Duas Semanas Depois...

Eram 07h30min daquela pela manhã quando os olhos verdes de Samara se abriram encarando o teto do quarto de forma sonolenta. Apenas alguns segundos depois a ruiva se sentou na cama, se espreguiçou e, agora menos sonolenta, encarou a Amanda do pôster na parede de seu quarto. Após esse momento de contemplação, Samara foi tomar um banho e, depois de se vestir, desceu as escadas em direção à cozinha, pegou uma maçã e olhou para as fotos na porta da geladeira.

Samara: _Fofa. –disse para a foto de Isabela. –Pena que só é um anjinho com a Sarah e a Amanda. –lamentou-se com um sorriso irônico.

Mordendo a maçã, a ruiva se encaminhou para a sala e tirou o celular do bolso, em seguida se jogou no sofá enquanto discava o número já decorado.

“Alô” –Sarah

“Oi, mana.” –Sam

“Oi, minha linda. Como você tá, maninha?” –Sarah

“Eu to bem. E você?” –Sam

“To ótima. E a Isabela e o Dinho também estão bem. Então, porque me ligou?” –Sarah

“Eu devia ter ligado antes. Lembra que eu disse que queria conversar com você? Eu só acabei esquecendo porque... Tava meio ocupada com umas... Você sabe, coisas da escola.” –Sam

“Coisas da escola que não tem nada a ver com o papai estar tirando mais plantões a noite e ‘ensaios extras do clube de teatro’, né? Essas coisas?” –Sarah

“Co-coisas da escola, Sarah. Isso não tem nada a ver com o assunto, então vamos apenas falar de quando podemos nos ver.” –Sam

“(risos). Não sei quem foi a má influência primeiro, mas vocês duas não prestam. E você pode vir a qualquer hora antes das 19h00min. Alias, eu não me importaria se passasse uns dias aqui, sinto falta de topar com você quando vou na cozinha beber agua ou algo do tipo.” –Sarah

“Oh só, meu coração gago e ruivo fica profundamente magoado quando você diz assim na cara dura que eu não presto, fique sabendo disso.” –a risada gostosa de Sarah ecoou do outro lado da linha fazendo Samara sorrir também. –“Mas enfim. Eu vou arrumar minhas malinhas, ligar pro papai e a mamãe pra pedir permissão, aí eu vou praí.”

“Liga pra minha cunhadinha linda pra ela vir também.” –Sarah

“Oh besteira. Já to até vendo como vai ser essa ligação. ‘Oi, my favorite, tá a fim de ir comigo lá pra casa da Sarah’ ‘Oi, princesa. Então... É que eu já to no meio do caminho, mas a gente pode se encontrar lá’.” –Sam

“(risos). A Isa não vive mais sem essa tia morena linda que ela tem. Dá até um ciuminho básico de vez em quando.” –Sarah

“Imagine eu. Cara, eu sou você mais baixa e menos paty. Porque a Isa gosta de você e não vai muito com a minha cara?” –Sam

“Ah, eu sou a mãe. Nossas vozes são diferentes, acho que você a deixa confusa ou algo do tipo sabe-se lá.” –Sarah

“É uma boa teoria.” –Sam

“(risos). Tenho que desligar, já tá quase na hora de por ela pra dormir e eu ainda vou dar um banhinho nela. A gente se vê daqui a pouco.” –Sarah

“Okay. Beijo.” –Sam

“Pra você também, mana.” –Sarah

Samara terminou de comer a maçã tranquilamente e em seguida ligou para Pedro que relutou um pouco, mas Mariana a seu lado lhe deu uma sutil bronca por desconfiar tanto que Samara fosse aprontar alguma coisa se passasse alguns dias na casa da irmã.

“Okay, vai.” –foi a resposta em tom áspero de Pedro.

Samara organizou a mochila, pegou o skate e discou o número de Amanda enquanto descia as escadas.

