P. O. V. Sam

Cam e eu estávamos andando em silêncio por quatro horas. Ele respeitava minha incapacidade de voar mesmo que isso o desse um motivo para me xingar de cinco em cinco minutos. O anjo havia voado para o Sul e nós íamos para o extremo Norte. Quando Cam me provocou pela décima segunda vez me chamando de anjo defeituoso e traidor, resolvi retribuir as "gentilezas" de meu parceiro.

–Sabe, Cam. Eu sei que você tá se afastando o máximo que pode da Gabriella. Mas, ás vezes, de tanto andar para o Sul, você chegue ao Norte.

–É Gabbe. E você não tem nada a ver com isso, Samuellen. -Ele riu sem humor.

–É Samuel. Você sabe... Ah, saquei. -Eu disse, engolindo em seco e sentindo a vergonha corar minhas bochechas.

–Idiota. -Ele revirou os olhos.

P. O. V. Gabbe.

Cheguei em Vegas e procurei por Ariane. O anjo não estava em nenhum dos cassinos que costumávamos frequentar e eu sentia as pernas balançarem aos poucos enquanto eu perdia o equilíbrio e a vontade de continuar andando. Deus, como eu era idiota!

–Gabrielle? -Ouvi uma voz melosa e familiar atrás de mim.

–Phoebe? -Perguntei sem me virar.

Quando finalmente o fiz, fiquei cara a cara com a jovem esguia e de pele clara. Seus cabelos loiros e lisos haviam sido recentemente cortados e ela havia feita uma franja bastante moderna e algumas mechas rosas na camada mais inferior do cabelo. O corpo magro estava vestido com uma blusa colada sob um top solto e, nas pernas, um jeans branco rasgado nos joelhos. Os óculos fundo-de-garrafa com armação transparente faziam com que os olhos verdes-mel parecessem sempre arregalados. Quem visse a garota jamais perceberia que ela era um demônio.

–Ah, Gabbe, que saudade. -Ela me abraçou e eu senti o cheiro forte de perfume de Phoebe.

–Eu sei... -Sussurrei.

Phoebe era o mais próximo que eu tinha de uma irmã de verdade no céu. Quando caímos, ela jurou que mesmo nossas escolhas jamais nos separariam e ficamos chorando por duas horas inteiras na beira de um lago qualquer na França.

–Por... Por que está com o rosto vermelho? -As bochechas de Phoebe ficaram da cor de um vermelho-vinho e os olhos se estreitaram por trás das lentes.

–Nada, amora. -Abracei-a com mais força e então a soltei.

–Não, Gabbe. Me fala, droga. -Sua voz grave fez com que vários apostadores virassem as cabeças para nos encarar.

Encarei os sapatos. Eu não conseguia esconder nada de Phoebe e sabia disso tão bem quanto ela sabia.

–Cameron. Conhece?

–Claro. Mas não vejo o que isso tem a ver. -Ela franziu o cenho.

–Ele me enganou. -Decidi falar, apenas, enquanto soltava um sorriso triste.

Phoebe suspirou alto virando o rosto.

–Eu podia te jurar que procuraria quem te machucou até o quinto dos infernos e o matar pessoalmente. Mas... Mas você deve saber que eu não posso matar o Cam.

A olhei de esguelha sentindo as lágrimas se sacudirem em meus olhos.

–Você entende, não é? Cam é o meu... Bem, digamos que ele é meu atual chefe.