Liberté escrita por Raissa


Capítulo 4
Capítulo III




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Capítulo III

Bruno

Sete horas o despertador tocou e o intenso barulho mais parecia uma escola de samba dentro da minha cabeça. Começando a sexta-feira na ressaca, maravilha! Abri os olhos lentamente me acostumando com a claridade e tentei não fazer movimentos bruscos com a cabeça para não piorar a situação, dá próxima vez Bruno você toma apenas dois chops e não dez.

Sentei na cama me alongando, cadê a Ana essas horas com aquele café forte? Tudo que eu mais preciso nesse momento. Levantei igual a uma múmia e me arrastei até o banheiro, liguei o chuveiro no gelado e sem pensar muito entrei embaixo d´água.

“- Re, saca? – Mandei para o grupo do whats, o Nélio e o Rasta com certeza entenderiam a mensagem”.

Vesti meu uniforme e enquanto preparava rapidamente o café e procurava um remédio ouvi meu celular apitar.

“- Saco! – Nélio respondeu. – Dor de cabeça do caralho!”

“- Até o barulho de mensagem parece uma bateria! – Rasta falou.”

“- O bom é trabalhar assim e ter que ouvir o Robson gritar toda vez que tem um pedido.”

“- Que merda hein Brunão! Mas e hoje, qual a boa? Não pensem que eu esqueci a aposta de vocês. – Nélio disse.”

“- Mano eu nem acordei direito, tenho um chefe mal humorado para ver e você vem me falar de social. – Rasta escreveu.”

“- Cala a boca Rasta, você pelo menos tem uma estagiaria gostosa.”

Ignorei a discussão dos dois no whats e tomei meu café e depois mandando para dentro um engov, precisava chegar em condições no restaurante, sexta-feira é um dia agitado.

Chequei o horário no relógio da cozinha e percebi que estava levemente atrasado. Começamos a sexta com o pé direito mesmo! Peguei minha bike na área de serviço e me apressei para sair de casa.

A grande sorte da minha vida é que em cerca de dez minutos eu já estou no meu trabalho. Entrei pela porta dos fundos e já fui para a cozinha. A rotina no restaurante era a mesma todos os dias, eu chegava ia direto para cozinha arrumá-la e separar e preparar os ingredientes.

– Bom dia Bruno! – Eliza me cumprimentou com um beijo estalado na bochecha.

– Dia. – Falei enquanto tomava o segundo copo d’água.

– A noite pelo visto foi boa. – Ela comentou dando uma risadinha. – Você está com uma cara.

– A noite foi boa, mas a manhã... – Lamentei colocando o copo na bancada. – Acordei de ressaca.

– Se tivesse me chamado, eu teria te controlado. – Eliza sussurrou próximo ao meu ouvido.

– Se eu tivesse te chamado não seria uma noite de homens como era o combinado. – Me afastei. Gosto quando a mulher parte para cima, mas eu já tinha deixado claro que não queria nada com ela, varias vezes, por sinal.

– Mal humorado. – Ela resmungou se afastando e eu apenas dei os ombros.

– Bom dia meus amores! – Robson entrou na cozinha com o bom humor matinal que só ele tem e a voz alta também.

– Robson você pode não gritar tanto hoje? – Perguntei enquanto colocava as mãos na cabeça.

– Parece que alguém bebeu mais do que devia. – Ele brincou e eu só concordei. – Pelo menos foi boa à noite?

– Foi boa, mas apenas uma noite de homens Robson, bebendo cerveja e falando das mulheres. – Respondi. – Não rolou nada do que você está pensando.

– Você já foi melhor nisso Bruno. – Comentou ele e eu gargalhei.

Os outros funcionários que trabalhavam no restaurante foram chegando, tanto os que ficavam na cozinha quanto os que ficavam no salão e poucos depois das oito cada um estava exercendo as duas funções.

Fatinha

Acordei com a claridade do sol batendo no meu rosto, virei para o outro lado para tentar dormir mais um pouco, mas não deu certo, meu corpo estava pronto para levantar e começar mais um dia.

Decidi seguir o conselho do Nando e hoje procuraria emprego nos bares e restaurantes, o importante é conseguir um emprego para me manter aqui mesmo que para isso eu tenha que lavar os pratos, já cozinhar eu não arrisco.

