Ninguém Em Casa escrita por Senara Luany


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Se não me engano, a garota tinha 14 anos. Era uma criança normal entrando para a adolescência daquele jeito que adora usar roupas curtas, dançar, e sair com os amigos. Na verdade ela tinha muitos amigos. E sobre suas roupas, poxa, era normal uma garota daquela idade usar roupas justas e curtas. Ela nunca pensou que isso seria um problema. Quer dizer, cada um se veste como bem entende; usar um vestido não dá a um idiota o direito de levantá-lo.

Mas a questão não era essa, ela ainda era uma criança, independentemente do jeito como se vestia ou se comportava. Era apenas uma criança. Ninguém poderia culpá-la por suas ações, crianças nunca pensam direito, elas são puramente inocentes, apesar do modo de se vestir.

Nunca fora sua intenção chamar atenção para si daquele jeito errado e nojento. Por Deus, que ele nunca a tivesse notado.

***

— É um menino! Não acredito! Damask, ele vai ficar tão feliz! — Romilly festejou meio que ainda incrédula por seu bebê ser um garoto. Oh, seu marido ficaria tão contente, com certeza o ensinaria jogar futebol.

Damask sorriu, um garotinho faria tão bem a eles. Estava sendo tão difícil, ninguém aceitou o fato de Rom ter engravidado aos dezoito anos e desistido da universidade. O marido de Romilly, Lucian, já tinha 20 anos, também preferira não ir para a universidade, decidiu que apenas trabalhar era melhor, e na verdade, estava certo, agora ele já tinha uma casa só para ele e Romilly, que estava esperando seu bebê.

Lucian era um ótimo rapaz, ele era praticamente irmão de Damask, poderia se dizer que ajudara a criar a garota, que agora estava entrando para a adolescência, cheia de sonhos, de vida, de vontades. Eles eram primos de segundo grau.

***

Romilly ficava o dia todo em casa, enquanto Lucian saía para trabalhar, geralmente Damask ia ao médico com ela, já que não havia ninguém mais que pudesse fazê-lo. Elas moravam próximas uma da outra, apenas um quarteirão de distância. Eram quase melhores amigas, apesar da pouca idade, Damask sempre fora boa em se comunicar com as pessoas, tinha vários amigos, de todas as idades.

Passavam as tardes juntas, assistindo filmes e conversando sobre tudo. E assim, eram suas vidas, tranquilas, enfrentando o mundo e seus preconceitos.

***

Era noite já, e seus pais ainda não haviam voltado da reunião da escola, seu pai era professor e a mãe enfermeira. Ela ouvira um ruído, provavelmente era a porta da frente sendo aberta, estava no banho e droga! a porta estava aberta e o box era transparente.

                Ótimo! Também esquecera a toalha. Tudo bem, deveria ser seus pais.

                — Mãeeeee, traga uma toalha! — gritou logo após desligar o chuveiro.

              

***

                — Rom, quando ele nasce?

                — Daqui a dois meses. — Romilly sorriu, passando a mão na enorme barriga.

                — Já escolheram o nome? — Damask perguntou enquanto juntou sua mão à de Rom, fazendo carinho, esperando que alcançasse o bebê lá dentro.

                — Lucian pensou em Justin, eu queria Leonard, então decidimos por os dois: Justin Leonard.

                Já devia ser umas 6 horas da tarde, Lucian estava guardando o carro.

                — Lindo nome, ah, Rom, já vou indo.

                Damask beijou suavemente a bochecha da garota, e fez mais um carinho na barriga que carregava Justin Leonard. Quando saía pela porta, ela evitou encarar Lucian.

                — Oi priminha!

***

                Os dias iam passando, cada vez a data do nascimento da criança se aproximava mais, todos estavam empolgados. Os pais de Damask como sempre muito ocupados, Romilly ansiosa, e Lucian excitadíssimo.

                Ninguém percebera como as visitas de Damask à Rom diminuíram nos últimos tempos. Nem como Dam não sorria mais tanto, ou como evitava até olhar nos olhos de Lucian.

                Vai ver as pessoas andavam ocupadas demais consigo mesmas até para reparar como Damask mudava seu estilo de se vestir.

                Shorts foram substituídos por calças, de preferência mais largas, que não marcassem seu corpo; saias e vestidos foram doados e blusas foram todas trocadas por camisetas.

                Oh céus, como ninguém notara como a garota andava calada, sem vontade de sair, ou ver seus outros amigos, como não perceberam?

                ***

                — Mãeeeee, traga uma toalha! — gritou logo após desligar o chuveiro.

