Friends escrita por Amsted


Capítulo 3
Capítulo 3 - Adversidades


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo há um destaque para Seiya e Saori. Alguns segredos surgirão ao longo da história.



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When You’re Gone - (Avril Lavigne)

 

“When you're gone - Quando você se vai

The pieces of my heart are missing you - Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

When you're gone - Quando você se vai

The face I came to know is missing too - O rosto que eu cheguei a conhecer se perde também

 

When you're gone - Quando você se vai

The words I need to hear - As palavras que preciso ouvir

To always get me through the day - Pra sempre me fazer superar o dia

And make it ok - E fazê-lo ficar bem

I miss you - Eu sinto a sua falta

Capítulo 3

Adversidades

A noite foi terrível para Hyoga. O rapaz não queria ser rude, muito menos se queixar sobre alguma coisa referente ao apartamento de Saori (o que era praticamente impossível), mas... Sentia falta de algo. Quanto mais tempo ele olhava para gigantesca TV de LCD em seu quarto, sua cama incrivelmente macia ou qualquer outro luxo que aquele apartamento possuía, sentia-se como um peixe fora d’água. Nada ali era seu. Nada daquilo se parecia com ele. Era, ali dentro, um completo estranho... estava mais acostumado com batalhas e gelo.

 

É claro que isso somado com a sua preocupação em relação à saúde do amigo Shun, apenas piorava as coisas. Saori era sempre muito gentil com Hyoga, todas as vezes que ela saía do seu quarto (o que se resumia a uma vez para cada seis horas). Enquanto ambos tinham objetivos semelhantes era fácil manter o diálogo. Depois de tanto tempo muita coisa mudou entre os dois amigos. Não havia mais o que ser dito, e o loiro também nunca foi muito chegado a conversas fúteis (o que era a base de quase todas as conversas dessa “nova” Saori).

 

“Catherine... Shun...” Seus pensamentos estavam divididos. Por volta das cinco e meia da manhã, decidiu, enfim, levantar-se e dar uma volta pelo quarteirão. Quando pisou fora do espaço pertencente ao condomínio de Saori, foi como se um ar renovado o tivesse preenchido os pulmões sufocados. Teve vontade de falar, tagarelar... bem alto! Mas não fez, deixou apenas a vontade tomá-lo com intensidade e se afastar, transformando-se aos poucos em um simples desejo insano.

 

“I always needed time on my own - Eu sempre precisei de um tempo sozinha

I never thought I'd, - Eu nunca pensei

Need you there when I cried - Que precisaria de você quando eu choro

And the days feel like years - E os dias parecem anos

When I'm alone - Quando eu estou sozinha

 And the bed where you lie - E a cama onde você deitava

Is made up on your side - Está arrumada ao seu lado

.

When you walk away - Quando você vai embora

I count the steps that you take - Eu conto os passos que você dá

Do you see how much - Você vê o quanto

I need you right now - Eu preciso de você agora?!”

 

A jovem e bela Saori Kido também estava preocupada com Shun. Entretanto, não tão preocupada a ponto de lhe tirar o sono. Estava exausta e completamente perdida em seus sentimentos. Sua raiva, seu ódio, rancor, insegurança, medo de não saber o que falar... Tudo se dissolveu nos olhos gentis e amáveis de Seiya. Ela, a menina rica e mimada, como todos a vêem... Perdidamente apaixonada pelo pebleu.

 

Ela chorou muito durante o resto daquele dia. Chorou um pouco pelo desmaio de Shun. Um pouco por ver todos relativamente bem. Também chorou pelas saudades de casa. Mas principalmente, chorou por não ter trocado uma palavra com seu amado até então. Em todas as cenas que ela imaginou o reencontro dos dois, haveria diversas brigas escandalosas, ou beijos ardentes. Foi então que se imaginou como uma fraca, uma completa covarde.

 

- Por que você não me liga, Seiya? – Ela falava isso, enquanto afundava em seu travesseiro molhado de lágrimas e olhava para seu celular rosa.

