Crônicas Do Olimpo - A Batalha Do Labirinto escrita por Laís Bohrer


Capítulo 16
A Reencarnação de Bianca




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/407978/chapter/16


– Bom te ver novamente, Megan. - disse ela.

Ela parecia a mesma que quando viva: uma boina verde de lado em seu grosso cabelo preto, olhos escuros e pele azeitonada como a do irmão dela. Ela vestia uma jaqueta prateada, a vestimenta das caçadoras de Ártemis. Um arco pendia por cima de seu ombro. Ela sorriu fracamente, e sua forma chamejou.

– Bianca... - minha voz vacilou, eu havia me sentido culpada pela morte dela a muito tempo, mais vê-la na minha frente era cinco vezes pior, como se sua morte fosse fresca e recente.

Eu me lembrei de ter procurado nos destroços do gigante guerreiro de bronze que ela tinha sacrificado a vida para derrotar, e de não ter achado nenhum sinal dela...

– Me perdoe...

– Não há nada para ser perdoada, Megan. - disse ela. - Eu fiz minha escolha e não me arrependo dela.

– Bianca! – Nico tropeçou a frente, como se tivesse acabado de sair de um torpor. Ela se virou para seu irmão. Sua expressão estava triste, como se ela tivesse temido esse momento.

– Olá, Nico... Você cresceu.

– Por que você não me respondeu mais cedo? – ele lastimou.

– Eu venho tentando há meses!

– Eu tinha esperanças que você desistisse.

Desistir? – Ele soou magoado. – Como você pode dizer isso? Estou tentando salvar você!

– Nico... Não preciso ser salva, eu não quero... - disse ela. - Trocar uma alma por outra... Tirar a alma de uma pessoa mesmo que esta já deva estar morta é algo maligno, eu não você se metendo com isso... Por favor, escute a Megan...

– Não! - protestou. - Ela a deixou morrer! Ela é uma traidora!

Mordi o lábio nesse momento... Traidora? Era isso o que ele pensava?

– Megan esta tentando fazer o que eu não fiz, ela esta tentando proteger... - começou Bianca.

Mas Nico não desistiria ali.

– Ela é uma mentirosa! - disse ele. - ELA A DEIXOU MORRER!

– Megan é minha reencarnação!

Nico se calou. Olhei para Bianca.

– Sou? - perguntei.

– Sim, é. - disse ela. - Você é minha reencarnação para Nico, eu deixei eles em suas mãos, então por favor, Nico... Aceite-a como reencarnação.

Nico estava paralisado. Bianca levantou uma mão como se fosse tocar o rosto do irmão, mas ela era feita de névoa. Sua mão evaporou quando se aproximou de pele viva.

– Guardar rancor é perigoso para as crianças de Hades. É nosso defeito mortal. - disse ela, lembrei da minha conversa com Atena sobre defeitos mortais, não pude deixar de sentir raiva ao pensar que meu defeito mortal era a lealdade. - Escute a Megan, tente vê-la com outros olhos, ouça ela... Ela vai te ajudar, ela me prometeu isso, não é Megan?

– Sim. - simplesmente saiu, não pensei duas vezes antes de falar, mas era a única coisa que eu poderia fazer para ela.

– Nico, me prometa de que vai ouvi-la... Vai aceita-la.

– Não... Não posso.

– Cronos está se erguendo, Nico. - começou Bianca. - Ele... O seu poder chama a atenção de Cronos. Não é seguro permanecermos.

– Adeus, Nico. – Bianca disse. – Eu te amo. Lembre-se do que eu disse.

Sua forma tremulou e os fantasmas desapareceram, deixando-nos sozinhos com uma cova, um tanque séptico Descarga Feliz, e uma lua cheia impassível.

Nenhum de nós estava ansioso para viajar aquela noite, então decidimos esperar até de manhã. Nós nos ajeitamos na sala com nossos sofás e sacos de dormir, era realmente melhor do que acampar no labirinto, aonde qualquer coisa poderia acontecer... mas isso não fez meus pesadelos melhorarem.

Esssstá na hora, meu senhor? – a voz de uma dracaenae perguntou, então tudo ficou em claro.

Eu estava em um palácio escuro no topo do monte Tam. Era realmente uma edificação agora – não a ilusão meio-terminada que eu vira inverno passado. Fogo verde queimava em braseiros ao longo das paredes. O piso era feito de mármore preto polido. Um vento frio soprava pelo corredor, e sobre nós, pelo teto aberto, o céu se agitava com nuvens de tempestade cinza.

