Djisseram-me que eu havia sofrido um acidente. Disseram-me que eu havia estado em coma por três meses.

Não me disseram onde estava minha família. Não me disseram que eu a havia perdido.

Meu nome é Anna Cecília Loriman. Perdi toda a minha família quando tinha apenas dez anos. Estávamos em um passeio quando o ônibus deslizou na pista molhada e capotou, caindo no barranco. Minha mãe, meu pai, meu irmão... Todos mortos.

Das vinte pessoas que estava no ônibus, apenas três sobreviveram. Eu preferia ter morrido com eles, pelo menos não haveria tanto sofrimento, tanta dor... Estaríamos juntos.

Eu sei que já se passaram sete anos, mas ainda assim dói.

Eu mudei de cidade quando ainda estava em coma. Os médicos acharam melhor me transferir, eu nada disse quando me contaram. Eu não queria mesmo estar lá. Não sem eles.

E tinha o Rafael... Eu sei o quanto ele me detestava, sei que ele não suportava ficar perto de mim. Eu gostava dele, mais do que tudo, mesmo ele não gostando de mim... No entanto, o que ele sentiu quando descobriu o que aconteceu? Será que, como todos, ela pensa que estou morta?

Estou prestes há fazer dezoito anos. Já que tornarei adulta legalmente, já posso herdar tudo que um dia foi dos meus pais. E nossa antiga casa entrava nesse pacote.

De todas as coisas que eu poderia herdar, a casa era a única que eu não queria ter.

—Não a reformamos, modificamos ou algo parecido. Estamos mantendo-a intacta para que um dia você possa morar nela. —Explicou Gabriela, minha Tutora.

“Até parece que conseguir morar lá depois de tudo que aconteceu”. Pensei.

—Nervosa? —Ela perguntou assim que desembarcamos no aeroporto da minha querida, porém esquecida, cidade natal.

—Um pouco. —Admiti. Eu não estava nervosa por ter voltado depois de sete anos. Estava nervosa por ter voltado sozinha.

Percorremos as ruas, silenciosamente. A cada esquina, lembranças vinham em minha mente... Deixando-me ainda mais magoada.

Acabei adormecendo com o cheiro da cidade em minha mente, lembranças no coração e dor em minha alma.