Quatro Palavras escrita por dear blue eyes


Capítulo 6
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Bom, não sei se tem alguém lendo ou acompanhando, então hihi, não tem problema demorar pra postar, certo?



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Encarava meu guarda-roupa, um tanto quanto decepcionada. Não pela bagunça, que já era um costume genético, mas pela falta de opções. Eu precisava ser menos... Eu. Apesar de Brian ter dito que gostava do meu jeito “foda-se” para esse tipo de coisa, minha vontade era estar meiga, pelo menos nesse encontro. Um recomeço. Sim, hoje é o dia de dar um passo a frente. Sair com um cara novo. É, vai ser legal. Acredite, Jenny, vai ser legal.

Bem no fundo daquele “ninho”, como minha mãe adora chamar, puxei do cabide um vestido que não uso há... dois anos? Joguei-o na cama, em seguida pegando o ferro de passar roupa, aquilo estava mais que amassado, e enquanto esperava a lâmina esquentar um pouco mais, puxei de uma das gavetas, um sutiã sem alça e uma calcinha da mesma cor. Vesti-os e encarei o espelho. Eu parecia mais magra que o normal. Virei de lado, é... Um pouco desnutrida. Eu nunca soube lidar com notícias ruins, e desde que aquela pessoa fez o que fez, eu reduzi minha refeição cerca de 70%. Vai entender... Em minha defesa digo que não é de propósito.

Então, algo que eu nunca pensei que aconteceria. Eu estava vendo coisas. Por um momento vi John, ops, aquele cara, refletido no meu espelho. Virei-me, confusa, e percebi que não estava ficando louca (ainda), ele estava mesmo ali. Tão perto que colocou uma de suas mãos em meus lábios, caso eu gritasse.

– Ai, me solta, sai! – Mantive a voz num tom alto, mas não tão alto a ponto de minha mãe ouvir.

– Achei que teria uma reação pior, esperava algo um pouco mais... Emocionante. – John sentou-se na cama e encarou-me de cima a baixo, com um sorriso malicioso – Continua linda, aliás.

Rapidamente puxei a toalha que estava jogada no chão, cobrindo-me.

– Quer emoção? Vá atrás daquela vadia que você transa. Agora saia do meu quarto, da minha casa, e por favor, da minha vida também! – Esmurrei seu peito enquanto dizia, mas como que ignorando minha ultima frase, John pegou-me pelo braço, puxando minha toalha para baixo, e enquanto eu tentava me desvencilhar, jogou-me na parede fria. Soltei um suspiro como consequência, fazendo-o sorrir, vitorioso. Seus lábios pousaram levemente em meu ombro, meu corpo parecia congelado, minha respiração descompassada e meu coração turbulento. Senti em minha pele seu hálito fresco quando ele disse “Está vendo? Isso é emoção”.

– Jen? – Minha mãe gritou. Ouvi passos subindo a escada, então empurrei aquele homem incoerente para trás do meu guarda-roupa, mandando-o manter silêncio.

– Oi, mãe? – Tentei dizer o mais tranquila possível, e para não deixá-la ver meu rosto, provavelmente ruborizado, peguei o ferro e comecei a passá-lo no vestido.

– Seu avô... Piorou. Desculpe meu anjo, mas, se quiser vê-lo, ainda, acho que é melhor ir comigo ao hospital hoje...

– Meu Deus! Claro mãe, irei com você! Estou quase pronta, se quiser ir arrumando as coisas... – então ela fechou a porta, deixando-me novamente a sós com a última pessoa que eu queria estar no momento. Sentei na cama, arrasada com o que havia acabado de escutar.

–O que está acontecendo, amor? – John sentou-se ao meu lado, puxando-me para si.

– Meu avô... John, ele sempre foi como um pai pra mim, não posso perdê-lo, não ainda – escondi meu rosto em sua blusa, molhando-a com minha face cheia de lágrimas.

– Vai ficar tudo bem, Jen, eu prometo... Vamos visitá-lo? Amanhã de manhãzinha? Tenho certeza que ele amaria vê-la. – suas mãos acolheram meu rosto quente, seus dedos limparam meus olhos, tão doce, que não pude evitar sorrir. Nossos lábios uniram-se delicadamente. Com facilidade, ele me pegou em seu colo, subindo a escada cuidadosamente, cantarolando uma cantiga qualquer, deixando-me mais calma.

