Eu sentia minhas mão suarem, meu coração bater acelerado e minha respiração entrecortada.

Quem me olha assim, desesperado, pensa que algo me aconteceu. E aconteceu. Ela está atrasada. Minha noiva, que me prometeu ontem à noite que não se atrasaria, está atrasada.

— Se acalma cara, ela já está vindo. - pediu meu amigo, pondo as mãos em meu ombro.

— Não consigo, já tentei. Eu só vou me acalmar quando ver a Mel entrando por aquela porta. - falei, apontando para a entrada do salão.

Foram oito meses planejando a cerimônia, que era apenas para a família e os amigos próximos. Era prova de bolo aqui, amostra de flores ali. Foi trabalhoso, mas o resultado final era uma festa do nosso jeito, com todos que eram importantes para nós dois.

— Seu desejo é uma ordem, ela acabou de chegar. - falou Lucas, checando o celular - A Paloma acabou de mandar uma mensagem.

Nos posicionamos, meus pais atrás de mim, o juiz no centro. Os convidados foram se levantando, ao passo que a música de entrada começou a tocar.

Primeiro, veio a minha sogra, que sorriu carinhosamente para mim e ocupou o lugar indicado. Depois, a Emma, quem eu acabei adotando como irmã depois que eu e a Mel começamos a namorar. Ela piscou os olhos para mim, sorrindo. Seu vestido amarelo claro era leve, dando a impressão que ela flutuava.

Respirei fundo, olhando para a entrada. Agora só faltava o Derek entrar com as alianças e depois viria a minha futura esposa, de braços dados com o pai.

A música trocou, passando para uma melodia suave e bem calma. Era ela.

Nunca me esquecerei daquele momento, por mais que me esforce. Seu olhar encontrou com o meu quase de imediato, mas eu ainda consegui perceber seu sorriso gigantesco, um espelho do meu.

Ela estava simplesmente deslumbrante.
Seu cabelo estava um pouco mais comprido, seus olhos castanhos eram realçados pela maquiagem. Sua boca possuía um tom rosado que me fazia ter vontade de beijá-la para sempre.

Quando a Mel finalmente alcançou o altar, andei até ela e a recebi de seu pai, que apertou minha mão e deixou um beijo na testa da minha futura esposa.

Sorri, percebendo o quão embasbacado estava por vê-la ali, tão linda, pronta para carregar meu sobrenome pelo resto da vida.

— Você está estonteante. - confessei, deixando um beijo nas costas da sua mão.

Ela me deu aquele sorriso que me deixa de pernas bambas e derrete meu cérebro.

A cerimônia correu de maneira simples e rápida, quando fui perceber, já estava na hora de trocar os votos e as alianças.

Eu estava nervoso, é claro, mas tentei sorrir para minha noiva, que me olhava com fascinação.

— Mel, você mais que qualquer um sabe o quanto eu almejei esse dia. - comecei, segurando sua mão entre as minhas - Estar aqui, hoje, te recebendo como minha esposa, é algo que me traz uma felicidade inexplicável. Eu sou apaixonado por você. Pelo seus olhos, pelo seu sorriso, pelo som da sua voz, pela pessoa que você é. Esse compromisso nada mais é que mais uma forma de me entregar a você. E serei eternamente seu. Corpo, alma e coração.

As lágrimas escorriam pela face da minha amada, enquanto eu deslizava a aliança que me havia sido entregue pelo seu dedo.

— Rafa, - começou ela, sorrindo em meio às lágrimas - você é meu melhor amigo. É para quem eu conto minhas aspirações, meus desejos, meus segredos. Meu dia não está completo se eu não ouvi sua voz, se eu não apreciei seu sorriso, se eu não senti seus lábios. Esse momento aqui, essa troca de votos, essa promessa, é o nosso "felizes para sempre". Você sempre teve meu coração, mas hoje eu me entrego inteira. Cada pedacinho meu é, agora, seu também. Para sempre.

Senti o metal frio percorrer o meu dedo, sendo levado por uma mão trêmula.

— Eu te amo. - sussurrou, apertando minha mão entre as suas.

— Pelo poder investido a mim pelo estado da Califórnia, eu os declaro marido e mulher. Você pode beijar a noiva agora, meu caro. - disse o juiz, assentindo para mim.

Em milésimos de segundos, reduzi a zero a distância entre nossos corpos, sentindo os lábios doces da minha esposa tocar os meus.

Trocamos um beijo apaixonado, repleto de significados. Nos separamos sorrindo, testa com testa e nariz com nariz.

— Por Deus, como eu te amo! - confessei, segurando seu rosto entre minhas mãos.

— Eu te amo infinitamente, Rafa.

