Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 31
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Vinícius, seu lindo, não fala assim que a gente morre de amor ♥ Mas é desse jeito que ele deixa escapar as maracutaias do Murilo... Quando a Mi fala que esses dois são mto parceiros, acredite.

Enjoy.

P.S.: a música que o capítulo traz (lembram que o Lucas escreveu uma coisa na mão da Milena na fatídica noite?) é muito a cara para o que ela tá passando. Bora ver se isso reforça a sanidade dela :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410172/chapter/31

Nunca amanheci tão carente. De atitude, de amor próprio, de senso.

Já estive péssima muitas vezes, mas desta, fica difícil mensurar meus próprios feitos. Vergonha eu senti muita quando descobri todas as verdades escritas naquele caderninho da Hello Kitty, que ao longe, parecia tão inocente. Na manhã que acordo sozinha no quarto, o ar-condicionado zumbindo, a realidade me pega novamente. Eu preciso fazer a coisa certa.

Só que eu não sei exatamente o que é essa coisa certa.

A noite não fora tão mal dormida, dormi quando consegui. Levantei, dei um jeito na minha aparência, obriguei-me a sair dessa letargia que não me levaria a lugar algum. O café da manhã foi acompanhado de Vinícius, que já tinha feito o desjejum e arrumado sua bagunça na sala, estava assistindo Tv quando me apresentei um pouco tarde na cozinha. Tudo da copa havia sido retirado já.

– Você está bem? Parece um pouco... longe.

– Não sei. Acho que tive um sonho estranho, algo que me perturbou.

– Sobre o que foi?

– Acho que nem eu sei mais.

Claro que não foi sonho, foi tão real que as palavras estavam rondando meu cérebro na caixinha de memória, mas era o que eu poderia dizer. Para que ele não perguntasse novamente, comi rápido, sem sentir muito o gosto, e fui tratar de outras coisas com ele. Apesar de estarmos sozinhos mais uma manhã, eu não tinha vontade de fazer nada demais. Estaria sendo injusta com meu próprio acordo se fosse o caso. E a ideia de ficar em casa era para cuidar dele.

– Por que está sem a tala?

Perguntei sentando-me no sofá preenchido de almofadas. Vini, ao lado, fez uma cara que dá a entender que foi pego. Levou a mão ao local como se fosse a melhor proteção.

– Ela me incomoda.

– Tem que ficar com ela, de qualquer jeito. Anda, coloca.

– Não, deixa assim, eu passo o gel e pronto.

Se esticou para a caixa deixada na mesinha de centro e, quando apertou para que uma dose de gel saísse em sua mão, quase dispus a minha. Estava mais uma vez desejando um toque, nem que fosse para esse cuidado. Queria sentir que estava fazendo algo de bom no meio de toda essa bagaça. Mas tinha que aceitar que meu estado era de vulnerável, eu não poderia exagerar.

Liguei a Tv em qualquer coisa para não interromper. Acompanhei a massagem que ele fez rápida no pescoço e o ajudei a fazer uns movimentos que melhor o ajudariam a se mexer. Sentado de costas para mim, segurei seus ombros, mãos que adentraram sua camisa pela gola – mas que se trataria só disso, só manter a posição de seu pescoço, assim como fiz com Murilo quando machucou o braço na briga. Eu infelizmente não estive por Eric para ajudar com algo. Pensaria nisso quando voltasse para a cidade, se ele aceitasse me ver.

– Como anda com o remédio? As tonturas voltaram?

– Não. A Leila disse que só trocará o curativo mais uma vez, aí fico por minha conta, sem mais essa gaze ou esparadrapo na cabeça. Também me incomodam.

– Fala o cara que ficou sob o soro por meses no braço. Sem falar de outras coisas. Aguentou tanto para reclamar por tão pouco?

– A maior parte do tempo eu estava desacordado. De qualquer maneira, todos incomodam de uma maneira ou outra, só que de formas diferentes. Ai.

