Venator Dracones - O Apocalipse De Dragões escrita por Marcovithor


Capítulo 1
Capitulo 1 Após a Batalha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408211/chapter/1

Eu vi quando o dragão negro mordeu, eu vi o grito de dor e agonia do dragão oriental, e eu olhei para os seus olhos, eu vi, a dor não escondia o sentimento de gratidão conosco, ele morreu feliz, fora uma bela morte para um dragão protetor, ele fora um dragão honrado, jamais me esquecerei da sua historia.

Eu tive um sonho enquanto estava tudo apagando, neste sonho, havia um garoto, ele estava chorando.

Ele chorava, e todos viam, mas ninguém dizia nada. Ele expressava uma tristeza tão infantil, tão incompreendida, tão sincera, que as pessoas ao redor achavam melhor ignorar, para não pegar daquela doença chamada tristeza. Ele queria brincar, ele queria amigos, mas ele era gentil, ele era amigável, ele não era aceitável. As outras crianças não queriam ficar com ele, deixava-as feliz vê-lo chorar no canto, vê-lo brincar sozinho com amigos imaginários, vê-lo sofrer sua vida de criança. Para algumas, era bom ver como ele se sentia, pois diziam a si mesmas – há, eu não sou assim, eu não sou triste, menino idiota – e o menino que chorava, pouco podia fazer, apenas esperar.

Ele tinha esperanças de que algum dia, algum dia algum amigo leal, fiel, fosse aparecer. Ele esperava, todos os dias, e chorava. Não havia como não chorar. A esperança ficava pesada, e chegava a doer. Mas ele esperava, e chorava, para conseguir suportar a dor da solidão em seu coração ainda infantil. Mas doía, e doía muito. Quando ele se machucava, brincando sosinho no pátio, afastado dos outros garotos, ele mal reclamava, pois a dor em seu coração era tanta que ele já não se importava. Não há como esperar que a esperança fosse continuar. Mas o garoto esperava, e sonhava, e doía, e chorava.

Quando o pátio escurecia, de noite, na escola, tudo para ele era trevas, o próprio ambiente assim dizia, haviam crianças, que começavam a zombaria: Idiota! Mimadinho! Sem amigos! Ninguém te quer por aqui! Estranho, imbecil! Ninguém quer brincar com você. Todos te odeiam e você sabe disso. Você é um nada, só um chorão idiota, chora até quando um passarinho morre. Vá embora. Todos falavam em coro e separadamente, crianças malditas, para todos, inocentes. O garoto falava quando perguntavam, ou ao menos já tentara, o resultado fora vão, ele só tava mesmo era triste por que não brincamos com ele. Nunca parecera tão grave aos ouvidos dos adultos.

O menino, sentado num banco do pátio, separado dos outros, pensava em seu amigo, que não iria aparecer, ele esperaria, e esperaria, a dor cresceria, mas ele nunca encontraria, fadado a esperar, chorar e chorar, se iludir, todo dia, para depois ir brincar sozinho, esse era o destino, esse era o menino.

Acordei. O menino era eu.

O suor molhado das lembranças me encharcava a face, o que é algo realmente impressionante, pois eu quase nunca suava, olhei para a cama ao lado, e Fulgora dormia, com uma face seria, sem seu sono normalmente inquieto. Me veio a mente uma coisa. Será que o passado dela seria tão terrivelmente triste que chegasse a superar o meu? Muito provavelmente sim, eu nem era tão triste assim, afinal, eu nunca tivera amigos, mas eu sabia de uma coisa, gore tivera, e os perdera.

Obviamente, eu a entendia, e ela a mim, por isso estávamos aqui.

Ah, uma coisa engraçada, Gore sempre dormia na cama ao lado, mas ela tinha uma mania irritante de dormir sem roupa.

Aquela garota me salvara, tantas vezes, com seus cabelos ruivos, suas roupas sempre leves (e até curtas demais) e suas luvas de motoqueira, devia muito a ela. Ela fora a melhor companheira que eu jamais tive, durante minha curta vida, e esperava ainda viver muitas aventuras com ela, mas, do jeito que eu tenho chegado próximo a morte...

Queria só mais uns casos, mais uns dias, nem que fossem para apreciar sua beleza, ou zoar com ela, brincar, lutar, droga! Estou sentimental demais! Culpa do sonho.

Levantei-me, olhei meu estado, estava queimado, ferido, doido e tinha um formigamento estranho por todo o corpo, eu não me sentia muito mal, apesar de uma dor de cabeça demoníaca, eu sabia que deveria estar morto, então não podia reclamar.

Abri um pouco a janela, com cuidado para não acordar Gore(Fulgora), pois, para minha sorte, ela estava coberta.

Andei lentamente até a cozinha, e peguei um sanduiche que estava na pequenina geladeira para comer, alem disso, precisava repor energias mágicas, então comi também uma pequenina barra de chocolate que havia ali, depois guardei outra em meu bolso.

Olhei pela janela, para apreciar o dia, era a Inglaterra. Quanto tempo havia dormido? Por que não havia morrido? Logo logo viriam as respostas, então decidi apreciar um pouco os belos campos da Inglaterra.

Após alguns minutos de reflexão, observando a paisagem pela janela e aderindo os leves raios do sol, eu decidi calçar minhas botas, procurar minha katana e sair um pouco (depois de escovar os dentes, é claro, nem sei quantas horas passei dormindo sem escova-los!).