 

Onze horas ela decide levantar para comer alguma coisa. Vestia uma camisa branca e grande, masculina, com botões que a fechavam pelo meio. As mangas eram dobradas até a metade, para seu braço fino poder aparecer. Essa foi a camisa que Seiya usou quando foram a um casamento de uma amiga da Saori, e que ele esqueceu na mansão Kido, após uma romântica e deliciosa noite em que os dois fizeram amor pela primeira vez. As lembranças daquele dia fizeram Saori sorrir.

 

Ela estava parada em frente à geladeira, pensativa sobre o que comeria. A mesma estava parcialmente vazia, ainda não fizera nenhuma compra no pouco tempo em que chegara a Nova Iorque. Optou por uma torrada e um creme de queijo, servindo-se ainda de um pouco de leite de soja. Após o café-da-manhã, resolveu ver se Hyoga já se levantara. Sem nenhum sinal do loiro, decidiu mudar de roupa para uma calça de marca e uma camisa bordada com tons bem primaveris. Desceu pelo elevador e encontrou Shiryu saindo do apartamento da frente, um pouco mais adiante que ela.

 

- Shiryu, espere! – Correu sem nem ao menos olhar a rua.

 

- O quê? – Virou-se Shiryu. – SAORI!

 

O chinês se jogou em alta velocidade, parando um carro preto que acertaria em cheio a senhorita Kido. Usou uma das mãos para segurar o carro que teve parte de sua lataria amassada. A menina parecia paralisada de medo. Shiryu soltou o carro sem sofrer nenhum arranhão, em seguida foi averiguar se Saori estava realmente bem, procurando algum vestígio em seu corpo de sangramento ou hematoma.

 

- Eu estou bem... Estou bem! – Falou de forma quase histérica da segunda vez. Shiryu a largou.

 

- Está tudo bem mesmo?

 

- O que foi isso, amigo? Quem vai pagar os danos do meu carro? – Um homem baixo, relativamente gordo e careca saiu do carro, questionando sobre o estrago.

 

- Eu pago, não se preocupe. – Saori pegou um papel e uma caneta que tinha na bolsa em que carregava, e nele fez algumas anotações. – Toma, aqui está meu nome e telefone, ligue para este número que eles resolverão tudo pra você... qualquer dúvida eu moro bem aqui na frente.

 

- Vê se olha por onde anda moça e... Meu Deus, o quê fez esse carro ficar assim? – Espantou-se por não ver nada capaz o suficiente de ter feito isso ao seu precioso carro.

 

- Vamos Saori, as coisas aqui podem ficar complicadas...

 

Andaram rapidamente para a praça Washington Square. Shiryu não quis comentar o ocorrido, era muito discreto em relação a situações constrangedoras. Pararam e o jovem chinês retirou de sua calça jeans um bilhete que tinha anotado algumas ruas e diretrizes. Pelo que ele entendeu não era longe dali, mas ainda estava cheio de dúvidas em relação aos nomes das ruas. Saori então quebrou o silêncio.

 

- O que é isso Shiryu?

 

- O endereço do estúdio dos garotos. Cacetada, essas ruas são tão complicadas, mas acho que é por ali...

 

- Deixe-me ver! É, isso mesmo, é logo ali naquele prédio de tijolos, eu conheço o prédio, você vai precisar de mim, portanto... vamos nessa?

 

- Como é que é “garotinha intrometida e sabe-tudo”? – Ele brincou.

 

- Há-Há! Essa piada seria boa se tivesse graça!

 

- “Há-Há!” Isso é engraçado por acaso?!

 

Ela fez uma careta e os dois prosseguiram. Não sabia como seria sua reação ao ver Seiya atuando. Era estranho pensar desse jeito, sem ter uma ordem de como agir, um planejamento. Saori decidiu “pagar pra ver”, estava até se divertindo com a idéia “deixe o momento me guiar”. Shiryu, por sua vez, estava indo para as filmagens apenas para ver os amigos e porque eles haviam combinado de almoçarem juntos depois. Além do mais o chinês não tinha nada pra fazer até a semana seguinte, quando as aulas começariam (e o temível trote ocorreria).

