O garotinho de cabelos verdes corria na margem de um rio. Do outro lado da passagem de água, uma garota um pouco mais velha que ele estava sentada num pedra, de costas.

— Kuina? — Zoro pensou alto, indo até uma parte do seu lado da margem que ficasse mais próxima da garota — Ei, Kuina!

Ela não respondia, tampouco olhava para ele. “Que tipo de brincadeira é essa? Eu não gosto...” pensava Zoro, enquanto procurava um jeito de atravessar o rio. A correnteza não estava forte, mas mesmo assim era perigoso atravessar a nado. Ignorando o bom senso e a pontada de medo que sentia, o menino entrou na água. Uma, duas, três braçadas. Uma tempestade se formava. “Quase chegando na metade... Falta pouco, Kuina” era tudo o que passava em sua cabeça. A chuva e o vento chegavam com força, fazendo o rio, que parecia inofensivo, se tornar uma passagem para a morte.

— Kuina! — Zoro gritava, quando já não conseguia mais nadar como antes. — Não se preocupe, vou chegar até aí!

A garota continuava sem esboçar nenhuma reação. Continuava parada, de costas, sentada naquela pedra grande dentre as árvores. Parecia não ouvir o que o garotinho gritava. Zoro sentia a água entrar involuntariamente em sua garganta. Ele não queria pedir ajuda, era muito orgulhoso para isso, mas ia morrer. Sentia que faltava pouco para perder a consciência. “Por que diabos ela continua ali, parada, no meio dessa tempestade?” foi a última coisa que ele conseguiu pensar antes de perder o controle de seu corpo e se afogar.

Sentindo uma forte pressão em seu peito e tendo água saindo por sua boca, Zoro acordava. Estava deitado na margem oposta do rio. “Consegui atravessar?” ele pensou, tentando se sentar e entender o que havia acontecido.

xxx

E através desse horizonte, o Sol está se pondo

Você está esquecendo, agora é hora de me deixar ir

Deixe-me ir...

xxx

O Sol voltava a brilhar como se nenhuma tempestade nunca tivesse passado por ali. Pássaros cantavam, borboletas e abelhas voavam e o clima estava numa temperatura perfeita. “Após a tempestade, sempre vem a calmaria.”.

— Tantas formas para morrer e você escolhe logo se afogar, eu esperava mais de você, Roronoa. — Uma voz feminina fez Zoro recuperar a consciência mais depressa. Ele olhou para o lado e viu a mesma garota de antes, mas dessa vez estava ao seu lado.

— Kuina! — Zoro exclamou, feliz, ficando de joelhos e tocando no ombro da garota — Mas... seu cabelo está diferente...

— Por que você está me chamando assim? — a garota finalmente encarou Zoro. Ela tinha os cabelos azuis escuros, com franja, iguais aos de Kuina, mas os fios eram mais compridos e tinha um óculos de grau no topo de sua cabeça, ajudando a manter o penteado. Seus olhos eram escuros e brilhantes. Mesmo sendo bem mais velha do que Kuina era na última vez que Zoro a viu antes da garota morrer, seus rostos eram muito parecidos. Zoro não conseguia enxergar diferenças entre a mulher a sua frente e a garotinha em sua memória. — O gato comeu sua língua?

— Você... Não é a Kuina. — Zoro ainda não conseguia reunir palavras decentes para falar. “Como é possível...?” — Pare de imitar a Kuina! Você é uma cópia!

— O quê? Por que você está agindo feito criança? — ao ouvir a pergunta, Zoro olha para suas próprias mãos e percebe que já era um adulto. “Mas o que aconteceu? Eu só queria encontrar a Kuina e desafiá-la mais uma vez... Por que eu cresci?”, pensou. — Entrou água no seu cérebro? Sou eu, Tashigi. Ou como você gosta, “Capitã Quatro-olhos”. — ela revirou os olhos.

Zoro ia responder mais coisas que não fariam sentido para Tashigi, porém a conversa foi interrompida por um forte estrondo vindo de trás deles. Ambos se levantaram e, rapidamente, desembainharam suas espadas.

— Fique aí, você está fraco. Eu cuido disso. — A garota disse, enquanto caminhava até a entrada das árvores. Zoro foi atrás da garota e esticou seu braço na frente dela, impedindo sua passagem. — O que significa isso? — ela pergunta, impaciente.

— Não sei o que você está fazendo, mas pode ser perigoso. Eu cuido disso, você é só uma mulh... — Zoro foi interrompido.

— Por que você sempre faz isso? — Tashigi gritou — Por que você acha que mulheres são fracas? Por que você é tão frio? Aquela mulher pássaro estava certa... — os olhos dela enchiam de lágrimas e a garota correu floresta adentro, deixando Zoro sozinho.

xxx

Quando as luzes se apagarem

e nós abrirmos os olhos

Eu terei ido... Eu terei ido...

xxx

Zoro continuava imóvel, ainda encostado na árvore desde que Tashigi dissera aquelas coisas a ele. “Quem ela acha que é pra me falar aquelas coisas?” ele pensava, tentando se sentir melhor. “Como aquele fumacento aguenta ela o dia inteiro?” o rapaz piscou com força. “Ah, tanto faz.”. Deixou-se escorregar as costas pela árvore, até ficar sentado e confortável, se preparando para realizar um dos seus hobbies favoritos: dormir. Quando estava prestes a pegar no sono, sente alguém se aproximando e, automáticamente, fica em pé e desembainha uma de suas katanas.

Seus joelhos falharam e o espadachim caiu junto a grama... “Não pode ser...”

Era uma garotinha bonita que aparentava estar no início da adolescência. Ela olhava para seus próprios pés, evitando o contato visual com Zoro.

— Kuina? É você? — Zoro perguntava para a garota. Seu coração estava acelerado e o suor escorria por todo o seu corpo, que tremia como nunca anteriormente.

— Me deixe ir. — a garota respondeu, com uma expressão séria. — Você cresceu, estou orgulhosa. Você está tão forte... — ela sorriu — Eu sei que você vai conseguir cumprir a promessa, Zoro, mas me deixe ir. Por favor.

— Mas... — Ele ia responder, porém parou. “O que eu estou fazendo? Isso não pode ser real... A Kuina morreu há muitos anos!”, pensava. O espadachim olhou a garota e virou o rosto, se lembrando de Tashigi. “Mas que droga, por que elas são tão parecidas?”

— Zoro, — Kuina chamou a atenção do rapaz — do que você tem medo? — ela fez uma pausa e encarou o rapaz, novamente — Me deixe ir. Você sabe que já pode me deixar ir... Por que não quer?

— Como assim? — Ele fitou a garota, seriamente. — Eu ainda não me tornei o melhor espadachim do mundo, como nossa promessa falava.

— Não é sobre isso, Zoro. — Ela riu, divertindo-se. — Não é sobre isso.

xxx

Deixe o Sol desaparecer

E logo outro Sol irá surgir

Se erguendo sobre o amanhã

Eu terei ido embora... Eu terei ido embora...

xxx