Primeiro dias de aulas a sério.

Ia ficar na mesma turma que Kae, Milena e Jack, e ainda bem, pelo menos não ia enfrentar este primeiro dia sozinha.

A primeira aula era com Mary, que tratou de me integrar logo na turma e na sala.

– Bom, como já todos devem saber, está aqui a Eleanor, a nova colega. Sê bem-vinda a aula de História. Não vai ser bem a “História” a que estás acostumada, mas esperemos que conseguis acompanhar!

Assenti. Tinha de estudar até não aguentar mais, era isso que ela me estava a dizer. Sorri e assenti.

Ah! Ia ser tratada como uma aluna normal, perfeito! Já me bastava os olhares que me mandavam no corredor!

– Senta-te na carteira ao lado do Turner.

Olhem para ela de sobrolho franzido, fazendo todos rirem. Quem?

– Do Ian!- Disse ela sorrindo. Preferia ter ficado sem saber… Assenti e fui. Ele nem me olhou. Era melhor, para ambos mesmo!

A aula passou num instante, uma desilusão, pois estava a adorar. Consegui apanhar tudo, o que foi bom, pois não ia ter de estudar assim tanto. Assim que fomos libertados para o intervalo, Ian saiu a correr de perto de mim. Revirei os olhos e fui ter com Kae e os outros, e fomos assim para o intervalo.

Aula seguinte: Línguas. Não era a minha melhor disciplina, verbos e conjunções não eram bem a minha área, o que era muito mau, pois já tinha percebido que o nível médio das notas era bastante bom…Precisava de ajuda.

Adorava ler e escrever, mas eram coisas que saiam naturalmente, não estava propriamente a pensar no tempo ou modo em que o fazia.

Ok, ok… Era uma teoria muito absurda!

O professor Aaron era bastante atencioso e simpático, o que ia ajudar imenso, se bem que com as minhas dificuldades só isso não ajudaria…

Para além de ser um excelente professor, era também um excelente…hum…homem… Tinha um de ter trinta anos, se bem que duvidada que fosse essa a idade dele, e de ser bastante …Selvagem. Com aquele ar sedutor, era impossível desconcentrar nas aulas!

Andrew, o querido professor de educação física…Devia ter sido militar na outra vida…Tinha de ser tudo feito nas condições dele, não abria exceções para ninguém, mesmo não havendo aulas, ele certificava-se sempre de que as 32horas de ginástica eram cumpridas, da melhor maneira, caso contrário, era como se nunca tivéssemos estado ali.

Ainda bem que gostava de desporto, caso contrário, era mais uma a juntar a Línguas.

As aulas da manhã acabaram ali, por isso fui almoçar com eles todos. Divertimo-nos bastante na hora do almoço, sempre a rir e na palhaçada, o que era bom, pois não pensava noutras coisas…

Durante esta hora, reparei também noutra coisa. Nos olhares intrigantes que Ian me mandava. Ora olhava para mim confuso, ora olhava docemente…O mais estranho, era o facto de ele sequer olhar!

Já a namorada fazia o mesmo, mas ela com um olhar matador. Só lhe disse que não podia almoçar com ela, para quê aquilo tudo?

Ai se o olhar matasse…

Não me preocupei mais com aqueles dois. Não era por eles que estava ali, não eram eles que me iam estragar isto.

Estava aqui para cumprir algo, para salva-los, e era isso que ia fazer. Era tudo o que podia fazer.

Primeira aula da tarde era Ciências, mas que estavam mais relacionadas com a genética dos vampiros, humanos, agora com a minha…Coisas assim, pelo menos por enquanto, por isso acho que ia sair bem. Adorava fazer experiências e observações, até os relatórios gostava de escrever!

O único azar era que o meu parceiro era o Ian, por isso as coisas não iam correr assim tão bem neste aspeto.

A última aula do dia, era com dois professores. A Diretora Elizabeth e o professor Boyce.

Era a minha preferida até agora, uma aula de auto defesa. A diretora Elizabeth tinha dupla personalidade: fora daquela sala era bastante querida, dentro da sala virava leoa. Era bastante mais rígida que o “sargento” Andrew, mas era compreensível, só queria o melhor para os seus alunos, queria que eles tivessem a oportunidade de se defenderem caso acontece-se algo.

