Normal

Nicholas é um garoto normal, ele é um estudante aplicado porem tira notas baixas em matemática, ele é o capitão do time de futebol e namora uma linda líder de torcida loira, é bem sociável e popular, se da bem com todo mundo, é sempre convidado para as festas mais badaladas e é um orgulho para os seus pais, Nicholas é um garoto normal.

                Porem Nicholas não se sente um garoto normal, ele na verdade se sente um grande anormal, afinal ele é diferente, ele vive uma mentira, ele não é como seus amigos, de normal, ele não tem nada.

                Nicholas gosta de outros garotos, e sabe que se alguém souber, estragaria tudo, assumir ser um anormal é o mesmo que dizer adeus futebol, adeus popularidade, adeus orgulho dos pais. Por que ele sabia, ninguém gostaria de ser amigo de um anormal.

                Por isso, mesmo sendo difícil, ele fingia ser normal, fingia não sentir nojo ao beijar e transar com Adele, a linda líder de torcida loira, e por ainda, fingia não ser completamente apaixonado por Thomas, ou Tom – Tom, como ele apelidara o moreno secretamente.

                Tom – Tom é demais, ele faz teatro na escola, é muito desinibido e até um tanto atrevido, alem de ser assumido gay, sem medo nenhum de ser feliz, mas como ele sempre soube ser anormal havia suas consequências, ele vira diversas vezes, Tales, seu melhor amigo, parceiro de time e vizinho de Thomas, se referir ao menor publicamente por “veadinho” ou “chupador de rola” entre outros apelidos que sempre o denegriam.

                Ele sabia que isso acontecia por Thomas ter escolhido ser um anormal, Nick queria defende-lo, mas nunca aguentaria receber esse tipo de tratamento, por esse motivo, ele ficava apenas paquerando o moreno de longe, sem nunca chegar junto ou mesmo trocar meia dúzia de palavras com ele, isso até aquele fatídico dia em que tudo aconteceu...

                Era o fim de mais uma lona tarde de treinos, após as aulas que eram ministradas pela manhã, Nick e tales estavam no vestiário masculino terminando de se trocar.

-Cara! Tu ta muito cansado hoje? – Perguntou Tales.

-Um pouco, o treino foi duro! Por quê? – Respondeu Nick.

-A vadia da Ariane quer que eu vá ver o ensaio da peça dela...

-Que isso cara, olha o jeito que tu fala com a tua namorada...

-Ela é uma vadia mesmo, ta beijando outro homem! Ela fala que é beijo técnico, meu saco que aquilo é beijo técnico, ta bom que quem ela ta beijando é o veadinho do Thomas, mas mesmo assim né...

-Hum... – Nick ficou animado com a ideia de acompanhar o amigo, afinal, isso significaria que ele poderia ver Tom – Tom sem que ninguém desconfiasse de nada e isso lhe trousse uma imensa alegria ao peito. – Tudo bem, eu vou com você!

-Valeu maninho! Obrigado por não me deixar passar por essa tortura sozinho...

                Os dois terminaram de se vestir nquanto conversavam banalidades cotidianas, e assim, prosseguiram caminhando até o teatro da escola, entraram e sentaram-se nas poltronas e ficaram a assistir o ensaio.

                Nick sorria encantado com a atuação do amado, que fazia aquilo como se respirasse.

Assim que o ensaio terminou, Ariane, a linda ruiva, veio aos pulos, ao encontro de Tales, e trocaram um beijo ardente, logo atrás veio Thomas que puxou a moça para si e segurou-a pelos seios.

-Que isso Ariane?

-Estou pegando nos peitos da tua mulher Tales, supera essa!

-Tu deve ta querendo é ver qual é o sutiã né, para poder comprar um igual seu veadinho!

-Não era de veadinho que você me chamava ontem a noite enquanto eu cavalgava na tua pica...

-Tales, seu filho da puta, tu ta me traindo com o Tom? – Os dois saíram entre tapas e deixaram um Nicholas alheio ao que acontecia e um tomas risonho.

                Tom – Tom sentou-se ao lado de Nick e começou a rir baixinho, o mais velho mal se mexia, tanto era o frio na barria, essa era a primeira oportunidade depois de muito tempo de poder falar com seu amor secreto.

-Esses dois viu... – Thomas continuava rindo risonho.

-Hã, por que você deixa o tales te tratar assim? – perguntou Nick sem saber muito bem como iniciar uma conversa.

-Assim como?

-Por esses nomes?

-Há! Não tem nada haver não, eu e o filho da puta do tales somos amigos de infância, mesmo antes de nascermos nós já éramos amigos, dentro das barrigas de nossas mães, essa é só a forma dele demonstrar carinho por mim, ele mesmo não deixa ninguém mais falar comigo nesse tom de deboche ou usando de palavras ofensivas. – Declarou.