Sem querer forcei um movimento e ele sentiu.

– Desculpa, desculpa.

– Tudo bem... er... posso fazer uma pergunta?

– Claro.

– Você não usa mais sua pulseira?

A pulseira!

– Hã... uso. Às vezes esqueço de colocar. Por quê?

– Ainda não te vi com ela desde que cheguei. Pensei se... se não tivesse algo contra ela. O cordão fica comigo o tempo todo.

Quis soar despreocupado, percebi, no entanto, marca bem uma inquietação. Com a mão não suja de gel, ele segura o seu pingente pendendo dentro da camisa. Retiro minhas mãos de lá, vejo que suspira meio frustrado. Via as suas costas e ainda assim eu podia entender seus movimentos.

– Bobagem, eu gosto da pulseira. Só que... nem sempre dá para sair com ela. Você percebeu que eu estava de vestido virado ontem?

Ele se vira para mim, confuso.

– É, eu vi. Não entendi o que foi aquilo.

– Para você ver quão batida eu saí de casa para ir ao hospital te ver.

– Mas você não me viu.

Mordo o lábio por ele ser tão direto assim. Só que é para ser desse jeito, a conversa entre nós tem que ser constante e sincera. Eu propus esse exercício, eu tinha que lidar com isso. Acabei sentando ao seu lado.

– É. Fui golpeada por uma culpa horrível. Te ver do jeito que estava...

– Eu te quis lá, independente de tudo.

Com a mão que era limpa, ele faz de tudo para que fique junto da minha. Eu retribuo segurando-o forte. Era um começo pelo menos.

– Estou agora.

Ele hesita. Sei que queria falar algo e, por tantas vezes que evitei umas coisas, acho que ele estava com receio de fazê-lo e isso me afastar. Por fim, ele puxa essas mesmas mãos nossas juntas, entrelaçadas, e as leva aos lábios, delicados e gentis para um beijo simples e breve na minha pele. Senti o calor que se centrava ali, e o calor que vinha de seu olhar penetrante, um que ele dirigiu a mim sério, mas preocupado.

– Te quero.

Pisquei, claro. Ele se aproximava devagar sem eu mesma perceber por observá-lo tanto, estar presa ao mesmo olhar que sempre me amarra, até ele chegar quase rente ao meu rosto e eu fui a primeira a parar. Que fosse devagar, lembrei a mim mesma. Mas isso não bastava, então falei da primeira coisa que passou pela minha cabeça que pudesse distrai-lo.

– Er... Vini. Sem pressas, lembra? Cadê a tala?

– Não, a tala não, por favor. Estou bem sem ela, mesmo.

– Mesmo mesmo?

– Mesmo. Desculpa.

– Por não colocar a tala?

Eu ri minimamente sem jeito. Apesar de um quero mais, era bom estar assim com ele depois de muito tempo. Sendo só a Milena boba que gostava de ser. Porém, ele tentava resgatar mais de mim, a começar pelas mágoas.

– Por... reagir do jeito que fiz na boate, por não ter te dado a oportunidade de falar algo, por ter sido tão... odiável.

– Não sei se usaria tal palavra, mas...

– Desculpe por meu comportamento. Pelo que falei e insinuei. Por ter falado de um beijo que nada tinha a ver. Me sinto péssimo com tudo.

– Devia se sentir mesmo. Mas o que não me sai da cabeça é o porquê de Murilo ter falado isso – porque só ele poderia ter mencionado algo assim, eu sei. Como eu poderia ter beijado o Eric? Foi algo que eles falaram durante aquela briga na festa? Eu não vejo encaixe aí.

Vini ri sem emoção. Seu aspecto não era dos melhores.

