Nunca fui de olhar para a aparência das pessoas, sempre gostei de pessoas cujas imperfeições as tornam o que são. Pessoas perfeitas não passam de um padrão da sociedade, eu não consigo gostar de padrões. Infelizmente, Sara é um desses padrões.

Sara estudava em minha escola desde que eu me entendo por gente, tinha olhos azuis penetrantes, cabelo loiro que descia em mechas lisas até quase sua cintura, pele branca sem nenhuma imperfeição e um rosto angelical. Sua personalidade era o que eu chamo de “adaptável”, se diferenciava a cada pessoa para que ela fosse perfeita para todos. Comigo ela era gente boa, meiga e inteligente, mas não garanto que com você ou com qualquer outra pessoa ela seja da mesma forma.

Ela era perfeita, sempre legal, sempre bonita, sempre arrumada, sempre com as melhores notas... Isso me enjoa.

– Oi Matheus. – Sara disse com voz mansa, tomou o lugar de frente ao meu.

– Olá. – Respondi sem graça

Ela sorriu para mim e começou a falar sobre alguma futilidade como sempre, talvez até não fosse uma futilidade, mas eu apenas não queria ouvir mesmo.

O professor de química entrou na sala de aula e eu fiquei vagando pelo fantástico mundo dos devaneios enquanto via Sara sendo paparicada por quase todos. Se havia alguém daquela sala que eu realmente gostava era uma menina chamada Carla, ela não era perfeita – tinha espinhas, cabelo ruim, voz áspera e sabia ser chata quando queria – e odiava Sara mais do que tudo. As meninas (seguidoras de Sara) viviam falando que ela não passava de uma recalcada invejosa, mas eu não acredito nisso. Acredito que todos têm sua própria opinião e que se a Carla não gosta de Sara, todos devem respeitar (afinal essa é a opinião dela).

– Matheus, será que você poderia me dizer o que é um átomo? – O professor perguntou, ele havia percebido minha falta de interesse em sua aula.

– É... É... – Não conseguia me lembrar

– Um átomo é uma unidade básica de matéria senhor. Tudo tem átomos. – Sara respondeu rapidamente

O professor a aplaudiu, eu fiquei com cara de palhaço na frente da classe inteira, como se eu fosse um idiota que precisava de ajuda o tempo inteiro. Não gostei nem um pouco dessa atitude dela, não gosto da sua mania de querer sempre me ajudar quando eu não peço ajuda.