Depois do banho vesti uma roupa mais fresquinha, quase morri ontem de calça jeans e camisa, ainda não estou acostumada com o calor do Rio. Dessa vez optei por uma calça de tecido florida, uma regata branca e nos pés uma rasteira.

– Bom dia Michel! – Cumprimentei animada.

– Bom dia Fatinha. – Ele sorriu. – Quanto bom humor.

– É que hoje eu acordei decidida a arrumar um emprego. – Ri me apoiando no balcão.– Você conhece alguém que precise de uma loira linda e simpática? – Pisquei e as bochechas dele ficaram vermelhas.

– Se eu souber de alguém pode deixar que eu te aviso. – Ele comentou sem graça e eu dei risada.

– Você é ótimo Michel! Mas me diz, o misturama abre agora?

– Não, o Nando só abre o bar depois do meio dia.

Fiz uma careta, mas que beleza, agora onde eu vou tomar café? Senti minha barriga roncar e fiquei sem graça, precisava comer. Me despedi do Michel e fui atrás de uma padaria, se eu não estou muito louca lembro de ter passado perto de uma não muito longe do hostel.

Depois do café da manhã na padaria que eu sabia que existia, comecei a pensar no que eu faria para conseguir um emprego. Eu sei que havia prometido para mim e para o Nando que tentaria algo nos restaurantes e bares do bairro, mas uma loja de roupa seria a melhor opção, apesar de não as manhas da venda eu tenho a minha aparência e o meu bom gosto, o que para mim é 50% do problema resolvido.

– O que eu tenho a oferecer para um dono de restaurante ou bar? – Perguntei para mim mesma enquanto caminhava. – Ok, essa pergunta ficou um pouco estranha.

Ri levemente. Quem passasse ao meu lado nesse momento perguntaria de qual clinica psiquiátrica eu havia saído porque falar e rir sozinha no meio da rua não é atitude de pessoa normal.

Só que falando sério, eu não sei cozinhar e também não sei se sou muito boa carregando uma bandeja com vários copos e bebidas, tudo iria para o chão em menos de dois minutos e quando eu digo “tudo” estou me incluindo. Mas eu não estou no momento de poder escolher o que eu quero e o que eu não quero, na verdade, na atual situação o trabalho que vier é lucro.

Avistei um restaurante uma quadra a frente e respirei fundo criando coragem para adentrar o local e com a maior cara de “profunda conhecedora de restaurantes” pedir um emprego em qualquer coisa. Já disse lavo pratos muito bem?

– Certo, como diria Clarice Lispector, aponta para fé e rema.

Bruno

Meu turno finalmente estava chegando ao fim e junto com ele a minha ressaca, tão bem cultivada durante as horas do trabalho. Toda vez que o Robson tocava a campainha e gritava um novo pedido, eu tinha vontade de mata-lo.

Saí da cozinha e fui para o escritório do meu chefe, passei o dia inteiro pensando sobre aquela garota que tinha se mudado para o Rio e estava atrás de um emprego. Não custa nada tentar ajudar.

Bati na porta duas vezes e logo a voz do meu chefe me mandou entrar. O espaço do escritório era pequeno, mas bem decorado.

– Bruno! – Ele me saldou com as mãos para o ar, mas sem se levantar da cadeira. – Algum problema na cozinha?

– Não, problema algum. – Eu respondi me aproximando da mesa.

– Então a que devo a honra da sua visita?

– Eu gostaria de saber se tem alguma vaga de emprego aqui no restaurante. – Comecei falando e ele estranho o assunto. – Uma... ahn.. Amiga acabou de se mudar para o Rio e está procurando um emprego.

– E ela sabe cozinhar?

– Não. – Falei meio receoso, como eu vou saber algo assim se eu nem conheço a garota? – Eu tinha pensado na vaga da Luana, já que ela vai sair porque está para ganhar o filho.

– Sempre pensando em tudo não é Bruno? – Ele sorriu. – Mas é uma boa idéia assim me poupa de ficar procurando uma hostess.

– Isso significa? – Eu indaguei sorrindo.

– Significa que você pedir para sua amiga vir falar comigo amanhã. – Ele respondeu e meu sorrido aumento ainda mais.

– Muito obrigado Thales! Amanhã pela manhã ela vem falar com você.

Sai tão contente do escritório que quem trompasse comigo pensaria que eu tinha ganhado um aumento no salário. Não sei o que me deixou mais contente se foi a vaga de emprego ou a oportunidade de ver e conversar novamente com a loira do misturama.