– Obrigada, minha vida... – sussurrei, um tanto quanto sonolenta, quando fui colocada em nossa cama. John beijou minha testa, afofou meu travesseiro, tirou meu tênis, cobriu-me, apagou a luz e por fim, deitou-se ao meu lado. Enquanto brincava com meus fios de cabelo, sussurrou “sou eu quem agradeço... boa noite meu amor, eu te amo muito!”

–Mãe? – gritei, ainda com as mãos cobrindo meus olhos. Senti alguém sentar ao meu lado, passando uma de suas mãos levemente sobre meu ombro.

– Oi filha? – ela gritou do andar de baixo.

– Ér.. John pode nos acompanhar hoje? Ele ficou de me trazer algumas coisas... aproveito e peço uma carona, tudo bem?

– Seria ótimo, afinal, passarei a noite lá.

– Obrigada mãe! – encarei-o, com os olhos ofuscados, e vi sua preocupação. – Desça por onde entrou, pegue o carro e pare aqui perto, como se estivesse vindo aqui normalmente. Faça algo certo, por favor, você sabe mais do que ninguém que hoje eu preciso de você – a ultima frase fora mais para mim mesma do que para ele próprio. A verdade estava aí, depois de tudo o que aconteceu, ainda precisava de John. Ele ainda era... tudo. Suspirei pesado, não foi legal admitir isso. Levantei, para escolher outra roupa. Oh, droga. Brian... Disquei seu número, e logo no primeiro toque, para me deixar com a consciência mais pesada, ele atendeu.

– Jenny! – sua voz entregava o sorriso em seu rosto – já estou saindo de casa, olha, vi o horário dos filmes, temos dois, eu deixo você escolher, aliás, sou um cara legal e...

– Brian – cortei-o – é... Meu avô, ele está numa situação não muito boa, e piorou, então eu terei que visitá-lo hoje, sinto muito... – então a porta de meu quarto fora aberta tão rapidamente que levei um susto, ao virar-me, tentei fazer um sinal de silêncio, mas era tarde demais, minha mãe já tinha falado, mais alto do que devia, as palavras “John está aqui, anda, vamos!”

– Ah – ele respondeu, com a voz contraditória à primeira - tudo bem. Tchau. – Desligou.

Droga droga droga DROGA. Agora John sorria, e eu provavelmente estava vermelha de raiva. Cuidaria disso depois. Segui-os até o carro. John tentou passar as mãos por meus ombros, mas esquivei-me, claro que ele não perderia a oportunidade de derrotar Brian em mais um de seus joguinhos. Estou farta.

– Ei – sua voz soava calma, enquanto seus dedos passeavam levemente por minhas costas – Sinto muito, de verdade. Seja lá o que eu fiz dessa vez. Me perdoa?

Tive que parar para encará-lo. Ele pediu perdão? Sério? Não estou sonhando? Oh, ele pediu perdão. Não acredito. Achei-me no direito de vagar pelo seu rosto, procurar qualquer sinal, mas, pelos anos que observei aquele mesmo rosto, John estava sendo sincero. Sorri, e fui recebida num abraço acolhedor.

O caminho até o hospital foi uma conversa monótona de minha mãe com seu ex genro. Se tinha alguém que apoiava a volta do meu namoro, era ela. Talvez por não saber de metade da nossa história, e sim apenas por conhecer o lado bom de John.

– Sinto sua falta lá em casa, querido! Mas não vou negar que minha filha voltar a morar comigo também é muito bom – os dois riram.

– É... tenho que admitir, que a casa não é a mesma sem Jenny – Seus olhos esverdeados pousavam em meu rosto enquanto dizia. Tentei não mostrar o quanto aquilo mexeu comigo.

– Chegamos! – Dei um pulo ao ver a entrada do hospital, afinal, estava sendo horrível continuar a ouvir aquilo. Mas não por isso, também estava ansiosa para ver como meu avô estava. Caminhamos até a recepção, dissemos o nome do quarto, então a enfermeira nos olhou com tom diferente. “Terão que visita-lo num quarto diferente hoje... Ele entrou em coma”.

