A capital era um lugar... Espantoso? Encantador? Incrivelmente organizado? Lindo? Colorido? Fazem dois dias que eu cheguei aqui com Katniss, Haymitch e Effie mas ainda não descobri uma maneira suficientemente excêntrica para definir a capital.

Quando desci do trem de mãos dadas com Katniss, com um sorriso forçado no rosto e uma surpresa inegável, percebi a idiotice que havia cometido. As pessoas ali acenavam, riam e soltavam gritinhos histéricos e animados. Por quê? Porque sabiam que aqueles dois adolescentes assustados iriam trazer uma diversão mórbida, mas ainda divertida, para suas vidas. Porque eles sabiam que a probabilidade de assistir a morte desses dois garotos pela tevê, como num daqueles reality-shows que as pessoas de antigamente assistiam, eram grandes. E eu havia causado a minha presença aqui com Katniss. Antes que a raiva me dominasse, lembrei mais uma vez a promessa feita varias vezes antes: “tanto que, quanto Katniss voltaremos pra casa”.

Apertei a mão de Katniss e dirigi um sorriso para que ela soubesse que ia ficar tudo bem. Vi em seus olhos a raiva que ela sentia por ver aquelas pessoas de cabelos coloridos, e roupas excêntricas, e corpos alterados cirurgicamente, nos tratando como se fossemos uma atração turística chegando numa cidade deserta. Apesar de tanta magoa contida, ela conseguia manter o sorriso confiante no rosto altivo. De uma coisa eu sabia: não importava o quanto essa experiência afetasse minha companheira, ela não ia deixar de caminhar pela capital com o queixo erguido e uma postura determinada. Porque essa era Katniss...

Depois de atravessar a estação entramos num carro glamoroso preto e comprido. Ele era enorme por dentro e era cheio de aparatos, porta-copos eletrônicos, botões, tocadores de musicas e muitas coisas que eu nunca havia nem ouvido falar sobre. Eu e Katniss trocamos um olhar que dizia “Certo, isso foi assustadoramente esquisito”. Acomodei-me no assento e recostei minha cabeça no apoio acolchoado, soltando um longo e entrecortado suspiro. Não demorou muito e senti uma mão macia por cima da minha, virei o rosto e encontrei o olhar de Katniss:

- Está tudo bem, Gale? – Ah, Katniss... Sempre preocupada com os outros...

- Sim... Eu... Percebi agora a besteira que foi eu ter vindo aqui... Seria igualmente doloroso ficar em casa te assistir passar por aqui sozinha, mas se eu não estivesse aqui, , você não teria que se preocupar com mais nada além de você mesma... Desculpa, eu... – Fui drasticamente interrompido pelo tom firme, mas delicado dela.

– Gale. Pare com isso. Vai ficar tudo bem. Não fique se culpando, isso não passa de mais uma situação complicada da qual nos vamos sair juntos. Eu e você. Ta bem?

Respirei fundo e meneei a cabeça de olhos fechados. Ouvi um fungado risonho vindo de Katniss e só então me dei conta de que, enquanto eu tinha um ataque e ela me acalmava, Haymitch e Effie assistiam a cena toda em completo silencio. Então abri os olhos e vi que os dois estavam sorrindo. Decidi que nai ia tentar entender o motivo dos sorrisos e voltei aos meus pensamentos que se concentravam na presença ao meu lado e em cada centímetro onde nossas peles se encontravam.

Não demorou muito e chegamos ao centro de treinamento onde eu passaria as próximas duas semanas treinando para tentar sobreviver e manter Katniss viva na arena. Entramos e fomos levados para nosso apartamento no decimo segundo andar. O lugar era enorme, tinha vários lustres pendendo de diversos lugares no teto, uma mesa de vidro inteiramente transparente repleta de cestas de pães, potes com cremes de sabores variados, frutas e tudo que você pode imaginar sobre alimentos. A mesa e as dez cadeiras que a contornavam ocupavam metade da sala, a outra metade era ocupada por poltronas de aspecto confortável e brancas como a neve. Essas poltronas formavam um U em volta de uma mesa de centro de vidro maciço. A mesa não era mais que um quadrado com quatro lados iguais, com os apoios firmes e delicados e o tampo de vidro grosso. Em cima da mesa havia um arranjo branco. O decorador do quarto gostava muito dessa combinação...

– Então, o que estão achando da capital até agora? – Effie deixou claro no seu tom ansioso que esperava um feedback positivo sobre seu lugar de nascimento.

– Muito interessante, muito diferente do D12 e definitivamente muito bonito. Amanhã, talvez, eu te dê mais detalhes sobre minhas impressões. Agora, eu quero dormir. Onde ficam os quartos?

Eu gostaria de dizer pra vocês que respondi Effie, mas seria mentira. A única coisa que eu fiz foi rir e depois segui Katniss pela escada que levava a um corredor com duas portas de cada lado.

– Catnip? – chamei, quase num sussurro. Ela virou com as sobrancelhas arqueadas e um leve sorriso nos lábios. Sorri, peguei suas mãos e a puxei pra um abraço seguido de um beijo.

– Durma bem. Até amanhã, minha linda.

O sorriso que ela me deu iria perpetuar meus sonhos, mas não pela noite toda...