Flor De Outono escrita por Jullyana Belichar


Capítulo 4
Ela voltou. Voltou, mas não pra mim...




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Rafael... Até quando ele vai continuar com isso? Eu sei o quanto ele é fraco. Sei que ele é.

Até uns quatro anos atrás, eu o via chorar. Eu sei o quanto ele ainda se culpa, o quanto ele ainda sofre.

Meu nome é Samuel Ferreira e tenho 15 anos. Sou o irmão caçula do Rafael.

Eu tinha apenas oito anos quando ela morreu... Cecília.

No dia em que todos souberam do que havia acontecido, a cidade morreu um pouco. Todos gostava da família Loriman.

Seu Carlos, o pai, era um excelente médico, o melhor da região; Dona Letícia, a mãe, era a bondosa professora de música; Ian, o filho mais velho, era atleta. Tinha 16 anos quando morreu... Ele era um garoto talentoso, forte e determinado... Até Rafael o admirava.

E tem a Cecília: aquela garotinha fofa que perseguia meu irmão por todos os cantos. Eu era encantado por ela. Apesar de ser um pouco boba, Ceci tinha o dom de fazer todos se acalmarem e sorrirem quando ela estava por perto. Era só Ceci chegar aqui em casa, que o clima mudava. Só Rafael não via isso...

Admito, sempre achei meu irmão forte, pronto para encarar tudo. Mas, naquele dia, eu senti pena dele...

Era uma sexta feira, à tarde. Eu havia acabado de chegar da escola quando encontrei mamãe ao telefone, chorando.

—Mãe, a senhora está bem? —Perguntei preocupado. —Aconteceu alguma coisa?

Ela desligou o telefone e chorou de verdade. Soluçava a cada instante.

—Mãe... O que aconteceu? —Eu já estava apavorado.

—Onde está Rafael? —Ela ignorou minha pergunta.

—Não sei, não chegou do colégio ainda...

—Precisamos encontrar seu irmão Samuel!

—Da pra explicar o que aconteceu primeiro?! —Pedi.

Ela tornou a chorar.

—Foi a Cecília, filho... Ela morreu.

Aquilo foi como um tiro à queima roupa. No momento, não pensei em mim... Pensei no Rafa.

—Ai não...

Procuramos por ele por toda a cidade, e a cada hora nossa preocupação aumentava. Foi papai que o encontrou.

Ele havia ido à casa de Ceci quando descobriu...

O encontramos deitado no chão do quarto dela, chorando.

Pelos três anos seguintes, ele sofreu... Ele, que sempre fora ignorante, sempre dizia que a queria longe, agora queria que ela voltasse.

Aí então os anos passaram, e ele esqueceu. Entrou para o Ensino Médio, arranjou várias namoradas, começou a ir a festas, sair com os amigos... Ele cresceu.

Sei que no fundo ele se lembra. Sei que ele pegou naquele dia, o diário e a foto que ficava na escrivaninha dela... Sei também que mamãe colocou em algum lugar do sótão. Talvez ele encontre hoje. Talvez ele lembre.

Cheguei cedo à aula de violão, ninguém ainda havia chego.

O lugar era de Dona Letícia. Quando ela morreu, um sócio passou a tomar conta do local. Ela era a pianista da cidade. E por incrível que pareça, ainda seria, já que ninguém toca piano. Não que eu conheça.

Foi por saber disso, que fiquei espantado quando escutei notas suaves de piano ecoar pelo prédio.

Subi as escadas para o segundo andar, tentando lembrar se havia alguém que tocasse piano. Não havia.

Eu esperava encontrar D. Letícia, mas não fui ela que eu encontrei. Ali, tocando, estava uma menina. Uma linda menina. Ela tocava identicamente a D. Letícia... A mesma forma de fechar os olhos, o mesmo jeito suave de tocar, de manipular as notas...

A garota parou bruscamente de tocar, sentindo minha presença.

Abriu os olhos e passou a me encarar. Não eram os olhos verdes de D. Letícia. A garota tinha lindos olhos castanhos... No começo, ficou espantada, mas depois sorriu.

Aquele sorriso, eu o conhecia.

Era um sorriso caloroso, um sorriso que acalmava...

Será possível? Será que era ela?!

Ela sorriu. Sorriu como sempre fazia.

—Cecília?


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