Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 53
Capítulo 53: Filha de Hécate




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Acordei com um longo susto ao ouvir o barulho de vidro sendo estilhaçado. O treinamento no acampamento meio-sangue surtiu efeito, já era parte de mim, na mesma hora que abri os olhos já havia pulado da cama e encontrava-me em posição de combate. Punho esquerdo e direito cerrados e com a base de box sem aberturas. Quando não se tinha uma arma ao alcance nós mesmos podíamos ser as armas; essa era uma das regras de Clarisse, e era uma da qual eu concordava.

Havia passado um verão inteiro aprendendo a como me defender mesmo em desvantagem, Clarisse me ensinou isso.

Ao ver o quarto vazio me senti aliviada. Eu estava suando e minha respiração descompassada fazia meu peito subir e descer com velocidade. Meu pescoço suado fazia com que o cabelo grudasse nas têmporas e saísse embolando em cascatas longas pelos ombros caindo até a barriga.

Levei as duas mãos ao cabelo e o prendi em um rabo de cavalo rápido usando uma fita de amarrar papel de presente de aniversário. No meu pulso a pulseira de cisne fazia com que eu visse meu reflexo brevemente sem manter nitidez. O olho de safira azul brilhava contra a luz lunar que entrava pela janela.

Minha mente se alarmou rapidamente, eu não havia sonhado com vidro quebrando, ouvi gritos vindo do andar de baixo, moveis sendo arrastados provavelmente.

–Eles chegarão aqui logo. –A voz fina cortou meus ouvidos como se uma faca tivesse penetrado meu crânio.

Meu coração voltou a disparar e eu saltei por cima da cama rolando em um mortal e caindo de joelhos do outro lado. Olhei para onde eu estava e fitei as janelas que bruxuleavam com a brisa salgada da praia.

A mulher cega surgiu das sombras. O bastão branco tateando o chão levemente. Caminhou sem nenhuma preocupação até a janela e recuou rapidamente.

–Não há tempo para brincar. –Seu olhar recaiu sobre mim, mesmo com os óculos escuros tapando seus olhos era fácil imaginar aqueles olhos brancos sem vida me observando. –Vim aqui para buscar um objeto.

–Quem é você?

–Chris Salmão. A filha de Hécate.

Filha de Hécate?

Houve uma pausa serena e dramática no ar.

A sacerdotisa.. falou sobre o filho da magia.

Fui até a cabeceira da cama e saquei a minha bolsa que estava pendurada ali. Vasculhei todo o conteúdo ali dentro até achar a pedra vermelha que brilhou intensamente na mesma hora que fechei a mão envolta.

Saquei o que quer que fosse aquilo. Segurava-a pelo cabo de prata que se estendia em formato de uma serpente de olhos brilhantes, ela rastejava levemente pela superfície da pedra rubra.

Entreguei o objeto na mão da Chris. A mesma deixou que um sorriso pálido surgisse no rosto, abrasando o objeto com as mãos.

–Sabe o que é isso, garota? –Curvou-se um pouco mais para perto com o sorriso desconcertante de dar medo.

–N-não.

–É uma varinha de metal demoníaco. –Ela acariciava a serpente levemente, o réptil se contorcia entrelaçando-se na ponta do dedo da mulher.

–Como assim varinha? –Estava sentindo um mau pressentimento quanto aquilo.

–Um catalizador de energia destrutiva. –Ela ficou ereta distanciando o rosto do meu e a varinha brilhou mais vermelha em sua mão, agora sua luz parecia mais medonha, mais apavorante, mais feroz, mais poderosa e assassina.

–Catalizador? –Tentava vasculhar uma abertura no corpo da mulher, mas como ela era cega, poderia não perceber se eu atacasse, mesmo assim, sentia que ela estava mais perigosa, mais poderosa, e sendo cega ou não, fazia-me teme-la.

–Bruxas, sacerdotisas, feiticeiras, todos os rótulos que distinguem a magia são interligados pela deusa Hécate. –Chris limpou a garganta e engoliu em seco. –Os homens sempre tentaram manter as mulheres sem intelecto, pois todas nós carregamos um lado mágico, um lado poderoso que qualquer homem com um pingo de inteligência temeria.

–Eu não entendo, o que quer dizer com isso?

–O catolicismo tentou diminuir a mulher falando sobre ela ter trazido o pecado a este mundo, as mulheres sábias, que conheciam o seu poder foram rotuladas como bruxas e caçadas já que resistiram. –Seu rosto sorridente tornou-se uma face séria. A boca entreaberta movia-se quieta. –As bruxas por si só não são tão destrutivas. Por isso inventaram as famosas varinhas, sua força destrutiva é catalisada e aumentada, fazendo com que sua capacidade se expanda.

