- Aya!

A garota virou-se reconhecendo a voz.

- Bom dia professor Toya!

- Ah, bom dia. Poderia me dizer se Keitaro já chegou?

Aya percebeu a preocupação do professor. "Aconteceu alguma coisa grave ontem" concluiu.

- Não professor, ele ainda não chegou. Aconteceu alguma coisa?

- Não... Está tudo bem – forçou um sorriso – É que ele não costuma chegar atrasado, só isso. De qualquer forma obrigado Aya.

Toya deixou-a a passos largos, indo em direção à sala dos professores. Aya não precisava de muitas explicações, já sabia da maior parte da história, mas custava alguém contar o que havia acontecido na manhã passada? Toya era um homem bonito, lá pelos seus vinte e sete anos. Alto, corpo bem definido, cabelos arrepiados. Mas não era novidade que ele era gay. Algumas alunas até tinham esperanças. O que Aya não esperava é que seu amigo, logo Keitaro, tivesse um amor platônico pelo professor. "Tenho que descobrir o que aconteceu...".

- Bom dia alunos! – berrou a professora animada.

- Bom dia professora Keiko!

Em meio a confusão da primeira aula um garoto entrou despercebido na sala.

- Keitaro! – levantou Aya acenando loucamente para o amigo

– Senta aqui!

O garoto obedeceu.

- O que aconteceu ontem garoto? O professor ta doido te procurando!

- Calma Aya, deixa eu respirar – disse o garoto com dificuldade.

- Não deixo! Ele ta te procurando e eu quero saber por que! Por que fugiu ontem?

- Ele está me procurando? – perguntou Keitaro preocupado.

- Você não me ouviu? Vai falar com ele?

- Não quero falar com ele...

- Por que?

- Já causei problemas de mais...

- Problemas? Que problemas?

...

- Algum problema Aya?

Foi quando percebeu que estava gritando e que a sala estava bem mais silenciosa agora.

- Não, professora...

- Então sente-se por favor.

- Sim...

Envergonhada ela obedeceu e virou-se para Keitaro.

- No intervalo quero saber de tudo – sussurrou.

- Já estamos longe o suficiente... – protestou a garota.

- Ok... – sussurrou o garoto – Nem sei por onde começar...

- Eu sei, comece de ontem de manhã.

- Ta... – respirou fundo – Ontem de manhã eu resolvi falar com o Toya... Sabe, sobre o que eu pensava dele, o que eu...
Então...

- Anh...

- Fui até ele e disse o que eu sentia. Não sei se ele foi contra se ele gostou... Bem – parou por um segundo – na hora achei que ele tivesse gostado de ter ouvido o que eu disse, por um instante eu pensei. Então combinamos de discutir isso depois da aula de recuperação já que ele teria mais tempo pra gente conversar. Eu estava feliz, não precisava mais abaixar a cabeça quando passava perto dele por que ficava vermelho. Nos encontramos no corredor umas duas vezes depois disso. Mas foi quando eu entrei num dos corredores que eu ouvi Kitano e Toya conversando...

As palavras saíam de sua boca cautelosamente, temendo a reação da amiga. Com se ela fosse rejeitá-lo assim como Toya fez...

- Foi por isso que eu saí correndo...

Aya estava com a boca ligeiramente aberta com a história que ouviu, mas respondeu com uma pergunta.

- Keitaro, eu não sou idiota, nem o Kitano. Você não me
contou tudo não é?

- O que?

- Kitano não tirou essa história do nada... Ele não iria ameaçar Toya só por que viu um aluno se declarando pra ele.
Pra ele ter ficado com tanta raiva algo mais grave deve ter acontecido.

Keitaro abaixou a cabeça. Lágrimas estavam quase correndo pelo rosto. Não agüentava mais ter que guardar segredos para si...

- Eu fui perguntar pra ele algo da matéria... – sua voz saiu estrangulada – Mas quando eu cheguei lá eu não consegui dizer nada... – Desviou o olhar lembrando-se do que havia acontecido.

Sua garganta estava seca e seus olhos fixos no chão. Mas Toya estava ali, ofereceu-se para ouvi-lo, colocou as mãos no ombro do aluno. Mas Keitaro não moveu o rosto, estava envergonhado de mais. "Estou aqui, Keitaro, sempre que precisar pode me contar qualquer coisa, eu estarei aqui...". A respiração ficou pesada "Deixe-me apenas ver seu rosto". Como não deixaria? Keitaro o amava. Estava disposto a muita coisa por ele. "Você é tão frágil..." sussurrou Toya olhando diretamente nos olhos de Keitaro. Suas mãos se tocaram, tremulas, temendo cada segundo seguinte. Os dedos longos do professor entre os cabelos do aluno, os rostos cada vez mais próximos "Vou te causar problemas" sussurrou Keitaro temeroso. O professor respondeu "Você se tornou meu problema" e beijou-o.