Primeiramente eu vi Luke, ele estava vestido para batalha. Ele usava calça camuflada, uma camiseta branca, e um peitoral de bronze, mas sua espada, Mordecostas, não estava ao seu lado – somente uma bainha vazia. Ao seu lado estava Silena Beauregard, minha amiga... Sim, mesmo que ela me deixe bem confusa quanto ao ser digna desse termo.

– Logo – Luke prometeu. – Continue seu trabalho.

– Senhores. - ouvi a voz de Kelly, a empousa estava sorrindo para ele. Ela usava um vestido azul esta noite, e parecia terrivelmente bonita. Seus olhos tremeluziam, ela lançou um olhar ameaçador para Silena.

Silena devolveu o olhar é claro, ela também estava vestida com trajes de guerra e mesmo com armaduras ela conseguia ficar bonita, admito. Mas seu rosto estava horrível, seus olhos eram os mesmos de antes, alguém que não dormia fazia tempos, mas agora parecera que ela andara chorando. Sua foice mágica estava na bainha e ela mantinha a mão no cabo da mesma.

– O que quer, demônio? - perguntou Silena.

Kelly mostrou as presas para Silena e disse:

– Há um visitante para o senhor.– disse ela para Luke.

Ela deu um passo para o lado, e mesmo Luke pareceu atordoado com o que viu.

O monstro Campe avançou na direção dele. Suas cobras assobiavam ao redor de suas pernas. As cabeças de animais cresciam em sua cintura. Suas espadas estavam de prontidão, pingando veneno, e com suas asas de morcego estendidas, ela ocupava todo o corredor

Você. – A voz de Luke saiu um pouco trêmula. – Eu disse para você ficar em Alcatraz.

As pálpebras de Campe piscaram lateralmente como as de um réptil. Ela falou naquele estrondoso idioma estranho, mas desta vez eu entendi, em algum lugar no fundo da minha mente:

– Eu vim para servir. Dê-me vingança.

– Você é uma carcereira – Luke disse. – Seu trabalho–

Eu os terei mortos. Ninguém escapa de mim.

Luke hesitou. Uma linha de suor escorreu pelo lado de seu rosto.

– Muito bem – ele disse. – Você irá conosco. Você pode levar o fio de Adriane. É uma posição de grande honra. E se quiser, pode torturar uns meios-sangues, mas deixe a Filha de Poseidon em paz... Ela esta marcada para outra pessoa, não é mesmo? Silena?

Silena não respondeu.

Campe sibilou para as estrelas. Ela embainhou suas espadas e se virou, triturando o chão com suas enormes pernas de dragão.

– Nós devíamos ter deixado essa aí no Tártaro – Silena resmungou. – Ela é muito caótica e macabra.

– O acordo está quase completo. - disse Luke. - Tudo que preciso agora é negociar passagem livre pela arena.

– Sim, logo o acampamento meio-sangue virará cinzas. - disse Silena.

– E Lorde Cronos terá sua vingança... - disse Luke, ele se virou para Kelly. - E você, demônio, não tem outras coisas para fazer?

– Ah, sim. – Kelly sorriu. – Estou levando desespero para os seus inimigos bisbilhoteiros. Estou fazendo isto neste momento.

Ela virou seus olhos diretamente na minha direção, expôs suas garras, e rompeu meu sonho.

De repente eu estava em um lugar diferente.

Eu estava de pé em uma torre de pedra antiga, olhando penhascos rochosos e o oceano abaixo. O velho homem Dédalo estava curvado em cima de uma mesa de trabalho, lutando com um tipo de instrumento de navegação, parecido com um enorme compasso.

Ele parecia anos mais velho do que quando eu o vira pela última vez. Ele se inclinou e suas mãos estavam nodosas. Ele praguejou em grego antigo e piscou como se não pudesse ver o seu trabalho, embora fosse um dia ensolarado.

– Tio! – uma voz chamou.

Um menino sorridente com a idade de Nico veio, pulando os degraus carregando uma caixa de madeira.

– Olá, Perdiz – o velho homem falou, embora o seu tom soasse frio. – Já terminou seu projeto?

– Sim, tio. Foi fácil!

Dédalo fez uma carranca.

– Fácil? O problema de mover água morro acima sem uma bomba era fácil?

– Ah, sim! Olhe!

O menino esvaziou sua caixa e revistou no meio de suas tranqueiras. Ele veio com uma tira de papiro e mostrou para o velho inventor alguns diagramas e notas. Eles não fizeram sentido algum para mim, mas Dédalo assentiu de má vontade.

– Sim. Nada mal.

– O rei amou isso – Perdiz disse. – Ele disse que eu poderia ser mais inteligente que você!

– Ele falou isso?

– Mas eu não acreditei nisso. Eu sou tão agradecido por minha mãe ter me enviado para estudar com você! Eu quero saber tudo o que você sabe.

