Molly estava boquiaberta enquanto andava atrás de Chloe pelos corredores, que gesticulava mostrando as decorações e cômodos como se fosse uma vendedora de imóveis. No segundo andar da casa ela parou em frente a uma das últimas portas do corredor.

–Este vai ser seu novo quarto. Aconselho que descanse um pouco antes de irmos te levar para conhecer a cidade. – disse sorrindo e depois se dirigiu para as escadas – Volto mais tarde para te ajudar a arrumar-se.

Agora que estava sozinha, esticou-se e abriu a porta sem hesitar e encontrou-se em um quarto com quase o dobro do tamanho de seu antigo, havia um lampião sobre uma mesinha ao lado de sua cama, diferente de seu antigo quarto que era iluminado apenas pela luz da lua. Algumas bonecas de pano estavam encostadas num canto do quarto e tinha um laço em cima de uma penteadeira. Molly perguntou-se o que teria acontecido com a dona daqueles objetos, provavelmente ficara grande demais para usá-los e Chloe decidira mantê-los todos ali, trancados naquele quarto.

Não prestou muita atenção no vestido azul-marinho que estava estendido na ponta da cama que dava espaço para um casal adulto deitar-se e encolheu em posição fetal na ponta oposta com a cabeça sobre um travesseiro. Não fora tão fácil assim como esperava para dormir, aquilo tudo era demais para ela.

E por algum motivo, dormiu com a face de Scott em sua mente. Com aquela mesma expressão de quando teve o pressentimento de que ela iria abandoná-lo e que foi mudando até uma expressão a qual ela não reconheceu.

A face de um desconhecido que queria matá-la.

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–Chloe... – o homem deu um sorriso pensativo – Aquela era osso duro de roer. Dizem que nem uma faca de prata cravada no peito conseguiu impedí-la.

Apenas assenti vagarosamente, Chloe era uma das lobas mais antigas que eu conhecia. Não me surpreendia quando alguém a reconhecia.

–Dizem que as bandas por lá eram bem bonitas... Porém bem perigosas. – comentou

Eu tomava alguns goles de minha bebida e deixei-o falando. Quando ele notou que eu estava desconfortável com o assunto, acrescentou:

–E aposto que deva ter algo relacionado com o garoto que eu peguei aprontando no beco. – sorriu cruel.

Engasguei no meio de um gole e mirei os olhos nos seus, seu rosto enegrecido pelas sombras que o fim da noite projetava, pela janela já era possível observar o horizonte com nuvens rosadas.

–É... Você tem razão.

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Mais tarde Chloe foi acordá-la, apesar de ela sentir como se não houvesse dormido nada.

–Venha querida, deixe-me te arrumar.

Enquanto seus cachos ruivos eram desembaraçados pelas delicadas mãos da loba, o que a fez lembrar-se de Emily e encolher-se minimamente, ela encarava os objetos que reparara mais cedo.

–De quem era aquelas bonecas? -perguntou curiosa.

Sentiu o movimento das mãos em seus cabelos parar por um instante antes de retornarem a pentear.

–Antes de vir para cá, para a cidade quero dizer, eu morava no interior com meu marido...

–Luigi? - a menina interrompeu.

Uma pequena risadinha escapou dos lábios da mulher.

–Não... Ele morreu a alguns anos.

Molly se retesou, Chloe acabara de deixar uma informação implícita.

–Bem, eu nunca pude ter filhos, mas a medicina da época nunca conseguiu me revelar o porquê. Até o dia em que apareceram com uma bebê em minha porta.Eu lembro de ter ficado tão feliz... No início foi tudo as mil maravilhas, meu marido andava até mais em casa conosco. Pena que fora por pouco tempo, ele se afastou , sempre ocupado com seu comércio e minha filha cresceu...ficou tão pouco tempo...

Deu um longo suspiro e colocou um casaco em Molly. Lawrence e Luigi já as esperavam, eles passearam pela cidade dentro de um daqueles objetos metálicos que Lawrence explicou ser um carro.

–Vamos parar aqui. - indicou Chloe.

Luigi que estava dirigindo, parou o carro em uma calçada próximo a uma ponte.

–Por que você não mostra a cidade para ela enquanto eu e Luigi vamos resolver algumas coisas? - disse com um sorriso sugestivo. -Espero que goste da cidade, querida.

Lawrence levou-a para conhecer monumentos locais e a um restaurante para comer algo, Molly notou que ele evitava ruelas e ruas afastadas do centro com frequência, além de raramente soltar a mão dela, como se tivesse medo de que ela saísse correndo.

Porém Molly não se importava muito, as pessoas, as roupas, os locais e as construções tiravam a atenção dela para qualquer outra coisa. Mas às vezes tinha a impressão de estar sendo seguida ou de olhos a mirando, como tivera quando viu o garoto na esquina.

–Lawrence - chamou ele pelo seu nome, pela primeira vez.

–Sim?

Ela iria perguntar se havia algo de estranho, entretanto ao ver os olhos dele, que costumam chamar atenção das pessoas por ser de uma cor anormal para um humano, ela rapidamente mudou de ideia.

–Podemos ir perto do lago?

–Tenho uma ideia melhor ainda.

–Nós vamos andar de barco?

–Na verdade é uma canoa - Lawrence estendeu a mão para ajudá-la a entrar.

Pegou os remos e remou calmamente rio abaixo. Molly olhava o céu e as pessoas que atravessavam as pontes acima de suas cabeças, sorriu para Lawrence que a observava com expectativa, ele nunca havia ficado responsável por ninguém antes, muito menos de uma criança.

E o fato de ter essa responsabilidade deixava-o de certo modo feliz, mostrava para ele que mesmo depois do que ele havia feito, das pessoas que havia matado, talvez ele não fosse um completo monstro.

Não costuma confiar nos lobos e pessoas que encontra, mas Chloe e Luigi foram as melhores opções de companhia que achara até agora, apesar de seus históricos. Ele pedira que eles revelassem o menos possível para Molly, já havia acontecido coisas demais a ela em pouco tempo.

Mas sabia que não poderia guardar esses segredos dela para sempre e muito menos escondê-la dos outros que os observavam por todos os lados.