Ele estava feliz dormindo. Dormir é bom e faz bem à saúde. Realmente, Naruto gostava de dormir. E poderia continuar dormindo se não fosse o demônio ao seu lado; se não fosse o malévolo, cruel e sádico Uchiha Sasuke. Se não fosse o namorado do inferno que tivera o desprazer de arranjar, ele não precisaria acordar na madrugada daquela segunda-feira chuvosa.

— Naruto.

Afastou a mão de Sasuke, logo voltando a cair no sono. Recebeu outro cutucão.

— Naruto.

— Que horas são? — a voz saiu rouca, sonolenta.

Esfregou os olhos, tentando manter-se mais alerta.

— Três horas.

Naruto não se prestou a olhar para o namorado, simplesmente lhe deu as costas e fechou os olhos, acomodando-se debaixo dos cobertores.

— Boa noite, Sasuke.

Sasuke observou por alguns segundos antes de, novamente, cutucá-lo nas costas.

— Naruto.

Ele se negou a responder.

— Naruto.

— Que foi, Sasuke?

Não prestava muita atenção no parceiro; estava mais adormecido do que acordado.

— Hoje é o meu aniversário.

— Parabéns. Seu presente é poder dormir.

Sasuke ficou em silêncio por alguns minutos, encarando seus ombros largos. Tinha o semblante sério, desperto.

— Eu nasci às três horas da manhã.

Mas Naruto já estava novamente perdido no mundo dos sonhos. Sasuke esperou a resposta e, ao ver que não viria, voltou ao árduo trabalho de acordá-lo. Cutucou-o mais uma vez.

— Naruto.

Abriu os olhos azuis e respirou bem fundo antes de se voltar para ele.

— Parabéns pelo seu aniversário, querido.

A ironia era perceptível em sua voz. Virou-se o suficiente para lhe deixar um singelo beijo nos lábios.

— Agora volte a dormir — pediu.

— Eu não quero dormir. É meu aniversário.

— Ainda vai ser seu aniversário daqui a dez horas, Sasuke.

— Mas eu nasci às três da manhã, meu aniversário precisa ser comemorado no momento em que eu nasci.

— Ah, que pena que já é três e dez, já passou.

Naruto não olhou o relógio, apenas supôs que já vinha sendo incomodado há, no mínimo, dez minutos.

— Na verdade, são duas horas.

— Você disse que era três!

— Eu menti.

Respirou fundo mais uma vez e se voltou para ele, sabendo que a noite de sono que pensara que teria não passava de uma ideia distante da qual deveria desistir.

— Por que mentiu, Sasuke?

— Porque eu quero o meu presente.

— Eu vou te dar o seu presente quando eu acordar.

— Você tá acordado.

Naruto suspirou e se levantou, pensando que, quanto mais rápido aquilo acabasse, mais rápido poderia voltar a dormir. Pegou o presente que escondera em seu armário e entregou a ele.

— Pronto, seu presente. Agora eu posso dormir?

— Ainda não são três horas, eu só posso abrir às três.

Naruto olhou para ele, procurando indícios de que Sasuke estava apenas brincando e que logo começaria a debochar de si. Não encontrou nada. Ele realmente falava sério.

— Então por que me acordou às duas?

Resignado, escondeu-se debaixo dos cobertores novamente, de costas para o namorado. Pensou que poderia finalmente voltar a dormir, mas… não.

— Eu quero um bolo.

Naruto não esperava por isso. Voltou-se para ele com os olhos quase lacrimejando de sono.

— São duas horas da manhã, Sasuke. Vamos dormir agora, ok? Depois eu te levo numa padaria bem boa e a gente compra o seu bolo.

— Mas meu aniversário é às três da manhã.

— Onde você acha que eu vou encontrar uma padaria aberta a essa hora?

Deu um beijo na testa de Sasuke, pensando que o assunto havia sido finalmente encerrado. Fechou os olhos, tentando voltar a dormir. Sasuke esperou quase dez minutos antes de cutucá-lo de novo.

— Naruto.

Segurou as lágrimas de frustração, voltando-se para Sasuke com um olhar de cachorrinho abandonado.

— Por favor, me deixa dormir.

Foi como se nem tivesse dito nada.

— Faz um bolo pra mim?

~~

E foi assim que Naruto acabou sujo de farinha e manteiga, às duas e cinquenta e cinco da manhã. Sasuke estava sentado, esperando o bolo ficar pronto. Naruto trajava um belíssimo avental rosado, cheio de cerejas; um presente de Sakura.

Nenhum deles falou nada até o apito do forno soar. Naruto estava simplesmente com sono demais e Sasuke não via motivos para iniciar uma conversa, visto que seus desejos estavam sendo atendidos. Naruto colocou o bolo de chocolate em frente ao seu demônio preferido com os olhos brilhando de orgulho. Não havia cobertura (ele não sabia fazer uma e se esquecera de procurar a receita na internet), mas o bolo não havia caído e a massa parecia consistente.

— Seu bolo, demônio cruel.

Sasuke levantou uma sobrancelha como se lhe perguntasse se aquilo realmente deveria ser considerado uma ofensa. Naruto serviu os pratos, sentindo o orgulho por seu trabalho culinário se espalhar por todo o corpo. O aniversariante estava a ponto de pegar a faca para cortar o bolo quando o doceiro da noite lhe bateu na mão.

— Nem pensar. Eu posso não ter nenhuma vela, mas os “parabéns” você vai ouvir.

Sasuke até começou a protestar, porém era tarde demais; Naruto já cantava a conhecida música com uma extravagância desnecessária. Ele apoiou a cabeça entre seus braços e o esperou terminar.

— Deu?

— Nah, você me cutucou umas vinte vezes. Merece ouvir minha voz maravilhosa por mais tempo.

Recomeçou a música, sempre batendo palmas. Sasuke, resolvido a ignorá-lo, cortou um pedaço da obra-prima do namorado e se serviu. Comeu uma pequena parte do que estava em seu prato antes de se voltar para ele.

— Naruto, isso tá uma merda.

Estreitou os olhos, indignado.

— Uma merda o caralho. Eu fiz isso às duas da manhã pra você. E ele tá inteirinho e delicioso. Agora cala a boca e come enquanto desfruta da minha voz angelical.

Com um sorriso maroto, recomeçou a cantar. Sasuke percebeu que não fora uma boa ideia acordar Naruto. Irritado, pegou um pedaço do bolo e enfiou o garfo dentro da sua boca Naruto cuspiu tudo, porém o gosto de margarina com chocolate estragado estava impregnado na língua. Ele olhou para Sasuke, que o encarava sugestivamente. Com um suspiro, Naruto se deixou cair na cadeira.

— Ok, tá uma merda.

Ficaram em silêncio por bastante tempo. Naruto já havia apoiado a cabeça em seus braços e estava quase adormecendo novamente.

Sasuke o cutucou.

— Naruto?

— Que foi?

— Eu tô com sono.

Naruto sorriu, apreciando a frase mais linda que o namorado poderia ter lhe dito naquele momento.

Voltaram para cama de mãos dadas e se enroscaram um no outro debaixo das cobertas. O som da chuva os embalou e Sasuke abriu o que em qualquer outra pessoa seria um sorriso. Ele jamais diria que ter Naruto cozinhando às duas da manhã era o melhor presente de aniversário de todos, principalmente depois de o bolo ter queimado (mas era mesmo assim).