A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 61
Ainda Estou Aqui




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Depois de matar a saudade de meus pequenos, Carlos Daniel me carregou em seus braços ate nosso quarto, mesmo quando disse que não era necessário, apesar de tudo eu ainda conseguia andar.

— Agora descanse, o doutor disse para você repousar, ainda esta fraca e não deve forçar a perna. – ele disse me olhando quando me colocou sentada na cama.

— Na verdade eu queria tomar um banho antes, - falei olhando-o – quero tirar esse cheiro de hospital.

— Claro meu amor, - ele sorriu – eu te ajudo, e nem adianta tentar me convencer do contrario.

— Tudo bem, não vou negar sua ajuda. – sorri.

Com cuidado ele tirou meu vestido, e seus olhos congelaram assim que olhou em minhas costelas. Levei minha mão onde um tom arroxeado marcava minha pele, e me estremeci com a lembrança daquele monstro me prendendo embaixo de si.

— Aquele desgraçado... – Carlos Daniel se levantou nervoso, suas mãos se fecharam com força fazendo os nós dos dedos ficarem brancos.

— Esta tudo bem Carlos Daniel. - falei olhando-o.

— Paulina, - ele se ajoelhou a minha frente e segurou minhas mãos, sua voz estremeceu – me desculpa meu amor? Eu não queria ter te falado aquilo... Estava nervoso, me sinto tão culpado por tudo que te aconteceu.

Seus olhos cheios de lagrimas se chocaram com os meus, e por alguns segundos permanecemos assim.

— Eu acho melhor não falarmos sobre isso agora. - desviei meu olhar do seu e engoli seco - Precisamos descansar.

— Tudo bem, - ele beijou minhas mãos e se colocou de pé – você tem razão. Vem, vamos tomar banho.

Carlos Daniel terminou de me despir e depois protegeu o gesso em minha perna para que não molhasse. Assim que entramos no banheiro me surpreendi com duas cadeiras embaixo do chuveiro.

— Ah... Eu havia falado para Lalinha trazer as cadeiras, assim você não precisa forçar a perna.

— Obrigada. – agradeci quando me deixou sobre uma cadeira e colocou minha perna sobre a outra.

Ele ligou o chuveiro e deixou que a água caísse sobre mim. Pegou o sabonete e deslizou por meu corpo, com carinho e suavidade. Eu o observava em cada movimento. Depois de ensaboar meu corpo, pegou o shampoo e ensaboou meus cabelos, massageando-os com calma.

Me senti revigorada depois daquele banho, Carlos Daniel pegou uma toalha e me fez ficar de pé enrolando-a meu corpo, e logo depois me levantou em seus braços me levando ate a cama, ele beijou minha testa assim que me deixou sobre ela, e com cuidado retirou a proteção de meu gesso. Foi ate o closet e rapidamente voltou com roupas limpas para mim, me vestiu e secou meus cabelos com a toalha, deixando-os um pouco úmidos, e ainda os penteou.

— Obrigada Carlos Daniel. – agradeci quando terminou.

— Não tem nada que agradecer meu amor, - ele segurou minhas mãos – agora fique quietinha aqui que vou tomar banho também. Tente descansar.

Apenas o observei ele enquanto me ajeitava sobre a cama, Carlos Daniel colocou um travesseiro embaixo de minha perna que já começava a inchar e seguiu para o banheiro.

Ele não demorou muito no banho, logo saiu do banheiro apenas com uma toalha envolvendo sua cintura, engoli em seco ao vê-lo assim, ele sempre causava essas reações em mim.

— Pensei que já estivesse dormindo. – ele falou com carinho enquanto enxugava os cabelos.

— Na verdade eu não estou com sono, dormi muito nas ultimas horas. – falei sem deixar de o olhar.

Ele caminhou ate o closet e vestiu apenas uma cueca, Carlos Daniel estava muito cansado, dava para perceber por seus olhos avermelhados e fundos e pelo tom de sua voz.

Com cuidado ele se deitou ao meu lado e se virou para me olhar, sua mão contornou meu rosto.

— Não imagina o quanto é bom ter você aqui. – ele disse ficando com os olhos úmidos – Esses dias sem você foram um verdadeiro inferno, se eu te perdesse não sei o que faria...

— Shh... – disse tocando seus lábios com as pontas dos dedos - está tudo bem agora... Estamos aqui, juntos.

— Sim meu amor, estamos juntos, e é maravilhoso estar assim com você, - seus dedos acariciavam minha bochecha - poder te olhar, ver o fundo de seus olhos, sentir sua respiração...

— Também estou feliz por estar assim com você. – sorri observando seu rosto tão próximo ao meu.

— Posso beijar você? – ele perguntou acariciando minha boca fazendo-me corar, desde que havia acordado naquele hospital não havíamos trocado nenhum beijo.

Acenei em concordância enquanto engolia seco.

— Eu te amo Lina. – ele disse antes de se aproximar e colar seus lábios nos meus, primeiro com um toque calmo e suave, mas nós dois necessitávamos daquele beijo e logo aquele simples roçar de lábios se tornou num beijo carregado de amor, de cura.

