Eu ainda te esperava.

- Alo? Y-Yunho?

Sua voz não parecia normal.

- Jae? Oi meu amor... Como você está?

Eu abri um sorriso.

- Yun...

Sua voz estava trêmula...

- Estou ouvindo, pode falar meu anjo.

...um choro abafado?

- Acabou.

Não consegui mais ouvi-lo. Ele havia cortado a ligação.

Recoloquei o telefone no gancho e me joguei no sofá. Eu não conseguia sentir dor que normalmente eu estaria sentindo, mas eu não conseguia respirar. O mundo a minha volta parou no momento em que ele disse aquela ultima palavra. Aquele “adeus?”.

Meus olhos se voltaram para aquela foto. Você sorrindo e eu lhe dando um beijo em sua face. Você segurava a minha mão... Sua pequena e macia mão apertando a minha...

...eu quero senti-la agora... novamente.

Tomei em minhas mãos aquele lenço de seda que você esqueceu na noite passada. Seu perfume ainda estava vívido naquele tecido suave como sua pele. Fechei meus olhos para apreciar melhor aquela fragrância doce enquanto mais lembranças povoavam minha mente. Eu estava completamente fora de mim.

Sabe o que parecia? Parecia que realmente o relógio havia parado. O tempo parou para eu poder reviver aqueles nossos momentos juntos. Foi tudo tão rápido demais...

Arrumei-me como se fosse o nosso primeiro dia.

O dia em quem nos conhecemos. Ajeitei os cabelos e vesti meu casaco. Peguei as chaves e saí para uma caminhada.

Era a mais linda primavera que eu já havia presenciado. O sol estava agradável assim como a brisa que balançava meus cabelos, me dando trabalho de arrumá-los toda hora. Aquele emaranhado de árvores floridas formava um túnel sob aquela estrada de cimento bem detalhada. Crianças brincavam e adultos conversavam animadamente sentados sob a grama verde ou sob aqueles banquinhos confortáveis de madeira. Eu adorava observar as pessoas durante meus passeios naquele parque.

Foi quando... eu te vi, pela primeira vez.

Você estava sentado ao pé da árvore, usando seus óculos quadradinhos de armação preta. Ele destacava seu rosto pálido, mas ainda sim vivo como os raios de sol que acariciavam sua pele. Seus lábios rosados e o formato dos seus olhos prenderam-me a visão. Eu não pensei em mais nada a não ser aquela vontade involuntária me aproximar mais daquele ser perfeito.

Seria um anjo?

Você lia um livro tão concentradamente que não notou meu olhar intenso em você. Ansiava lhe tocar, lhe sentir para realmente poder me provar de que você existia.

O jeito que você espreguiçava era tão incomum. Era algo que eu queria presenciar tantas outras vezes desde que eu o vi fazendo. Você ficava verdadeiramente bonitinho se espreguiçando. Um sorriso surgiu em meus lábios naquele instante me fazendo pela primeira vez desviar o olhar de você, sentindo minhas maçãs queimarem pela vergonha.

Estava sem coragem de lhe falar. Estava com medo de que você não simpatizasse comigo. Mas nada poderia perder, não é!?

Pigarreei e me levantei, andando em sua direção. Minhas pernas tremiam, mas eu dei um jeito para que elas não me parassem no meio do caminho. Precisava ouvir sua voz.

Toquei-lhe o ombro tão delicadamente como nunca havia tocado em ninguém antes e mesmo assim você se assustou.

- Desculpe-me... Não queria assustar você... - envergonhei-me, abrindo um sorriso de lado.
- Não tem problema... - você sorriu.

Aquilo pra mim foi algo de que me lembrava todos os dias quando acordava... O seu primeiro sorriso para mim.

Eu me olhava no espelho perdido nas memórias que guardei daquele dia. Minha visão estava desfocada, deixando minha imagem embaçada. Seria assim... sem ter a sua presença? Não conseguiria me enxergar.. não conseguiria ser mais o mesmo?

Pregado na moldura do espelho havia aquela carta. Eu não pude deixar de rir. O dia em que você disse que me amava.

Não estava muito ocupado. Estava apenas resolvendo uns assuntos pendentes da faculdade quando me lembrei de verificar minha caixa de correio. Desci os três andares abaixo do meu e abri aquela caixinha no meio de tantas outras pertencentes a outros apartamentos.

Vi uma que não me era familiar. Sempre vinham as contas e já havia decorado o envelope de cada empresa, mas aquela... era diferente. Tinha um pequeno adesivo de coração vermelho fechando aquela carta.