- Eu não fazia ideia – Disse Nick enciumado, afinal, nunca soubera que o melhor amigo, era assim, tão intimo do amado.

-Alias, quem é você? É amigo do futebol do Tales?

 - Doeu em Nick que o outro sequer soubesse de sua existência, enquanto ele sabia de cada mínimo detalhe da vida deste.

-Meu nome é Nicholas, sou capitão do time de futebol da escola. – Estendeu a mão que o outro apertou sorrindo.

-Eu sou Thomas, mas pode me chamar de tom se quiser, sou ator de peças de colégio – Ele riu – Bem, eu não te desconheço completamente, você é o cara que fica me vigiando há quase três anos, eu tinha até certo medo de você, sempre que eu me virava você estava me encarando fixamente, eu sempre achei que você fosse um homofóbico e nunca havia feito nada comigo em respeito a sua amizade com tales, mas te conhecendo hoje vejo que não parece ser nada disso, não faz sentido algum, afinal você se mostrou ser um fofo, a não ser... - O moreno falava sem parar, sem pudor algum, Nick não tinha certeza nem se ainda respirava, estava extremamente constrangido com a constatação que o outro sabia sobre tudo o que pensou que fazia tão discretamente. – A não ser que você seja gay e completamente apaixonado por mim e me vigiava para suprir a sua necessidade de amor, mas seu medo de se assumir era tamanho que nunca se declarou para mim, mas agora que finalmente surgiu a oportunidade, nós iremos nos beijar, transar, namorar, casar, ter filhos e envelhecer juntos e assim viver felizes para sempre numa casa de dois andares branca no subúrbio que tenha um jardim e um balanço onde passaremos os nosso últimos dias de mãos dadas... -  Nick estava de boca aberta e olhos arregalados olhando para o menor, ele tentou falar alguma coisa, mas o fato de ter sido descoberto lhe tirou qualquer possível palavra da boca – Não liga, eu sou ator, ator é tudo afobado e inventivo – Thomas que ria risonho, quando virou-se para o maior e constatou o seu estado, silenciou-se. – Hã, pera ai, é serio isso? Você é realmente apaixonado por mim? – Nick fechou os olhos e se encolheu no banco almofadado, ele sabia que estava corado e que logo começaria a chorar, agradecia pela parte onde estavam sentados ser escura e não deixar que presenciassem ele pagando mais esse mico. Foi quando sentiu os lábios serem tocados, e então abriu os olhos e constatou que eram ali, os lábios de Tom – Tom que tocavam os seus, de vagar de uma leve roçar o beijo foi se aprofundando, tornando-se quente, delicioso, o moreno ainda lhe tocava o rosto, fazendo uma leve caricia que o fazia sentir-se seguro como nunca antes, e pela primeira vez em muito tempo, ao desfrutar desse beijo com o amado, Nick sentiu-se sendo honesto consigo mesmo. – Quer ir lá para casa? Meus pais estão viajando.

-Que – quero! – Falou Nick, provando o poder das palavras após um longo tempo.

                Os dois foram para casa do moreno, e chegando lá, fizeram amor, os dois corpos nus mostrando que pertenciam somente um ao outro e assim, amanheceram, entrelaçados um no corpo do outro em contraste com o lençol branco.

-Tom – Tom, eu te amo, te amo tanto que chega a ser insuportável! – Thomas olhou-o e sorriu, tomando-lhe os lábios carnudos em mais um beijo sedento.

                Nicholas mentiu para os pais sobre onde havia passado a noite, tomou banho, e seguiu para a escola, assim que cruzou o portão viu Tom – Tom todo sorrisos para ele, e também viu Adele que se aproximava, e naquele momento fez a escolha mais dura de sua vida quando se virou e beijou a a garota, apenas para poder conservar o seu titulo de normal, porem, no mesmo instante se arrependeu, pois viu a tristeza e a raiva que rondavam o rosto do amado, que como quem não quer nada, se distanciou para o teatro, Nick pediu licença a namorada e discretamente saiu a procura de Thomas até que o encontrou na sala de figurinos, ele estava de costas choramdo, chegou por trás, o abraçou e virou-o para um beijo terno que foi afastado ao sentir a face quente após receber um tapa das mãos delicadas que tanto amava.

-Que bela ceninha hem Nick, parabéns! Eu acho que o cara errado esta fazendo teatro! Onde esta o cara que me amava insuportavelmente hoje de manhã?

-Thomas, tenta entender! Eu não posso assumir!

-Se não pode assumir, também não pode me ter! Eu demorei tempo demais para me assumir para voltar a me esconder agora! Vai viver feliz com sua líder de torcida loira oxigenada! – O menor lhe desferiu mais um tapa e saiu correndo e chorando.

