Enquanto isso em outra realidade totalmente diferente, chamada por nós de presente, e conhecida por Gohan e Trunks como passado, a paz realmente reinava por aquele lugar. Piccolo, em sua posição de flor de lótus, fazia um treinamento duro no templo de Kami-sama (Dendê). O vento batia por entre sua túnica a fazendo balançar rapidamente.

O treinamento de Piccolo se tratava de uma comunicação pelo Ki, ou então telepatia. Mas não era qualquer telepatia, essa era bidimensional. Ele poderia usá-la não apenas com seres do presente ou da Terra, poderia usá-la com qualquer um em qualquer lugar, apenas se concentrando profundamente, tentando imaginar e sentir nem se fosse o mínimo de Ki da pessoa desejada.

– Apesar de achar que devas treinar muito garoto, você tem me surpreendido a cada dia. – Gohan escuta essa voz surgir em sua mente.

– Q-Quem é? Quem está aí?!?! – pergunta Gohan assustado, parando seu treinamento imediatamente e olhando para os lados procurando por alguém.

– É duro saber que não estou com você e sim cuidando das coisas de onde vivo, mas você sabe que eu me orgulho de ter treinado um grande guerreiro, e ver que a criança chorona virou um lutador esplêndido.

Gohan entra em choque ao reparar que era uma voz que há muito tempo não ouvia.

– S-S-SENHOR P-PICCOLO?!?!?! É o senhor?!

– Sim garoto, sou eu. Estou falando pelo Ki, ou mais resumidamente, telepatia. Sou de uma realidade totalmente diferente da sua, mas tenho conhecimento de suas dores.

– Obrigado senhor Piccolo! Suas palavras são muito importantes para mim! Tento ser para Trunks o que o senhor foi para mim. Peço desculpas por não ter conseguido derrotar os androides, mas pelo menos poderemos estar todos reunidos um dia!

– Gohan, viu minha mãe? – diz Trunks pousando rapidamente.

– Ã? Aaah! Vi ela mais cedo hoje, trabalhando naquela máquina do tempo. Parece que ia fazer compras na cidade. Acho que ela está preocupada com você, Trunks. Talvez ela peça novamente que paremos de enfrentar os androides, apenas desconfio.

– Eu não a culpo, não fomos tão bons agindo secretamente, mas... Eu vou tentar acalmá-la.

– Hahaha... Eu acho que vai ficar furiosa, porque sempre a deixamos extremamente preocupada! Lembro-me de quando a minha mãe ficou sabendo disso. Ela ficou uma fera!

– Aaam... Ok... Vou lá falar com ela. – Trunks sai correndo deixando Gohan novamente sozinho.

– E como está indo a luta contra os androides, nanico? – pergunta a voz de Piccolo.

– Difícil como sempre. Eu acho que consigo lutar de igual para igual contra um deles. Mas o problema é que eles nunca se cansam e sempre se juntam. Mas pelo menos, nestes últimos dias eu consegui dominar a sua técnica principal!

– Se ao menos eu estivesse a serviço da Terra, daria um jeito de ajudá-los.

– Eu tenho certeza que as coisas seriam bem diferentes se você estivesse por aqui. Isso sem falar que teríamos as Esferas do Dragão de volta.

– Moleque, me diga, do que mais sente falta?

– Eu sinto muito a falta “dele”. E acho tão injusto ele ter nos deixado antes dos androides aparecerem... Eu me lembro de quando ele venceu o Vegeta, do quanto ele demonstrou o seu esforço naquele dia. Lembro-me também de quando ele derrotou as Forças Especiais Ginyu em Namekusei, que estavam praticamente a ponto de nos matar. E na batalha contra o Freeza, quando ele ascendeu à forma Super Saiyajin... Ele salvou o universo inteiro das mãos de um tirano. Ele era sem dúvidas o guerreiro mais forte do universo... Mas mesmo assim uma pequena doença... Acabou com ele. Eu ainda lembro de segurar a mão dele fria naquele dia... Se ele ainda estivesse vivo as coisas seriam bem diferentes. Eu tenho certeza que ele teria derrotado os androides e que os nossos amigos ainda estariam vivos... Desculpe-me pai, me desculpe por não ser tão forte como você!

– Tá, chega de choro! Por que ao invés de apenas se lamentar, não tenta ter o mesmo treinamento que teve no passado? Trunks não te falou da forma eficaz que dominou seu poder de Super Saiyajin que seu pai usou?

– O problema é o tempo, senhor Piccolo. Se focarmos em um treinamento tão intenso, não poderemos proteger os cidadãos da Terra! Eu... Eu não aguento mais esse desespero! Eu não posso deixá-los morrer enquanto eu treino!

– Mas o treino é simples garoto, pare de choramingar e escute. No passado seu pai teve a grande ideia de ficar o tempo todo como Super Saiyajin. Tente fazer isso, não pare a transformação e treine com Trunks de forma comum, mas às vezes de forma árdua... Você não tem escolha, VOCÊ ENTENDEU?!

– Certo senhor Piccolo... ARGH! Irei tentar! – ele se transforma em Super Saiyajin e começa a aumentar o Ki intensamente - Ficar na forma Super Saiyajin por tanto tempo é estressante! Vai ser difícil me acostumar... Mas tenho que fazer isso! ARGHHHHHH!!!

– É assustador ver a diferença de universos, mas você continua com a mesma esperança de um menino. – diz Piccolo com um pequeno riso.

