POV's Heredia

Larguei as duas mochilas em cima da cama e suspirei enquanto abria a cortina da janela. Pelo visto, desde que eu havia ido embora meu quarto se mantinha intacto. Assim que tive plena visão do céu nublado, soube: ia chover.

– Primo? - Agus bateu na porta, e ao me virar, pude ver seu largo sorriso.

– Pequena! - me agachei enquanto ela corria e pulava em cima de mim, abraçando-me fortemente.

– Que saudade!

– Eu também senti saudade! Muita, na verdade. - beijei sua testa.

– Nós poderíamos fazer o que fazíamos antes de você ir pra Espanha, mas você vai pra aquele internato né? - abaixou a cabeça.

– Agus... Agus, não fica assim. - vou explicar o porque do "internato". Era o colégio em que eu estudava música antigamente, o Studio. Mas ele havia se tornado interno para que pudessem ter mais aulas e os alunos aprendessem mais. Eu não queria passar o ano todo trancafiado dentro de um colégio, mas o meu motivo era mais do que suficiente. Violetta. Eu precisava vê-la. Mas não teria como, já que ela estudava no Studio e não saia de lá, a não ser em datas comemorativas importantes. Natal, ano novo. E faltavam exatamente 12 meses para que chegassem essas datas. Se eu poderia esperar? É claro. Mas não queria. Precisava vê-la. Ver seu rosto, seu jeito. Ver como havia crescido. E bem... Com quem estava namorando, SE estivesse. Agora você deve estar se perguntando: "como ele sabe que ela estuda lá?". Simples. Eu mantive contato com meus amigos: Maxi, Fran, Cami, Broduey. E sempre perguntava de Violetta. Agora, quando perguntava se ela estava namorando, eles sempre mudavam de assunto, o que não me deixava muito seguro sobre o assunto.

– Tomás? - Agus estalou os dedos na frente do meu rosto - TOMÁS! - gritou.

– Ahn? - franzi o cenho - Agus, não grita!

– Mas eu tô há cinco minutos te chamando, e nada de você me responder.

– Sinto muito. Eu tava pensando na... Escola. - sorri torto.

– Eu não quero que você fique longe de mim o ano todo! Desejava tanto que você voltasse para cá, mas se fosse para ir para um internato, nem precisava. - fez bico.

– Agus, não faz assim! Senta aqui, anjo. - sentei na cama e puxei-a para que se sentasse ao meu lado - Você tem 10 anos, já tem idade pra entender... Bom Agus, você se lembra da Violetta?

– Aquela amiga da Francesca?

– Sim, essa mesma. Se lembra?

– Me lembro.

– Ok. Eu... Eu a amo, Agus. Desde o primeiro momento que a vi.

– E porque foi embora? Porque não lutou por ela?

– Porque meu pai precisava de mim lá na Espanha.

– Então é por isso que você quer ir pro colégio interno? Ela estuda lá?

– Isso mesmo! Viu como você não é tão burrinha? - baguncei seu cabelo e ela me deu um tapa na mão.

– Se esse for o motivo, tudo bem, eu não vou ficar irritada.

– Sabia que você não ia me decepcionar. - sorri largo e ela retribuiu.

– Com uma condição. - ficou séria - Você tem que conquistá-la!

– Eu vou conquistá-la! - alarguei ainda mais o sorriso, beijando a mandíbula da pequena.

Xx

– TOMI! - Francesca correu até mim, abraçando-me em seguida.

– Fran! - disse enquanto ria. Ela realmente sentira minha falta. – Como você tá?

– Eu tô ótima, e você? Como tá? Como foi lá na Espanha? Me conta tudo!

– Tomás! - Maxi se aproximou.

– Maxi! E aí, cara. - fizemos um Right Five.

– Quanto tempo!

– É, muito tempo. - observei a nova arquitetura do Studio, que estava completamente diferente. Não era mais só um prédio, e sim cinco. Os dois de tamanho médio mais para o canto, e de frente um para o outro. O maior na parte de entrada. Um dos menores atrás dos dois médios e o outro ao lado do prédio principal.

– Quer que eu te mostre o colégio? - Fran perguntou - Claro, Maxi te leva no prédio dos meninos, mas o resto eu posso te mostrar.

– Claro. - sorri em agradecimento - Nos vemos depois então, Maxi.

– Até lá.

E então eu e Francesca saímos andando, primeiro na direção do prédio maior. Ele tinha três andares. No primeiro ficavam as salas de teatro e a sala dos professores, no segundo as salas de canto e no terceiro as salas de dança. Havia mais de dez turmas, e todas elas continham no máximo 30 alunos. Depois, seguimos para o prédio pequeno que havia ao lado do principal. Era o refeitório e ali nós demoramos menos de cinco minutos. Seguimos para o outro prédio pequeno, e como lá era onde os professores viviam, não demoramos muito também. Depois Fran me disse que só faltava que eu conhecesse o prédio dos dormitórios masculinos, já que no dos dormitórios femininos eu não poderia entrar. Isso era evidente. Voltamos para o prédio principal onde Maxi nos esperava enquanto conversava com Broduey.

– Então, vamos? - me perguntou, juntando o netbook debaixo do braço e se aproximando. Assenti, e então nós nos direcionamos para o prédio masculino. Acabei conhecendo alguns novos integrantes do Studio e então segui até a diretoria, sozinho, para resolver em qual quarto ficaria. Pablo me deixou ficar no mesmo em que Maxi e Broduey.

