Todas as garotas o olhavam, como se ele fosse o último homem que sobrou no mundo. Ele, por sua vez, olhava-as da cabeça aos pés. Ou dos pés a cabeça, pelo simples fato de que começava olhando seus corpos. Lia se perguntava onde estaria a tal namorada que ele dizia ter. Provavelmente ele nem teria a convidado, assim, afinal, ele poderia ter a chance de ficar com quantas quiser. "Eu nunca faria isso com você por vontade própria" lembrou de ouvi-lo falando. Nesse caso, ou ele era um mentiroso, ou ela era uma exceção. A roqueira gostava da segunda opção.

Quando a avistou ao longe, perto da porta, Vitor olhou-a da cabeça aos pés, dando um sorriso sedutor logo depois. Ela, por sua vez, adentrou a cozinha, onde Ju estava colocando vários salgadinhos em um prato.

– Ele tá querendo me matar. Ele realmente tá querendo me matar. – murmurou ela para a amiga, em um tom de desespero.

– Vitor?

– E tem algum outro? – rebateu a roqueira, e por fim suspirou. - Me ajuda, vai.

– Não vi ele ainda. – retrucou Ju rindo. - Tá bonito?

– Inexplicável. Irresistível. Isso é sacanagem!

– Você vai deixar ele estragar sua festa? Qual é, amiga! Curte com seu namorado. Até porque eu tenho certeza que ele vai curtir também com as vizinhas. - alertou Ju, tentando provocar a outra.

– Tá difícil. – resmungou Lia, no mesmo momento em que Gabriel adentrava a cozinha fazendo as garotas se calarem.

– Amor, vamos dançar! – chamou ele, puxando Lia para a sala, onde tudo acontecia.

– Não sei não. - disse ela, se segurando.

– Qual é amiga, vai lá! Já, já eu tô indo também. - incentivou Ju, a empurrando.

– Tá, tá. – murmurou Lia, e deu um leve sorriso enquanto pegava a mão do namorado. A sala era grande, mas não o suficiente para alojar mais de 100 jovens, alguns já estavam bêbados. As luzes estavam apagadas e tudo era iluminado por vários jogos de luzes e pulseiras brilhantes que Dinho estava distribuindo para todos. Entre uma piscada de luz e outra, a roqueira conseguiu ver Vitor, já com uma garota. "Ok Lia, você precisa parar de pensar nele." pensou, enquanto ia pra pista de dança com Gabriel.

– Amor, espera aí. - disse ela ao garoto, que já se encontrava com um copo de cerveja na mão. Saiu pela multidão, rumo à mesa de bebidas e pegou uma ice, depois outra, e depois mais uma. Quando a viu, Vitor largou a parceira na dança e seguiu para a mesa de bebidas, onde Lia já se encontrava rindo sozinha de tudo à sua volta.

– Acho que você tá indo rápido demais, não? – exclamou ele em seu ouvido, ao se aproximar.

– Ah, olha quem tá por aqui. – disse ela rindo, mesmo que aquilo saíra quase como um sussurro. – Pena que ninguém te perguntou, né?

– Assim você vai entrar em coma. - ele alertou, preocupado.

– Tá com medo de perder o título de "maior bebedor da festa"? – rebateu ela, virando mais uma garrafa.

– Marrentinha, esse título você tá longe de ganhar. Sabe por quê?

– Por quê?

– Por causa disso. - imediatamente, Vitor pegou uma garrafa e virou tudo, em menos de dez segundos. A garota apenas ignorou, e continuou tomando, à seu tempo.

– Tô falando sério, você já tá bêbada.

– E...? – ela indagou, com uma certa indiferença. Foi quando um grito chamou atenção de todos.

– EU SOU O HARRY POTTER! - gritou um Bruno embriagado no topo da escada, com uma vassoura entre as pernas. Em seguida, ele pulou com a vassoura escada a baixo, esperando que voasse. Em vez disso, deu com a cara no chão fazendo todos rirem, inclusive Fatinha, que imediatamente correu para socorrê-lo.

– Ele tá bêbado. - falou Lia com uma voz arrastada, apontando para Bruno. - Eu não.

– Tá bom, mas se você quer ficar loucona, tá fazendo isso errado. Tem um jeito mais fácil. - disse Vitor e estendeu a mão como para levá-la em um lugar. A adolescente pareceu processar as informações lentamente, mas por fim acabou pegando a mão dele. Vitor a puxou e eles sairam para uma área de serviço, onde vários garotos e garotas se encontravam fumando narguilé.

