A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 34
Culpada




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Não era mais que oito da manha quando cheguei ao hospital, não havia conseguido dormir nem um minuto sequer. Marco voltava da cantina e quando me viu me abraçou aliviado.

— Onde você estava? - perguntou me olhando preocupado.

— Eu... estava em meu apartamento, - disse envergonhada por ter me esquecido completamente de Marco - me desculpe, mas nem me lembrei que estava dormindo no sofá...

— Não se preocupe Paulina, - ele sorriu ternamente - apenas me preocupei, acordei e não encontrei você e nem... Carlos Daniel.

— Ele me levou. - sussurrei abaixando cabeça.

— Você ainda o ama muito não é? - perguntou levantando meu queixo e me forcando a olha-lo.

— Amo, - suspirei - amo mais a cada dia que passa, não consigo arranca - ló de mim.

— Paulina, - falou com carinho enquanto deslizava as pontas dos dedos por minha face - ele te enganou, não merece seu amor.

— Eu sei Marco, - disse sentindo meus olhos umedecerem - mas parece que meu coração se nega a entender.

— Eu sempre estarei aqui com você, isso tudo vai passar. - disse me abraçando.

— Eu... vou ver como esta minha mãe. - disse me afastando de seus braços - Por que não vai descansar um pouco? Pode ir para meu apartamento se quiser, te passo o endereço e se estiver com sorte Filó pode preparar alguma coisa para você comer.

— Obrigado pelo convite Paulina, - ele sorriu - mas, acho que não seja boa ideia te deixar aqui sozinha.

— Eu vou ficar bem Marco, - segurei suas mãos -você tem feito tanto por mim.

— Faço por que gosto de você. - ele sorriu com ternura.

— Também gosto muito de você Marco, - devolvi o sorriso - é como um irmão mais velho que nunca tive.

— Bom, - ele desviou o olhar e suspirou fundo - vou ate um hotel então.

— Pode ficar no meu apartamento. - tentei convence-lo.

— Me desculpe Paulina, mas, vou me sentir mais confortável em um hotel. - disse sorrindo.

— Tudo bem Marco. - respirei fundo - E não se preocupe comigo, vou ficar bem.

— Não me preocupar com você será impossível. - ele acariciou levemente minha bochecha.

— Obrigada por tudo Marco. - disse com sinceridade, ele sorriu amavelmente e beijou o alto de minha testa.

— Se cuida. - disse quando caminhou para a saída do hospital.

Assim que saiu fui apressada ate o quarto de minha mãe, devia pedir permissão ao medico para entrar, mas a ansiedade em vê-lá me impedia de raciocinar direito. Quando abri a porta vi algo que jamais imaginaria ver, Paola estava debruçada sobre nossa mãe, chorando, a primeiro momento pensei que o pior havia acontecido e que ela havia partido, que não havia me esperado. Mas ao me aproximar da cama percebi que ela acariciava os cabelos de Paola, como havia feito comigo na madrugada.

— Paulina. - minha mãe sorriu ao me ver parada ao lado da cama, Paola levantou a cabeça e pude perceber seus olhos vermelhos e inchados, e os vestígios de lagrimas por sua face - Que bom que veio... minha filha.

Sua voz saia com dificuldade, arrastada, meu coração se estraçalhou ao vê-lá daquela maneira, me sentia horrível por não poder fazer nada para amenizar seu sofrimento.

Me ajoelhei ao lado de Paola e segurei a mão de minha mãe, Paola me olhou por um momento, e apesar do sofrimento contido em seus olhos, também pude notar a raiva.

— Como se sente mamãe? - perguntei sentindo meus olhos arderem pelas lagrimas.

— Feliz, - ela disse com dificuldade, meu coração se apertou ao ouvir dizer aquilo - estou... com minhas duas filhas... juntas.

— Por favor mamãe, não se esforce. - Paola pediu com a voz carregada de sofrimento.

— Preciso falar com vocês, - ela disse olhando para nós duas e segurando nossas mãos - vocês tem que se unirem.

— Não me peça isso mamãe, - Paola disse chorando - tudo é culpa dela, não pode querer que nos tornemos amigas.

Senti meu peito esmagado com as palavras de Paola, aquilo também era o que eu imaginava, que tudo era minha culpa.

— Pa-ola, por favor... não a julgue assim, - ela se esforçava para que as palavras saíssem de seus lábios - Paulina não é a culpada, você sabe disso.

— Mamãe, por culpa dela o papai morreu, - Paola dizia entre lagrimas - e agora você...

— Paulina não teve culpa do que aconteceu... ela era só... uma criança.

Paola negava com a cabeça enquanto as lagrimas escorriam pelo seu rosto, eu continuava ali, ajoelhada ao lado delas, com o peso da culpa caindo sobre as minhas costas, uma culpa que acolhi e que me esmagava por dentro.

— Paulina, - minha mãe falou chamando minha atenção - não fique assim, você não tem culpa meu amor, não tem.