Deitado em minha cama naquela mesma noite, peguei aquele envelope que havia me esquecido durante o dia em cima do criado e o abri cuidadosamente. Desdobrei o pequeno papel amarelado que havia em seu interior e comecei a ler.

"YunHo,
Eu não consegui dizer nada pra você pessoalmente. Eu havia ensaiado tantas vezes para poder te dizer isso mas não consegui. Me faltou coragem. >_<
eu não sabia que o conselho do meu amigo fosse mudar totalmente a minha vida. Junsu disse-me para pegar o hábito da leitura, mas era tão difícil para mim que em casa eu não poderia. Eu ainda disse isso à ele, mas ele sempre me ignorava. Ele me recomendou ler pelas manhãs naquele parque onde nos conhecemos, lembra?! Nos primeiros dias eu realmente estava desistindo, mas preferi tentar pelo menos uma semana. Comecei na segunda na mesma semana em que encontrei o amor da minha vida, no Sábado. >//<
Eu não consegui te dizer olhando em seus olhos como gostaria de que tivesse acontecido, mas não aguentava mais ter que guardar este sentimento só pra mim. Precisava que você soubesse... Me desculpe se estou lhe confundindo com essa confissão.
Mas... eu realmente te amo. Me apaixonei por você no instante que você sorriu para mim pela primeira vez. Meu coração parecia querer explodir de tanto que eu te amo... meu Yunho.
Espero que um dia você possa entender o que eu sinto por você...
JJ."

Agora era meu coração que queria explodir. Eu senti tanta felicidade apenas em ler aquelas palavras tão carinhosas que não me contentei só em suspirar. Te liguei e pedi para que viesse ao meu apartamento. Precisava te ver.

Já havia tomado aquele banho e me arrumado casualmente para te receber. Eu abri a porta num salto. Estava com dificuldade de respirar só pela ansiedade que eu sentia naquele momento. Você estava um tanto envergonhado... Talvez por já ter descoberto que já havia lido sua carta. Você parecia não querer entrar. Mas eu lhe puxei para dentro lentamente pela mão te envolvendo em meus braços. Sentindo o perfume de seu pescoço e a textura de sua pele. Você se assustou, mas sussurrei dizendo que te amava antes que você tivesse dito alguma coisa em repulsa. Um silencio se fez ao me confessar mas logo senti suas mãos em minhas costas, segurando forte minha camisa.

Afastei-me um pouco para poder ver melhor aqueles seus lindos olhos e vi que estavam marejados. Você chorou por eu te amar? Estaria feliz? Eu sorri tentando confortá-lo e sustentei seu rosto em minhas duas mãos, acariciando com a ponta do meu polegar suas bochechas macias. Aproximei-me devagar e toquei meus lábios nos seus.

Acho que podia sentir a palpitação de seu coração. Estava acelerado... Assim como o meu.

Eu queria tanto, mas tanto sentir seus lábios! Quando você falava, eu não conseguia desviar meu olhar de sua boca rosada. Agora... eu estou sentindo ela na minha... era tão bom...

Eu estava tão perdido naquele beijo que sem eu perceber ele foi ficando mais intenso, mais envolvente. Peguei sua nuca carinhosamente para que pudesse explorar mais sua pequena boca.

Sentia você acariciando meu pescoço e seguindo para meus cabelos. Seus toques eram tão sutis que faziam minha pele se arrepiar a cada carinho.

Não conseguia me controlar... Precisava te sentir completamente... Precisava ter você para mim... Só você, meu Jaejoong.

Te deitei delicadamente sobre minha cama, sem separar nossos lábios que se movimentavam apaixonadamente. Eu estava louco por você! Desci pelo seu pescoço enquanto você beijava o meu de lado. Finalmente podia sentir seu corpo. O corpo que me tirava o sono todas as noites. As carícias que tanto desejei.

Você retirou minha camisa enquanto mordiscava minha boca. Seus lábios percorreram todo o meu tórax sempre voltando ao meu pescoço. Eu gemia de prazer... Gemia a cada beijo, a cada mordisco, a cada carinho seu.

A noite que eu nunca esqueci. Foi a única na qual eu pude sentir o quanto eu realmente te amava. Achei que após selar aquela nossa noite de amor... você ficaria comigo pra sempre.

Meus lábios tremiam. As lágrimas começavam a cair uma por uma. Não conseguia detê-las. Eu havia segurado tempo demais... Elas precisavam sair para que meu coração pudesse aliviar um pouco daquela dor.

Minhas mãos caíram pesadamente ao lado do meu corpo.

- Não me deixe JJ...