 

- É aqui, One Time Square... Wharner Brothers Studio!

 

- Incrível...

 

Os dois subiram, tinham autorização dada pelos atores, Seiya e Shun. A Minissérie que gravariam se chamava The Trip! (A Viagem). A história fala de uma garota de descendência japonesa que perde a memória num acidente de carro. Com pena da menina, uma família também de descendentes japoneses a inserem na família, alegando serem parentes legítimos. Ao longo do tempo a menina tem certas recordações da viagem e vai em busca da sua verdadeira história.

 

- Shiryu, Saori! Que bom que vieram nos ver aqui no estúdio... venham, o Seiya ta lá no camarim, a próxima cena será com ele. – Empolgado, Shun puxou os amigos para perto do cenário montado do estúdio.

 

- Está melhor Shun? – Perguntou Saori.

 

- Estou sim, os médicos falaram que eu estou só um pouco gripado e liberaram pros ensaios. Só disseram para não pegar mais chuva e nem me exaltar muito. É claro que o Ikki me mandou dois guarda-chuvas de precaução. Mas venham ver aqui o estúdio.

 

- Quais são os seus papéis? – Perguntou Shiryu, interessado no assunto.

 

- Bom, o meu nome vai ser Akira. Sou um dos filhos da família Hikari, que abrigam a personagem principal. Gente, vocês não sabem quem vai fazer o papel principal! Brenda Song!

 

- Quem? – Perguntaram os dois ao mesmo tempo.

 

- Como assim vocês não sabem? Ela é uma atriz bem famosa! Ela é muito engraçada, nos damos muito bem! – O Andrômeda parecia cada vez mais entusiasmado com toda a história.

 

- E Seiya, que personagem ele faz? – Perguntou Saori, tentando disfarçar o tremendo interesse.

 

- O personagem dele terá um pouco mais destaque do que o meu. O nome dele é Hajime Hikari, é um dos meus irmãos e eu nem acredito que ele vai... – Houve uma chamada do diretor. – É agora, vai começar, vamos ver!

 

Seiya se dirigiu ao lado de fora do cenário (que lembrava um quarto feminino), enquanto a atriz Brenda entrou no cenário. A menina parecia bem amedrontada, fingia dormir e tinha o corpo molhado como se estivesse suando. Brenda tinha uma expressão maravilhosa que dava veracidade à cena. Até mesmo Seiya tinha mudado sua fisionomia, havia de fato “incorporado” o personagem. O diretor os alerta para a gravação e prepara-se para dar o comando: Gravando!

 

- Pai, cuidado... – Ela se debatia na cama. – Mãe, não deixa o papai dormir no volante.

 

- Aya? – Falou Seiya do lado de fora do quarto – Aya, você ta legal?

 

- Nãããão... – A menina se contorcia desesperadamente e chorava muito.

 

- Aya! – Gritou Seiya.

 

- Nós vamos cair... – Ela se debate e Seiya invade o quarto, debruçando-se sobre Brenda. – Não quero morrer...

 

- O que foi Aya? – O menino passava as mãos pelo rosto da menina. Saori nunca pensou que Seiya pudesse atuar tão bem.

 

- A gente vai morrer... – Seiya verifica a testa de Brenda.

 

- Ela está delirando. – Ele beija o canto da boca de Brenda. – Calma Aya, fica tranqüila, eu não vou te deixar morrer, ok?! Eu estou aqui, por favor, acorda!

 

Ele suspirou e pegou a mão de Brenda. Erguendo-na para próximo de seu peito, tentou acordar a menina. Por uma pequena tela de TV onde o diretor analisava a cena que estava sendo grava, a câmera deu um zoom no rosto dos dois. Os rostos estavam muito próximos e um ventilador grande faziam os cabelos deles dançarem de forma harmoniosa, dando dramaticidade à cena.

 

- Eu nunca senti isso antes. – Falou Seiya numa voz apaixonada que Saori bem conhecia. – Acorda Aya, por favor.

