P. O. V. Narrador.

Gabbe corria pelo chão escorregadio segurando a bolsa azul-bebê no ombro com força, seus cabelos loiros caindo sobre os ombros estreitos cobertos com um casaco leve de algodão. Cam examinava o teto, pacientemente, sentado abraçando as pernas em frente à porta do apartamento de Gabbe. Seu queixo com uma barba levemente por fazer estava apoiado nos joelhos e os olhos esmeralda estavam parcialmente cobertos pelos cabelos pretos enquanto ele mordiscava em um tique nervoso a boca rosada e macia.

-Cam? –Ela murmurou enquanto deslizava nos joelhos a meio metro dele antes que seus ombros se tocassem.

Ele pareceu acordar de um transe, encarando o anjo como se ela fosse um tipo de assombração. Fitou seus olhos claros, gravando cada traço do desenho deles e os lábios vermelhos entreabertos.

-Cam? –Ela repetiu, gaguejando antes que o garoto a envolvesse em um daqueles abraços que esmagam os ossos um contra os outros.

-Não acredito, é simplesmente muita sorte. –Ele soltou as últimas palavras com um misto de alegria e horror. Gabbe percebeu que sua voz ficava cada vez mais rouca.

Ela o encarou, confusa, mas decidiu que seria melhor não perguntar. Puxou o queixo de Cam para frente, colando seus lábios macios nos dela e sentindo o “gosto” de Cameron Briel, que, por sinal, era melhor do que qualquer um que Gabbe já houvesse beijado em seus séculos de existência. Seus lábios macios eram deliciosos para se tocar e o hálito quente com cheiro de canela a fazia revirar os olhos por baixo das pálpebras. Após alguns segundos, Gabbe finalmente se convenceu que Cam parecia muito tenso para que ela se sentisse fazendo a coisa certa ao o beijar e parou, tombando a cabeça tristemente.

-Eu não quero ouvir mais problemas. –Murmurou.

-Gabbe, você não sabe a sorte que tenho por estar viva. Até mesmo uma sorte muito incomum e conveniente. –Ele retrucou mordendo de leve o lábio. –Eu pensei que estivesse morta. –Disse por fim, com amargura.

Gabbe pensou no tempo em que Cam provavelmente daria uma festa de arromba em seu dormitório na Sword & Cross se ficasse sabendo que ela havia morrido dolorosamente. Coçou o nariz, desconfortável com a imagem repentina de Cam agarrando e beijando várias mortais em suas festas casuais.

-Por alguns segundos... –Ele interrompeu os pensamentos de Gabbe, a voz rouca suave em seu ouvido. –Eu não fazia idéia do que fazer. –Suspirou.

Gabbe esboçou um sorriso leve.

-Claro que você sabia. Você sempre soube como se recuperar de uma mulher. –Ela disse, uma falsa animação casual por trás da voz. –Eu não vou ser mais do que mais uma na gigante lista de Cameron...

-Cala a boca. –Ele murmurou de modo que as palavras não pesassem tanto e fez uma pausa antes de continuar. -Eu realmente me importo com você, Gabbe Givens. Não sei o que...

Uma pausa desconfortável se estabeleceu entre os dois por alguns segundos em que o anjo acariciava o ombro de Cam suavemente.

-Te amo. –Gabbe finalmente falou, encarando o teto branco.

-O que? –Cameron disse, após alguns segundos.

Ela suspirou profundamente antes de responder.

-Eu te amo, Cam. Você é a primeira pessoa que eu já amei, bem, desse jeito. –Ela murmurava, as bochechas corando. –Eu não espero que fale o mesmo, só queria que soubesse.

Cam sentiu o peso de um mundo sobre os ombros. O anjo que era o mundo dele o amava. Ela o amava.

-Eu te amo, Gabbe. Não sei se é tão difícil de acreditar, mas... –A voz de Cam era meio debochada, como se ele falasse algo muito óbvio. –Eu amo tudo em você. Amo o modo como pensa por vários segundos antes de falar um palavrão. Amo o modo como encontra o melhor em todos, o modo como arruma o cabelo, como se veste com roupas extravagantes e engraçadas... –Seus olhos passaram rápidamente pela blusa de crochê amarelo neon e ele sorriu involuntariamente. –Amo o fato de que você esteja respirando. –Completou.

Gabbe chorava, algumas lágrimas silenciosas correndo pelas bochechas quando Cam a abraçou revirando os olhos e a pedindo que parasse.

-Tá, eu nunca mais vou me declarar assim, então não se acostume com essas coisas. –Ele riu e o anjo beijou sua bochecha.

-Eu sei, idiota. –Ela sorriu deslizando os lábios para o nariz do garoto.

-Enfim, os demônios organizaram alguns ataques terroristas contra os anjos. Em LA. –Ele murmurou, após algum tempo em silêncio. –Dois anjos foram mortos nesta área. –Completou receoso.

Gabbe o encarou de soslaio esperando que ele erguesse a cabeça e falasse “brincadeirinha”. Isso não aconteceu.

-Eu tô aqui. E vou ficar aqui até que você me peça para sair. –Murmurou sorrindo, tentando não pensar na importância das palavras que Cam acabara de revelar para ela.

Cam riu e consultou o relógio rapidamente, os olhos se arregalando de surpresa.

-Vamos, Gabbe, agora. –Ele murmurou segurando a mão do anjo e a arrastando para a erguer.

-Cameron...!