– Bem vindos a mais uma aula de defesa! Daqui em diante contaremos com a participação da Eleanor, aliás, podem agradecer-lhe, pois durante algumas aulas, terão a oportunidade de ter um pouco de descanso, visto que terei de trabalhar bastante com a jovem escolhida. – Disse sorrindo-me.- Podes chegar aqui?

Assenti e fui até ao centro, onde ela estava. Todos se juntaram em volta do circulo do meio.

– Podes mostrar-nos?- Perguntou, bastante curiosa.

– Mostrar o quê?- Perguntei eu, agora confusa.

Ela agarrou-me na mão e encostou-a á sua barriga. Aí eu percebi e arregalei os olhos.

– Não funciona assim…-Expliquei.- Só quando estou assustada, com medo.

– Mas já o usas-te antes?

– Sim, apenas duas vezes.

– Explica-nos como aconteceu, que experiências te deixaram tão aterrada que tiveste necessidade de o usar.

Não, não queria falar sobre aquilo, muito menos em frente de pessoas que não conhecia.

– Preferia guardar esses momentos para mim.- Disse com lágrimas nos olhos, ao recordar a rapariga assustada ao fugir dos rufias, a mesma rapariga que há pouco tempo tinha sido atacada.

– Eleanor, precisamos de te conhecer, saber quem realmente és…

Eu sabia o que ela estava a tentar fazer. Queria que os recordasse para sentir medo de novo, para usar o meu dom, mas não o ia fazer. Tirei rapidamente a mão do seu ventre.

– Sou quem eu for, e esses demónios são coisas por que eu passei e que ninguém tem de saber, ninguém merece saber.- Disse com as lágrimas já a escorreram.

Não podia ser sujeita a estas coisas, não podiam deixar que me usassem para fazerem de mim aquilo que bem entendiam. Não era correto.

A diretora assentiu e sorriu.

– É isso que precisamos de controlar querida. A tua raiva, o teu medo. Olha para baixo.

Quando olhei a minha mão estava a brilhar. Analisei-a de todos os ângulos que pude e reparei que estavam todos espantados a olhar para mim, ou melhor, para ela.

– E agora?- Perguntou.

– Agora toco…- Ela assentiu e chegou-se á frente.- Não, ainda só o fiz com humanos, não sei o que poderá acontecer com vocês!

Ela assentiu e aos poucos o brilho foi desaparecendo, até deixar de existir por completo.

– Não precisava que partilhasses o teu passado, não queria que o fizesses, faz parte de ti, uma parte não precisa-mos de conhecer. Precisava apenas que os recordasses.

– Desculpe.- Disse sorrindo, constrangida.

– Deixa querida, está tudo bem. Talvez tenha abusado um pouco, queria apenas ver até onde conseguias ir. Com o tempo vai melhorar, só precisas de ajuda e é para isso que todos estamos aqui!

– Obrigada.- Agradeci do coração.

Depois fui apenas apresentada ao professor Boyce, não iria ter, definitivamente aulas com ele, só se fosse fazer de cobaia visto que ele dava aulas de ajudas especiais. Ajudava-os a controlarem-se junto de sangue humano, sabendo escolher o sangue e essas coisas.

Acho que para primeiro dia de aulas, as coisas até correram bastante bem, esteve tudo calmo, nada de confusões… Se isto fosse assim todos os dias, ia-me adaptar bastante bem!

Era só isso que desejava neste momento.

Lembrei-me de ir falar antes com Kae, eu era humana, ou seja, tinha uma memória com algumas falhas…

– Hey, Kae!- Disse chegando-me ao pé dela, depois de terem saído da aula do professor Boyce. Abraçamo-nos.

– Como foi o primeiro dia?- Perguntou sorrindo

– Bastante bom, obrigada.

– Se algum dia quiseres falar, conta comigo.

– Estás a falar da aula certo?- Presumi logo, fitando o chão, e logo a seguir, os seus olhos

– Sim, foi…Intensa.- Comento, olhando-me nos olhos.

– Obrigada, um dia falaremos então e explico-te tudo.

– Combinado!- Disse. Ambas rimos.

– Ouve, tenho um pequeno problema… Sou péssima a Línguas e preciso de ajuda, pelo menos agora no principio…

– Oh Lela, adorava poder ajudar-te, mas também não sou muito boa, porque não pedes aos mais velhos?

– Já pedi, mas estão ocupados com trabalhos para o final do ano e essas coisas. Compreendes?

– Sim, sim! Bom, há uma pessoa, a melhor da turma, mas não vais gostar…