Infinito escrita por Felicia
Trabalhava o ano todo naquilo que aparecesse, não importava, trabalho nunca faltava. Com o dinheiro viajava para lugares distantes, lugarejos. Não gostava dos pontos turísticos com seus monumentos e museus suntuosos. Procurava lugares pouco visitados. Talvez quisesse o ínfimo em sua necessidade de acolhimento.
Cada lugar algumas histórias e algumas poucas pessoas. Em uma de suas viagens conheceu um eremita que a fez refletir sobre sua própria condição: não estaria ela fugindo de sua própria solitude? Carregou dádivas neste tempo.
Voltou e revirou outras vezes e depois quis encontrar alguém e ficar. Encontrou pessoa que parecia ser única. Não mais circulou as terras distantes e nem procurou o cheio dos pequenos lugares cercados de poesia. Lembrava-se sim das imagens difusas do movimento e do som do vento e do cobertor que as vezes a cobria, o alento de um gesto perdido entre outros símbolos.
E o mundo ficou pequeno, como um buraco cavado na argila e que se alarga a cada gesto. Quanto maior o buraco menor aquilo que estava ao redor. Sentia vertigem.
Resolver aprofundar no próximo acontecimento que estava por surgir: o casamento da irmã. Dedicou toda a sua força para encontrar o mais belo vestido que poderia desejar, guardara muito dinheiro para isso, dinheiro outrora de suas travessias. E encontrou o vestido e tudo que o circunda, colares, pulseiras, um brinco delicado. Estava bela como a muito tempo não se sentia.
Escolheu seu lugar entre os convidados, uma cadeira modesta que ao mesmo tempo não se perderia em meio as outras. Sentou-se com um sorriso embora não estivesse feliz e a festa foi. Depois acabou. Ela ficou, todos se foram e ela ficou ainda por muito tempo na espera de que os acontecimentos dessem um curso novo a sua semiose.
Depois não se soube mais dela. A cadeira permaneceu ali, e todos que a viam a percebiam como marca da eterna espera do movimento do ínfimo.
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