Sai do restaurante e fui direto para casa, pensei em passar antes no bar para ver se encontrava a garota, mas precisava de um banho, de uma roupa limpa e do meu perfume. Subindo no elevador peguei meu celular e mandei um whats para os caras.

“- Adivinha quem vai falar com a loira gata de ontem?”

“- Como assim cara? – Nélio perguntou.”

“- Não perde uma né Bruno? – Rasta falou.”

“- Acho que consegui um emprego para ela no restaurante e preciso avisá-la.”

“- Aposto vinte reais que o Bruno leva a loira para conhecer o apê dele hoje mesmo. – Propôs Nélio.”

“- Quando se trata do Bruno não tem como aceitar essas opostas, só se você fizer muita questão de perder. – Rasta comentou tirando o corpo fora.”

“- Eu devia aceitar só para ganhar quarenta reais de graça!”

“- E porque não aceita?”

“- Preciso mesmo responder?”

“- Você não vale nada Brunão!”

Levar a gata loira para minha casa realmente não está nos meus planos, mas a gente nunca sabe quando a maré pode mudar. Se o papo render, aquela cerveja ajudar e rolar um clima por que não?

– Tenho que concordar com os caras eu não ando valendo nada. – Ri enquanto caminhava em direção ao banheiro.

Fatinha

– Calma Fatinha. – Era a quinta vez que o Nando falava isso para mim em menos de dez minutos.

– Mas e se eu não arranjar um emprego Nando, como eu fico? – Reclamei mais uma vez.

– Quem disse que você não vai arranjar? Fica calma é apenas o seu segundo dia no Rio. – Disse ele com toda a paciência do mundo.

– Eu sei, mas... – Tentei continuar, mas ele não deixou.

– Nada de “mas”. – Nando ficou sério. – Você vai conseguir um emprego, eu tenho certeza.

– Eu até pedi para lavar pratos Nando e mesmo assim o rapaz do restaurante disse que “não estamos interessados no seu serviço” que ódio que me deu! – Esbravejei e ele riu.

– Você pode muito mais do que lavar pratos não é garota? Você vai conseguir um emprego bacana em um lugar bacana e até com um chefe bacana. – Ele riu e eu também.

– Só se for aqui com você. – Eu brinquei. – Porque fora isso é pedir demais, já que eu não estou conseguindo nem um emprego chato, em um lugar chato e com um chefe chato.

– Dê tempo ao tempo. – Nando sorriu passando a mão na minha cabeça.

– Você não quer me dar um emprego aqui não? – Eu perguntei fazendo a maior cara de piedade. – Poxa, você está vendo meu desespero.

– Já disse que você pode mais e outra não tenho como te pagar um bom salário. – Explicou ele. – Mas prometo que se em um mês você não conseguir eu te arranjo um bico aqui.

– Sério? – Eu quase gritei de animação. – Nando você é o melhor! Nunca pensei que fosse conhecer alguém assim.

Nando apenas deu risada e foi atender outra mesa enquanto eu fiquei saboreando meu sanduiche, a sorte é que eu sou magra e tenho dificuldade para engordar porque comer sanduiche todos os dias não é a coisa mais saudável do universo.

– Licença. – Pediu um rapaz de voz grossa com as mãos apoiadas na cadeira.

– Pois... – Levantei o olhar para ver quem era e minha voz morreu antes que eu pudesse concluir a frase e recebi um sorriso caloroso.

– Posso te fazer companhia? – Ele indagou e eu apenas confirmei. O que raios está acontecendo comigo?

– Claro, fica a vontade. – Disse um pouco grave e ficando levemente vermelha. Pelo amor de Deus Fatinha, você não é mais criança.

– A gente já se conheceu, muito rápido infelizmente. – Ele frisou e eu sorri levemente. Ele estava me cantando? – Mas não custa me apresentar novamente, prazer Bruno.

– Fatinha. – Estendi a mão para ele que me pegando de surpresa depositou um beijo cálido sem tirar os olhos dos meus.

– Tudo bem com você? – Ele sorriu largamente se ajeitando na cadeira. Aquele rapaz devia ter algum problema.

– Sim e você?

– Melhor agora. – Ele riu e eu fiquei passada com a capacidade dele de ser tão galanteador. – O Nando me falou que você veio morar no Rio.