“Hey, my favorite” –S

“Oi, princesinha” –A

“Eu to indo pra casa da Sarah agora, tá a fim de ir comigo.” –S

“Na verdade, eu já to no caminho. A gente pode se encontrar lá ou posso ir aí e a gente vai juntas.” –A

“Não precisa. É contramão pra você, a gente se encontra lá mesmo, amor” –S

“Okay. Então até daqui a pouco. Te amo, princesa.” –A

“Também te amo, my favorite.” –S

Samara colocou o celular no bolso e deixou escapar uma risada abafada. Em menos de 20min já estava na casa da irmã.

Sarah: _Bem vindas ao meu humilde lar novamente, meninas. –desse Sarah abrindo o portão para as duas entrarem.

Samara: _Já tava com saudades de você, ruiva linda. –Samara abraçou Sarah apertado antes de passar por ela para dentro da casa.

Sarah: _Ainda bem que sou linda, né? Porque você é a minha cara.

Amanda: _É mesmo. Vou acabar te agarrando, cunhada. –Amanda repetiu o ato na namorada, abraçando fortemente Sarah.

Samara: _Hahaha. To morrendo de rir. Quebro a cara de vocês.

Luiz: _Ê laia. Ciúme ruivo é o mais sinistro que tem.

Sarah: _Continua caladinho aí no canto, amor. Fica mais bonito assim.

Luiz: _Sim senhora, patroa.

Todos se sentaram nos bancos brancos da varanda e Amanda deixou a conversa fluir por alguns minutos antes de fazer a pergunta que mais queria desde que entrou na casa dos Amaral.

Amanda: _Então... Cadê a Isabela?

Sarah: _Aê Amanda. Bateu seu recorde anterior de três minutos sem perguntar pela Isa.

Amanda: _Quanto eu levei hoje?

Sarah: _Quatro minutos e meio.

Amanda: _Impressionante. Mas onde é que ela tá dormindo?

Sarah: _Consegui fazer ela dormir no bercinho com a central ligada. Tá um desafio fazer ela dormir de noite com esse costume de dormir na rede debaixo da mangueira.

Amanda: _Já que ela gosta de vento, não seria melhor tentar fazê-la dormir no ventilador ao invés da central de ar? –Luiz e Sarah se olharam com uma expressão de “putz, como não pensamos nisso ante?”, causando riso em Amanda. –Eu vou lá dar um cheiro nela radipinho.

Sarah: _Você vai acordar ela, Amanda.

Amanda: _Não vou não. Mas se ela acordar, juro que cuido.

Sarah: _Tudo bem. Só porque eu sei que cuida mesmo.

Samara: _Eu arrumei uma ótima futura esposa, não é? –comentou Samara observando Amanda sumir pela porta da frente. –É linda, inteligente, incrivelmente carismática, ótima com crianças...

Sarah: _Começou. –a mais velha revirou os olhos, mas sorriu divertida. –Pensei que quisesse conversar sobre alguma coisa, maninha.

Samara: _Ah, sim, eu quero. –os olhos verdes de Samara encararam sugestivamente o cunhado na intenção de um “com licença” discreto.

Luiz: _Sarah, eu vou sair pra pesquisar o preço dos ventiladores. Essa ideia da Amanda me pareceu interessante.

Sarah: _Tá bom, amor. Até mais.

Luiz deu um selinho em Sarah e acenou para Samara antes de entrar rapidamente na casa para pegar a chave do carro e seguir seu caminho até o automóvel.

Sarah: _Então, o que tens para falar com tua querida irmã mais velha?

Samara: _Bom... Eu tenho uma pergunta a fazer, Sarah. Como o papai e a mamãe reagiram quando você contou que queria fisioterapia e não medicina?

Sarah: _Ah. A mamãe foi de boa, só ficou surpresa. –a mais velha suspirou e riu antes de prosseguir. –Mas o papai surtou de um jeito, Sammy, cê não tem noção.

Samara: _Sério?