Carlos Daniel cessou o beijo e colou sua testa na minha, meus olhos permaneciam fechados, sentindo sua respiração agitada tocando minha pele.

Com cuidado ele se aconchegou mais próximo a mim, seus braços envolveram minha cintura e recostou seu rosto em meu ombro, levei minha mão ate seus cabelos úmidos e o acaricie ate que ele dormisse.

Por um longo tempo o observei, e acabei por dormir também.

Acordei assustada com o barulho do vento nas janelas, respirei fundo e olhei para Carlos Daniel que continuava a dormir ao meu lado. Minha mão quase que automaticamente acariciou seu rosto. “Meu Carlos Daniel, como eu o amo.”

Ele dormia profundamente.

Fiquei o observando, imaginando tantas coisas, e por mais que quisesse esquecer, sempre as lembranças de suas palavras me atormentavam, talvez ele nem fizesse ideia do quanto me feriu ao dizer que eu não era mãe de Lizete... Fui desperta de meus pensamentos ao ouvir o choro de Otávio. Meu coração materno logo apertou-se ao imaginar o que ele tinha.

Com cuidado me afastei de Carlos Daniel, não queria acorda-lo. Com calma consegui ficar de pé, tentando não colocar meu pé ferido no chão, o doutor foi bem claro quando disse que não devia forçar a perna nos próximos dias, me apoiei na cama e fui pulando com uma só perna em direção à porta, precisava me lembrar de pedir as muletas se quisesse andar sozinha pela casa. O choro de Otávio ficou mais alto, tentei me apressar, mas acabei me desequilibrando, senti Carlos Daniel me pegar antes que eu caísse.

— O que pensa que esta fazendo? - ele perguntou um pouco nervoso e ainda meio perdido por ter acordado de repente - Você não pode levantar assim sozinha.

— Eu só estava indo ver o Otávio, Carlos Daniel. - falei assim que ele me colocou sentada na cama - Ele esta chorando.

— Você podia ter me acordado, - ele beijou minha testa - agora fique quietinha aqui que vou buscar nosso filho.

Ele vestiu uma bermuda e uma camiseta e assim que saiu do quarto Lizete apareceu na porta, ela me olhava desconfiada.

— O que foi meu amor? - falei sorrindo do seu jeitinho curioso - Venha aqui com a mamãe.

Ela correu até mim e me abraçou, e logo depois se sentou ao meu lado na cama.

— Você esta bem mamãe? - ela me olhou preocupada.

— Estou sim Lizete, - a abracei contra meu peito e beijei suas bochechas - estava com muita, muita saudade de você.

— Eu também mamãe, - ela me olhou novamente nos olhos - sua perna esta doendo muito?

— Não meu amor, a mamãe só tem que tomar alguns cuidados.

— Como se machucou? A bisvovó disse que a senhora caiu.

— Foi isso mesmo meu amor. - acariciei seus cabelos enquanto engolia em seco me lembrando de como realmente tinha me machucado.

— Vai ficar muito tempo machucada? – ela perguntou séria.

— Bom, se a mamãe seguir todas as recomendações do medico, em alguns dias já vou estar bem.

— Eu vou cuidar de você mamãe. - ela me abraçou apertado.

— Eu sei que vai minha filhinha. - beijei novamente suas bochechas.

— Olha quem esta aqui! - Carlos Daniel disse entrando no quarto com Otávio, ele estava agitado nos braços do pai e não tinha nenhum sinal de que estivesse chorando.

— Ah meu Bebezinho!. - falei estendendo os braços para ele, Otavio bateu freneticamente as pernas e os braços.

— Esta com saudades da mamãe, campeão? - Carlos Daniel dizia enquanto me entregava Otávio.

— Oh meu amorzinho, - o abracei e beijei seu rosto - a mamãe sentiu tanta saudade.

— Lalinha disse que depois que ele te viu não quer saber de mais nada. - Carlos Daniel falou sentando na beirada da cama – agora que sabe que você esta aqui, não aceita mais ninguém que não seja a mamãe.

Otávio me olhava e vez e outra sorria, sua mãozinha agarrou meu dedo.

— Meu bebezinho lindo, - falei acariciando seu rostinho - a mamãe nunca mais vai ficar longe de você e sua irmãzinha.

— Otávio, agora a mamãe ta aqui, - Lizete disse segurando a mãozinha do irmão - eu te disse que ela iria voltar logo. Agora ela vai ficar com a gente pra sempre.

Beijei a cabeça de Lizete e abracei novamente Otávio, poder estar com eles assim são momentos maravilhosos.

Carlos Daniel se levantou e o olhei, ele tinha os olhos marejados.

— Carlos Daniel, esta tudo bem? – perguntei preocupada.

Ele me olhou, Lizete brincava com Otávio em meus braços.

— Paulina, me desculpe por ter sido tão grosso com você, se eu não houvesse te falado tudo aquilo você não estaria assim agora.

O olhei fixamente tentando encontrar alguma palavra que traduzisse o que senti. Só conseguir dizer o que eu tinha certeza.

— Eu iria atrás de Lizete de qualquer maneira, - olhei para ela que continuava a brincar com Otávio - não tem que se sentir culpado por isso.