– Porque não tem encaixe. Quando eu falei do beijo, não me referia ao Eric, mas sim ao Lucas. Eu estava... louco de ciúmes. Ver vocês dois no bar, bebendo juntos, rindo juntos, se divertindo juntos... Eu penando faz dias para falar contigo, e ele lá no meu lugar. Me segurei o máximo que pude. Quase levantei pra interromper vocês, mas essa história do Lucas ser gay não me convenceu desde o início.

Eu acompanho o que ele fala tendo em mente as imagens daquela noite, de como ele nos encarava sem um piscar e... para a última parte, eu me solto dele. Afasto-me pela forma que ele disse e do que disse.

– Como assim “essa história do Lucas ser gay”? O Lucas não é gay!

– Eu também acho que não. Mesmo que o beijo tenha sido no rosto, eu fiquei imaginando a cena, e vocês conversavam, ele te tocava, você sorria, ele escreveu em sua mão... O qu...?

– Pera, volta o dvd. Explica isso direito. Como que Lucas é gay? E como você sabe do b...?

Ah. Murilo. Eu não sei por que ainda pergunto.

Meu irmão não se ajudava. Mas aquilo ainda não fazia sentido...

– Murilo estava me vigiando, era isso?

– Não, não. Não foi ele quem viu. Foi seu avô, comentou com Murilo e ele deixou escapar pra mim... na manhã de Natal. Como disse sem querer, ele emendou que eu não precisava me preocupar, porque o cara era gay.

Mas o Lucas não é gay!

Mantenho-me afastada e, ao cruzar os braços, levanto. Por que Murilo acharia que Lucas é gay? Há quanto tempo ele acha isso? Será que... será por isso que ele não ficava em cima de mim quando estava com Lucas? Pensei que tinha sido por algo que Leila tinha lhe falado... Ela não falaria que o irmão era gay, tenho certeza.

Engraçado que repasso algumas vezes que estivemos todos juntos e meu irmão tinha um comportamento estranho numas delas. Como quando jogamos Uno. Lucas se insinuou cheio de intenções e Murilo se cobriu. Quer dizer, fechou a camisa. Será que isso é um... indício? Caramba!

– Foi errado, de qualquer jeito. Ter abordado pelo jeito que fiz. Murilo também me deu uma dura. Fiquei te procurando tempos e tempos quando você correu de mim, chequei os banheiros, a pista, os corredores... até a administração. Quando ia ver com a segurança, teu irmão apareceu zangado comigo. Aí pronto, vi que tinha feito merda mesmo.

– Quer dizer que se ele não aparecesse zangado, você não notaria?

– Notaria, claro. É que ele zangado só me fez perder a esperança de vez de que eu tinha chances de ainda te encontrar. Isso queria dizer que você tinha o encontrado primeiro.

Calma, Milena, muita calma nessa hora. Aquela noite já passou e muitos erros foram cometidos. Muitos mal-entendidos. Inspira, expira. Entenda primeiro, brigue depois. Melhor, não brigue, resista. Não precisamos de briga, chega.

Inspiro forte o ar pra aguentar o tranco e permaneço de costas para Vini. Se me virasse, quem ia se mostrar zangada era eu e era melhor não fazer isso.

– E então o quê?

– Me disse que vocês brigaram. Que foi pelo que eu disse. Você realmente tinha avançado nele. Me perguntou o que tinha acontecido, o que eu tinha falado... Quando eu lhe disse... bom, ele ficou mais zangado. Claro que não tinha nada a ver eu ter falado desse beijo, mas como ele repassava na minha cabeça, e-eu... eu num sei, saiu. Nem sei explicar como saiu aquela parte do “cariño”, mas saiu também.

– Fiquei doida pensando de onde você tinha tirado... Só mencionei isso uma vez. E nem tinha dito quem dizia isso. Murilo não deve saber dessa... não tinha como.

Sinto que se levanta. Que caminha para perto de mim. Não me movo, permaneço do jeito que estou.

– Eu me arrependo, Lena. De cada coisa, cada coisa dita, como foi dita. Meu comportamento, meu ciúme infundado... e-eu só queria... queria que as coisas voltassem ao normal, que ficássemos juntos de novo, mas mais e mais empecilhos apareciam e virava uma bagunça e...