                Segundos depois, apenas uma calcinha voara para dentro do box, Damask conseguiu pegá-la antes que chegasse ao chão. Estranho. Mas vestiu a calcinha mesmo assim. Era uma daquelas pretas, meio que fio-dental, que ela usava quando tinha educação física, para não marcar o uniforme.

                Ela saiu do banheiro com o cabelo louro, comprido, e agora molhado, cobrindo os seios e correra direto para o quarto. Entrou, fechou a porta, e começou a procurar por uma toalha no armário.

                E foi isso, uma noite seus pais não estavam em casa, e sua melhor amiga grávida estava com um desejo enorme de comer kiwi, o marido da garota, que era seu primo, foi correndo até sua casa. A porta estava trancada, mas ele sabia onde guardavam a chave reserva, então ele entrou.  Ouviu o chuveiro se desligado e Damask gritar por uma toalha. Mas ele não a levou, ele foi ao quarto da menina e pegou uma calcinha que já havia visto milhares de vezes, quando a garota vestia aquelas microssaias.

                Enquanto Damask procurava pela toalha sentiu ser puxada para trás. Então uma boca quente e macia, porém nada gentil, beijava seu pescoço, e mãos fortes, apertavam seus pequenos seios. De início, um gemido fraco lhe escapou dos lábios, nunca fora tocada assim. E pobre criança, quando virou de frente para o dono daquela boca, que lhe marcava o pescoço, desejou nunca ser tocada por ninguém.

                — Lucian! O que... Não! Me solta! — Ela tentava empurrá-lo, mas ele era tão mais forte. O homem a jogou na cama sem a menor cerimônia. Ela tentou gritar. Juro, que ela tentou. Mas tinha um nó na sua garganta, estava tão apavorada que não saiu som algum. E ela tentou fugir, e correr, e empurrar, porém nada parecia funcionar.

                Ele arrastou a garota para a cama outra vez, e arrancou a calcinha que ela vestia. E ela sentiu nojo, e raiva, e lágrimas rolavam por sua face de menina. Lucian a beijou, não porque quisesse ser romântico ou coisa do tipo, já fazia algum tempo que sentia certa vontade de saber o sabor daqueles lábios tão cheios e vermelhos, queria tocar naquelas pernas tão bem definidas. E assim fez, Damask não correspondia de jeito algum, apenas desistira de lutar, estava consciente de que não tinha a menor chance contra Lucian. Apenas fechara os olhos e chorava em silêncio enquanto seu frágil corpo era violado.

***

                Quem acreditaria nela? Com que direito ela estragaria sua própria família. Meus Deus, ela não podia. E o bebê? E Romilly? E seus pais? Talvez a culpa fosse sua mesmo. Só sabia que não poderia contar a ninguém. Mas como conviver com isso?

                Cada lágrima que deixava aqueles olhos azuis era uma promessa. Uma promessa de que ninguém nunca saberia, e a cada promessa Damask fazia uma cicatriz nos pulsos.

                Ela não queria machucar ninguém, então descontava em si mesma, e assim a dor lhe deixava mais livre, por Deus, ela só queria sentir algo que não fosse medo, angústia, raiva e nojo. Escolhera a dor, era a única a disposição.

           

***

            E enfim chegara o grande dia! Justin Leonard chegara ao mundo numa madrugada chuvosa, todo mundo era apenas sorrisos. Um garotinho tão lindo.

Ninguém notou como Damask estava estranha ultimamente e seu corpo mudara. Ou como ela tivera uns enjoos esquisitos. E ninguém na escola avisara seus pais que a garota desmaiou pelo menos umas três vezes. Ninguém a acompanhou no médico, e ninguém lhe dera os parabéns, porque antes que qualquer um pudesse perceber, ela decidira que o aborto era a saída mais fácil.

              

                Cada mês se passava rápido, e Justin crescia, e toda vez que Damask fitava aqueles olhinhos brilhantes, e recebia um sorriso, sabia que tomara a decisão certa. Aquelas lembranças seriam apenas suas, para sempre.

***

              

Fazia tanto tempo. Justin já estava com dez anos. Talvez fosse hora de compartilhar com alguém o que acontecera há tanto tempo, ou talvez nem o tempo cura certas cicatrizes que você precisa realmente contar a alguém que tente curá-las por você. Assim, Damask publicou seu diário, onde tinha cada sentimento ainda vivo, e exatamente desse jeito, ela transformou todas aquelas memórias tristes em arte, toda a dor em brilho, e os motivos para se perder, num novo caminho.

FIM!


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Notas finais do capítulo

Então?



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