P. O. V. Narrador

Gabbe esboçou um sorriso doce pegando a mão de Roland por sobre a mesa.

-Eu também gosto de você, Rol. É como um... Irmão mais velho para mim. - Franziu os lábios sentindo os olhos marearem.

Sabia que havia magoado Roland e o decepcionado ao cair nos encantos de Cameron Briel. Gabbe fungou coçando o nariz e afundando na cadeira ao ver o olhar de Rol cair sobre o chão, frustrado.

-Não desse jeito, Gabbe. - Ele murmurou, por fim, em uma lufada de ar.

Os olhos do anjo se arregalaram ao máximo que podia sem que ela percebesse. Os lábios se entreabriram e uma grande poção de ar saiu dali sem que ela conseguisse falar algo. Roland a encarava pesaroso, refletindo se houvera feito a escolha certa ao se declarar ao anjo. Nunca havia feito algo tão certo, pensou ao sentir os dedos de Gabbe acariciando a sua bochecha.

-Rol... Eu jamais... -Sua voz sumiu, cortada pela mão grande de Roland sobre sua boca.

-Não precisa falar nada. Ele sorriu sem humor. - Só queria que soubesse.

Ela fechou os olhos girando se levantando de sua cadeira e se abaixando para beijar a face de Roland. Ele sentiu o sangue da bochecha agitar-se sob os lábios quentes do anjo e afagou o alto de sua cabeça.

Na porta do restaurante, aproximadamente quatro mesas atrás do casal, alguém de aparência jovem tremia ligeiramente. Mas não era por causa do frio do local, o qual era inegável. Cam tremia de fúria, de repulsa e de desgosto. Não sabia ao certo porque estava com tanta vontade de socar o melhor amigo e arrancar o anjo a força de lá e o abrigar em seus braços se nem ao menos estava com ela de verdade.

Sam, atrás dele, bebericava um suco de algo vermelho assistindo a tudo com um leve sorriso nos lábios. Sam era bobo demais, infantil demais, despreocupado demais. Não tinha nada a perder, afinal. Cam o invejava às vezes.

Mas, ao olhar a expressão assustada e indecisa do anjo a alguns metros, ele sentiu que, talvez, algo valesse a pena naquela missão toda de salvar o mundo. Não, não precisava ser o mundo todo.

Gabbe sussurrou algo perto da orelha de Roland sentindo a garganta fechar aos poucos:

-Eu te amo, Rol. - Ele se agitou um pouco, parando de afagar-lhe a cabeça. -Mas não desse jeito. Eu sinto muito mesmo.

Ele finalmente soltou o ar e puxou o rosto do anjo suavemente, colando seus lábios. Gabbe hesitou e depois pressionou seus lábios contra os dele o retribuindo antes de cortar o beijo e o afagar os cabelos curtos.

-Ora, ora, ora. -Os dois quase bateram as cabeças ao virarem para encarar Cameron. -Se não é o anjo que era muito bom para demônios. Ou era só para mim? - Ele franziu o cenho.

Gabbe teve de se conter para não soltar um sorriso singelo ao ver Cam. Os cabelos negros dele estavam lindamente bagunçados e os olhos esmeralda pareciam exaustos e ligeiramente mareados. Usava uma camisa folgada cinza e jeans pretos rasgados segurando um molho de chaves em um tique nervoso.

-Cala a boca, Cam. Que eu me lembre, foi você que me deu o fora. - Ela murmurou, ressentida por estar tendo esta conversa na frente de Roland. -Ah, e você não tem mais nada a ver comigo, não é mesmo?

Cam pressionou a língua contra a bochecha revirando os olhos.

-Nunca pensei que fosse do tipo que se consolava com novas pessoas.- Cam apertou os olhos para Roland.

-Cam, você já não foi canalha o bastante para usá-la, magoá-la e ser um babaca em todos os aspectos? Por favor, faça um favor a nós e a si mesmo e suma por um tempo, amigão. -Roland murmurou olhando freneticamente ao redor, para os mortais.

Cam o lançou um olhar frio e traído.

-Você acha que ele é melhor do que eu? -Ele ressonou olhando para Gabbe, quem tinha os olhos vermelhos úmidos.

Ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha estreitando os olhos.

-Eu não te devo explicação alguma, Briel.

Cam andou até ela até que suas faces ficassem a poucos centímetros de distância. Gabbe abriu a boca fazendo menção de falar algo, mas desistindo. Cameron segurou a cintura do anjo a puxando para seu peito e se abaixando até seu ouvido. Sentiu seu coração bater fortemente sob o tecido da blusa e o leve tremor que percorria o corpo de Gabbe.

-Não mesmo, Givens? Não sente mais nada por mim?