Depositou a caneta tinteiro na mesa. Tampou o pote de tinta. Um suspiro escapou por seus lábios. Seu novo livro estava quase finalizado. Havia um porém. Não escrevia-o com entusiasmo. Sentia-se escrava daquele trabalho. Fazia-o por obrigação. Detestava histórias de caráter romântico. Gostava de romances de mistério. Caráter investigativo. Mortes. Testes em laboratórios. Detetives. Suspense. Medo. Adrenalina. Deliciava-se ao escrever. Amava ler. Mas não centrando em casais. De forma alguma.

Sempre fora uma leitora ávida por conhecimento. Entretenimento. Desde pequena. Realizara o sonho de ser escritora aos dezoito anos. Consagrara-se como uma das grandes do mistério aos vinte e três. Tempo presente. Fora obrigada pela editora a escrever tal conto água com açúcar. Lamuriou-se. Ainda estava insatisfeita.

Permitiria-se esfriar a cabeça. Levantou da cadeira. Dirigiu-se à cozinha. Pegou a garrafa térmica. Encheu uma xícara de café puro. Abriu a geladeira. Cortou uma pequena fatia de pudim de leite. Levou a comida para a varanda. Sentou-se. Pôs-se a comer. Inspirou profundamente. O ar frio era agradabilissimo. Ajeitou o gorro. Sentia-se bem neste momento. Muito bem. O pudim dissolveu em seu palato. Escorreu em sua língua. Misturou-se ao café. Ah. Aquilo era um manjar dos deuses. O momento estava ali para ser aproveitado. O silêncio reinava. Exceto pelo vento. Um sonoro vendaval. Um desejo totalmente utópico perpassou por sua mente. Parar o tempo. Ficar ali. Ter todas as ideias possíveis. Relaxar. Balançou a cabeça. Estes pensamentos eram irreais demais.

Deixou com que o trabalho invadisse sua mente. Perguntava-se o que fazer. Joseph e Marie poderiam ficar juntos. Ou Marie assumiria tê-lo traído com o próprio irmão. Bam. O final perfeito era o segundo. Sem dúvidas. Joseph não aceitaria. Iria deixá-la. Leonard teria bom senso. Casaria com a a noiva. Marie ficaria só. Deprimida. E prometeria nunca mais se render aos encantos de um homem. Envelheceria solitária. Final da história. Sabia. Muitos leitores ficariam decepcionados. Poderia arruinar sua consagrada carreira. Silenciou os pensamentos. Talvez isso não importasse. Apenas talvez. Porque acabara de ter a ideia de seu mais novo livro.

Levou a louça para a pia. Voltou ao escritório. Sentou-se novamente. Estava desenvolvendo a história. Mentalmente. Iria retratar a vida de uma aspirante a escritora. Ela amava romances policiais. Uma série de assassinatos iria acontecer em sua cidade. Teria que ajudar a desvendá-los. Somente tendo como base suas leituras. Pegou um novo papel. A caneta foi retirada da superfície do manuscrito anterior. Agora estava em suas mãos. Começou.

"Depositou a caneta tinteiro na mesa. Tampou o pote de tinta. Um suspiro escapou por seus lábios."