— Vamos, senhora Alkmin, estão nos esperando. - chamei, estendendo minha mão para ela.

Minha esposa riu, colocando sua mão sobre a minha.

Seguimos para a festa, que seria realizada no espaço ao lado. Pelo caminho, abraços e apertos de mão nos parabenizando.

Minha mãe, quando teve a chance, quase se derreteu de tanto chorar, me abraçando e me desejando felicidades. Quando finalmente consegui acalmá-la, minha sogra apareceu, abraçando a filha e chorando horrores, o que fez com que minha mãe voltasse a chorar.

— Desiste, amor, elas não vão parar tão cedo. - falou a Mel no meu ouvido, antes de ser esmagada pela irmã.

— Você está tão linda, foi tudo tão lindo!

— Obrigada, Emma. Agora, por favor, me deixe respirar. - pediu minha esposa, rindo.

— Desculpa, é só que eu estou tão feliz por vocês dois! - explicou, me puxando pelo pescoço e me dando um abraço apertado.

É realmente impressionante como uma pessoa tão pequena pode ter tanta força.

— Emma, não mate os noivos no dia do casamento! - exclamou Jake, se aproximando.

— E aí, cara! - o cumprimentei, assim que me livrei do aperto da minha cunhada.

— Parabéns pelo casamento! - desejou, dando um tapinha nas minhas costas.

De início, eu não fui muito simpático com o Jake por estar sendo protetor com a Emma, mas depois de um tempo nós acabamos nos tornando amigos.

— Valeu, cara. - agradeci, retribuindo o gesto.

Ele olhou ao redor do salão, parando seu olhar na namorada, que conversava com a irmã.

— Deu até vontade de casar. - falou, ainda encarando a Emma.

— Se você sente que está na hora, vai nessa. - aconselhei - Já fazem quantos meses que vocês estão juntos?

— Quase onze meses.

— Já é um bom tempo... Se você gostou da ideia, pensa um pouco e decide. - falei, deixando-o sozinho com seus pensamentos.

Resgatei minha esposa da Emma e seguimos pelo salão, cumprimentando todos no caminho.

— Amiga, estou tão feliz por vocês! - minha irmã, a Paloma, disse. Ao seu lado direito, nosso irmão mais novo, Felipe, que também nos parabenizou.

— Obrigada, amiga. Espero ter outro casamento para ir em breve. - disse a Mel, olhando de soslaio para o Lucas, que conversava com as irmãs dele, Manuela e Valentina.

Enquanto elas conversavam, perguntei ao meu irmão:

— Onde está o Fernando?

Fernando era provavelmente o vígesimo namorado do meu irmão desde o ensino médio, quando ele assumiu sua homossexualidade.

— Nós terminamos.

— Sinto muito, cara.

— Obrigado. Eu vou ficar bem, só preciso de uma distração. - falou, olhando para o salão fixamente.

Segui seu olhar, encontrando a silhueta do melhor amigo da minha irmã e da minha esposa, o Oliver, que também era homossexual.

Suspirei, balançando a cabeça. Ele não tinha jeito mesmo.

— Eu não concordo, mas não vou me meter. - falei - Só não faça nada estúpido.

— Eu sei. Não farei.

— Porque eu não consigo acreditar em você?

— Porque você sabe que eu sempre acabo fazendo algo estúpido. - retrucou rindo, andando em direção ao Oliver.

Segurei seu braço para que me olhasse antes que se afastasse.

— Eu falo sério, Felipe. Minha esposa realmente se importa com ele e eu não quero ter que escolher entre você e ela.

— Eu entendi, cara. Relaxa. - falou, e eu soltei seu braço.

Só esperava que ele estivesse falando sério.

— Hey, está tudo bem? - perguntou a Mel, me abraçando pelas costas.

— Está sim. Vamos lá conversar com o Harry e a Lauren. - sugeri.

Caminhamos em direção ao casal, que conversava calmamente, enquanto a Lauren acariciava a barriga inchada.

— Olha eles aí! - exclamou ela, fazendo menção de levantar.

— Não, Lauren, fique quietinha aí! - reclamou a Mel, indo em direção à ela e a abraçando.

— Como estão nossas sobrinhas? - perguntei, cumprimentando-a.

— Estão bem agitadas hoje. - respondeu, sorrindo - Parabéns pelo casamento, foi lindo e eu chorei horrores!

— Obrigada, sei que é bem cansativo para você vir, por conta das meninas, então agradeço por terem feito esse esforço.

— Não perderíamos por nada, Mel. - falou o Harry.

— Então, já conseguiram decidir os nomes? - perguntei.

— Estamos em dúvida, mas creio que quando chegar a hora nós saberemos. - Harry disse, olhando para a esposa de modo apaixonado.