 

- Ha-hajime? Ah, Hajime! – A menina se agarra em Seiya. – Foi horrível, um acidente terrível... tinha o papai e a mamãe, mas eles estavam tão diferentes e... aquelas imagens horríveis.

 

- Foi só um pesadelo, Aya. – Consolou Seiya.

 

- Hajime, posso te fazer uma pergunta? – Brenda se desvencilha dos braços envolventes de Seiya. – Por quê você não me chama de irmã?

 

Ele disfarça, virando o rosto. Para os espectadores convidados ficava a impressão de que o personagem Hajime era apaixonado pela personagem Aya. Obviamente os dois não poderiam ficar juntos, eram irmãos, e Hajime tinha de manter sua paixão em segredo. Aya começava a ter pesadelos com o acidente que a fizera perder a memória, mas ainda tinha a idéia de que seus pais eram os mesmos que os de Hajime.

  

- Está tarde. Se você está bem, eu já vou dormir... – Ele levanta.

 

- Hajime, espere! – A menina estica o braço e Seiya para. – Obrigada.

 

Seiya mostra um sorriso e apaga a luz do quarto, se retirando. O diretor para a gravação, enquanto os expectadores convidados aplaudiam com entusiasmo os dois atores da cena. Brenda demonstra um sorriso largo enquanto abraça Seiya. O ex-cavaleiro parecia contente também, estava gostando de atuar, embora ainda achasse que Shun era melhor ator do que ele.

 

- Obrigado gente, valeu mesmo, a cena ficou show! Querem dar uma olhada? – Perguntou o diretor.

 

- Por mim, tanto faz. – Falou Seiya, enquanto recebeu um selinho de Brenda. O menino ficou extremamente vermelho com o gesto da atriz.

 

- Eu bem que gostaria de repetir, mas acho que está boa. – Brenda sorriu, encantadoramente.

 

“O que aquela vaca disse?” Sussurrou Saori, tão baixo que só Shiryu e Shun foram capazes de ouvir. Ela apertou com tanta força a sua bolsa roxa que teve a impressão de que a mesma fosse quebrar a qualquer momento. Seiya se aproximou com um largo sorriso e no caminho recebia os cumprimentos dos funcionários do estúdio.

 

- Caramba, vocês vieram! E então, como eu fui? Foi tão legal né, a Brenda me deu altas dicas.

 

- Cala a boca Seiya! – Falou Shiryu, alertando-o.

 

- O que foi que eu disse? – Perguntou ele em tom de defesa.

 

- Quem é essa tal de Brenda, Seiya? Sua nova namorada? – A menina Kido parecia se segurar para não avançar no Pégaso.

 

- É apenas uma amiga, Saori. Qual o problema?

 

- Nenhum, deixe-me pensar... Eu venho do Japão para te ver e você fica aos beijos com aquela... aquela... aquelazinha ali!

 

- Aos beijos? Foi só um selinho de amizade Saori, ela faz isso com todo mundo, não é Shun?

 

- Hã? Quero dizer, claro...

 

- Prove! – Ela vira-se para o Andrômeda. – Shun, quero que dê um selinho na Brenda agora.

 

Shun arregalou os olhos para Saori que parecia decidida. Shiryu procurou se assegurar de que Saori não fosse dar um escândalo bem ali no estúdio. “As ricas também são barraqueiras!” Pensou o chinês. O Andrômeda ficara bastante vermelho e para seu azar Brenda se aproximava, mas seus olhos focavam apenas Seiya. Ela era amiga de Shun e achava-o bonito também, mas jamais negou seu total interesse pelo Pégaso.

 

- Oi Seiya! Seus amigos? – Brenda sorria para eles. – Ah, oi Shun!

 

- Vamos lá Shun, prove! – Saori desafiou.

 

“Por favor!” Implorou Seiya com sua expressão no rosto.

 

- O que tá havendo? Shun, por que você está tão perto assim? – A menina oriental olha estranhamente para o ex-cavaleiro.

 

- Me desculpe. – Sussurrou Shun.