Xx

Senti algo macio bater contra minhas costas com forças e bocejei.

– Tomás, acorda cara. - a voz de Broduey soou ao fundo.

– Me deixa dormir. - murmurei.

– Broduey, deixa. Ele nem quer ver a Violetta mesmo. – Maxi disse e eu pude ter certeza de que ele fizera de propósito. Do mesmo jeito, sentei na cama ainda sonolento, e cocei os olhos.

– Que horas são?

– Hora de ir tomar o café, e depois hora de ir pra aula da Angie.

– Mas... Mas vocês já tão prontos. - pude ver que cada um já usava sua roupa e já estava de banho tomado.

– Mas é óbvio! Você dorme demais.

– Agora vai! Vai pro banho. - Maxi jogou uma toalha enquanto me fazia levantar e me empurrava para o banheiro.

Xx

Adentramos o refeitório e seguimos até onde o café da manhã e todas as outras refeições era servido. Peguei uma bandeja que continha um suco, um sanduíche, uma maçã e um bombom. Sentamos em uma mesa que ficava próxima à porta de entrada, e isso me deu uma grande vantagem quando Violetta apareceu. Ela estava lá. Depois de quase dois anos, eu estava vendo-a novamente. Ela estava na minha frente. Linda e bela. Ao seu lado estavam Francesca e Camila. Fran cumprimentou-me com um sorriso e ao notar minha presença, Violetta parou de andar. Ficou lá, me encarando com os olhos arregalados. Levantei e caminhei rapidamente até Violetta. Ficamos nos encarando fixamente por alguns minutos, até que uma presença indesejável se aproximou. Leon. Porque ele ainda existia?

– Tomás, você voltou. - disse ironicamente e eu dei um sorriso de escárnio.

– Como você pode ver, sim, eu voltei.

– Infelizmente. - sussurrou.

– Disse alguma coisa, Leon? - Violetta perguntou, parecendo sair de um transe.

– Não, nada.

– Ótimo. Vamos tomar nosso café. - entrelaçou a mão na dele e o puxou para pegar o café. Ela havia me ignorado. E o pior, eu havia ficado mal com isso.

Xx

POV's Castillo

– Onde você vai, Vilu? - Francesca perguntou assim que peguei duas partituras e o violão e me encaminhei até a porta.

– No jardim tentar terminar a música pro exercício do Pablo.

– Você e essas manias de ter lugar certo pra compôr. - Cami saiu do banheiro e disse.

– Bom, não esquece que as 16hrs e 45min tem aula de dança. - Fran lembrou-me.

– Com a Jackie. - Camila fez uma careta e eu ri baixo.

– Você e essas manias de não gostar das pessoas.

– Vai logo fazer seu exercício, Violetta. - riu enquanto se jogava em sua cama.

– Tô indo. Adiós, muchachas.

Xx

Consegui terminar a letra e a melodia da música e sorri com isso. Quando ia me levantar, uma silhueta conhecida se aproximou, e então eu suspirei, apanhando as folhas e o violão o mais rápido possível.

– Eu já estava de saída.

– Mas eu não quero que você saia.

– Desculpe, eu realmente preciso ir e...

– Violetta. - Tomás respirou pesadamente - Fica. Nós precisamos conversar. - eu até teria ido embora sem olhar para trás, mas aqueles malditos olhos azuis me chamavam. Sentei no banco, e Tomás se sentou também. Estávamos de frente um para o outro.

– Sobre o que exatamente vamos conversar? - mordi o lábio inferior preocupada.

– Eu não quero que você fique brava comigo. Vilu...

– Violetta. - o corrigi. Por mais que ouvir meu apelido saindo de seus lábios me trouxesse uma ótima sensação, aquilo não era certo. Eu estava irritada com ele. Irritada por ter me deixado. Posso estar parecendo muito egoísta, mas se você visse a história do meu ponto de vista, com certeza concordaria comigo. E ainda tinha o Leon, meu namorado.

– Violetta, ok. - suspirou - Eu precisei ir pra Espanha, meu pai pediu para que eu fosse. E foi tão bom ficar lá... Mas eu sentia sua falta. Muito. E eu precisava te ver. Você tem noção do quanto é horrível voltar pensando que seria recebido com beijos e abraços, mas muito pelo contrário, ser ignorado pela garota que você ama? - abaixou a cabeça - Eu só quero que você conversasse direito comigo.

– Tudo bem.

– Tudo bem? O que tudo bem?

– Eu quero voltar a falar com você.

– Isso seria realmente sensacional, eu nem acredito que você me perdoou, eu...

– Quem falou em perdoar? - o cortei novamente - Eu estou propondo uma nova realidade.

– O que quer dizer? - não conseguiu esconder seu desapontamento.

– Que eu quero voltar a falar com você, ué.

– Então quer dizer que você quer que voltemos a ser amigos, sem levar em conta tudo que eu fiz, ou tudo que você fez, tudo que nós fizemos? - concordei com a cabeça - E tem total confiança de que isso vai funcionar, pelo jeito. - bufou.

– Olha, se você vai ficar reclamando, eu...

– Não, não estou reclamando. - respirou fundo - Se você quer assim, assim será, mas tenha em mente que eu ainda te a...

– Não! Não diga isso. É uma das condições. Então... o que me diz?

– É né. - sorriu, sem muita vontade.

– Ótimo. - me aproximei e lhe dei um abraço com zero sentimentalismo - Obrigada, sabia que entenderia.