Sarah: _Seríssimo. Ele ficou dizendo que o Dinho que tinha feito a minha cabeça e medicina era o meu sonho, blábláblá. Até eu convencer o papai de que EU tinha decidido por isso e que medicina era o sonho dele não o meu, foi estresse oh.

Samara: _Caramba. Se foi assim com você, imagine como vai ser pra mim que além disso sou lésbica. Como diz a Amanda, o doutor vai me cortar em cubinhos e fazer uma sopa.

Sarah: _(risos). Essa Amanda é engra. Você quer ser fisioterapeuta também? -Sarah se inclinou para frente animada com a possibilidade de Sam querer seguir o mesmo caminho que o seu.

Samara: _Não.

Sarah: _Ah. –tornou a sentar-se da mesma forma que antes. –Nutrição?

Samara: _Pior.

Sarah: _Enfermagem?

Samara: _Pior.

Sarah: _Nenhum ramo na área de saúde?

Samara: _Sim.

Sarah: _O que você quer fazer?

Samara: _Design Gráfico.

Sarah: _Não.

Samara: _Sério. Eu me interesso por isso desde que você me mostrou os modelos de convites pro seu chá de cozinha há alguns anos atrás e depois pro chá de bebê da Isa. Depois de todo o estresse da minha saída do armário, eu andei pesquisando muito sobre o assunto e é isso que eu quero fazer.

Sarah: _Bem, se é isso que você quer, eu te apoio. Mas te prepara porque o papai vai ter um treco com toda a certeza.

Samara: _E vai culpar a Amanda também sendo que eu ainda nem contei pra ela ainda.

Sarah: _É, isso também. E vai ser pior que com o Dinho.

Enquanto Isso, No Quarto de Isabela...

Amanda estava com os braços apoiados no berço observando sua pequena notável dormir tranquilamente até que ela se remexeu um pouco e abriu os olhos verdes devagar. O sorrisinho banguela logo tomou conta do rosto da ruivinha enquanto agitava animadamente as pernas e os braços ao focalizar a morena.

Amanda: _Oooooi, linda. Voxê dormiu bem, minha pequena notável? –Isabela continuava a se agitar enquanto balbuciava sons incompreensíveis. –Ownt mo deuso. É ou não é a coisa mais fofa da vida da titia?

Isabela: _Titi.

O choque daquele simples e singelo “titi” de Isabela fez o corpo de Amanda perder o foco por um segundo, fazendo-a cair no chão por cima de alguns brinquedos barulhentos e caixas de sapato que Sarah havia deixado para arrumar depois quando recebeu a ligação de Samara. Logo a morena levantou e se recompôs, mas o barulhos chamou atenção das ruivas na varanda que logo apareceram na porta para verificar o que havia acontecido.

Samara: _O que foi esse barulho, my favorite?

Amanda: _Nada não, eu só caí por cima dessas coisas aqui no chão.

Sarah: _Aaaaaaaaaah! Meus sapatos novinhos! –gritou estridentemente Sarah entrando apressadamente no quarto para verificar se algum de seus preciosos saltos havia sido danificado.

Amanda: _Estou bem, cunhada. Obrigada pela preocupação.

Sarah: _De nada. Então, o aconteceu pra você cair.

Amanda: _A coisa mais linda que eu já ouvi. A Isa me chamou de “titi”.

Sarah: _Não chamou nada.

Amanda: _Chamou sim. Até agora eu to toda boba.

Sarah: _Não acredito que a primeira palavra dela foi “titi” e não “mama”.

Amanda: _Sério que foi a primeira?

Sarah: _Sim, é sério. Essa menina tem cinco meses, era nem pra tá falando ainda. Eu vou quebrar a sua cara, Amanda.

Amanda: _Eu não fiz nada, ow. –a morena levantou as mãos e em seguida se virou para Isabela ainda agitada no berço. –Né que a titia não fez nada?

Isabela: _Titi. Hakniueubnfmabnbuajoalesi. Titi.