 

Fechando os olhos e puxando as mãos de Brenda para si, Shun aproxima seus lábios com os da atriz. Não conseguiu beijá-la, mas, de uma forma inevitável, Brenda lhe deu um beijo. Era ardente, a menina gostava daquilo. Nunca esperou uma atitude dessas de Shun, sempre o achou tão tímido... diferente de Seiya, que era mais atirado. Ela gostava disso em Seiya. Entretanto começou a desejar Shun intensamente depois daquela súbita abordagem romântica. O beijo cessara. Saori estava extremamente constrangida e Seiya estava se sentindo bastante vitorioso. A senhorita Kido levantou-se, ainda furiosa, e saiu do estúdio. O chinês ficou sem saber o que fazer, assim como o Pégaso.

 

- Uau, Shun! Valeu!

 

- Você me deve essa Seiya. – Respondeu Shun de forma que Brenda não ouvisse.

 

- E agora, o que eu faço? – Falou Seiya, desesperado.

 

- Vai atrás dela homem, está esperando o quê?! – Shiryu só faltou dar um tapa em Seiya.

 

“I've never felt this way before - Eu nunca tinha me sentido dessa forma antes

Everything that I do, - Tudo que eu faço

Reminds me of you - Me lembra você

And the clothes you left, - E as roupas que você deixou,

They lie on the floor - Elas estão espalhadas pelo chão

And they smell just like you, - E elas cheiram igual a você

I love the things that you do - Eu amo as coisas que você faz

.

When you walk away - Quando você vai embora

I count the steps that you take - Eu conto os passos que você dá

Do you see how much - Você vê o quanto

I need you right now - Eu preciso de você agora?!”

 

A herdeira da fundação Kido sai pisando forte por entre a calçada. Sua velocidade não era comparada com a de Seiya. Ela não se importava se fosse seguida. Na verdade, no fundo, ela desejava por isso. Queria poder gritar com Pégaso, dizer-lhe tudo que teve vontade desde que viu o seu presente esquecido no apartamento de Seiya no Japão. O ex-cavaleiro já estava no encalço da menina. Tentou falar com ela, mas a menina evitava-o.

 

- Sai Seiya, por favor!

 

- O que foi que eu fiz Saori? Você pediu uma prova e eu te dei, você viu com seus olhos!

 

- Isso! Parabéns, você conseguiu me humilhar na frente de todos. – Ela finalmente parou e se virou. – Está feliz agora? Eu vou voltar pro Japão e não vou te importunar, nunca mais.

 

- Eu sinceramente não consigo te entender. Eu faço tudo o que você pede, mas ainda assim você insiste em pisar em mim.

 

- Pra você eu devo ser só uma menina mimada, não é? Eu sou fútil e não atinjo suas expectativas.

 

- Para com isso, você já está extrapolando, como sempre!

 

- Ótimo. Vai procurar a Shina ou a Mino. Elas com certeza não são como eu. – Ela vira o rosto, irritada. – Ah! Faz melhor, fica com a Brenda.

 

- Eu não acredito que você está fazendo toda essa confusão a troco de nada. Aonde você quer chegar com isso?

 

- Aonde eu quero chegar? Nisso aqui Seiya. – Ela mostra um embrulho amassado de presente.

 

- O que é isso? – Pergunta Seiya, tentando bancar o inocente.

 

- Me poupe.

 

Ela se vira, mas Seiya segura seu braço.

 

- Ok! Tudo bem, eu sei que é aquele pingente idiota que você me deu no meu ultimo aniversário.

 

- Pingente idiota? Você sabe o valor dele...

 

- Aí, lá vem você de novo. Eu não me interesso pelo preço dessa porcaria. E é só mais uma jóia, você se despencou do Japão até aqui por causa de uma simples jóia? Nem que ela tivesse custado um milhão de dólares valeria a pena tudo iss...

 

- Esse pingente era do meu avô.

 

O olhar da menina estava caído e sua visão embaçada. As lágrimas escorriam involuntariamente. Ela tentava se conter, mas era fraca neste ponto. Mais uma vez Seiya a julgou, sendo ela simplesmente uma menina mimada e com a cabeça voltada apenas para o mundo do dinheiro e presentes caros. Como se apenas isso fizesse sentido em sua vida. Era como o fato dela ter dinheiro formasse um abismo entre os dois. O pingente era num formato de uma cruz, era de prata e não tinha muito valor comercial.

