Tamers escrita por Jullyana Belichar


Capítulo 1
Como tudo começou.




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Quem diria que depois de doze anos sem Domadores, infelizmente eles voltariam.

Domadores são crianças que possuem DNA alterado por algo ainda não descoberto. Essa mutação faz com que seu corpo passe a viver baseado em certo elemento.

Os últimos Domadores não conseguiram se reunir. Dois dos Domadores, o da terra e o do ar, morreram meses após nascer. E assim o elo entre os elementos desapareceu.

Nunca imaginaríamos que depois de mais de uma década, o elo retornaria.

Um grupo foi criado para proteger esses Domadores, e proteger o mundo deles.

A Equipe Elementar, ou “EE” foi criada por mim, Lionel Martin, em 1989, quando o primeiro Domador apareceu. Fizemos pesquisas e reunimos dados que nos ajudassem se eles retornassem algum dia. E esse dia finalmente chegou.

Catorze de Maio, de 1998.

—Tem certeza que não é um alarme falso? —Perguntei pela milésima vez ao Otávio, cientista geral da EE.

—Absoluta Dr. Martin. Os pais da criança alegaram que ele brincava com o vento, manipulava-o com as mãos.

—Qual o nome do garoto?

Otávio me passou uma ficha com os dados do possível Domador:

Nome: Christopher Assunção.

Idade: dois anos.

Data de nascimento: 18 de abril de 1996.

Tipo Sanguíneo: A+

DNA: Codificado com mutação.

—Dois anos? —Perguntei espantado. —Não é muito novo para ser um Domador?

—Também pensamos nisso Doutor, mas o menino é incrível.

Otávio levou-me a uma sala espelhada onde o menino estava.

O garoto era pequeno, loiro de olhos azuis. Vestia roupas de grife e mesmo sendo pequeno podia-se ver que tinha ego de ouro.

—Abra a porta. —Ordenei. — Quero vê-lo de perto.

A porta foi aberta e entrei sem alarde, tudo que eu menos queria era assustar o menino.

—Olá Christopher. Meu nome é Lionel, tudo bem?

O garoto me olhou da cabeça aos pés, e depois assentiu com a cabeça.

—Me contaram que você brinca com o vento, é verdade?

Em resposta, Christopher rodou o dedo indicador em círculos, formando um pequeno redemoinho. E depois, não satisfeito, manipulou o vento em minha direção, jogando uma leve brisa em meu rosto.

—Incrível. —Eu disse verdadeiramente maravilhado.

Sai da sala sorrindo, vire-me para Otávio e ordenei.

—Monte uma equipe de segurança para o garoto e a família. Mude ele de cidade e coloquem-no na Escola San Martin. Não quero que a IPMF pegue-o.

IPMF, ou Instituto de Pesquisa de Mutações e Fenômenos, é um grupo criado por Samuel Ganes. O grupo estudava aberrações. As torturava, e as matava.  Eu não queria que aquelas criança morressem.

Quatro de Outubro de 2004.

Demorou um pouco para o segundo domador aparecer. Christopher já estava com oito anos. E meu filho, Daniel havia acabado de completar dois.

Era cedo quando recebemos uma ligação do hospital.

—Um garoto se salvou quando estava se afogando. —Disse Otávio.

—E o que isso tema ver conosco, Otávio?

Ele bufou e passou-me uma prancheta com dados.

—Recolhi um pouco do sangue do garoto e eu mesmo analisei.

Nome: Ian Tavares.

Idade: Oito anos.

Data de nascimento: 27 de Maio de 1996.

Tipo sanguíneo: O +

DNA: Codificado com mutação.

—Como o garoto se salvou? —Perguntei, vendo do que se tratava.

—Na verdade a água o salvou. A mãe do garoto disse que um redemoinho o envolveu, colocando-o para fora da piscina, delicadamente.

—Delicadamente?

—É uma coisa que tenho notado. Os elementos tem uma ligação de extrema proteção com seus Domadores. Eles protegem um ao outro. A água, ao ver que seu Domador estava morrendo, agiu como um impulso da mente desacordada do garoto e o salvou.

—Quer dizer, que não é apenas um fardo? Os elementos agem de acordo com as emoções daqueles que os domam?

—Exatamente.  É uma ligação, um pacto.

—Onde está o garoto agora?

—Pedi para alguém da nossa equipe ir busca-lo junto com a família, para que expliquemos a situação.

—Você quer dizer “explicar o fardo que eles terão de carregar”?

Otávio olhou-me preocupado, mas nada disse. Ele sabia que eu protegia os domadores com garras e dentes. Mas nunca seria capaz de ama-los como filhos. É um fardo enorme que os pais dos domadores carregam. Eles sabem que seus filhos nunca serão normais, que a qualquer hora, podem ser capturados pela IPMF ou se revoltarem contra si próprios, e nada poderá ser feito.

Naquele mesmo dia, à tarde, o garoto chegou com a família. Ian era um garotinho magro, pequeno. Diferente de Christopher, Ian parecia ser humilde e se assustava com tudo.