– Ok, eu entendi.

Ele toca no meu ombro, está logo atrás de mim. Sua mão desce pelo meu braço esquerdo e algo em mim se acelera. Mordo o lábio antes de engolir a seco. O mínimo toque com ele me fazia querer mais. Só que não era hora, e eu não queria apressar nada. Isso não era bem um reconciliar-se.

– Mas eu preciso dizer. Eu já vi o que acontece com a gente quando fica as coisas pela metade, não quero isso. Quero você. Vim para resolver e vou resolver.

Murri com palavras sussurradas assim, ao pé de meu ouvido. Mordo mais o lábio ao sentir tantos efeitos dele sobre minha pele, um calor que me aquece de repente, e fica nessa iminência sem fim de sentir a proximidade de sua boca ao meu pescoço. Eu sabia que não era manipulação, nem propriamente golpe baixo, era pela falta, a saudade que tínhamos um do outro e por todas as implicâncias que nos deixaram separados.

Eu precisava parar antes que me entregasse, coisa que poderia comprometer todo o plano de ir devagar. Porque sei que eu não iria devagar uma vez estivesse entregue. Ele o mesmo, que sempre foi tão... enfim. Me afasto, inquieta. Tomo um bom espaço entre nós, ando até ficar atrás do sofá sem o olhar.

– Então diz.

– O que tenho que fazer para te ter de volta? De verdade?

– Te disse, Vini, vamos com calma nessa. Não pense que eu quero dessa forma, mas é que meu preocupo com isso... Aquilo que seu avô Júlio falou nunca fez tanto sentido e me sinto boba por achar que... sei lá, as coisas não se consertam de um dia para o outro. Tem que ter calma, cuidado para não pisar errado, pegar um caminho tranquilo. Aos poucos a gente vai... a gente vai dando um jeito. Quero fazer as coisas do jeito certo, entende?

Ele umedece os lábios, aperta-os enquanto parece ponderar um pouco. As mãos dentro do bolso da calça de pijama fazem dele uma bela visão, do tipo que me pulsa a ir lá abraçá-lo e só ficar assim com ele. No fundo, não seria só assim, uma coisa sempre leva a outra e outra e... expiro.

Vinícius assente por fim:

– Então vamos fazer do jeito certo.

– E você vai já botar essa tala.

– Aw.

~;~

– O que as duas faziam que nem me chamaram, hein?

Mamãe pergunta logo que entro em casa com minha avó, nós duas muito animadas para o gosto de mamãe que se sente excluída. Eu reviro os olhos só por essa pose dela quase na porta, enquanto que vovó dá uma risadinha discreta. Nunca que ela ia falar o que realmente estávamos fazendo, ela como eu, gosta de manter as coisas suspensas. E beeeeeeem sabendo dessas frescuras de sua nora, soltou a piada:

– Procurando Nemo.

– Quê?

– O cachorro do jornal, Helena. Depois dizem que eu quem estou velha.

Vovó nega com a cabeça e apressa o passo para seu quarto. Desde que começou a trabalhar no seu livro, ela não tem parado quieta. Isso às vezes a excede, por deixá-la muito ansiosa, mas nada que relaxar um pouco não a traga de volta. O problema é sempre fazê-la relaxar.

Nos encontramos na casa de Lucas. Eu fui pegar um analgésico que Leila pediu que eu buscasse para Vinícius enquanto ela fazia o último curativo nele. Graças a Deus que a pancada não foi séria, que foi quase um arranhão, e que pouco sangrou. Na verdade, por ferida mesmo não tinha muita, mas o galo era outra história. Esse sim que doía, mesmo Vinícius dizendo que não o sentia mais. Aham. Eu já quase quebrei a cabeça de meu irmão uma vez brincando numa árvore, lembro bem dele resmungando seu galo e disso ter sido por um bom tempo, uma semana no mínimo.