– Sim – Dédalo murmurou. – Assim quando eu morrer, você pode tomar meu lugar, não é?

Os olhos do garoto se arregalaram.

– Oh não, tio! Mas eu tenho pensado... por que um homem tem que morrer, de qualquer maneira?

O inventor franziu a testa.

– É assim que as coisas são, menino. Tudo morre menos os deuses.

– Mas por quê? – o garoto insistiu. – E se você pudesse capturar o animus, a alma em outra forma... bem, você me falou sobre seus autômatos, tio. Touros, águias, dragões, cavalos de bronze. Por que não uma forma humana de bronze?

– Não, meu garoto – Dédalo disse bruscamente. – Você é ingênuo. Tal coisa é impossível.

– Eu não acho – Perdiz insistiu. – Com o uso de um pouco de mágica...

– Mágica?

– Sim, tio! Magia e mecânica juntos – com um pouco de trabalho, alguém poderia fazer um corpo que pareceria exatamente humano, só que melhor. Eu fiz algumas anotações.
Ele deu ao velho homem um pergaminho grosso. Dédalo desfraldou aquilo. Ele leu por um longo tempo. Seus olhos se estreitaram. Ele olhou para o menino, então enrolou o pergaminho e limpou sua garganta.

– Isso nunca funcionaria, meu garoto. Quando você for mais velho, você verá.

– Posso consertar aquele astrolábio, então, tio? Suas juntas estão inchando novamente?

O velho cerrou a mandíbula.

– Não. Obrigado. Agora porque você não vai passear por aí?

Perdiz parecia não notar a raiva do velho homem. Ele pegou um besouro de bronze de suas coisas e correu até a extremidade da torre. Um peitoril baixo circundava a beira, vindo só até os joelhos do menino. O vento era forte.

Volte, eu quis dizer a ele. Mas a minha voz não saia.

Perdiz lançou o besouro para o céu. Ele abriu suas asas e zumbiu para longe. Perdiz riu com prazer.

– Mais inteligente que eu – Dédalo murmurou, baixo demais para que o garoto pudesse ouvir.

– É verdade que seu filho morreu voando, tio? Eu ouvi que você fez asas enormes para ele, mas elas falharam.

As mãos de Dédalo se fecharam.

– Tomar o meu lugar – ele murmurou.

O vento chicoteava ao redor do menino, arrastando suas roupas, fazendo ondular seus cabelos.

– Eu gostaria de voar – Perdiz disse. – Eu faria minhas próprias asas que não falhariam. Você acha que eu consigo?

Talvez fosse um sonho dentro de um sonho, mas de repente eu imaginei o deus de duas caras, Jano, tremeluzindo no ar perto de

Dédalo, sorrindo enquanto ele lançava uma chave prateada de uma mão para a outra. Escolha, ele sussurrou para o velho inventor. Escolha.

Dédalo pegou outro objeto dentre as coisas do menino. Os velhos olhos do inventor estavam vermelhos de raiva.

– Perdiz – ele gritou. – Pegue.

Ele lançou um besouro de bronze na direção do menino. Encantado, Perdiz tentou pegar, mas o lançamento era muito longo. O besouro voou em direção ao céu, e Perdiz se esticou um pouco demais. O vento o pegou.

De alguma maneira ele conseguiu agarrar ao peitoril da torre com os dedos enquanto ele caia.

– Tio! – ele gritou. – Me ajude!

O rosto do homem velho era uma máscara. Ele não se moveu de onde estava.

– Vá em frente, Perdiz. – Dédalo disse suavemente. – Faça suas próprias asas. Mas seja rápido.

– Tio! – o menino gritou quando perdeu o apoio. Ele caiu na direção do mar. Por um momento houve um silêncio mortal. O deus Jano cintilou e desapareceu.

Então um trovão sacudiu o céu. Uma voz dura de mulher ecoou acima: Você pagará o preço por isso, Dédalo.

Eu já ouvira aquela voz antes: Atena, a deusa da sabedoria.

Dédalo fez uma carranca para os céus.

– Eu sempre a honrei, Mãe. Eu sacrifiquei tudo para viver do seu modo.

O menino tinha minha bênção. E você o matou. Por isso, você deve pagar.

– Eu paguei e paguei! – Dédalo rosnou. – Eu perdi tudo. Eu sofrerei no Mundo Inferior, sem dúvida. Mas nesse meio tempo...
Ele pegou o pergaminho do menino, estudou por um momento, e o deslizou para dentro de sua manga.

Você não entende, Atena disse friamente. Você pagará agora e para sempre.

De repente Dédalo desmoronou em agonia. Eu senti o que ele sentiu. Uma dor que queimava se fechando ao redor do meu pescoço, como um colar muito quente – cortando minha respiração, fazendo tudo ficar preto.