-Thomas, eu preciso ser normal...! – Falou para si mesmo enquanto via o amor de sua vida ir embora sem que pudesse fazer nada.

                Da forma que pode, se recompôs e seguiu para assistir as aulas, a tarde se esforçou para fazer um bom treino, passou o dia em uma desanimação tremenda até que o treino foi interrompido por alguns alunos que corriam e gritavam feito loucos.

-Fogo! O teatro esta pegando fogo!

                Essas palavras fizeram com que o coração de Nick parasse por um instante, tomas deveria estar no teatro, ele podia estar ferido, ele podia estar morto, ele nunca se perdoaria se algo acontecesse ao amado.

                Junto aos seus companheiros de time, ele correu para o teatro, a maioria dos que estavam lá estavam com extintores e tentavam ajudar da forma que desse, ele pegou o seu também e entrou palco adentro, ajudando a apagar o resto do pequeno incêndio que tivera ali.

-Onde estão os atores? – Ele gritou.

-Os professores levaram eles para o pátio aberto, para que possam respirar ar puro! – Respondeu-lhe alguém.

                Ele largou o extintor ali mesmo e foi correndo na direção indicada, chegando lá, viu-os, eles estavam sujos e tossindo, alguns com as roupas chamuscadas, viu Ariane com o que deveria ter sido um vestido de época, ela estava nos braços de tales que a acalmava, não muito longe dali, finalmente o avistou.

                Ele estava descalço e sem camisa, usava uma calça dourada pantalona de época, o peitoral desnudo e o rosto estavam sujos e ele tossia enquanto parecia apertar um pano molhado contra o rosto.

                Nick não pensou duas vezes, não pensou nas consequências, não pensou em nada, só pensou em como o seu Tom – Tom devia estar precisando dele, de um abraço dele, então simplesmente correu e o abraçou, abraçou forte e o beijou, beijou calmo lhe passando a mesma confiança que o outro havia lhe passado no dia anterior, o beijou para ter certeza que o menor estava vivo, que respirava, que estava bem.

                Assim que soltou aqueles lábios delicados e voltou a prestar atenção ao mundo, sentiu em fim todos os olhos contra eles, mas isso, isso ficaria para amanhã, hoje ele era só de Thomas, hoje foda-se o mundo, dane-se o que as pessoas acham, hoje a única coisa que importava era Thomas, seu amado Tom – Tom.

                Levou o menor a um hospital e só se deu por satisfeito quando recebeu o aval do medico, levou-o para casa e dormiram abraçados sem nada falar.

                Na manhã seguinte Nick acordou e correu para casa, novamente mentiu para os pais sobre onde havia passado a noite, tomou um banho e foi para a escola, ele sabia que hoje tudo seria diferente, hoje ele não era mais um garoto normal...

                Assim que passou pelos portões da escola tudo estava em silencio, todos olhavam para ele e comentavam baixinho, ele devagar passava pelo corredor da morte, sendo julgado como o novo anormalzinho.

-Nickzinho, seu tesudo – O chamou Tracy, a rainha das festas mais badaladas – Domingo festinha na minha casa, o tema é explosão em homenagem ao acidente no teatro ontem, hã, dois convites, leva a gracinha do seu namorado, nós iremos abusar dele. Dois beijinhos! Hey Jake, você já ta sabendo da festinha na minha casa no domingo? – Ela se afastou indo falar com outro garoto, ele segurou firme os convites na mão e continuou caminhando quando aparece o capitão do time de basquete levantando a mão no alto para o cumprimentar como faziam sempre que se viam.

-Hwy Nick, ta cuidando pro time de futebol chegar nas finais né, amanhã tem classificatória do time d basquete, vem assistir e vai tigres!

-Vai tigres! – Gritaram todos os esportistas do corredor.

-Vai  tigres! – Falou também num tom mais baixo que os outros jogadores, mais para si mesmo.

                Mais a frente cumprimentando todos estava Thomas, o qual recebeu Nick com um beijo ardente bem no meio do corredor, o qual ninguém pareceu ligar.

-Por que que ta com essa cara de tacho Nick?

-É que ta todo mundo me tratando normal!

-E o que que tem?

-É que eu não sou mais normal!

-Por que?

-Eu amo outro homem agora!

-E o que tem isso? Isso é completamente normal!

-Não Tom – To, você não entende...

-É claro que eu entendo, todo mundo entende, menos você! O normal é amar! Independente de quem, de como, de onde, o normal é amar e ser amado! O normal é ter amor! E todo mundo tem amor!

                E nessa hora Nicholas finalmente entendeu que ele sempre foi normal!