Lucas me recebeu em sua casa e acabamos conversando. Ele estava todo todo, eufórico, porque a menina que ele gosta, dizendo ele, “tropeçou nele e caiu em tentação” como ele havia brincado comigo na segunda-feira quando eu falei das cantadas falhas dos homens. Brincadeiras à parte, ele disse que Megan mais que aceitou um flerte com ele na festa da noite anterior, que fez umas insinuações e tal, e ele só não pôde entrar muito na onda porque estava trabalhando com uns equipamentos e não dava para aproveitar muito.

– E você? Tá com uma feição melhor. Apesar de hora e outra eu te pegar distraída com essa caixinha aí.

Eu rodava e rodava a caixinha do analgésico sem perceber. Parei.

O que não adiantou, porque eu continuei fazendo quase o mesmo, só que acarinhando o cachorro de Lucas, o Nemo, que preferiu permanecer aos meus pés a nos do dono.

– Não sei por que a gente inventa de resolver problema se quanto mais a gente acaba com um, aparece mais uns três.

Lucas enrugou a testa e pareceu preocupado.

– Liga não, tô falando besteira, é isso.

– Pensei que vocês estavam de boa. Lá na rodoviária parecia tudo bem... A não ser com Murilo.

Ficamos na cozinha enquanto ele terminava de fazer uns bolinhos para sua mãe. Ela tinha ganhado o prêmio de funcionária do mês na loja que trabalhava, ele queria deixar um mimo para quando ela chegasse, já que ele estaria na boate Satellite e não a veria. Lucas até que sabia cozinhar... besteiras, apenas besteiras.

– Eu tento, juro que tento. Mas... nunca foi tão difícil nossa situação. Acredita que vovô viu quando te dei aquele beijo na véspera de Natal, falou pro meu irmão e ele pro Vinícius?

Lucas riu, colocou parte de uns utensílios usados na pia, ligou a torneira e respingou água em mim de propósito. Revidei brincando com ele.

– E como que ele ainda não me matou?

– Por mais enciumado que tenha ficado, ele sabia que não era nada. E que se fizesse algo, maiores eram as chances de me perder.

Claro que eu não ia falar a história das desconfianças dele ser gay. O Lucas, quer dizer. Eu não teria CARA para falar uma coisa dessas com ele.

– Cara esperto.

– Ainda assim, ele ficou bem curioso do que você escreveu na minha mão. Hoje de manhã mesmo enquanto conversávamos senti que ele ficou meio sem jeito de perguntar, enrolou, enrolou, e de fim falou.

– E que você disse?

– Que era uma música que você tinha me indicado. Que eu tinha esquecido de ir atrás com tudo o que tinha acontecido.

– Hum. Não seja por isso, te mostro agora.

E ele me mostrou mesmo. Pegou o notebook, procurou numas pastas e botou para tocar. Nisso, entrou na internet, caçou a letra e deixou na bancada da cozinha para eu ver enquanto ele terminava de lavar a louça que tinha sujado. Para uma música de uma dupla de dance music, a música até que era meio calminha. Começava com uma um ritmo lento com dedilho de violão, o artista embala com voz suave, entrava uma mais forte, e mantinha uma batida leve. Lucas cantava da pia, de costas para mim, acompanhando.

Trilha indicada: ItaloBrothers – So Small

http://www.youtube.com/watch?v=gpskFN8dL-I

Eu não tinha esquecido o que ele tinha escrito naquela noite – ItaloBrothers, So Small, só realmente não me toquei de procurar por ela nesses últimos dias. As coisas estavam tão tensas que fazer isso parecia luxo, por isso não tinha espaço. No fim das contas, mesmo não sabendo das coisas em detalhes, Lucas estava certo. E Flávia. E os ItaloBrothers. Se duvidasse, até Nemo estaria certo.