Acordei arfando e como sempre suando frio. Toquei meu pescoço, mas não havia nada, não estava queimando, deitei olhando para o teto, enquanto eu e meus amigos acampávamos na sala. Levei a mão até o bolso da calça, lá estava Anaklusmos, e no outro bolso estava o apito de gelo estígio que Quintus me dera, ele estava mais gelado do que nunca.

Estava tudo silencioso de mais, tentei dormir de novo, mas eu fiquei com medo do que poderia sonhar. As vezes era incrível como os sonhos me assustavam mais do que a realidade. Talvez pelo fato de minha mente ser meu ponto fraco... Ou pelo fato de que eles nunca era "só sonhos". Um soluço interrompeu meus pensamentos, eu me sentei rapidamente, mas Jake ainda estava dormindo, Hansel parecia uma pedra, Tyler se agarrava aos seus kits de construção como se fossem um ursinho de pelúcia e Nico...

– Nico? - chamei ele na escuridão, mas ele não estava ali.

A Luz da lua iluminava de fraco a sala através das janelas de vidro, eu me levantei e descalça andei sobre o chão frio como o apito em meu bolso, cheguei até a porta e os soluços ficaram mais altos, abri a porta e passei por ela.

Do outro lado do cercado de madeira que cercava a casa, ajoelhado no gramado mal iluminado pela luz do luar, estava Nico di Angelo.

– Também não consegue dormir? - perguntou ele sem se virar para mim.

– É, bem por ai. - falei me sentando no gramado ao seu lado, acima de nós estava o céu estrelado, era possível ver a maioria das constelações, até mesmo a constelação de Zoë, uma caçadora com um arco e flecha.

– Qual seu motivo? - perguntou ele.

– Pesadelos, e o seu?

Ele suspirou.

– Desde que vi Bianca mais cedo... Eu não consigo tirar as palavras dela da minha cabeça... - disse ele. - Eu sinto falta dela... Acho que você não entenderia.

Eu quase ri. Mas apenas sacudi a cabeça.

– Nico, meu irmão morreu bem na minha frente. - eu disse. - O que acha que eu sinto em relação a Luke? Claro que entendo você, mas nossos casos são diferentes... Luke matou meu irmão, e eu tenho certeza disso, porque eu vi. Você acha que Bianca morreu por minha causa, mas você não viu.

– Do que esta reclamando? - perguntou ele. - Você ainda tem Tyler.

Suspirei.

– É diferente, quase perdi Tyler uma vez. - falei. - É verdade que ele é meu irmão, mas... Ninguém poderia substituir Percy, nem mesmo Tyler.

Pela primeira vez ele olhou para mim durante toda a nossa conversa, e não parecia querer me matar.

– Quando Bianca morreu... - continuei. - Eu procurei por ela, procurei por ela em todos os pedaços de metal que haviam lá, eu gritei por ela até eu ficar rouca. Mas não achei nenhum sinal dela.

– Eu fui um idiota, não fui? - perguntou ele. - Eu deveria ter acreditado em você...

Coloquei minha mão no ombro dele.

– Idiotice... É minha especialidade.

Ele riu.

– Por isso somos primos. - disse ele. - Genética.

– É. - eu sorri.

O Silêncio atacou novamente, por um momento fiquei sem saber o que dizer, então Nico perguntou enquanto olhava para as estrelas, ele parecia bem melhor agora, me senti bem de verdade naquele momento, tive o pensamento agradável de que estava cumprindo a promessa que fiz a Bianca.

– Megan...

– Sim?

– Por que quando queremos que quando as pessoas fiquem... - ele começou. - Ela se vão?

Me acertou em cheio dessa vez.

– Puxa... - suspirei. - Não sei, acho que é porque elas se vão pois acham que já estamos prontos para viver sem elas, e no final...

– Elas estão erradas. - disse Nico.

– Elas tem razão. - eu disse. - É a última lição que eles nos deixam. Ser Forte.

Ele deu um meio sorriso para mim.

– Acho que Bianca tem razão...

– Que ela já pode descansar em paz? - perguntei.

Ele sacudiu a cabeça para mim e disse as palavras que nunca saíram da minha cabeça... Nunca :

– Você é mesmo a reencarnação dela. - disse ele. - A Reencarnação de Bianca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sempre fico triste nesse sonhos que envolvem o Dédalo, e como sempre cada palavra foi retirada do livro na parte dos sonhos de Dédalo, aliás não podia mudar nada.

Ahhhhh #Chorando #Chorando #Chorando... NICO SEU FOFO!! >< Esse é meu priminho gente! O que acharam do capítulo?