vim.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Então, não há nada que eu possa fazer, mas saibam que estão cometendo um erro. Cisseus era o melhor pra você e era nisso que eu estava pensando.

...

Nós dois saímos da Casa Grande e seguimos andando um bom pedaço sem nada dizer, eu não olho na direção dele, mas sei que o moreno ainda está ali, me observando pelo canto dos olhos.

— Você deve estar imaginando porque eu agi daquele jeito.- Falo quando tenho coragem de abrir a boca. Não quero contar tudo a ele, mas sinto que talvez seja preciso.

— Estou, mas isso não quer dizer que precise falar. Todo mundo tem seus segredos.

— E qual é o seu segredo, Jackson?- Digo com um sorriso no rosto, contarei tudo a ele quando estiver pronta.

— Eu odeio ser chamado de Cabeça de Alga!

— Sério, mas Annabeth te chamava assim o tempo todo? Pensei que não se importasse.- Falo rindo.

— Não sabe quantas brigas nós tivemos só por causa desse tópico.

— Você é cheio de mistérios.- Falo rindo.

— Sou mesmo.

— Posso te perguntar algo?- Digo agora com um tom mais sério, preciso saber o que aconteceu ontem.

— Claro.

— O que aconteceu ontem?- Questiono séria.

— Em que parte do dia?- Fala ele com um sorriso sapeca no rosto.

— Não finge que não sabe do que estou falando. O que aconteceu ontem?

— Nada demais.

— Nós ...?- Digo enquanto gesticulo.

— Não... Não que você não tenha tentado.- Responde ele risonho.

— Eu fiz isso?

— Aham.

— Ai Meu Deus! Que Vergonha...

— Tá tudo bem. Ninguém vai saber.

— Você sabe.

— Digamos que eu gostei de você ter feito isso.

— Cala boca, idiota! Quer me matar de vergonha é isso?

— Matar não, só constranger gravemente.- Ele fala , e eu rio como nunca antes. Estar com Percy é muito bom. Muito diferente da relação que eu tinha com Chris.

...

Antes do que eu espero sou chamada para o início do Conselho, aparentemente todos os representantes estão aqui e não querem esperar muito para se livrar do problema.

Sigo o fluxo e vou parar em uma sala da Casa Grande que não sabia que existia, é grande e luxuosa. É bem parecido com os tribunais dos mortais a única grande diferença é presença de doze lugares em volta do "juiz". No meio estão quatro cadeiras, em uma delas meu nome está escrito.

Caminho em direção dali, mas uma vez ignorando os comentários. Há muitos campistas aqui, os filhos de Atena, Ares e Afrodite vieram em peso. Não que a presença das filhas de Afrodite seja de algum modo surpreendente, onde há uma nova fofoca elas estão. Quanto aos filhos de Atena e Ares, é bem óbvio o motivo. Vejo Grover e Cisseus que sorriem pra mim, porém eu os ignoro não quero encarar meu passado, muito menos meu futuro.

Passo um bom tempo sentada no meu lugar ouvindo as conversas estridentes dos meus colegas, Percy ainda não chegou, segundo Grover ele tinha algumas coisas a fazer com os semideuses recém-chegados. Assim que o moreno entra, Quíron pede silêncio, deixando óbvio que era sua presença o que estava faltando.

Não converso com Percy, estou com raiva de mais de Quíron, não o culpo por ser expulsa, não é isso só acho desnecessário me fazer passar por tudo isso. Quando é óbvio que no final serei expulsa de qualquer jeito.

— Estamos aqui para julgar a expulsão de Clarisse La Rue e Percy Jackson pelo crime de ferir um colega gravemente.

O Conselho se arrasta, milhões de testemunho são dados, dois filhos de Apolo que vem tratando Mark falam sobre seus ferimentos e de como suas fraturas são graves e blá blá blá...

Sherman e uma filha de Afrodite testemunham contra nós, e eu simplesmente explodo. Ouvir mentiras, realmente não é comigo. A sessão vira uma grande confusão, eu ataco meus próprios irmãos e eles me atacam em defesa do Mark. Sinceramente se for pra ter que passar mais tempo com esses idiotas prefiro ser expulsa.

Quando enfim Quíron consegue retomar o silêncio, a sessão recomeça, onde as testemunhas de defesa entram. O primeiro é Wade, o que me surpreende, não esperava que ele pudesse nos defender, até onde eu sabia ele nem gostava de nós.

Grover entra logo depois e em seguida Percy. Olho bem para Annabeth nesse momento ela está furiosa, e seus irmãos estão do mesmo jeito. A bagunça retorna, eu escuto os gritos, eles não querem que Percy me defenda e eu até entendo porque.

Demora alguns minutos, mas o centauro finalmente consegue silêncio. Percy começa, e por mais fria que eu seja, confesso que me emociono. O moreno é honesto e direto, não mente a meu respeito, simplesmente diz que por mais que eu não demonstre sou uma pessoa boa o suficiente para estar ali no Acampamento Meio Sangue com eles.

Após o testemunho dele, a votação começa. Mais uma vez a bagunça volta, eu fico irritada com seus comentários e eles com os meus. Só sei que haviam milhares de vozes gritando para que fossemos expulsos, e outras mais baixas exigindo o contrário.

Do nada há um silêncio, Grover o aproveita para falar.

— Por que não, ao invés de expulsá-los, não os suspendemos e o obrigamos a fazer trabalho voluntário na reforma do Olimpo?

— É uma ideia interessante.- Quíron responde ignorando os meus protestos e de Annabeth.

— Prefiro ser expulsa! Vocês não querem me obrigar a ficar no mesmo lugar que essa menina por mais de um minuto?

— Talvez seja o castigo ideal.- Responde Quíron para minha reclamação.

— Mas não é mesmo. Eles batem em Mark, e eu sou torturada? Que justiça é essa?- Diz uma Annabeth furiosa.

A disputa se acirra, muitos votaram para que fossemos expulsos e muitos votaram para sermos torturados no Olimpo. Infelizmente não fomos expulsos, terei que passar os próximos dois meses convivendo seis horas do meu dia com Annabeth. Quer inferno maior que esse?

E o pior é ainda tive que ouvir a reclamação dos campistas que não concordaram. Como se eu tivesse culpa da decisão?