Quando dei por mim, estava cantando junto, arriscando sem a conhecer direito. Ouvi duas vezes e, no final da segunda, Lucas se virou para a bancada onde eu estava, colocou a bandeja de bolinhos sobre ela e finalizou a música cantando o último verso para mim, It sure makes everything... seems so small.

Eu ia falar algo, mas fui interrompida pela campainha. Minha avó Marília chegava com novidades e fiquei pasma que ela tinha passado primeiro na casa de Lucas para falar com ele e não para mim. Então lembrei que eu não mais morava ali e que devia achar isso bom. Quer dizer, acho... E acho bonitinho também. E que bom que eu estava por lá porque ela queria nos mostrar o rascunho de sua dedicatória. Estava beeeeem melhor que aquele discurso improvisado que eu fiz na festa. Na parte que citava o avô falecido de Luke, eu apertei a mão dele por debaixo da mesa que estávamos todos sentados enquanto vovó lia.

E como sempre as palavras de minha avó costuma rondar minha cabeça, uma frase certamente me marcou naquele momento. “Ele foi forte, esse meu amigo, e nem precisava se mostrar durão para isso. Era forte até quando errava, porque estava tão convicto, que quebraria uma parede com a cabeça para provar que estava certo e iria até o fim para se mostrar certo. Mas quando percebia o erro, era o primeiro a querer consertar as coisas. E como era bom quando fazia isso”, disse ela num trecho. Foram palavras que eu precisava ouvir naquele momento, junto das que Lucas já havia me mostrado. Eu havia acordado carente delas.

Repassamos uns outros rascunhos que ela tinha preparado. A novidade era que lhe contaram que ela iria virar assunto de trabalho de uma escola. Um professor a abordou para fazer um planejamento de uma aula para o ano que logo começaria. Vovó Marília estava radiante com a notícia.

Só foi quando o chefe de Lucas ligou que percebemos a hora. Eu estava por lá fazia quase duas horas, o sol já se ia embora. Levamos uns bolinhos que Luke ofereceu e rumamos para casa eu e vovó. Acho que eu continuava meio pra lá do que pra cá, pois antes mesmo de chegar a varanda de casa, ela me parou.

– Eu sei que você herdou meu gênio e que eu também não sou muito de falar. Mas Milena, querida, eu disperso tudo isso de dentro no que escrevo. Já você não.

– Não sou das letras, vovó, a senhora é.

– Não é isso que quero dizer... É que venho notando você pelos cantos, às vezes muito pensativa. Você está assim de novo. Me preocupo com que anda nessa sua cabecinha... E ainda teve o incidente com o Vinícius. Pensei até que estivessem brigados... então ontem estavam tão fofos.

– A verdade, vovó, é que eu precisava ouvir aquele seu rascunho, o da dedicatória. A senhora sabe que me toca sem saber... assim como a muitos outros que lhe acompanham pelo jornal. Mas era só isso, sei que as coisas vão melhorar. E... desculpa pelo seu vaso favorito, eu vou procurar por um bem parecido, juro.

– Ah, minha Milena. Você sabe que não precisa de cerimônias para falar comigo. Sempre que precisar ouvir, mesmo que não queira nada falar, pode me procurar. E sobre o vaso... não se preocupe, eu meio que o odiava.

– Mas a senhora passou anos tendo o maior cuidado com ele!

– É, sim... por seu avô. Ele me deu numa viagem que fizemos na lua-de-mel. Ele achou que eu tinha gostado, porque ele também tinha gostado. Então não falei nada para ele... Só cuidei. Se avô costumava dizer que era a única coisa que um dia nós concordamos. Já eu, gostava de pensar que era mais um de seus enganos bobos e de como sempre o amei por isso. Ele gosta de trapacear... e eu também.

– Ai, vovó, vocês dois hein.

Entrego a encomenda para minha mãe com os bolinhos e ainda não conseguia conter meu estado de risonha. Pergunto por que ela tinha chegado cedo e ela diz que tudo estava bem na loja, então preferiu voltar pra casa e descansar um pouco.

