Ao sair de casa não tive problemas com Charlie, foi apenas preciso dizer "vou me encontrar com Jacob" só dando tempo de ver ele relaxar contra a poltrona enquanto eu me dirigia rapidamente a saída. Eu sabia que ele abriria qualquer exceção se tratando de Jacob.

Ao abrir a porta da minha picape, deslizei no banco, bati a porta não me importando com o nível de força que utilizei, e girei a chave o máximo que pude para a direita, como se isso fosse fazer ela ligar mais rápido e com o motor mais forte do que nunca. Para a minha surpresa, ela só me deu um decepcionante click.

Olhei para o volante a minha frente, forçando minha visão no escuro. Não podia acreditar, está certo que todos que eu conheciam - inclusive o Jacob - diziam que a picape era uma lata velha, mas para mim ela sempre pareceu invencível.

– Decepcionada?

Tive que por a minha mão na boca para não gritar, enquanto que por reflexo virava para a direção do dono da voz que me fazia companhia no banco do passageiro.

Edward estava implacável, com uma pose séria, antes olhava diretamente para mim, como se não houvesse nada mais de interessante para se fazer.

– Você não achou que eu a deixaria desprotegida não é? - Acho que ele queria dizer que não deixaria de me espionar, mas sabia que para ele seria como se dissesse a mesma coisa - fiquei preocupado.

Ele se virou para frente, deixando de me olhar, ele não parecia olhar para nenhum ponto fico, só parecia não querer me encarar.

Me forcei a dizer alguma coisa.

– Jacob nunca me machucaria - consegui por fim dizer, mas minha voz tinha saído meio grogue pelo susto recente. Eu não podia entender, eu estava com medo de Edward!?

– Você não tem como saber - ele afirmou, ainda olhando fixamente para a frente - Eu vou te proteger de tudo, Bella. Até de você mesma.

Foi aí que percebi que Edward olhava sim para um ponto específico, ele estava olhando para Jasper, de costas em frente a minha casa, olhando concentradamente pela minha janela.

Na hora só pude pensar em Charlie.

– O que ele está fazendo? - tentei sair do carro, mas Edward segurou o meu pulso, forte, mas controlado.

– Ele está dando um descanso ao Charlie - respondeu, ainda sem olhar para mim.

Nunca tinha pensado que os poderes de Jasper pudessem fazer algum mal para alguém, mas naquele momento, eu não podia pensar em mais nada além disso.

– O que quer dizer? Ele está matando o Charlie.

Edward riu, como se para dizer que depois de tanto tempo com eles eu ainda não sabia de nada.

– Não, ele está apenas relaxando Charlie, ao máximo, nível suficiente para ele dormir.

– Dormir? Para que isso?

– Charlie esperaria você chegar em La Push para te ligar e saber se está tudo bem - Edward finalmente deixou de olhar Jasper para me fitar - eu não podia permitir nem que você fosse a La Push, no meio de todos aqueles lobisomens, eu pedi ao Jasper que o fizesse dormir tempo o suficiente para que você passasse esta noite segura.

Eu tremi, entendi a partir daquele momento o que Edward queria. Ele queria me impedir de ir a La Push, e para isso ele me levaria justamente para o local que Charlie nunca aprovaria no momento: sua casa.

Edward viu em meus olhos que tinha entendido seu plano de sequestro, então me puxou para mais perto de si, me abraçando e me carregou no colo quando me tirou da picape, me segurando ainda mais firmemente em seus braços.

– Obrigado Jasper, Já pode ir - Edward disse enquanto me colocava carinhosamente no passageiro de seu volvo.

Jasper apenas assentiu, olhando para Edward, em nenhum momento seus olhos se encontraram com os meus, nem quando ele partiu para a floresta sem olhar para trás. Eu soube naquele momento que haveria menos Cullen com os quais eu poderia contar.

Edward entrou no volvo e ligou o carro, eu estava bem encostada na porta do passageiro, não querendo contato com Edward. Mas é claro que este não poderia deixar por isso mesmo, segurando o meu pulso e me puxando para ficar colada na lateral do corpo dele, duro como mármore e tão frio quanto. Desejei mais do que nunca o abraço quente de Jacob.

É, eu definitivamente estava com medo de Edward.

– Eu sinto falta da sua voz - Edward disse, como se não houvesse nada melhor para se dizer.

Tentei sair de seus braços, mas ele me pressionou ainda mais ao seu corpo.

– Eu não quero ficar na sua casa Edward! - disse por fim, ele tinha que respeitar as minhas vontades.

– É o local mais seguro para você.

– Estaria mais segura com Jacob!

Vi algo relampejar no olhos de Edward e logo percebi que ele estava aumentando a velocidade.

– Edward, diminua por favor - pedi, melhor, implorei.

– Você poderia ter dito qualquer coisa, menos me comparar com ele.

Edward diria cada vez mais rápido, estava ficando apavorada.

– Edward, por favor! - gritei, no segundo seguinte Edward freou o carro bruscamente. Como estava sem sinto de segurança senti meu corpo ir em direção ao vidro do carro, no momento só tinha pensado nos cortes que meu corpo teria devido aos cacos do vidro, mas isso não aconteceu. Senti as mãos de Edward me segurarem pela cintura e me puxar em sua direção, logo senti seu lábios nos meus, me beijando de um jeito brusco como nunca aconteceu antes.

Não era só o beijo de Edward que estava diferente, suas atitudes também, percebi isso quando senti suas mãos se moverem ávidas em minhas costas, como se quisesse conhecer mais do meu corpo.