Umedeci meus lábios secos. Eu não sei como dizer o que eu senti quando caiu a ficha... que eu não poderia mais te ter.

Não poderia mais acariciar sua face deitada sobre meu peito enquanto você dormia. Não poderia mais ouvir você reclamando quando atrapalhava seu banho, quando queria fazer amor com você em baixo da água quente do chuveiro. Eu ria tanto de seus biquinhos quando você ficava emburrado por causa disso! Era tão irresistível!

Mas sabe do que mais sentirei falta? Dos seus beijos. Beijos tão cuidadosos e suaves quando você me acordava pelas manhãs. Você sabe o quanto eu amava a forma que você me despertava...

Mesmo em lagrimas, consegui abrir um sorriso apenas com as lembranças de suas infantilidades, de seu jeito de me tratar, de se comportar.

Por mais que eu não gostasse, eu agora sinto falta de suas broncas quando não fazia o certo. Você ficava tão lindo sério, me obrigando a arrumar minhas coisas da faculdade espalhadas pela sala... Eu podia me irritar com isso, mas depois eu podia sentir o quanto isso era importante.

O que eu faço...? Como posso viver sem você? Você sabe que anjos da guarda sempre acompanham seu protegido. Então, por que você... foi embora?

Soluçava sem hesitar. Pode parecer exagero, mas eu te amo tanto que até me falta ar! Eu preciso de você ao meu lado... Eu não seria nada sem você meu pequeno e lindo anjo. Meu amor...

O telefone tocou pela segunda vez naquele dia. Não queria atendê-lo. Não estava ainda calmo para isso, mas pude ver que era o número de Junsu, seu melhor amigo. Podia ser algo sobre você? Eu descobriria o porquê de sua partida então atendi rapidamente após o quinto toque.

- A-Alô... - falei tentando engolir o choro.
- YUnHo!? Ah... graças..! Como você está? - pelo o tom da pergunta, ele já sabia o que acontecera.
- Não sei... eu não sei o que sentir em relação a isso... - os soluços voltavam.
- Yun... não fique assim...
- Não chorar seria impossível Jun... eu o amo tanto e ele não me ama...
- Ele te ama sim...
- Então por que ele acabou com tudo?
- Ele só queria que você não sofresse...
- Com o que...?
- É que... ele está saindo da Coréia...
- O-O que?!
- Ele está indo para a Europa.

Eu não podia estar pior. A angustia e o medo aumentando à medida que Junsu me contava todas aquelas coisas. Eu mais uma vez fiquei estático... Não sabia o que fazer.

- Alo? Yunho?
- D-Desculpe Junsu.... - e cortei a ligação.

Eu queria tanto ter tido a coragem de ter corrido até você antes que você partisse, mas eu não consegui. Fui um covarde.

Por que eu não fui até você? Por que... eu acho que... você talvez quisesse isso. Talvez você não quisesse me ver de verdade...

Teria deixado de me amar?

Eu posso dizer que me conformei com isso... mas não conseguia aceitar você longe de mim. Precisava de seu carinho, de seu sorriso... Eu queria cuidar de você meu Jaejoong, meu amor...

Foi um dia depois que você saiu do país, que Junsu me entregou sua ultima carta.

“Jung Yunho,
Talvez eu esteja sendo injusto com tudo que estou fazendo comigo, mas justo com o que estou fazendo com você.
Minha ida... eu não queria... eu não queria sair de seus braços.
Não foi culpa minha... eu tive que partir... tive que ir... eu...
...
Você não sabe quantos dias eu fiquei esperando você me telefonar me pedindo para voltar pra você e você não o fez...
Eu fiquei aliviado... Foi melhor assim.
Eu não ia explicar nada, mas não pude deixar isso dessa forma... Não podia te deixar assim e não agradecer por tudo que você fez por mim... os seus cuidados, a sua proteção... seu carinho, seus beijos e seus abraços que me faziam arrepiar.
Você foi e sempre será a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
Saiba que... eu ficarei te observando de longe... por mais que agora meus olhos não possam pousar sobre ti... você será o único que preencherá meus pensamentos e o meu coração.
Por que ainda sinto seu calor, ainda sinto seu cheiro... é tão vívido em minha pele... é tão bom.. mas tão angustiante ao mesmo tempo...
...
Estou indo para a Europa e talvez não volte mais. Ou talvez volte... um dia.
Quem sabe nesse mesmo dia, nossos caminhos não se cruzam novamente... não é!? ^^
...
eu te amo.
Jaejoong.”

Já havia se passado um ano desde que você se foi. Sabe, eu acho que consegui me enganar durante esse tempo todo.

Eu ainda te esperava.