Um forte estrondo ecoou pelo acampamento Meio-Sangue, fazendo com que os pássaros ao redor do campo voassem para longe. Poucos campistas logo entraram em alerta, pensando ser algum monstro ou algo do tipo.

 Entretanto, os Meio-Sangues mais experientes, ou os que simplesmente faziam parte da cabine cinco apenas deram de ombros e voltaram a fazer suas próprias coisas. Sabiam que a causa do barulho era ninguém mais do que Clarisse La Rue.

 Sim, Chris Rodriguez estava morto.

OoooOoooO

 Andando a passos rápidos, Clarisse bufou ao sentir seu cabelo liso e castanho bater furiosamente contra suas costas. A franja insistia em entrar em seus olhos, enquanto o vento surpreendentemente fresco de verão transformava os fios em uma bagunça bonita.

 Isso era algo que poderia ser evitado, claro, se estivesse usando sua bandana, mas infelizmente ela havia sido roubada... De novo.

 Trincou os dentes ao sentir as longas madeixas lhe chicoteando repetidamente, já teria as cortado, se dois simples motivos não a impedissem.

 O primeiro era Silena. Desde que a filha de Afrodite havia, um dia, gasto metade de um dos xampus mais caros que possuía lavando o cabelo de Clarisse, parecia apenas certo que a filha de Ares o mantivesse bonito, ou pelo menos limpo, em homenagem à amiga.

 E por fim havia Chris. Estavam namorando há algum tempo agora, e embora soubesse que jamais admitiria isso a uma alma viva, gostava de, pelo menos, parecer apresentável. Nunca seria tão bonita quanto às filhas de Afrodite, mas a única aprovação de que precisava sobre sua aparência era a de Chris.

 Não sabia exatamente para onde estava indo, de certa forma os outros campistas pareciam apenas saírem de seu caminho, nenhum deles querendo ser a próxima vítima de sua ira. Quanto a isso não precisavam se preocupar, prometeu a si mesma que guardaria toda sua raiva para o Rodriguez, e dessa vez, um belo par de olhos brilhantes e um sorriso de escárnio não a impediriam de lhe dar uma boa surra.

 Finalmente o encontrou perto do lago, estava de costas para ela com Connor e Travis Stoll em sua frente. Ambos pareciam concentrados no que o primeiro dizia, mas de repente olharam, ao mesmo tempo, por cima dos ombros do hispânico e a viram. Uma expressão de puro terror tomou conta da face dos dois antes que eles saíssem correndo para o outro lado.

 Chris ficou lá, parecendo confuso enquanto assistia os meio-irmãos fugirem para longe. Com as mãos enfiadas nos bolsos – uma pose que notou que o namorado utilizava quase o tempo todo – ele virou-se, e quando viu Clarisse praticamente marchando na direção dele, abriu um sorriso típico.

 Sentindo seu coração acelerar, a filha de Ares mordeu o lábio inferior.

Controle-se La Rue! Gritou mentalmente para si mesma.

 Quando estava a três passos de distancia do namorado, parou e cruzou os braços antes de perguntar duramente:

 -Cadê?

 O sorriso de Chris aumentou e ele deu dois passos para frente, invadindo perigosamente o espaço pessoal dela.

 -É uma boa pergunta – Acenou devagar com a cabeça e então inclinou-se levemente – Cadê o meu beijo de bom-dia? – E por fim inflou as bochechas, formando um biquinho com os lábios.

 Clarisse quis resistir, realmente quis, mas o efeito que Chris Rodriguez possuía sobre ela era apenas forte demais para que pudesse resistir. Ficando na ponta dos pés, tinha a intenção de depositar um beijo na bochecha dele, mas o hispânico virou a cabeça no último segundo, e consequentemente os lábios de ambos se encontraram.

 As borboletas voaram livremente pelo estomago da filha de Ares. As mãos de Chris enlaçaram a cintura fina dela e foi aí que Clarisse voltou à realidade.

 Empurrando o namorado, deu alguns passos pra trás e respirou fundo, ignorando o perfume maravilhoso que o adolescente em frente de si exalava.

 -Estou falando sério, punk. Cadê. A. Minha. Bandana?

 Chris revirou os olhos e murmurou um breve “você não é engraçada” sob um suspiro. Aproximou-se novamente enquanto tirava a bandana de um dos bolsos. Já conseguia sentir a respiração quente do filho de Hermes contra seu rosto, quando ele rapidamente a ultrapassou , posicionando-se atrás dela.

 -O que você... – Fez menção de perguntar enquanto se virava, mas duas mãos fortes em seus ombros a impediram, enquanto Chris soltava um “shhh”.

 Clarisse respirou fundo e lambeu o lábio inferior, quando sentiu um toque suave no seu couro cabeludo enrijeceu, e no momento seguinte os lábios de Chris estavam do lado da orelha dela, sussurrando:

 -Confie em mim, Clarisse.

 E então ela fechou os olhos porque confiava cegamente nele. E enquanto ficava parada, apenas sentindo os movimentos suaves sendo feitos sobre sua cabeça, viu-se mais relaxada do que esteve em muito tempo, aproveitou cada toque, evitando até mesmo respirar para não estragar o momento.

 Tempo depois os movimentos cessaram e a adolescente abriu os olhos lentamente, lamentando a perda do contato. Chris já estava na sua frente outra vez, ergueu uma das mãos e ajeitou a franja dela atrás da orelha. Depois, com os olhos tão brilhantes quanto os de uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo, ele avaliou o rabo de cavalo que havia feito com a bandana.

 Sorriu, dessa vez um sorriso cheio e com todos os dentes antes de depositar um leve beijo sobre os lábios dela e dizer com indiferença:

 -Prefiro o seu cabelo solto – Deu de ombros e então sussurrou, olhando fundo nos olhos dela – Mas você fica linda de qualquer jeito, não é?

 Sem esperar por uma resposta, o hispânico abraçou-a de lado e os dois começaram a andar. Clarisse aproveitou e inclinou a cabeça contra o peito de Chris, tentando esconder o rosto avermelhado.

 De repente o braço do filho de Hermes desapareceu de cima de seus ombros e a adolescente percebeu que ele havia ficado para trás. Virando-se para que pudesse encará-lo, ergueu uma das sobrancelhas ao ver o rosto pensativo do namorado. Fez menção de perguntar o que acontecera quando ele começou a falar mais para si mesmo do que com ela.

 -Não acredito que já consegui entrar tantas vezes na sua cabine sem que ninguém me visse, e, tudo o que eu peguei foi uma mísera bandana – Ele jogou os braços frustradamente para cima – Eu poderia ter pegado um sutiã ou até mesmo uma calçinha, mas nããão – Cruzou os braços, bufou e encarou o chão – Parabéns Rodriguez, que tipo de ladrão você é?

 Voltando a erguer o olhar, percebendo pela primeira vez o que acabara de dizer, deu de cara com uma Clarisse extremamente raivosa. Descruzou os braços, limpou a garganta e desejou poder engolir as palavras de volta.

 -Quer dizer – Deslizou uma das mãos sobre os cabelos e quando viu que o rosto da namorada permanecia irredutível, suspirou – Você me da dez segundos pra correr?

 -Cinco – Respondeu.

 -Mas...

 -Quatro

 Não perdeu tempo dessa vez e pôs-se a correr, atropelando a tudo e a todos que estavam em sua frente.

 Sim, Chris Rodriguez estava definitivamente morto.