Fani

Acordei com uma dor de cabeça terrível, a luz que entrava pela janela fazia meus olhos doerem, pedindo para serem arrancados do meu corpo. Eu conhecia bem esses sintomas, embora não fosse muito comum para mim estar nessa situação: ressaca.

Peguei meu celular para verificar as horas e quase enfartei: eram sete e meia da manhã! Desesperada, levantei rápido, mas acabei ficando tonta e bati meu pé no criado-mudo.

Sem querer, soltei um palavrão bem alto, fazendo o Leo acordar.

– Que bom humor é esse de manhã, amor?- ele perguntou fazendo graça da minha situação.

– Muito engraçadinho você, rindo da sua esposa. Levanta que temos que nos arrumar correndo para irmos ao aeroporto, já são sete e meia.

– Droga! – ele disse, se levantando e indo em direção ao banheiro

Decidi, então, arrumar minha roupa para a viagem enquanto Leo se banhava, mas fui surpreendida por seus braços me levantando e indo em direção ao banheiro comigo.

– O que você está fazendo, Leo?

– Poupando tempo, amor. – ele respondeu, malicioso.

Nem preciso dizer que fizemos tudo, menos poupar tempo.

Quarenta minutos depois, saímos do banheiro, o Leo já vestido com sua calça e eu apenas de roupa íntima, já que minhas roupas estavam em cima da cama.

– Sabe, você está maravilhosa vestida assim – ele disse

– Vestida assim como? Eu estou seminua, Leo! E você deveria estar colocando a sua camisa em vez de olhar para minha bunda!

– O que eu posso fazer se você tem uma bunda maravilhosa, amor? – corei, jogando um travesseiro nele

– Vai se vestir, Leo! – falei, já colocando minha blusa

– Tudo bem, estressadinha! – ele levantou as mão, em sinal de rendição, e voltou sua atenção em abotoar os botões de sua camisa social azul clarinho, presente de mamãe.

–X-

Já prontos, descemos para um café da manhã em tempo recorde, enquanto seguíamos para o aeroporto.

Chegando lá, quase todo mundo estava presente, menos a Gabi e o Victor.

Priscila e Rodrigo estavam no maior love, então presumi que tivessem se acertado para valer ontem.

Nos despedimos de todos, ouvimos sermão da minha mãe, meu pai mandando termos cuidado, enfim, tudo.

Dei um abraço na Pri e sussurrei para que só ela ouvisse:

– Vou querer saber de tudo depois!

Fomos, então, para a sala de embarque. Me celular vibra e eu olho no visor, vendo uma foto minha e da Gabi dando língua e embaixo o seu nome. Atendi.

– Oi amiga de araque que não veio se despedir! – digo, brincando

– Fani, amiga, eu sinto muito mesmo! Eu bem que tentei, mas nem acordar consegui, a noite foi longa...

– Hum, sei... Sem problema, te perdoo amiga! Mas agora tenho que ir, já vamos embarcar!

– Ok, vá lá! SE divirtam muito! Amo vocês!

– Também amamos você, amiga!

O Leo me olhou interrogativo e eu gesticulei com os lábios, sem emitir som “É a Gabi” e ele mandou beijos.

– O Leo está te mandando beijos!

– Manda um pra ele também, agora tenho que ir porque paloma está querendo comer o controle remoto da tv, beijos!

Dei risada, me despedindo e desliguei.

Já dentro do avião, seguimos para a nossa poltrona, meu lugar na janela e o do Leo no corredor. Assim que decolamos, encostei minha cabeça em seu ombro e adormeci.

Quando acordei, estávamos a quinze minutos do nosso destino, então aproveitei para ir ao banheiro e acordei o Leo, que também dormia, logo em seguida.

Pousamos e, alguns minutos depois, desembarcamos. Passamos um tempinho na esteira, esperando nossa bagagem, depois seguimos para a saída do aeroporto, de onde tomamos um táxi em direção ao hotel.

–x-

Coloquei o cartão de abertura no espaço a ele destinado e a porta foi destrancada. Respirando fundo, levei minha mão à maçaneta e abri a porta, revelando um quarto espaçoso e grande, com uma decoração meio rústica, porém bela.