Sarah: _Estou magoada com você, Isabela Oliveira Amaral. –Isabela não tinha a mínima noção do que a mãe estava falando, então apenas sorriu e se agitou para ela também. –Droga, não consigo ficar brava com você, mocinha. Agora devo R$50,00 pra sua avó porque a sua primeira palavrinha não foi “mamãe”.

Amanda: _Ixe. Quando o doutor souber vai querer me cortar em cubos pra fazer sopa.

Sarah: _Ele já quer mesmo. Relaxa, cunhada.

Amanda: _Ah, claro. To suuuper relex.

UM MÊS DEPOIS...

Maressa estava esperando Bianca terminar de guardar tudo para saírem do auditório juntas, como sempre faziam.

Bianca: _Hoje rola um sorvete ou tem algum compromisso?

Maressa: _Devia tá começando a treinar pro campeonato de skate em novembro, mas... É só em novembro, né? Posso começar amanhã.

Bianca: _Tem certeza? Não te atrapalhar.

Maressa: _Nada. Eu sou incrível no skate, assim como em mais mil esportes. Só treino mesmo porque me divirto em cima de um shape.

Bianca: _Você não perdeu ano passado?

Maressa: _É perdi. A Lid engana com a carinha de CDF. Mas, como eu disse, skate é mais porque eu me divirto em cima de um shape, não levo esse esporte lá muito a sério. Mas respeito muito quem leva.

Bianca: _Claro, claro. Ainda bem que você perdeu ano passado, senão era mais uma razão pra você ser incrivelmente convencida.

Maressa: _(risos). Você sabe que me adora com esse nível de autoestima e tudo mais, Bia.

Bianca: _Verdade. –a estagiaria fechou a bolsa e pôs no ombro. –Vamos?

Maressa: _Vamos.

30min Depois...

Maressa: _Não ri, eu to falando sério. Só a natação, o skate e o surf que eu sou só boa. Nos outros esportes eu sou o máximo.

Bianca: _Quer saber? Eu vou ao teu próximo treino pra ver se tu é essa super. Atleta que vive se gabando de ser.

Maressa: _Na verdade, os treinos são fechados, mas se você quiser me ver jogar vôlei atrás da quadra no intervalo amanhã.

Bianca: _Eu vou com certeza.

Maressa: _Ah meu Deus!

Bianca: _O que?

Maressa: _Você se suja igual criança tomando sorvete.

Bianca: _Não me culpe, culpe o inventor desse paraíso comestível que é o sorvete.

Maressa: _(risos). Tá bom, mas deixa eu limpar isso que tu definitivamente não está parecendo uma mina de faculdade nesse estado.

A skatista colocou a cadeira mais perto da cadeira da estagiaria e pegou alguns guardanapos, passando levemente onde estava sujo. Mas ao terminar, sua atenção permaneceu nos lábios de Bianca. Pareciam-lhe mais atrativos que quaisquer outros que já tinha provado na vida, mas ela era sua professora, ao menos tecnicamente. E, além disso, era sua amiga. E estava aos poucos se tornando sua melhor amiga. Maressa não podia estragar isso beijando-a, então decidiu desviar o olhar antes de fazer uma besteira.

Mas quando fez menção de se afastar, sentiu a mão de Bianca em sua nuca puxando-a para junto de seu rosto. Suas testas se encostaram e Maressa prendeu a respiração, no segundo seguinte seus lábios estavam colados aos de Bianca.

O beijo era lento e duradouro. Realmente muito bom. Mas o estomago da skatista revirava só de imaginar o que aconteceria no choque de realidade que o fim daquele beijo traria.

Bianca: _É melhor eu te levar pra casa.

Maressa: _Já?

Bianca: _Sim, está ficando tarde.

Maressa: _Tudo bem.

Claro que essa era uma desculpa esfarrapada para não conversarem sobre o ocorrido, já que a estagiaria sabia há muito tempo que a skatista não tinha horário para chegar em casa. Mas Maressa preferiu dar um tempo para Bianca pensar do que gerar uma discussão desnecessária.