— Paulina você quase… - ele bagunçou os cabelos, nervoso.

— Carlos Daniel, agora não, - o interrompi - as crianças estão aqui, não é o melhor momento.

Desviei meu olhar do dele e passei a observar Lizete e Otávio que se interagiam com brincadeiras da irmã.

Ficamos um momento em silêncio, apenas observando nossos filhos, depois de um tempo ele voltou a falar.

— Eu vou buscar alguma coisa pra você comer, - o olhei de relance – esta muito fraca e precisa se recuperar.

Pouco tempo depois ele voltou com uma bandeja com sucos e sanduíches naturais.

— Trouxe pra você também, Lizete. – ele disse colocando a bandeja sobre a cama.

— Oba papai, eu estou morrendo de fome, - ela arregalou os olhinhos enquanto o pai lhe entregava seu lanche – não quero sair de perto da mamãe.

Acaricie seus cabelos sorrindo enquanto ela dava uma boa mordida no seu lanche, Otávio estava quase dormindo no meu braço.

Carlos Daniel o pegou e o aninhou em seus braços, e eu faminta, segui o exemplo de Lizete e logo acabamos com tudo que Carlos Daniel nos levou, Otávio já dormia profundamente nos braços do pai.

Passamos o restante daquela tarde no quarto, com cuidados de Lizete e Carlos Daniel, depois no jantar nos reunimos com vovó Piedade.

No dia seguinte Carlos Daniel e eu fomos visitar Paola, trocamos poucas palavras ate o hospital, era como se fossemos dois estranhos. Paola estava se recuperando bem, conversamos por um tempo e prometi a ela que levaria Lizete para visita-la.

***

Acordei no meio da madrugada, senti a cama vazia ao meu lado, procurei por Carlos Daniel pelo quarto e o vi ninando Otávio próximo a janela, me sentei e vi a mamadeira vazia de nosso filho, fiquei o observando e não pude evitar sorrir quando ele virou e me viu.

— Ele demorou a dormir. – ele disse baixinho e colocou Otávio no carrinho ao lado da cama - Estava com fome

— Podia ter me acordado. – disse me ajeitando melhor sobre a cama.

— Você estava dormindo tão bem, e ainda estava com um pouco de febre. Se sente bem? – perguntou verificando a temperatura em minha testa.

— Eu estou bem. – respondi e nossos olhares se encontraram, cheios de palavras não ditas, de ressentimento.

— Paulina, eu... – ele passou as mãos pelos cabelos e suspirou profundamente – eu não suporto mais... Não consigo mais...

Um soluço abafado veio acompanhado pelas lagrimas, senti um aperto no peito por vê-lo chorando.

— Carlos Daniel… - sussurrei já com os olhos cheio de lágrimas.

— Meu amor, - ele me puxou pro seus braços – me doí tanto imaginar tudo o que te passou, tudo que aquele canalha fez com você.

O abracei mais forte e deixei que as lagrimas caíssem por meu rosto.

— A cada segundo que passa é um tormento, me martirizo por ter te falado aquelas palavras tão duras... Eu estava tão nervoso imaginando que Paola pudesse ter sequestrado Lizete que me irritei ainda mais quando você tentou defende-la… Fui um estupido, um idiota. Pode ter certeza que aquelas palavras me machucaram muito mais Lina, me tortura a cada instante saber que te fiz sofrer, que te magoei…

— Carlos Daniel... – falei entre lagrimas – me doeu tanto, nunca imaginei que ouviria aquelas palavras vindas de você, logo de você que sabe o quanto amo a Lizete, o quanto ela é importante pra mim... Lizete foi minha força quando pensei que já não existia mais nenhuma em mim para continuar...

— Meu amor, - ele se afastou de mim e segurou meu rosto em suas mãos – me perdoa? Jamais quis te magoar, eu me sinto horrível por estar te fazendo sofrer.

— Carlos Daniel, não vou negar que me machucou… Mas agora, depois de tudo que aconteceu, depois de pensar que nunca mais iria te ver, que nunca mais poderia olhar em seus olhos, sentir seu toque, seus beijos… - minha mão acariciou seu rosto – Tudo o que quero é esquecer tudo isso que aconteceu, eu não consigo mais estar tão próxima a você e me sentir tão distante, eu te amo tanto meu amor, quero que voltemos a ser como antes…

— Meu amor, - ele me beijou - te amo Lina, te amo, me perdoa? Me desculpa Lina..?

— Esta tudo bem Carlos Daniel, - limpei as lagrimas de seu rosto – esta tudo bem...

— Não sei o que faria se tivesse te perdido, senti tanto medo. – suas mãos acariciaram meu rosto.

— Tudo o que eu mais queria quando estava naquele lugar era poder de abraçar... saber que estaríamos juntos outra vez... Eu te amo Carlos Daniel.

O beijei, deixando que meus sentimentos assumissem o controle de meu corpo, que todas aquelas lagrimas de magoas saíssem, colocando pra fora tudo o que sentíamos.

Já estava amanhecendo quando finalmente conseguimos dormir, protegidos um nos braços do outro.


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