Ouvi um estrondo. Senti o vento frio e carregado por pequenas gotas de chuva e abri os olhos. Ainda era madrugada. As janelas do quarto se abriram deixando a chuva forte entrar. Me levantei rápido, e corri até as janelas. Eu devia tê-las fechado, mas não fiz. Algo, no quintal da casa me chamou a atenção. Estava escuro de mais para ver com clareza, mas era uma sombra a mais na paisagem tempestuosa. Apertei os olhos para ver melhor, mas então, desapareceu.

Parecia uma silhueta humana, mas era escuro. Como se vestisse uma capa negra. Mesmo assim, desapareceu rápido, humanamente impossível. Fechei as janelas notando que meus cabelos pingavam. Eu ainda estava tonta por ter levantado tão rápido e ter forçado a vista para enxergar algo que não existia. Eu só tinha uma coisa para fazer: voltar a dormir as poucas horas que me restavam. Sequei o rosto e o cabelo com uma toalha e troquei de camiseta para voltar para a cama.

Mesmo tendo enfiado em minha cabeça que não era absolutamente nada, a última coisa que me veio à mente foi a sombra, no quintal.

Entrei na lanchonete ainda vazia, acompanhada por Suzi. Martha e Lucy chegaram primeiro, acompanhadas por Theo e Mike, de carro. Suzi e eu enfrentamos a chuva e chagamos pouco depois.

Suzi foi direto tomar o café que, provavelmente, Martha havia acabado de colocar. Eu segui para o quarto onde eu poderia tirar a roupa molhada e colocar o uniforme. Quando entrei, Martha e Lucy conversavam. Eu sorri para elas e abri o guarda-roupa.

– Tem certeza que não farei falta? - Perguntou Lucy. Sua voz estava rouca e ela estava acabada. Parecia exausta.

– Tenho sim, querida. Quando Mike chegar eu peço para ele levá-la para casa e você poderá descansar. Com essa chuva, vamos ficar vazios. - Martha sorriu, acostumada com dias assim, tempestuosos.

– Obrigada – Lucy sorriu

Martha saiu do quarto, nos deixando sozinhas. Limpei a garganta e resolvi perguntar:

– O que há, Lucy?

– Eu não dormi um minuto essa noite. - Ela falou lentamente

– Insônia?

– Não. Barulhos irritantes do lado de fora da casa.

– Mas... Que barulhos?

– Eu não sei. No começo eu fiquei com medo, chamei Mike e ele saiu de casa para ver. Nada. Ele também ouviu alguma coisa, mas não viu nada. Ouvi por uns quinze minutos, mas depois eu perdi o sono.

– Sinto muito. Bom descanso, então.

– Obrigada.

O dia seguiu tranquilo, eu apenas ajudava Martha a preparar os seus deliciosos caldos de inverno e o movimento aumentou apenas quando eu estava perto de sair, no horário de almoço. Trabalhar em meio período facilitava minha vida quanto à SHIELD. Minha desculpa era um estágio falso em um fórum falso.

Dick me encontrou no meu antigo prédio para conversar com os bombeiros que haviam nos chamado.

Ao subir até o meu apartamento, eu podia ver que apenas o meu apartamento havia sido destruído. Os apartamentos ao lado tinham apenas algumas marcas. Quando abri a porta, tudo estava destruído e cinza. Como se Jhonny tivesse queimado peça por peça da minha casa.

Uma explosão de gás. Ótimo plano para parecer acidente. Mas Dick e eu sabíamos que não era isso, nem nada parecido.

Quando saímos do prédio, voltamos para o carro de Dick. Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– Eu posso passar o resto do dia com você, se você quiser. - Ele ofereceu

Por algum motivo, era a única coisa que eu não queria. Eu precisava ficar sozinha. Concentrar-me em algo como Black Angel, caçar Jhonny até o inferno, se fosse necessário.

– Não. Não precisa, Dick. Obrigada. - Eu sorri

– Você tem certeza? Eu não acho que você esteja realmente bem. Eu sei que não vai voltar para o trabalho hoje...

– Eu não vou voltar para a lanchonete hoje. Ainda vou trabalhar.

– Lis, não é uma boa ideia...

– É, sim uma boa ideia. Eu sei o que tenho que fazer. Não precisa se preocupar.

Ele bufou. Irritado e contrariado.

– Tudo bem.

Ele ligou o carro.

– Dick, espera. - Falei e ele voltou a olhar para mim, desligando o carro. - Eu prefiro ir sozinha. - Ele bufou mais uma vez – Dick, isso é melhor para mim. Eu te ligo, mais tarde. Nós podemos ir jantar. O que acha? - Eu sorri, tentando consertar as coisas.

Ele suspirou pesadamente.

– Tudo bem, você tem razão. - Ele cedeu. Eu apertei sua mão e sorri.

– Obrigada. - Nos aproximamos juntos para um beijo.

Eu me afastei e abri a porta do carro.

– Te vejo às 20h?

– Vou estar esperando.

Saí do carro direto para o elevador/tubo zeta da SHIELD.

Nick fez questão de mandar Natasha me interrogar sobre a “explosão de gás” e eu me senti na obrigação de dizer toda a verdade sobre Jhonny. Quando Natasha terminou seu trabalho, Disse:

– Isso é um problema e tanto. - Ela mandou chamar

– Nós sabíamos o tempo todo que não era uma explosão de gás. Foi um incêndio criminal e muito bem feito. Nós investigamos.

– Isso significa que a vida de Richard Grayson está em perigo? A queda dele foi causada por um agente, não foi? - Perguntou Natasha

– Sim. Mas eu posso cuidar dele.

– Mesmo assim, vamos mandar agentes da SHIELD ficarem por perto, disfarçados na empresa onde ele trabalha. - Finalizou Nick, sem me dar tempo de questionar – Agora, Black Angel, aconselho que você para casa.

– Aconselha?

– É só por educação. Depois de conversar com o agente Barton, eu quero que você para casa. Você não tem mais nada para fazer aqui hoje. - Ele caminhou até a saída da sala, deixando claro que era uma ordem. - Ele está a sua espera. - E saiu

– Como sua colega de trabalho, aconselho que o obedeça. E como sua amiga, digo que ele sabe o que está dizendo. Aliás, imagino que em breve você vai sair com o namorado, então não custa nada sair mais cedo para cuidar de si mesma. - Natasha sorriu

Caminhamos juntas até o lugar onde Clint me esperava. Nunca imaginei receber conselhos de moda e maquiagem da Viúva Negra.

Natasha nos deixou sozinhos no quarto que Nick me dera na Fortaleza.

– Preciso colocá-lo a par dos acontecimentos?

– Não, eu já ouvi tudo. - Preferi não perguntar como. - Mas há algumas coisas que você precisa saber.

– Diga.

– A névoa. É magia. - Fiz minha melhor cara de interrogação e ele continuou: - Batgirl nos confirmou.

– Como ela pode saber?

– Ela conversou por quinze minutos com o Bruce e depois com Bruce e Nick. Eles garantiram que é magia, mas não deram as provas. Parece que tem algo a ver com o mago Zatara. Caso ele não seja uma lenda.

Zatara. Não era esse o sobrenome de Zatanna?

Resolvi deixar isso para depois. Faltava pouco mais de uma hora para o meu encontro e decidi usar alguns dos conselhos de Natasha.