A parede, com uma estampa em tons de laranja, contrastava com o piso e os móveis, estes em madeira escura. Adentrando mais o local, à esquerda, haviam duas poltronas e um sofá de três lugares, todos em preto. Mais ao fundo, uma mesa redonda e pequena e, encostado na parede, um frigobar.

Do lado direito, uma cama de casal king size. À frente dela, presa na parede por um suporte, uma televisão LED de 48 polegadas. Meio exagerado, até porque não acho que a gente vá assistir muita televisão...

Ao lado da tevê, a uma pequena distância, uma porta, que levava ao banheiro. Na outra parede, estava encostado um grande armário de madeira escura.

Admirada com tudo aquilo, dei um giro, observando o quarto passar rapidamente pelos meus olhos, caindo de braços abertos na cama, sorrindo e encarando o teto.

Não demorou muito e meu marido se juntou a mim, e então ambos passamos a encarar o teto por pelo menos alguns minutos, sorrindo como bobos.

– É lindo! – eu disse, suspirando.

Passamos mais um tempo assim antes que o Leo virasse a cabeça e dissesse:

– Então, o que quer fazer primeiro?

Respondi que queria desfazer as malas.

– Afinal, não quero ter que fazer isso depois. Quero aproveitar essa lua-de-mel ao máximo!

– Tudo bem, vamos desfazer as malas então! – disse ele, levantando-se e estendendo a mão para que eu também o fizesse.

Aceitando sua ajuda, levantei-me, agradecendo, e indo em direção às malas, encostadas ao lado do armário. Com sua ajuda, as pusemos em cima da cama e abrimo-as. Leo pescou um bilhete na mala dele, por cima das roupas.

“Queridos Fani e Leo,

Tomamos a liberdade de arrumar a mala de vocês, pombinhos!

Considerem como (mais um) presente de casamento.

Divirtam-se, amamos vocês!

Seus amigos (todos eles)

P.S.: Fani, deixei um presentinho para você. Creio que o Leo vai gostar, se é que você me entende. (Nat)

Beijinhos”

Ao terminar de ler, já estava tão vermelha que daria inveja a qualquer tomate, pois sabia que o Leo também havia lido o bilhete.

– Então... – ele começou, um sorriso brincalhão em seus lábios.

– Não! Nem pense nisso! – o interrompi. Oh, não!

– Tarde demais!

Dito isso, corremos em direção à minha mala, ele chegando primeiro e vasculhando as roupas na mala preto e branco do Snoopy. Para impedi-lo, pulei em suas costas, tapando sua visão com minhas mãos. Como ele conseguiu se soltar e tirar minhas mãos, pus-me a procurar por entre as roupas, na esperança de encontrar o tal presente antes que o meu marido o fizesse.

Estava procurando no cantinho da mala quando senti um tecido diferente. Seda. Tentei puxá-la, mas parecia estar presa. Porém, quando olhou para o lado descobriu a mão do Leo segurando a outra ponta.

Uh-oh.

Aproveitando-se de minha distração, puxou a lingerie, surpreendendo-me. Curioso, exibiu a peça: uma camisola de seda vermelha. Curta, decotada e transparente. Até que é bem sexy, pensei, enquanto corava nos mais diversos tons de vermelho. Muito obrigada, Natália!

– É, ela tinha razão. Eu gostei. – disse ele, descarado.

– Argh, me dá isso!

– Na-na-ni-na-não! – exclamou ele, levantando a mão esquerda acima de sua cabeça, impedindo-me de recuperar as peças. Sou mais baixa que o Leo uns bons dez centímentros, então só me restava pular, tentando recuperar a peça.

Num momento de distração, pulei em suas costas (de novo), ele então passou as peças para a mão direita, tentando se livrar de minhas mãos insistentes com unhas afiadas. Oh, sim. Eu estava determinada a conseguir aquela camisola de volta!

Continuamos nessa brincadeira de gato e rato por um tempo, até ele me atirar na cama, por cima do ombro em algum golpe de artes marciais.

– Tá, eu desisto. – eu disse, enquanto ele se aproximava e colocava os dois braços ao lado de seu corpo, apoiando-se na cama, mas ainda de pé.

– Tudo bem, eu ia te devolver mesmo. – ele respondeu.

– Sério? – perguntei, enquanto me aproximava e depositava um selinho em seus lábios.

– Sim – ele falou, dando-lhe outro beijo -, mas com uma condição:- outro beijo - você vai ter que usar.