– É mesmo? – Gohan começa a se acalmar – Às vezes eu fico imaginando o quão diferente eu seria se não houvesse os androides.

– Bom... Eu não sei de devo lhe contar Gohan, até porque você se surpreenderia se eu inventasse de dizer... Que um de seus amigos casou com um androide em meu universo, ou o quão você evoluiu e tornou-se um... Abobalhado... – Piccolo mostra um descontentamento com um misto de timidez em sua voz.

– O q-que?! Casou?! – Gohan desfaz a transformação, voltando assim ao normal. - Mas essas criaturas são monstros que só pensam em destruir!

– Bom, eu não sou entendido no assunto, mas pelo que eu entendo, os androides tem partes humanas que compõe seu corpo, ou seja, tanto podem se apaixonar como também podem ter filhos... Bom, eles tiveram uma filha na verdade, eu fiquei tão surpreso quanto você, garoto.

– Que... Coisa bizarra. Dr. Gero realmente era um cientista estranho... Porém, o mais estranho ainda é saber que pode haver paz mesmo com a existência dos androides... Nossos universos são bem diferentes mesmo. Mas confesso que sinto um pouco de inveja...

– Creio que ainda não aconteceu isso em seu tempo, mas Trunks veio ao passado alterando assim o tempo, fazendo surgir além dos androides #17 e #18, um que até você tinha certo afeto. Seu nome era #16. Ele era o único bondoso, capaz de pensar na paz mundial. O Dr. Maki Gero também se transformou em androide, mas foi morto pateticamente e o outro que Vegeta acabou com ele facilmente.

– Então existiam mais androides? E eu me tornei amigo de um deles?! I-Incrível...

– Achamos que eles eram os verdadeiros androides, mas eles estavam a surgir... Fora que esta mudança e choque de tempo, me fez tomar uma importante decisão, jovem Gohan...

– O senhor também tomou um rumo diferente? E que decisão foi essa, senhor Piccolo?

– Androide #16 foi morto por outro androide chamado Cell. Ele chegou a lutar do nosso lado... Ele era muito bondoso, e bom... Você tornou-se Super Saiyajin nível 2... Não sei se devo contar o final disso. Só sei que Kami-sama converteu-se em poder e finalmente voltamos a ser um só... Continuo sendo o mesmo Piccolo, só que com uma sabedoria maior.

– Não sei quem é este Cell, mas me parece bem poderoso... E você se fundiu com o Kami-sama?! UAU!

– Cheguei a enfrentar o #17 de igual para igual, mas não o detive, pois ele era muito bom e tínhamos o poder de luta muito parecido.

– Sei bem como é lutar contra o #17. Eu também consigo lutar de igual para igual com ele... Mas o problema é que sua energia é infinita!

– Mas eu tive que atrasá-los para que seu pai pudesse curar-se da doença... Depois de tudo isso você cresceu, virou a princípio um jovem estudioso e MUITO ESTÚPIDO!!!

– Meu pai... Ele... Conseguiu sobreviver?! E os androides foram derrotados ainda por cima... Isso me deu mais esperanças senhor Piccolo! Eu preciso alcançar o nível 2 do Super Saiyajin!

– Sim, ele conseguiu sobreviver, mas... Você que exterminou o Cell, graças a nossa ajuda. Sim Gohan, eu sou um só... Até tive que aguentar as piadas do seu pai. Mas tivemos inimigos piores que os androides. Teve um em especial, que foi na mesma época em que você conheceu sua então esposa Videl, filha do imbecil do Satan...

– UAU! Tanta coisa mudou tudo por causa do Trunks... Eu até me casei! Hahaha... Por mais que o meu futuro continue o mesmo, fico feliz em saber que as coisas acabaram bem para vocês!

– Goku sobreviveu à doença, mas sacrificou-se para salvar a Terra, pois Cell iria explodi-la. Ele é uma criatura que também habita seu mundo, mas não na forma perfeita. Corram para destruí-lo ainda em seu nascimento, pois ele está fraco. Se ele absorver #17 e #18, será o fim de tudo.

– Então ele acabou se sacrificando no final de tudo? É digno dele. Agora eu consigo entender o valor do sacrifício para se obter a vitória. Meu pai é um grande herói mesmo. E obrigado por nos avisar a respeito do Cell, senhor Piccolo. Quem sabe agora, o nosso futuro possa ter um rumo diferente? Eu lhe prometo que Trunks e eu iremos trazer paz a Terra novamente.

– Seu pai reviveu, mas não por causa das Esferas. Enfim, isso já é outro assunto... Mas os androides não morreram, e sim, suas personalidades foram tomando outras formas. A #18 casou-se com um de nossos amigos, e sim, eles tem uma filha... Um saco por sinal.

– A #18, é? Quem diria...

– Garoto, até mais. Entrarei em contato com você novamente assim que possível. Tenho de ir.

– Aaaaam... Ok, senhor Piccolo.

Gohan a partir desse momento não escuta mais a voz de Piccolo. Sua reação após ter conversado novamente com seu mestre e amigo era de espanto. Ele não sabia se estava com medo, feliz ou triste por não tê-lo ao seu lado. Depois de ter sido revivido inexplicavelmente, essa era a segunda coisa estranha que havia acontecido em tão pouco tempo.

A partir desse dia, Gohan e Trunks começam a treinar arduamente em forma Super Saiyajin. Gohan muitas vezes se estressou e perdeu a calma por ficar tantas horas desse jeito, mas no final das contas até que estava dando certo. Piccolo tinha razão.