Obsessão e Desejo escrita por Mei_Schneider


Capítulo 1
One Shot




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Há quem diga, e são muitos, que de todas as formas e com todas as minhas forças eu odeio Kyo Kusanagi.
Não é mentira, e não é exagero. Acho que meu ódio por ele é uma das únicas coisas que eu realmente expresso sem pudores para todo mundo. No resto, eu sou fechado como o túmulo de meus podres ancestrais e percebo que minha mente é algo que nem Orochi tem total dominação, mesmo quando resolve me descontrolar.

Eu nunca fui bom em expressar nada à ninguém, e nunca tive exatamente a necessidade disso. Tudo que eu tinha que fazer era dizer a ele que eu acabaria com sua raça miserável, e isso eu faço bem feito. Ele já deve ter decorado até a entonação de minha voz, aquele arrogante prepotente.

Eu me expressava para ele do jeito que eu queria, e bastava para mim.

E me perguntava: "Por quê? Porque eu não o matei hoje quando o vi?"

... Kyo Kusanagi...

Eu me pego imaginando o que ele deve pensar ao ouvir tudo aquilo que digo á ele. Um dia ele disse "Puta merda, mas que cara chato", mas creio eu que o rancor que ele sente de mim é maior que estas simples palavras. O rancor dele é diferente do meu em soma e qualidade. É menor, menos profundo e o rancor dele é por mim apenas, por eu despejar meu ódio do clã dele, e somar todos os 600 anos da família Kusanagi, estes mesmo 600 anos que eu adoraria ter vivido para aniquilar todos, despejando tudo somente nele. Minha válvula de escape é ele.

Eu o entendo, de certa forma. Mesmo não estando nem aí para o que ele sente e não tenho interesse.

Eu não quero saber o que Kyo sente, de quem ele gosta ou não gosta, o que pensa de mim. Isso é irrelevante, e eu assumo meu egoísmo. O que importa para mim é que ele esteja por perto para eu poder dizer o que quero, e muitas vezes eu não digo, eu faço.

Assumo também minha obsessão por ele, algo que meu ódio não é total culpado.

Minha vida se baseia nele, e eu tenho medo por antecipação que algum idiota metido a dominador do mundo leve a vida que pertence á mim. Eu não sei o que eu faria. Provavelmente eu dividiria em dois quem fizesse isso.
Por isso, muitas vezes eu salvei Kyo das garras destes inúteis.
Kyo é outro inútil que não sabe salvar a si mesmo, e não tem orgulho suficiente para segurar a língua quando me disse "Eu estava te esperando, você demorou." ... Moleque folgado, eu devia cortar aquela língua que tanto me diz palavras petulantes.

Estas palavras que ele pronuncia me fazem sentir que ele não leva mais a sério as minhas palavras de ódio, e ele parece estar debochando de mim.
Às vezes eu sinto isso, mas às vezes eu sinto que ele sabe de sua condição e já está acostumada à ela.
Nunca vou me esquecer certo dia... Eu não sei quem estava com ele, provavelmente um parente de sua maldita linhagem, e estavam passando pela academia onde eu estava. A pessoa pareceu perguntar quem eu sou, e consegui ouvir meio de longe. Kyo apontou para mim e falou com um sorriso no rosto: "Aquele é meu nêmesis."
Foi a primeira vez que meu corpo se arrepiou com as palavras de um Kusanagi. Ele sabia que era meu, e só meu, e acho que nossa intimidade surge daí. Minha obsessão por ele nos tornou íntimos e isso é culpa minha, já que sou eu que não saio do pé dele. Ele se acostumou comigo e minha presença já não tem um impacto negativo na vida dele, ao contrário, ele me espera.
Ele mudou.
Antes ele ficava tão bravo quando eu dizia tudo o que queria, e percebia que tudo que eu falava o afetava de alguma forma. Ele já se acostumou comigo, e vejo que é muito esquisito ser aceito por ele principalmente. Kyo sabe que é minha base, e acho que eu demorei demais para matá-lo. Só o ameacei durante todos estes anos, e agora ele parece jogar na minha cara de forma silenciosa que eu não vou nunca matá-lo, com estas atitudes dele.
Seria melhor se Kyo não tivesse virado minha obsessão. Eu poderia encarar como uma simples missão a de matá-lo, mas não, eu tive de fazê-lo minha válvula de escape e agora eu não consigo mais soltá-lo. Esse foi meu erro.
Eu já disse tanto, tudo, que eu mesmo mudei meu jeito naturalmente.
Eu não tenho mais o que dizer à ele. Ele sabe.
Ainda que eu não diga nada, ainda não permito que ele morra para outras pessoas. Detesto quando qualquer um chega perto dele. Ele sabe que é meu, e quando eu disse isso apenas para ele, ele sorriu de volta parecendo assentir, e gostar.
Porém eu tenho vontade de mostrar isso à todos. Gostaria de impregnar o corpo dele com o meu cheiro, para que todos saiam de perto. Gostaria de trancá-lo em meu quarto para que eu saiba que ele está ali e que não corre perigo.