— Nós pensamos em: Alice, Sophia, Victoria e Angelina. Não conseguimos decidir entre os quatro, então espero que quando finalmente pusermos os olhos nelas, os nomes certos surgirão.

— Bom, boa sorte com isso. - desejei, me despedindo do casal.

— Boa sorte! - desejou a Mel.

Nós nos despedimos e seguimos para conversar com mais pessoas.

Os nossos amigos estavam todos juntos conversando num grande e barulhento grupo, então nos dirigimos para lá.

— Aí estão os pombinhos! - falou Alexander, o mais novo do grupo, tirando os gêmeos (Cassandra e Will) e o Derek.

Fomos recebidos com muita gritaria e risadas. Era sempre assim quando estávamos juntos, visto que éramos um grupo enorme que se conhecia desde sempre.

— Oi gente, muito obrigada por terem vindo! - agradeceu a Mel.

— Significa muito para nós. - completei, abraçando-a.

— Foi tudo lindo, Mel. Desejo muita felicidade a vocês dois. - disse Helena, filha da tia Fernanda, segurando as mãos da minha esposa entre as dela.

Helena é daquele tipo que se pode chamar de good vibes, ela é extremamente calma e centrada, fala baixo e pausadamente.

Quem a vê assim, nem imagina que ela é um prodígio. A garota tem vinte e dois anos e já é uma agente especial federal reconhecida, passa os dias correndo atrás de bandidos e infratores.

— Obrigada, Helena.

O quarteto fantástico (Manuela e Valentina, irmãs do Lucas, e Mathew e Alexander, filhos da tia Priscila) também nos cumprimentou. Eles eram os mais novos do grupo (junto com a Helena) e estavam sempre juntos.

— Eu espero mesmo que você seja tão romântico quanto o Rafa no nosso casamento, Mathew. Estamos noivos a quatorze anos! - brincou a Val, lembrando que o amigo a pediu em casamento quando ambos tinham sete anos.

— Eu só espero ter a sorte de encontrar um cara que seja hétero. - falou naturalmente a Manuela, espontânea como sempre foi, nos fazendo rir - Estou falando sério, galera. O Lipe e o Oliver estão acabando com a população hetéro do mundo!

— Você é muito dramática, Manu! - exclamei, bagunçando os cabelos curtos dela.

— Meu irmão me trocou pelo seu irmão, Rafa! - reclamou Penélope, se aproximando.

— Sei bem como é! - Emma disse, olhando para eu e a Mel, nos fazendo rir.

— Bom, nós vamos dar mais uma volta pelo salão e depois voltamos aqui. Enquanto isso, vão agitar a pista de dança. - sugeriu minha esposa, arrancando exclamações de todos ali.

— É para já! - falou Thomas, arrastando todos ali para a porção do salão destinada à dança.

Fomos em direção aos nossos pais, que conversavam no seu grupo de amigos quase tão grande quanto o nosso.

— Queridos, que cerimônia mais linda! - exclamou tia Ana assim que nos aproximamos.

— Obrigada a todos por terem vindo, é muito importante para nós! - agradeci e a Mel assentiu com a cabeça.

— Não perderíamos por nada no mundo. - falou o tio Alan.

Nós conversamos um pouco com eles, ouvindo histórias dos nossos tempos de criança e comentários sobre como éramos um casal lindo.

— Vocês parecem mais apaixonados que nunca. - comentou minha sogra, antes que nos afastássemos do grupo.

— Eu acho que nunca me senti tão feliz. - confessou a Mel, olhando para mim com aqueles olhos castanhos profundos e intensos.

— Bom, este é o segundo dia mais feliz da minha vida.

— Segundo? Por quê? - perguntou, o cenho franzido em confusão.

— Bom, eu estou guardando o primeiro para quando tivermos um bebê.

Seu sorriso foi o mais lindo do planeta. Ali, naquele momento, senti o mundo parar. Era como se tudo à nossa volta estivesse pausado. Só havia nós dois ali e só tínhamos olhos para o outro.

Aquele sorriso era o que me fazia levantar todas as manhãs, que me acalentava quando sentia sua falta, por conta do meu trabalho ou do dela.

Era aquela mulher, ali e agora, que me fazia ver sentido na vida. Era por ela que cada célula do meu corpo clamava e por quem eu respirava, todo os dias.

Distante, ouvi uma melodia conhecida tocar e despertei do meu transe.

— Me acompanha nesta dança, querida esposa? - perguntei à Mel, estendendo minha mão para ela.

Fomos para a pista de dança, All of Me, do John Legend tocava e eu queria dançar aquela música com a minha esposa e reafirmar tudo aquilo que eu já havia dito. Eu pertencia completamente a ela.