Folhas secas de outono estalavam em seus pés. E soltavam um perfume doce, decomposição natural, de umidade e árvore...

Noah respirou fundo, olhos fechados, sentindo sua mente relaxar com a familiaridade no aroma.
Ele sabia que não era real: era mais um de seus sonhos.

Sonhos, memórias inconscientes... Que seja.

Ele ia pra esse 'lugar' em sonhos desde que se entende como gente.

A brisa gelada penetrando seu pijama: camiseta de algodao e moletom. Noah adorava essa sensação.

O garoto abriu os olhos, estava de volta ao seu quarto.

A mesma parede verde - agora desbotada e machada - com rabiscos feitos por ele fixados com fita adesiva. Suas plateleiras na parede logo a frente recheada de suas fantasias urbanas e ficção favoritos. Sua cama pequena embaixo de seu corpo e o endredom cheirando a lava roupas de sempre.

Noah fitou o teto por um instante, absorvendo o choque de voltar a realidade.

Respirou fundo e se sentou na cama, afastando a coberta.

Era uma noite quente - quente demais na opnião do garoto, que detestava calor mais do que devia.

Tateou a comoda ao lado buscando seus óculos, os colocou e ligou a tela do seu celular: 04:23.

Seus olhos latejaram com a claridade repentina.

Nenhuma mensagem durante a noite.

Típico.

Levantou e ascendeu a luz do cômodo.

Noah ja estava acostumado a acordar na madrugada depois de seus... Sonhos.

Sentou novamente na cama e pescou um livro da bagunça que era o chão do seu quarto.

Era um livro bom, mas não o suficiente. Ele estava lendo ha mais de semanas e nao tinha passado da metade. Era sobre uma xamã, o Outro Mundo, os espiritos, nobres, fadas e sexo...

Não tinha lido um paragrafo quando um duas batidinhas vieram da porta do quarto.

Seu pai abriu de vagar e colou a cabeça pra dentro.

Assim como Noah, seu pai usava óculos tambem.

" Ta tudo ok? " perguntou o pai, as lentes um pouco tortas em seu rosto preocupado.

Noah gostava muito de seu pai. Ele não sabia dizer se era por falta de mãe que sua ligação com a figura do pai se intensificou.

Talvez não.

Noah nunca sentiu falta de uma mãe.

Seu pai sempre estivera ali para ele.

E por ele.

"Yeah, só... Lendo... Um pouco " Noah levantou o livro.

" Sonhou de novo, não foi? " disse encostado na soleira, braços cruzado no peito, um rosto passivel e compreensivel.

*It's ok Noah, I'm here*
Parecia dizer.

Claro que ele sabia dos sonhos.
Noah contou pra ele desde a primeira vez que teve um.

O garoto não podia deixar de se sentir confortavel com o pai.

" É. " suspirou.

O pai se aproximou, abraçou o filho e beijou o topo de sua cabeça. Noah se recostou nele. Se sentia em casa.

" I love you. " Noah disse.

" I love you too, boy " respondeu, agora se afastando em direção a porta do quarto.

" Nunca consegui terminar esse livro, alias " disse ele ja a porta, indicando o livro na cama do garoto. " espero que voce tenha mais sorte com ele " e riu.

Noah tiu também, claro, esse era um dos livros do seu pai, que assim como muitos, agora estava ali no quarto do garoto.

"Boa noite pai, "

"Boa noite. " respondeu fechando a porta atras de si.

Noah ainda leu algumas paginas antes de cair no sono, com a luz acesa e o livro aberto no chão.

Não sonhou mais naquela noite.

oOo