 

- Meu avô me deu este pingente um pouco antes de morrer. Foi um dos últimos presentes que ele me deu e eu queria compartilhar ele com você.

 

- Eu...

 

- Não precisa dizer nada. Eu fiz papel de idiota lá no estúdio, bancando a ciumenta idiota... me desculpe. – Ela parecia mais calma. – Eu vou embora Seiya, desculpe por tê-lo incomodado no seu trabalho.

 

Ela deixou o embrulho cair aos pés de Seiya e, então, partiu. O rapaz só conseguia olhar a menina partir, sem ter nenhuma reação. Estava imóvel, totalmente desorientado. Teve imensa vergonha de si. Recolheu o embrulho amassado no chão e o abriu. Lá estava a cruz prateada na qual Saori mencionara. “Como fui tão estúpido? Essa foi a maior burrice entre todas as que eu já cometi!” Pensava Seiya. Voltou para o estúdio, ainda tinha algumas cenas para gravar.

 

- Seiya, cadê a Saori? – Shun veio prontamente.

 

- Depois Shun, vamos logo gravar as cenas que estão faltando.

 

- Eu vou esperar por vocês aqui, tem um shopping perto, quando chegar na hora do intervalo do almoço a gente vai pra lá.

 

- Ok. A gente não demora Shiryu. – Shun sorri, mas ainda estava preocupado com Seiya e Saori.

 

Os dois terminam de gravar as cenas e se encontram com Shiryu. Os três vão ao Shopping, mas Seiya ainda estava de cara emburrada e não trocava nenhuma palavra com Shun e Shiryu. Os meninos param em um restaurante de comida vegetariana em self-service, uma sugestão de Shun.

 

- Droga! Esqueci de pegar os talheres. – Falou Shiryu, quando os três acharam uma mesa. – Vou deixar a comida aqui e vou lá pegar, vê se não mexe em nada Seiya, estou de olho em você!

 

- Hum. – Foi a única coisa que Seiya disse.

 

Ignorando o mau-humor do amigo, Shiryu foi pegar os talheres. Na volta o chinês teve uma reação estranha. Ele sem querer tropeça em uma cadeira no meio do caminho, caindo feio no chão e derrubando algumas pessoas que estavam a sua frente. Tateando a mesa ao lado ele tenta se levantar, usando-a como apoio. Ele estava com a respiração ofegante. Levou a mão aos olhos e começou a pressioná-los e, em seguida, massegeou-os. Imediatamente Seiya e Shun saltam na direção do amigo, na tentativa de ajuda-lo.

 

- Shiryu, está tudo bem cara? – Perguntou Seiya.

 

- Tá, tá. Eu só fiquei meio tonto, eu não estou me sentindo muito bem.

 

- Você não quer ir ao médico? – Falou Shun.

 

- Não gente, pode deixar, eu já estou melhor. Além do mais eu já marquei um médico pra mim, não tem com o que se preocupar.

 

- Tem certeza?

 

- Claro, vamos comer. Estou morrendo de fome.

 

Eles se sentam e começam a almoçar. Shun estava incomodado. Seiya quase não comia, estava distante das conversas e seu prato estava quase vazio. Isso era um mau sinal. Toda vez que Seiya comia pouco significava que ele estava realmente mal. Shiryu, por sua vez, também só revirava o que tinha no prato, mas deixou bastante comida por fim. Alguma coisa incomodava o chinês, principalmente após o pequeno incidente. Talvez ele estivesse com alguma doença séria e estivesse preocupado com isso, mas não estava disposto a conversar sobre este assunto.

 

- Shiryu, você está se sentindo realmente melhor? – Shun começou a puxar conversa.

 

- Não se preocupe, eu já disse que estou bem. Já marquei um médico pra mim, terça-feira da semana que vem.

 

- Hum. – Shun ainda estava desconfiado. – E você Seiya, o que houve no estúdio? Você falou com a Saori?

