Extraterrestres -interativa escrita por Lucy


Capítulo 9
Emily Snow




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Observei a constelação da Ursa Major com o meu telescópio. Eu estava no telhado da minha casa, vendo as estrelas naquela calma noite de verão. As estrelas brilhavam com tamanha intensidade que nem estava escuro como normalmente. A Lua se escondia atrás das nuvens cinzas, e eu iria aproveitar isso, pois, quando ela saísse, iria ofuscar o brilho das estrelas. 

Kim, minha gatinha de olhos azuis, como os meus. Eu acariciava seus pelos acinzentados com uma das mãos, enquanto a outra mantinha o telescópio firme. A noite estava agradável, sem os barulhos normais do dia. Parecia até mesmo que os carros estavam mais silenciosos do que quando o Sol brilhava. Era meu momento favorito na cidade Waycross, cuja o nome poucos sabiam. 

Meu cabelo loiro e ondulado, com algumas mechas pretas que eu fizera ano passado balançava á brisa suave. Mas eu só prestava atenção nas estrelas. Elas sempre me atraíram, desde pequena eu gostava de ficar na janela, as admirando. Ao seu brilho, como elas formavam diferentes formatos. Mas você só podia ver a figura se ligasse eles. Alguns eram fáceis, outros, mais complicados, como a de Teseu. Sempre tinha uma nova constelação para descobrir, sempre uma nova beleza para olhar. O céu era infinito, suas maravilhas, incontáveis. Eu o amava. 

Pena que meus irmãos gêmeos mais novos, Robb e Joey, não soubessem apreciar ele. Os dois são uns pestinhas, vivem me dando trabalho quando fico de babá com eles. Apesar de não serem meus irmãos de sangue, eu os amava como se fossem, como amava meus pais adotivos. 

Kim ronrou e se esticou, e eu larguei o telescópio, olhando para a minha gatinha. Ela me encarava com aqueles olhinhos dela, e eu ri baixinho, lembrando que eles foram o motivo de eu a ter adotado no abrigo de animais. Era meio estranho aquilo, uma órfã adotando outra órfã. Eu tinha seis anos quando a escolhi, e fiquei encantada quando vi que nossos olhos eram iguais, e coloquei na minha cabeça que eu tinha nascido para ser a sua dona. 

Fiz carinho no pescoço dela com o dedo indicador, conforme ela gostava. Mas em vez de fechar os olhos e se enrolar como sempre fazia, ela inclinou a cabeça para o lado esquerdo, e começou a encarar o local. Segui seu olhar, e vi um homem de terno parado no meio da rua apontando uma arma para mim. Apontando. Uma. Arma. Para. Mim.

Quase caí da cadeira de susto, e de medo. Não vou me fingir de corajosa e falar que eu bravamente o encarei, perguntando o que ele queria. Na realidade, eu me encolhi atrás do tripé que apoiava o telescópio, espiando entre eles, com Kim apertada entre os meus braços. Aquele homem estava me dando mais medo do que aspiradores. É, eu tenho medo de aspiradores. Prendi meu cabelo em um deles quando pequena, era trauma. 

Quando finalmente me recuperei do susto, saí de trás do tripé, ainda abraçando Kim, e me voltei para o homem. 

-Quem é você? O que quer comigo? Pode abaixar a arma? -Fiz as três perguntas de uma vez só. Temia estar falando com um louco que fosse atirar em mim. 

-Fique parada, alien, que eu não irei te machucar. -O homem falou em tom alto o suficiente para eu ouvir, ainda com a arma levantada. Ou ele estava louco, ou ele sabia o que eu conseguia fazer. 

-Não sei do que está falando, acho melhor ir para um hospício. -Levantei a cabeça, tentando ser forte. 

-Acha que a arma é de brincadeira? Fique quieta, ou vou atirar em você, sei que tem poderes, nós sabemos de tudo, garota. -Ele ameaçou, e eu tive certeza de que ele batia muito bem da cabeça e que era hora de eu cair fora dali o mais rápido possível se eu não quisesse levar um tiro. 

Criei na minha cabeça uma imagem de um milharal do Kansas, sem fim, lembrei do Sol queimando a minha nuca, dos ventos fortes. A cor do céu, as nuvens branquinhas e o cheiro de terra espalhado por onde quer que você fosse. Após idealizar, empurrei aquela ilusão para dentro da cabeça do homem, e o prendi ali, não deixando escapatória. Eu não tinha opção a não ser deixar ele preso naquela fazenda ilusional  sem fim para o resto de sua vida. 

Infelizmente, ele disse nós. Outros viriam atrás de mim, por isso teria que fugir de casa o mais rápido possível, antes que aquele homem acordasse alguém. Deixei o telescópio como estava, apertei Kim um pouco menos, pois áquela altura eu sufocava a pobrezinha. 

Corri para o meu quarto na ponta dos pés, e peguei uma mochila, colocando dinheiro e algumas roupas ali dentro. Pensei um pouco antes de decidir levar minha gatinha. Apesar de achar que ela estaria mais segura longe de mim, com a minha família, eu não a deixaria para trás por nada daquele mundo. Precisava dela. 

Fui até a lateral da casa, onde se encontrava o meu único meio de transporte, minha pequena lambreta vermelha. Ela não era muito rápida, mas dava para o gasto. Sentei nela, segurei Kim o mais forte que eu conseguia, e, acendi o seu único farol, que emitiu uma luz pálida e doentia na grama. Fui até a calçada, e me virei para dar uma última olhada no meu lar.

As paredes verde escuras que sempre me acolheram, os canteiros bem cuidado de rosas brancas que eu colhia para minha mãe a todos os seus aniversários. Quantas lembranças eu tinha ali? Eu correndo atrás dos gêmeos pelos jaridins, nós todos reúnidos em volta de uma figueira, tentando fazer com que Kim descesse dali, os pequeniques em família... E tinha a chance de eu nunca mais ver aquele lugar onde eu cresci, onde fora o meu cantinho quando eu estava com problemas. Não ouvir mais o riso gostoso dos gêmeos, não receber mais um beijo de meu pai, um abraço de minha mãe.

Virei de costas, respirando fundo, decidida. Eu tinha que sair dali, seria mais seguro para as pessoas que eu amava.


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