Minhas mãos começaram a tremer, e meu coração palpitava tão forte que era a única coisa que eu conseguia ouvir. Enquanto as lágrimas despencavam de meus olhos, meu rosto escondia-se no corpo de John. Más notícias chegam nos piores momentos. Ao chegar em seu leito, toquei sua pele, branca como a neve, quase como um fantasma. Não queria associá-lo a um cadáver, mas estava quase lá. Fiquei sentada ao seu lado por cerca de uma hora, e por mais incrível que pareça, não fiquei sozinha por um segundo sequer. E estava agradecida por isso. Na hora de ir, deixei um beijo em sua testa, pedindo a Deus que trouxesse meu avô de volta.

A única interação entre mim e John até o carro foi quando ele ofereceu-me um salgado. Recusei, agradecendo em seguida, e depois disso o silêncio fora nosso leal companheiro até chegarmos a sua casa. John estacionou, mas continuamos imóveis, sentados. Queria agradecê-lo por ter me acompanhado ao hospital, e ter me trazido para casa (talvez até a casa errada, pois pensei que ele me deixaria na porta da minha casa).

– Por quê? – pensei em voz alta.

– Hum? – seu rosto virou-se para o meu; seus olhos, sempre brilhantes de curiosidade, e seus lábios bem pouquinho repuxados (será que ele sabia que fazia isso?). Tentei concentrar-me na pergunta que havia feito, mas agora eu só encontrava desejo.

– Nada. – com muita dificuldade deixei de lado a vontade de acariciar seu rosto e saborear seus lábios. Abri a porta do carro – O que veio fazer aqui faça logo. Vou ao banheiro e já volto, e então pode me levar para casa, como prometeu.

– Passa a noite aqui? Se quiser, eu durmo na sala, prometo! Mas sei que não quer ficar sozinha, e eu também não quero deixá-la ir.

– Não, obrigada. – Subi as escadas, que iam para a cozinha. Seus passos denunciavam sua posição, logo atrás de mim. Segui para o banheiro, e quando voltei, John tinha colocado um copo de nescau e um de coca-cola na mesa, um saco de pipocas estava no micro-ondas e o outro à espera de ser o próximo. Quando o encarei feio, ele rosnou “nem um filme, porra?”. Sem reclamar, caminhei para a sala, na esperança de achar um filme bom. Poucos minutos depois, lá estava ele, com as mãos cheias de porcaria para comermos. Pousou as coisas no puf à nossa frente e sentou-se ao meu lado. Não trocamos palavras nem olhares, apenas encaramos a tela da televisão, como se aquele momento ainda fosse normal. Não sei quanto tempo levou, mas minha cabeça já pendia para o lado, e acabei pegando no sono apoiada em seu ombro, enquanto sua mão sutilmente acariciava meus cabelos.

Quando abri os olhos, não me encontrava no mesmo cômodo, e sim numa cama que a muito tempo eu não dormia. Automaticamente minhas mãos procuraram o dono do espaço ao lado, que estava vazio. Escutei um choro, quase inocente, quase infantil. Cocei os olhos e em seguida procurei o culpado pelo triste som. Encontrei John, ajoelhado ao chão, olhando fixamente para o nada. Chamei-o uma vez, mas o mesmo não se mexeu. Continuava ali, como uma estátua.

– Você está vendo, Jen? – sussurrou, de modo que quase não escutei. – Ela não é linda? – ele sorriu, com os olhos marejados.

Sentei-me ao seu lado, devagar, e puxei-o para o meu colo. Procurei por qualquer vestígio de droga no ar, mas o ambiente estava intacto, puro. Não sabia o que fazer.

– Ei, vamos deitar? – perguntei, acariciando sua bochecha.

– Shh, se te escutar, ela vai embora!

– John, não tem ninguém ali. – e após dizer isso, seus olhos mudaram. De tristes, tornaram-se alarmados e desesperados. Livrou-se de meus braços, andando rapidamente até o local que encarava há poucos segundos. Então se virou para mim, surpreso.

– O que houve? – ele procurava por respostas em meu rosto. Tentei não parecer assustada. Apenas levantei-me e fui até ele. Ao tocá-lo, senti sua pele gelada, ele tremia muito, estava aterrorizado.

– Foi só um pesadelo, amor – surpreendi-me ao dizer a última palavra – Vamos voltar a dormir, hum? – então ele se deitou, enquanto seguia meus movimentos com seu olhar confuso. Deitei-me ao seu lado, e nos cobri. Suas mãos buscaram as minhas, estávamos tão perto... Então sua voz rompeu o silêncio “eu te amo, Jenny“. Antes de qualquer reação, meu garoto já tinha pegado no sono.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... comentem pls :(