– Pois é, acabei de me mudar e no momento estou procurando um emprego. – Comentei sem conseguir esconder a tristeza. – Mas não sabia que isso era tão difícil.

– Você já trabalhou? – Ele perguntou.

Fiquei com vergonha de responder. Eu nunca havia trabalhado em toda a minha vida, no máximo alguns estágios durante a faculdade, mas trabalho de verdade de cumprir várias exigências, ter um chefe e salário final do mês, nunca! É aquela coisa, tem gente que não precisa trabalhar.

– Não, fiz alguns estágios, mas nada muito efetivo. – Respondi simplesmente.

– Então você está procurando alguma coisa na sua área? Você é formada em quê?

– Na verdade eu estou procurando qualquer coisa, eu só preciso trabalhar.

– Então seus problemas estão resolvidos! – Ele sorriu batendo a mão na mesa. – Ou quase resolvidos.

– Como assim? – Indaguei sem entender, aquele rapaz realmente era maluco.

– Acho que consegui um emprego para você. – Bruno respondeu e eu arregalei os olhos.

– Conseguiu um emprego para mim? Como assim? – Eu perguntei quase gritando de felicidade.

– No restaurante onde eu trabalho. – Ele disse e meu sorriu sumiu aos poucos.

– Espera um pouco Bruno, eu não sei cozinhar. – Comentei.

– Quem toma conta da cozinha sou eu, gata. – Bruno piscou e eu dei risada. – Nossa hostess vai ter que sair então tem uma vaga no restaurante e o Nando comentou comigo que tinha alguém que precisava de emprego então foi igual juntar um mais um.

Minha vontade é de gritar, pular, me descabelar! Uma oportunidade de emprego bem na minha frente, depois de tantos “qualquer coisa eu te ligo” ou “não estamos precisando de ninguém no momento” finalmente me aparece uma vaga concreta! Eu não estou conseguindo acreditar!

– Eu não acredito. – Ri passando a mão nos cabelos. – Isso é sério Bruno?

– Tão sério que meu chefe quer conversar com você amanhã.

– Acho que eu vou explodir de tanta felicidade! – Quase gritei e ele deu risada.

Alguns segundos depois do meu momento de euforia fiquei séria com os pensamentos que invadiram minha mente e o Bruno percebeu minha mudança rápida de humor.

– O que foi? – Bruno indagou e eu mordi os lábios em dúvida.

– Por que está me ajudando?

– As pessoas não podem ajudar as outras sem querer nada em troca?

– Você tem que concordar comigo que hoje em dia é muito difícil alguém pensar assim, a maioria das pessoas não ajuda as outras de graça. – Comentei dando os ombros.

– Sou a minoria então, mas se você acha mais justo pagar algo em troca. – Ele sorriu de lado se inclinando sobre a mesa e me olhando diretamente nos olhos. – Eu aceito uma cerveja.

Só percebi que tinha prendido a respiração quando suspirei assim que o Bruno concluiu a frase, jurava que ele faria um pedido no mínimo constrangedor e com certeza isso estava escrito na minha cara.

Me ajeitei na cadeira tentando parecer normal. Se eu estava aqui para começar uma nova vida e ser do jeito que eu realmente sou então nada de ficar intimidada e muito menos com vergonha das atitudes dos outros, principalmente se for um cara gato e sexy.

– Nando! – Gritei para ele que estava atrás do balcão, mas sem tirar os olhos do moreno em minha frente. – Me vê duas cervejas bem geladas!

Continua...


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Notas finais do capítulo

Oii geeeente!

Quem é viva sempre aparece né? Devo um pedido imenso de desculpas para vocês pela minha imensa demora com o capítulo, então me desculpem mil vezes! Vou fazer de tudo para não demorar tanto assim com o próximo.

O que acharam do capítulo? Eu gostei de escrevê-lo! A Fatinha é uma personagem um pouco complexa na minha história devido ao passado dela, mas não vai deixar de ser a Fatinha original hahahah quem ai tá curiosa para saber o que ela esconde? E o Bruno é bem diferente do que estávamos acostumadas, mas acho que vocês irão gostar! Os capítulos vão desenrolar a partir do próximo.

Quero agradecer as lindas que comentaram! Muito obrigada mesmo queridas, eu fiquei muito feliz :DD e se você não comentou, comenta ai! Não dói nada e só me ajuda.

Um beijo e até a próxima!