– Vem, vou te mostrar uma coisa. - ele se dirigiu aos garotos, sentindo a mão de Lia firme na sua. Provavelmente, se ela não estivesse tão bêbada, nunca chegaria perto daquelas pessoas. Vitor se dirigiu a um dos aparelhos, Lia o seguiu. Então, o motoqueiro pegou a mangueira e começa a fumar, enquanto ela apenas observava. Em seguida, tira a mangueira da boca e, prendendo toda a fumaça em sua boca, a puxa para mais perto de si. Como se fosse beijá-la, Vitor abre a boca da roqueira e libera todo o fumo lá dentro. O aroma era gostoso, e a sensação de tontura, mais ainda.

Lia dá um sorriso e pode-se ver os resquícios de fumaça colorida - em sua maior parte, vermelha - saindo por entre seus dentes.

Então, a música que tocava há alguns quatro minutos acaba, dando início a outra.

"Amá-lo é como dirigir um Maserati novo por uma rua sem saída

Mais rápido que o vento, apaixonante como o pecado

Terminando tão de repente

Amá-lo é como tentar mudar de ideia

Uma vez que você já está voando em queda livre

Como as cores no outono, tão brilhantes, antes de perdê-las

– Aprendeu? - ele lhe lançou aquele sorriso sedutor e desapareceu de sua frente, voltando para a festa.

Perdê-lo foi azul como eu nunca soube

Sentir a falta dele foi cinza escuro, totalmente só.

Esquecê-lo foi como tentar conhecer alguém

Que você nunca encontrou

Mas amá-lo foi vermelho

Amá-lo foi vermelho

Logo quando entrou na sala, achou Gabriel dançando sozinho, completamente bêbado. Depois, viu Lia voltando a sua rotina de ices. Foi lá e pegou uma também, e quando seus olhos se cruzaram, conseguiu sentir a faísca criada. "Talvez eu esteja um pouco bêbado" ele pensou, mas não era a bebida. Era aquela garota, tudo que ela fazia, tudo que o deixava louco.

Lia escutava a música ruir em seus ouvidos, quando Vitor apontou a pista de dança com a cabeça - como se estivesse a convidando para dançar com a multidão - e em seguida sumiu no meio dela. Então, Lia segue o garoto e entra na pista de dança, onde todos pulavam e dançavam, se entregando aquela noite.

Tocá-lo era como entender que tudo que você queria

Estava bem ali na sua frente

Memorizá-lo foi tão fácil como saber todas as palavras de sua música favorita

Brigar com ele foi como tentar resolver uma palavra cruzada

E perceber que não há resposta certa

Me arrepender por causa dele foi como desejar

Que você nunca tivesse descoberto

Que o amor poderia ser forte desse jeito.

Perdê-lo foi azul como eu nunca soube

Sentir a falta dele foi cinza escuro, totalmente só

Esquecê-lo foi como tentar conhecer alguém

Que você nunca encontrou

Mas amá-lo foi vermelho

Amá-lo foi vermelho

Oh, vermelho

Vermelho ardente

Lia percebia toda a multidão pulando e dançando. Era provável que ela nunca vira tanta gente bêbada como agora.

As lembranças dele vêm em flashbacks e ecos.

Digo a mim mesma que agora é a hora, preciso esquecer

Mas me distanciar dele é impossível

Quando ainda vejo tudo em minha cabeça

Queimando em vermelho

Amá-lo era vermelho.

A multidão se dirigia involuntariamente para fora da casa e de lá, todos foram à gigante piscina do condomínio, onde o som continuava sendo transmitido, através do rádio de um carro. Todos pulavam na piscina, sem se preocupar com roupas ou acessórios caros.

Perdê-lo foi azul como eu nunca soube

Sentir a falta dele foi cinza escuro, totalmente só

Esquecê-lo foi como tentar conhecer alguém

Que você nunca encontrou

Porquê amá-lo era vermelho

Yeah, yeah, vermelho

Vermelho ardente

E é por isso que ele fica rodando na minha cabeça

Volta para mim em vermelho ardente

Yeah, yeah

Seu amor era como dirigir um Maserati novo por uma rua sem saída."