Senti ele me inclinar para deitar no banco, algo completamente desconfortável, já que não era como o banco da minha picape de banco único. Mas eu já tinha percebido que naquele momento, Edward não estava ligando para as minhas necessidades ou vontades.

Edward nem ao menos tinha percebido que não estava correspondendo ao beijo, ou simplesmente não se importava. Ele apenas me beijou mais um pouco e quando ergueu a cabeça, vi seus olhos mais brilhantes do que nunca: de pura paixão, de pura saudade.

– Não sabe o quanto senti a sua falta, de seus beijos - ele tocou levemente os meus, que estavam entreabertos por causa do beijo, com a ponta dos dedos - Ele te toucou aqui Bella? - me forcei a me concentrar e perceber que ele estava falando de Jacob - Ele te beijou? Beijou esses lábios que são só meus?

Senti meu rosto se contorcer em indignação, não pelo fato de ele achar que tive algo com Jacob, mas pelo fato de ele achar que tinha o direito de cobrar algo.

– Edward, você passou meses, meses longe - me ergui daquele banco desconfortável e continuei o encarando - você não tem o direito de cobrar nada!

– Ele o fez - não foi uma pergunta.

Edward saiu do carro e quando vi ele já tinha destruído uma árvore.

– Edward para com isso!

Edward se virou para mim, seu olhos estava negros de raiva, tudo isso era por causa de um suposto beijo que nem aconteceu?

– Eu sempre soube - Edward começou, apontando para mim - Que o amor que você dizia senti por mim, não era nada comparado ao meu. mas é impossível você ter esquecido desse sentimento, mesmo que fosse tão pequeno. Eu amava por nós dois! - Edward gritou a última parte.

Ouvir ele menosprezando o meu amor mais uma vez, doeu. Tive que fechar os meus olhos com força para controlar a dor, e as lágrimas.

Só os abri quando ouvi um carro se aproximando, era o carro de Carlisle.

Edward se virou para mim.

– Depois nós terminamos essa conversa.

Do carro saiu Alice, saltitante de felicidade. Foi aí que me toquei, Edward não poderia saber que estava indo me encontrar com Jacob se não fosse por Alice, havia ainda menos Cullen com os quais eu poderia contar.

– E aí, Bella? - Alice sorria amplamente para mim - pronta para a festa do pijama?

Olhei sem entender para Edward, buscando por respostas.

– Eu vou sair para caçar Bella, você vai ficar com Alice. Quando voltar conversamos.

Ele não se despediu, apenas assistiu Alice me tirar de seu carro, e me levar para o de Carlisle. Edward entrou no volvo e partiu.

Estava me sentindo mais sozinha do que nunca.

– Alice! - chamei, esperando explicações enquanto ela ligava o carro, mas ela não respondeu - Alce!

– Edward vai voltar Bella - ela disse, como se fosse exatamente isso que eu quisesse saber.

– Não é isso, eu quero saber o que é que você está fazendo.

– Te levando para uma festa do pijama.

Alice estava contente até demais, sempre achei que pessoas que estivessem felizes demais é porque escondiam alguma coisa. E meu instinto dizia que sim, já que como Edward, Alice não olhava para mim em nenhum momento, apenas fixamente para frente, e isso já estava começando a me irritar!

– Por que quer me manter afastada do Jacob, Alice? Você sabe muito bem que foi ele quem me salvou e...

– Temos uma festa do pijama para ir, Bella.

O jeito como a Alice repetia sobre essa festa do pijama, era como se ela se concentrasse nisso, como se toda a sua felicidade dependesse disso, mas eu sentia que tinha algo mais, e quando uma luz se acendeu dentro de mim, dando todas as respostas, desejei estar errada.

– O que Edward vai de dar? - perguntei de forma hesitante. E o sorriso de Alice se ampliando foi como uma terrível certeza a se abater sobre mim.

– Um porsche amarelo! - seu sorriso pareceu se ampliar ainda mais se possível - Lembra? Aquele que roubei com você na Itália.

Seu sorriso que antes me parecia tão doce, agora parecia tão... eu não tinha palavras para aquilo, minha amiga tinha me sequestrado e o preço de meu resgate seria um porsche amarelo.

– Você... Aceitou me fazer prisioneira me troca de um carro?

Alice pareceu indignada.

– Não é um simples carro, é um porsche. E eu não estou te mandando para a masmorra Bella, estou te levando para uma festa do pijama.

Não vou descrever como foi difícil ao chegarmos, e ouvir os comprimentos de Esme e Carlisle como se fosse uma visita de cortesia, e alegria de Emmett ao me abraçar. Todos estavam loucos, eles não viam que eu estava ali contra a minha vontade? A única que parecia mais normal ali era Rosalie, mas ela fez apenas o que fazia de melhor: me ignorar.

E a noite passou, enquanto Alice me fazia boneca, pintando minhas unhas e arrumando meu cabelo. Eu permanecia impassível, não respondia as conversas animadas de Alice, nem o Emmett perguntando se queria ver um filme, ou Esme perguntando se estava com fome.

Eu me fechei completamente em mim mesma, enquanto ouvia as palavras de Laurent mais verdadeiras do que nunca.

" Você não era uma espécie de animal de estimação deles? "

E quando finalmente me deixaram sozinha no quarto de Edward, eu não me senti nenhum pouco culpada ao pegar o telefone e ligar para o numero tão conhecido por mim.

– Jacob - sussurrei o mais baixo que pude - me tire daqui!