Ao sair, aproveitei novamente os raios de sol, estava com uma brisa agradável, e eu notei que havia um pequeno rio por perto, decidi que um banho lá seria uma ótima ideia, parecia ser cedo, as atividades no acampamento sempre começavam a partir das oito da manhã, ninguém tinha disposição para acordar mais cedo que isso.

Coloquei minha katana ao ombro, minha bolsa ao lado (sempre o esquerdo) e caminhei, lenta e tranquilamente, na direção do pequeno rio.

Chegando lá, olhei para as margens, parecia muito limpo, verifiquei o curso, não haviam muitas cidades, logo, não havia muito risco, e não são muitos os animais nocivos da Inglaterra, logo, decidi-me por treinar um pouco e depois dar um mergulho.

Fiz um alongamento, agora que minha dor de cabeça já tinha quase passado, e os efeitos do exagero estavam menos percebíveis, pude me alongar, depois fazer alguns abdominais e exercícios básicos de respiração, após isso, olhei em volta, respirando lenta e percebivelmente o ar dos campos, como me fazia bem!

Treinei alguns movimentos de luta, principalmente os chutes, meus membros ainda doíam e formigavam, mas não a ponto de incomodar, e eu estava me sentindo muito bem.

Desembainhei a katana para treinar e percebi que ela parecia um pouco mais pesada... Não, pesada não é a palavra, talvez seja... carregada, me lembrei que as armas enfeitiçadas conseguiam reunir poder durante as batalhas, mas só agora sentia isso, alem de que tinha a impressão de que ela quase não aguentara a pressão da batalha.

Após observar a lamina ensanguentada por uns momentos, apreciando-a, eu fiz alguns movimentos, e, cortando o vento, treinei com ela por alguns minutos.

Eu percebi que, de fato, ela estava mais forte ao acidentalmente atingir um velho tronco de um salgueiro morto, e este quase se partiu ao meio.

Após um tempo de treino, guardei-a cuidadosamente, depositei minhas coisas ao lado de uma pedra e, após comer mais uma barrinha de chocolate para recuperar as energias.

(acredite nisso, realmente, se estiver morrendo após uma batalha épica e ainda for burro de treinar depois, coma um chocolate).

Depois de trocar-me, para um short vermelho, e de tirar algumas das ataduras que protegiam meu corpo queimado e machucado da batalha,  percebi que os ferimentos nem estavam tão terríveis assim, a grande magia que me rodeou deveria ter me protegido dos ferimentos piores, mas as feridas mágicas deviam ter sido mais graves.

Bem, acho que não havia citado isso, mas os rios são locais de purificação, então, o melhor que podia ter feito era isso, meditar na margem, foi o que fiz.

Quando o sol da manhã já estava um pouco mais alto, e o frio sereno dos campos tinha passado, eu entrei, suavemente, na água, ainda fria, do rio.

Obviamente não fiquei confortável no começo, mas a dor e o formigamento quase que pararam quando entrei, e, após alguns minutos, nadava tranquilamente. As águas eram claras e eu não tinha medo da profundidade por isso. Dava para ver os peixes que nadavam por ali, e dava para ver onde se pisava, deixando-me muito mais tranquilo.

Passei um bom tempo na água, boiando suavemente, sentindo a brisa e os raios de sol pelo meu corpo ferido, a tranquilidade do lugar, a beleza e a vontade de nunca mais sair de lá, de boiar, eternamente, na água enriquecida do orvalho da margem, sob a luz do sol e a sombra dos salgueiros ao meu redor.

Para o momento melhor só faltava uma coisa, mas...

Ouvi um barulho na água, rapidamente, olhei para a margem esquerda, mas nada vi, deveria ter sido um peixe com megalomania tentando dar uma de grandão para os outros, tem muita gente que é assim.

Já estava voltando a minha tranquilidade habitual.

Mas então, uma mão fria e molhada me agarrou e puxou-me para baixo.

Eu me virei, para expulsar o que quer que fosse com um chute, mas me deparei com os olhos de Fulgora.

-Argh!

-se está e sua maneira de demonstrar como está feliz em me ver!- Ela riu com minha cara, e eu sorri ao vê-la rir.

Logo a expressão dela mudou.

-Como está frio nesse rio! Como você aguenta? É um pinguim por acaso?

Eu ri novamente, e abracei-a para esquenta-la.

********

Ela estava com um biquíni, e havia deixado seu short jeans na margem com minhas coisas, ela odiava água fria, estava realmente surpreso com a garra dela ao ir tomar banho comigo lá no rio.

Brincamos um pouco com a água, nadamos, sentimos o vento, conversamos, brincamos com o som dos patos, os “quacs” engraçados que eles faziam na margem, e boiamos, pensando na vida, de mãos dadas, sorrindo.

Quando o sol mostrava que já eram quase nove horas, saímos da água, notei que havíamos esquecido de trazer toalhas, para o azar de gore, mas eu tinha um paninho, que foi o suficiente para me deixar vestir as calças, após estarmos prontos, caminhamos, molhados, pelos campos, de volta ao acampamento. Havia orvalho na grama, e vento nos salgueiros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Venator Dracones - O Apocalipse De Dragões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.