 

- Vocês me dão licença? – Seiya levanta e deixa um dinheiro em cima da mesa. – Shun, diga ao diretor que amanhã eu apareço e faço filmagens extras.

 

- Hei, Seiya! Aonde você vai menino? Você ainda me deve o lance do beijo com a Brenda... – Shun parecia pasmo. – Onde é que ele vai?

 

- Eu tenho um palpite. – Respondeu o chinês.

 

“When you're gone - Quando você se vai

The pieces of my heart are missing you - Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

When you're gone - Quando você se vai

The face I came to know is missing too - O rosto que eu cheguei a conhecer se perde também

 

When you're gone - Quando você se vai

The words I need to hear - As palavras que preciso ouvir

To always get me through the day - Pra sempre me fazer superar o dia

And make it ok - E fazê-lo ficar bem

I miss you - Eu sinto a sua falta

 

A menina de cabelos roxos andava de olhar cabisbaixo e os braços junto ao cotovelo. Sentia frio em seu peito e um vazio enorme. Ela encontrara o que viera buscar, uma desculpa esfarrapada e a comprovação de que Seiya não a queria. Ela só não entendia o motivo. “Não entendo. Tudo que eu faço o deixa irritado, qualquer movimento ou qualquer agrado. Se ele não me ama, por que não disse logo? Estaria brincando comigo?” Pensava Saori, quando chegou na porta do seu apartamento. “Não, não. Seiya não é disso. Ele pode ter vários defeitos, mas ele jamais brincaria com os sentimentos de alguém. Então, por que ele age assim?”.

 

Ela balança a cabeça negativamente. “Eu te odeio Seiya... Eu...” A imagem de Seiya no final da rua a fez dar um pulo para trás. Ele corria em sua direção, a tinha visto em frente ao portão do apartamento. Ela quis entrar e fugir do menino, mas não o fez. Ela não fazia idéia de quanto tempo tinha levado andando até chegar em casa ou quanto tempo estava parada ali, pensando nos últimos acontecimentos. Queria odiar Seiya, entretanto não tinha forças pra isso. Ao se aproximar mais ela conseguiu ver o cordão no pescoço do ex-cavaleiro com um pingente familiar, em formato de cruz. Sua expressão de raiva logo se alterou para um sorriso encantador.

 

- Me desculpa Saori! Por favor me perdoa! – Ele a abraçou.

 

- Seu idiota! – Ela o beija.

 

- Olha, eu fui um idiota... e eu te julguei sem saber... e eu também...

 

- Não precisa falar mais nada. Vamos subir.

 

Aproveitando a ausência de Hyoga os dois se despiram na sala mesmo. Seus corpos estavam com saudades um do outro. Clamavam por este momento. O ex-cavaleiro tentava repetir o que fizera na primeira vez que os dois fizeram amor. Saori percebeu sua intenção e se deixou levar. Ficaram a tarde toda curtindo o reatamento do namoro. Estavam felizes e exaustos, dormiram no sofá da sala mesmo estando nus. Seiya pegou num sono profundo, mas Saori estava mais desperta e com fome. Vestiu-se com a mesma camisa branca que usara de pijama e que também fora utilizada na primeira vez dos dois, para entrar no clima.

 

Procurou não fazer barulho enquanto abria a geladeira, na busca por um lanchinho. A menina não tinha almoçado. Infelizmente não tinha anda que a agradasse, então pegou um biscoito na dispensa. Em seguida foi pegar um copo de água quando foi surpreendida por uma investida de Seiya, que ainda estava nu. Ele afastou os cabelos da menina, beijando-lhe a nuca e fazendo movimentos como se fosse uma dança.

 

- Para Seiya. Você é muito bobo sabia?

 

- Não acredito que você trouxe essa camisa pra cá. – Ele tornou a beijá-la na nuca.

 

- Quer que eu tire? – Provocou.

 

- Bom, querer eu quero... mas daqui a pouco Hyoga chega aí.

 

- É você que está pelado.

