Flor De Outono escrita por Jullyana Belichar
O dia nasceu estranho, nublado. Muito diferente dos dias ensolarados que estávamos acostumados. Era como se o céu estivesse recebendo alguém da forma mais calma possível, sem a alegria do sol, ou a melancolia da chuva.
Coloquei o casaco e descia as escadas em direção à rua. Como eu pensava, estava frio lá fora. E, por incrível que pareça, um cheiro estranhamente familiar era levado juntamente com as folhar pelo vento.
Percorri as ruas calmamente, tentando lembrar-me de algo. No entanto, por mais que eu tentasse, não conseguia.
A escola parecia à mesma de sempre: tediosa.
Meu nome? Rafael Ferreira e tenho 17 anos. Minha vida caracteriza-se como normal.
Sou um dos garotos mais populares da escola, namoro a garota mais desejada... Para alguns minha vida é perfeita, mas nem sempre foi assim.
—Bom dia amor. — Disse Eliza, minha namorada.
Ela era linda: Os olhos azuis brilhosos, os cachos loiros que contornavam seu rosto de boneca, o corpo de fazer inveja a qualquer uma. Eu era mesmo um cara de sorte.
—Bom dia. —Eu disse, beijando sua testa.
—Vamos sair hoje à noite? —Ela perguntou, sorrindo.
—Não posso, tenho que limpar o sótão. Mamãe pediu.
Todos os anos minha mãe costumava a limpar o sótão, tirando todo o entulho. Mas por alguma razão, não faz isso há três anos.
—Tudo bem, saímos amanhã. —Disse antes de ir rebolando para perto das amigas.
O dia seguiu sem problemas... Tudo perfeito.
Cheguei a casa antes das duas da tarde e acabei encontrando meu irmão de saída.
—Aula de violão? —Perguntei para ele.
—Sim. —Ele se virou em minha direção. —Chegou cedo. Não ia sair com a Eliza?
—Mamãe pediu para limpar o sótão.
Ele abafou o riso.
—Boa sorte então. Você vai precisar.
Entrei em casa e ao passar pela cozinha, peguei uma maçã. Joguei a bolsa no quarto e subi para o sótão.
Deplorável não era a palavra mais indicada para descrever o estado daquele lugar... Seria preciso uma palavra pior. Via-se entulho e poeira por todos os cantos. O pouco de luz que iluminava o local entrava por uma pequena fresta da janela.
Peguei os tapetes e as cortinas e coloquei para pegar sol; varri todo o chão, tirando camadas e camadas de poeira; espanei as paredes e o teto; tirei as teias de aranha; lustrei os móveis e arrumei as caixas.
Quando acabei já passavam das cinco horas. Tudo estava pronto, mas acabei tropeçando, esbarrando no armário. Várias caixas caíram de cima dele.
—Ai, ai... Que bagunça.
Ajoelhei-me e comecei a entulhar as caixas. Uma, entre elas, chamou minha atenção: era uma caixa preta, decorada com figurinhas de personagens que eu gostava quando era criança.
Dentro dela encontrei tazos velhos, cartinhas e mais figurinhas. Mas, no fundo... Bem no fundo da caixa, havia um retrato virado de cabeça para baixo.
Foi quase como impulso. Assim que peguei o retrato e o virei, lembranças vieram em minha mente... Lembranças turvas, dolorosas, algumas alegres. Lembranças de algum dia, há sete anos.
Era a foto de uma garota. Uma garota gordinha, de olhos e cabelos castanhos.
Na foto ela abraçava alguém emburrado. Talvez porque não quisesse tirara foto...
Era a foto dela.
A foto da Ceci.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!