—Olá Ian. —Eu disse a ele.

O garoto me olhou assustado.

—Fale alguma coisa para o doutor filho. —Disse a mãe do garoto, Dona Fátima.

O garoto balançou a cabeça.  Negativamente.

—Vamos Ian, não se acanhe filho. Ninguém vai te machucar.

O garoto nada disse.

—Pare de ser covarde, garoto. — Disse alguém atrás de mim.

Virei e deparei-me com os olhos azuis de Christopher.

—Ah, Christopher... Senhor e senhora Tavares, esse é Christopher Assunção: o Domador do vento.

Os pais de Ian arregalaram os olhos, surpresos. Eles já sabiam que o filho podia ser um Domador, mas nunca haviam visto um verdadeiro Domador.

—O seu nome é Ian, não é? —Perguntou Christopher, se dirigindo ao garoto magro e pequeno.

Ian estava prestes a balançar a cabeça, quando Christopher o atingiu com uma tapa forte.

—Ian! —A mãe dele gritou, segurando-o antes que ele caísse no chão. — O que deu em você?

—Não haja como um covarde garoto. Você não é o único que sofre por ter esse fardo ligado a sua alma. Aceite seu destino, antes que eu acabe com ele.

Nunca havia visto-o falar daquela maneira. Uma criança de apenas oito anos!

Chris virou-se e andou em direção à porta. Mas antes de ao menos dar dois passos, foi atingido por um forte jato de água.

—Não fale comigo como se eu fosse uma criança! —Ian estava de pé e bufava de raiva. Finalmente ele havia se libertado. —Não pedi para vir aqui, muito menos para dar lição de moral.

Os dois travaram uma briga entre água e ar. Fui obrigado a dopa-los com dardos tranquilizantes.

—Bom... —Eu disse, dirigindo-me aos pais de Ian. —Pelo menos ele falou.

Devo admitir que o primeiro mês de Ian, foi muito difícil. Principalmente porque ele e Chris não se davam nada bem.

Mas com o passar dos dias, os dois foram se entendendo. Não ao ponto de virarem parceiros, mas ficaram mais calmos a ponto de não quererem se matar.

Eu estava até me acostumando com toda aquela situação. Com a presença dos dois todos os dias perto de mim... Mas eu não imaginava o castigo que a vida estava prestes a me dar.

02 de Outubro de 2010.

Eu havia chegado tarde naquele dia em casa, novamente. Só que desta vez, minha mulher estava esperando, com cara de poucos amigos.

—Eu sei que cheguei tarde novamente querida, é que eu prometi aos meninos...

—Eu sei. Os meninos, sempre os meninos. Já notou que desde que esses meninos apareceram você não da mais atenção ao “seu menino”?  Se é que você ainda lembra-se do Daniel.

—Claro que eu lembro!

—É mesmo? E que dia é amanhã, Lionel?

Parei para pensar, mas nenhuma data importante vinha em minha cabeça. Só lembrava que dia 04 de Outubro, completaria  doze anos que Chris havia chego a EE.

—Dia três...?

Ela revirou os olhos, irritada.

—Amanhã é aniversario de oito anos do Dan, Lionel! Como pôde esquecer o aniversário do seu próprio filho?!

—Querida, eu não esqueci. Só estou com a cabeça cheia de problemas.  Estamos a mais de cinco anos sem nenhum sinal de Domadores. Você acha que é fácil?

—Não estou dizendo que é fácil. Mas você bem que podia dar mais atenção ao seu filho às vezes, sabe...

—Eu darei, não precisa... —Não pude completar a frase. A terra tremeu sob meus pés. Segurei Samanta antes que ela caísse no chão.

—O que foi isso? —Ela perguntou. — Ai, meu Deus! Daniel!

Ela levantou-se rapidamente e correu para o quarto de Dan. Eu fui rapidamente atrás dela.

Quando entrei no quarto de meu filho, não foi à visão dele jogado no chão chorando que me deixou confuso... Foi o que estava entrando pela janela.

—Papai... —Ele soluçava. —Desculpe.

Não... Não podia ser, podia? Meu filho... MEU FILHO! Como ele, ELE podia ser um monstro? Como pude deixar isso acontecer?

Uma grossa camada de terra entrava pela janela. Não era uma terra comum. E havia terra nas mãos de Daniel... Era obvia a resposta, mas eu não queria responder tal pergunta. Seria possível que meu filho, fosse um... Domador? O Domador da Terra??

Peguei Daniel no colo e corri para o carro.

—Aonde esta me levando papai? Por que estamos saindo tão tarde?

Não respondi a nenhuma de suas perguntas. Eu apenas dirigi. O celular tocava freneticamente. Era Samanta. Ela sabia para onde eu estava levando-o.

—Alô? Otávio?

Dr. Martin? Aconteceu algo? — Ele perguntou do outro lado da linha.

—Abra o Laboratório e prepara o material para o exame de sangue.

Claro, como quiser. Mas quem o senhor examinará?

Respirei fundo e respondi o que nunca queria ter respondido:

—Meu filho.


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