A linha que separa obsessão e desejo para mim já não mais existe... E eu assumo o que sinto, para mim e para ele, mesmo que não seja com palavras.
Meu desejo cresce cada vez mais quando percebo que ele tem mais segurança ao meu lado que com os amigos dele. Ele sabe que nunca vou deixar que nada aconteça com ele, e ele parece assumir que é desajeitado e negligente com a própria vida, e conta comigo para mantê-lo vivo.
É como se ele desse de bom grado sua vida à mim, e o que eu sinto perante isso é um desejo maior que matá-lo à força.

"Quando chegar minha hora, prefiro que seja você mesmo a tirar minha vida."

Outras de suas palavras que eu nunca irei esquecer. Ele gosta de ser meu, e é sincero perante isso. Foi a primeira vez que não consegui conter a vontade de beijá-lo. Ele se assustou com o ato, e depois com o olhar ele pediu por mais, e naquela noite eu o tomei.
Agora, não só sua vida, sua idéia e sua alma me pertencem, mas também seu corpo, e saciei o desejo de impregnar meu cheiro na pele dele. Eu o marquei com meus dentes, minhas mãos, minha essência e meu fruto. E agora muitos sabem de nossa condição e não ousam nem perguntar de onde vem aquelas marcas de beijos ao pescoço dele. Eu me deleito ao saber que ele não faz questão de escondê-las.

Quando conheci Kyo, ele tinha asas.
Ele era livre para voar para onde quisesse, livre para escapar de mim.

E ele permitiu que eu arrancasse cada pena de suas asas, e permitiu que eu colocasse uma gaiola invisível ao seu redor. Ele se permitiu ser o entretenimento de um demônio, e eu não sei o que motivou ele a mudar seu pensamento de fugir de mim para se aproximar de mim.

Ele é meu arauto, a pessoa que me destrói com o gesto e olhar, e me salva do meu passado que me atormenta.
Eu também tenho uma gaiola invisível ao meu redor. Desde o começo.

Não vou soltá-lo nunca.
Se ele morrer, seja por minhas mãos ou de outras, ele pode ter certeza que eu não vou tardar a ir embora desse mundo. Ele não vai ser livre de mim. Ele já não tem mais asas para voar e não permito que tenha outro dono além de mim. Não vou soltá-lo.
Ter este tipo de relação me fez descobrir algumas surpresas sobre Kyo, coisas que eu nem imaginava que ele faria, falaria, ou pensaria. No fundo, Kyo não é um boneco-modelo invencível como eu imaginava. Ele é apenas Kyo Kusanagi, outro que mostrava somente uma faceta para mim e todo o resto. Descobri que ele pode quebrar, e pode quebrar por minha causa. Eu descobri os pontos fracos dele, e ainda me pergunto...
Porque eu não o mato?
Porque eu já tenho a vida dele à minha mercê.
Porque tirar sua vida é fácil demais... Eu o quero aqui... E o quero em vida. Não quero acabar com a minha obsessão.

Não quero acabar com minha vida.


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