 

- Você fica tão linda vestida assim. – Ele virou Saori para dar-lhe um beijo, mas a menina vira o rosto. – O que foi?

 

- Ainda estou chateada com você.

 

- Amanhã a gente discute... vamos pro seu quarto, não quero pensar em problemas agora. Eu preciso te sentir aqui comigo.

 

Agarrando Saori e colocando no colo, Seiya a leva para o quarto, trancando-o.

 

“We were made for each other - Nós fomos feitos um para o outro

Out here forever - Eu guardarei para sempre

I know we were - Eu sei que fomos

Yeah yeah

.

All I ever wanted was for you to know - Tudo que eu sempre quis foi que você soubesse

Everything I do - Tudo que eu faço

I give my heart and soul - Eu dou minha alma e coração

I can hardly breathe - Eu mal consigo respirar

I need to feel you here with me - Eu preciso te sentir aqui comigo”

 

Enquanto a noite vai passando Hyoga não volta para casa. Quase ninguém tinha o telefone do loiro para contato e o mesmo parecia não se importar com dar satisfações. Shun estava arrependido por ter gritado com o amigo, não era do seu feitio agir daquela maneira. Ao voltar para casa das gravações foi logo abordado por Ikki.

 

- Cadê seu guarda-chuva? O médico não falou que...

 

- Ikki! Pela última vez, não está chovendo!

 

- Ok! Escuta, amanhã de manhã eu vou sair e deixar alguns currículos e, na volta, passo no mercado e compro algumas coisinhas para a gente almoçar em casa. Ficar gastando dinheiro todo dia almoçando fora é o que não dá.

 

- Quer ajuda? Eu não tenho muito o quê gravar amanhã mesmo.

 

- Ótimo então, eu passo lá no estúdio e de lá a gente vai ao mercado.

 

O menino subiu e viu Shiryu no seu quarto entreaberto. Decidiu entrar e ver se o amigo tinha alguma notícia de Hyoga e Seiya. Shun reparou que havia diversas revistas sobre medicina e alguns livros também. O chinês se espantou ao perceber o jovem Amamiya e o empurrou para fora do quarto, batendo a porta em seu nariz.

 

- Ai, ai! – Shun leva a mão ao nariz.

 

- Desculpe Shun, mas você me assustou. – Falou Shiryu, saindo do quarto (mas deixando a porta fechada).

 

- Caramba Shiryu, eu não sabia a porta estava aberta.

 

- Ok. Me desculpe, você estava procurando alguma coisa?

 

- Queria saber se Seiya...

 

- Ainda está no apartamento de Saori e acho que não volta hoje. – Respondeu de forma seca.

 

- E Hyoga?

 

- Não sei. Aliás, ninguém sabe. Não sinto a presença dele por perto, muito menos no apartamento da Saori. Era só isso?

 

- Era sim, obrigado. – Shun parecia sem graça. – Er... tchau?!

 

- Tchau! – Shiryu mais uma vez fecha a porta na cara de Shun.

 

- Que coisa estranha. Acho que vou mandar uma mensagem para Hyoga.

 

“When you're gone - Quando você se vai

The pieces of my heart are missing you - Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

When you're gone - Quando você se vai

The face I came to know is missing too - O rosto que eu cheguei a conhecer se perde também

 

When you're gone - Quando você se vai

The words I need to hear - As palavras que preciso ouvir

To always get me through the day - Pra sempre me fazer superar o dia

And make it ok - E fazê-lo ficar bem

I miss you - Eu sinto a sua falta

 

O menino corre e pega seu celular. Imediatamente passa pela sala, sendo ignorado por Ikki que lia os classificados pela milésima vez, pulando a janela para a pequena sacada do apartamento. Ele procura pelos contatos e começa a escrever para Hyoga.

 

“Oi, é o Shun. Acho que precisamos conversar. Aonde você está? Estou preocupado. Me desculpa por tudo, espero que você não vá embora sem antes esclarecermos algumas coisas. Quero que você saiba que ainda te considero um grande amigo.

... Beijos”

 

Olhou de novo e decidiu apagar o “Beijos”.

 

... Abraços.”

 


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