– Aproveitamos e temos aquela conversinha, hein. Meu quarto ou o seu?

– Pode ser no meu.

Dou de ombros, enquanto ela me puxa toda alegre por finalmente estarmos sozinhas para uma conversa mãe-e-filha, coisa que ela simplesmente adora. Nesse caminho só deu tempo para acenar para os dois homens que jogavam videogame na sala e notar o cenho franzido de Murilo. Eu tinha acenado não só para Vini, mas para ele também. Talvez por causa de nossa última briga, ele achou que era má impressão, então praticamente não me olhou, se focou na Tv onde dois personagens lutavam. Pelo menos a tala continuava no pescoço de certa pessoa que me deu trabalho.

Mamãe, por outro lado, me fez de laranja e me espremeu até a última gota. Me fez explicar o que tinha sido a culpa que me consumiu no hospital, e ainda me fez contar-lhe como foi a primeira vez que descobrimos que um gostava do outro. Tive que frisar bem que EU não estava matando aula... já os outros, eu não podia negar. Ela também gostou muito de Gui.

– Agora tenho três filhos namorando... e ainda assim, ninguém quase me conta nada.

– Como assim, três, mãe?

– Ora, você, Flávia e Vinícius. Genros também são filhos, sabia? Adotei logo. Gosto muito de conversar com ele. Já te disse o quanto acho lindos vocês dois?

– Nhai, mãe. O que você anda dizendo para ele, hein?

– Nada demais. Ainda não tive a oportunidade de mostrar suas coisas de criança.

– MÃE! Isso é sacanagem!

– Eu preciso cumprir meu papel, minha filha. Aposto que a mãe dele já fez o mesmo, não fez?

– Não exatamente. Me contou umas histórias. Aposto que se fosse com o Murilo a senhora não ia mostrar as coisas dele para a...

– Isso que eu já ia perguntar. Quero o dossiê com-ple-to dessa garota. Se seu pai conseguiu um de Vinícius, eu quero um dessa... dessa... Aline, não?

Como assim “papai conseguiu um de Vinícius”?

– Ai, filha, somos assim, até parece que não conhece.

– Tinha minhas esperanças.

Quando saímos do quarto, ela bem saciada de ter me espremido, coisa que não duraria muitas horas aposto, topamos com Vinícius no corredor falando ao celular.

– Sim, mãe, tô bem... é sério. Não, não tô falando só porque é a senhora... Eu sei... Não sei ainda, depende. Ok, eu lhe aviso. Mãe!

Parece que Djane estava tendo seu momento mãe-espremedora-de-Vini também, ou pelo menos tentando. A minha parecia se divertir, o que era tão a cara dela fazer isso. Vovô, por outro lado, chegou, passou direto e mal o olhou. Me desvencilhei de mamãe e já ia segui-lo para ver o que era esse problema dele com meu namorado.

Mas Vini me interrompeu, disse que Djane queria falar comigo. Mal encostei o celular no ouvido, dona Helena saiu se fingindo de indignada com o próprio. Enquanto eu temia o que poderia sair daqueles braços dados dos dois, ouvindo-a resmungar “pra ela, minha filha conta, mas para mim... só arrancando dela”, sabia que era só carência. Coisa que Djane sabe bem demais o que é, e que, por mais espaço que dava, queria algo para sua satisfação. Já minha mãe, bom, ela não sabia o que era espaço nesses termos, muito menos como dar um. Acabamos que todos somos carentes de alguma coisa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dona Helena dramáaaaaaaatica.
Já sabemos de quem partiu o gene rs

Ah, pra quem quer dar uma olhada na letra/tradução da música: http://letras.mus.br/italobrothers/1562281/traducao.html
Tem uma versão country na voz da Carrie Underwood, mas prefiro mil vezes a do ItaloBrothers *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.