— CLARO QUE ELA TEM CULPA, - Paola gritou cuspindo as palavras - POR CULPA DELA O PAPAI MORREU, ELA O MATOU, E AGORA ESTA TE MATANDO TAMBEM.

Eu não sabia o que fazer, tentava a todo custo quebrar aquela parede que me impedia de lembrar meu passado, lembrar o que havia acontecido comigo e também com meu pai. Havia um motivo para Paola me odiar tanto, e suas palavras ecoavam em minha mente. "Eu matei o meu pai?" me perguntava com as lagrimas molhando meu rosto.

Paola se levantou enfurecida, e minha mãe levantou suas mãos ate mim, tocando meu rosto, me debrucei sobre ela e senti a culpa me esmagar.

— Me desculpa mamãe, me desculpa... - minha voz engasgada, sentia meu peito estraçalhado, me sentia culpada, culpada por tudo.

— Por favor, vou ter que pedir para saírem, - ouvi uma voz dizer enquanto seus passos entravam apressados no quarto acompanhado de outros passos, minha mãe estava agitada, tentava dizer algo mas, a voz não saia de seus lábios, com grande dificuldade alguém me arrancou dos seus braços, não vi quem era, a única imagem que ocupava minha mente era ela, tentando com todas as forças que ainda lhe restava, me dizer algo. Meus olhos estavam embaçados pelas lagrimas, mas ouvi com clareza quando ela conseguiu pronunciar aquelas palavras.

"- Você não teve culpa meu anjo, vou te contar tudo, prometo."

Quando me vi do lado de fora do quarto pude perceber que aqueles braços que me tiraram do lado de minha mãe, naquele momento, me abraçava com força. Reconheci aquele corpo colado ao meu, e quando levantei os olhos, encontrando os dele, disse com um gosto amargo na boca.

— É tudo culpa minha Carlos Daniel, tudo culpa minha. - minha voz saiu carregada de dor, desespero.

— Paulina, por favor, tente se acalmar, - ele dizia me abraçando forte - você esta tremendo.

— Por minha culpa minha mãe esta morrendo. - disse chorando ainda mais.

— Ao menos tem o bom o senso de reconhecer que é sua culpa, - Paola disse com a voz carregada de ódio - EU TE ODEIO PAULINA, TE ODEIO.

— PARA COM ISSO PAOLA! - Carlos Daniel disse com a voz alterada me envolvendo ainda mais em seus braços.

Olhei para Paola e percebi seu rosto molhado pelas lagrimas, podia ver que estava sofrendo, e em seus olhos notava aquele ódio que crescia a cada vez que me via.

Paola saiu quase que correndo dali, me senti ainda pior, e percebendo a proximidade em que estava de Carlos Daniel me afastei de seus braços.

— Por favor Carlos Daniel, saia daqui. - disse me virando de costas para não olha-lo, sentia que minha proximidade com Carlos Daniel causava ainda mais dor em Paola.

— Não vou te deixar sozinha. - ele disse tocando meu ombro.

Me virei rapidamente e aquela confiança que começava a surgir desapareceu, eu estava tomada pela dor, culpa, desespero, não queria que ninguém se aproximasse de mim, especialmente ele, ele que havia mentido e me enganado, naquele momento eu odiava Carlos Daniel Bracho com todas as minhas forças.

— SAIA DAQUI CARLOS DANIEL, - gritei sem me importar do local em que estava, sem me importar com as lagrimas que caiam sem controle por minha face - NUNCA MAIS QUERO TE VER, NUNCA MAIS...

— Paulina... - ele disse com os olhos cheios de lagrimas - não faz isso com a gente, não faz... eu quero cuidar de você...

— Cuidar? - um riso irônico saiu de minha garganta - Não me venha com desculpas Carlos Daniel. Eu confiei em você, e você estava apenas me usando... me enganando.

— Nunca te enganei, e muito menos te usei, - ele disse me olhando intensamente nos olhos - eu te amo Paulina, te amo com toda a minha alma, se quiser posso gritar para o mundo ouvir o quanto te amo, posso gritar que sou um homem completamente rendido aos teus pés. Não sabe como me sinto um canalha, um completo idiota por não ter te contado a verdade sobre a mãe de Lizete, mas tinha tanto medo de você me desprezar, me odiar como esta fazendo agora, - seus olhos derramaram as lagrimas - tudo o que eu quero é estar perto de você, cuidar de você. Sei como esta sofrendo, como esta adotando a culpa de tudo, e não quero te ver assim, - ele se aproximou de mim tocando levemente minha face - você não tem culpa de nada meu amor... de nada. Deixa eu estar com você Paulina? Deixa te ajudar a passar por isso?

— Eu preciso tanto de você Carlos Daniel, - disse rendida entre soluços. Não suportava mais aquela distancia, não suportava mais o peso que carregava, eu precisava dele, necessitava - eu preciso de você.

Carlos Daniel em um ato rápido me puxou para seus braços, me abraçando, e ali protegida em meu refugio deixei que meu coração falasse mais alto, deixei que ele, apenas ele, me guiasse.


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