Algo repousou a porta, parecia se apoiar do lado de fora, observei nos moveis e vi a chave jogada sobre a prateleira do abajur ao lado da cama. Então a porta estava trancada, seja o que for do outro lado insistia tentando abrir.

Meu coração gelou, por um momento senti como se gelo corresse por minhas veias e rapidamente voltar a ferver ao ponto de parecer que fogo puro intensificava meus músculos.

–Eu sou Chris Salmão. Mother de Long Island. –Ela rapidamente tirou os óculos e pude ver seus olhos que agora não eram mais brancos leitosos como os de um cego.

Um olho era verde com manchas azuis por todo o redor da pupila que era preta e fina verticalmente igual a de um gato. O olho direito era castanho claro com manchas azuis reluzentes iguais ao outro olho, a pupila era normalmente humana, redonda e preta.

–Como isso é possível? –Meus olhos se arregalaram fitando a mulher.

–A varinha não catalisa somente a força destrutiva, amplia também meus outros dons.

–É um milagre...

–É um milagre temporário, ao qual gasto muito para usar. –Fechou o olho de gato e fitou-me apenas com o olho humano castanho manchado com pintas azuis. –Você irá percorrer todo o inferno para poder encontrar o paraíso.

–Ir para o submundo? –Minha voz se elevou a dois tons a cima quase me deixando rouca.

–Não ao submundo Grego, ao qual a saída é negociável, irá para os aposentos de Lúcifer. Terá de passar por todo o inferno para chegar ao deserto. Por fim encontrar a arca que te levará para as portas do céu.

A porta foi arrombada, tomei um susto a ponto de ter gritado igual a uma menininha. Rapidamente apertei o olho de safira azul do cisne no meu pulso e um chicote de fogo se formou.

Fitei o arrombador. Eram três seres estranhos. A pele em decomposição exibindo bolor de carne pútrida, vermes que se aproveitavam do corpo morto para comer o restante da carne. Observei direito e consegui observar que eram dois adolescentes e um idoso. Literalmente Zumbis.

A única coisa que pude fazer foi assistir Chris Salmão erguer a varinha vermelha apontando para os três corpos que ainda caminhavam.

–Este é um dos motivos pelo qual queimamos as nossas irmãs depois da morte. –Um gracioso movimento de pulso fez a varinha girar e uma chama azul gritou irrompendo no ar.

Todo o quarto deveria estar sendo queimado, mas apenas os três zumbis é que estavam reduzidos a pó.

Com atraso olhei para a janela longe do batente espiando noite afora por cima do ombro. Lá estava uma multidão de 15 a 20 mortos vivos que tentavam adentrar a casa. Alguns deles seguravam facões, marchados, homens, mulheres, crianças e até mesmo corpos de bebês.

Uma semi caveira lazarenta jogou um facão de cozinha na janela, a lâmina brilhante adentrou e ia acertar Chris pelas costas.

Com um reflexo felino levantei o braço fazendo uma onda luminosa com o chicote, tudo que se ouviu foi o estalar flamejante e o barulho de metal contra metal. O facão caiu sobre o chão refletindo letalmente a luz lunar que adentrava a casa por suas aberturas.

A filha de Hécate percebendo com atraso o que havia acontecido sorriu lentamente, com um rápido piscar a cegueira voltou a tomar seus olhos estranhos e irreais.

–Filhos de Afrodite são como todo outro gladiador, mas com a diferença de serem belos em todos os seus movimentos. –Mais veloz do que meus olhos podiam acompanhar, Chris sacou uma agulha tão fina quanto um fio de seda.

Cravou-o superficialmente no meu dedo indicador furando a pele, sangue brotou lentamente e ela recolheu a agulha levando-a a boca provando o líquido escarlate em quanto eu soltava um grito de surpresa e uma dor tão longínqua quando uma mordida de formiga.

–Tem potencial demais no seu sangue. Quando esta loucura acabar venha me visitar na mansão solitária de Long Island. Pergunte mais a Ariane, ela pode te guiar. Um conselho, quando ficar difícil criar seu filho, venha me ver, a hora terá chegado.

Minha mente estava anestesiada, a minha visão ondulou a medida que uma neblina cinza borbulhou no quarto e engoliu lentamente A filha da magia.

Em uma fração de segundos não estava mais lá, porém, os “zumbis” continuavam a adentrar, já ouvia passos lentos e bizarros vindos das escadas. Eles estavam vindo em direção ao meu quarto.

–Gabbe, onde esta você? –Perguntei ao réquiem vão a minha frente com o intuito de que a anja chegasse deslumbrante como sempre, mas isso não aconteceu.

–Phi! –Gritou uma voz feminina do primeiro andar. –Vá passa o sótão, saia pela janela oval e fique no telhado! –Ordenou impetuosa e harmônica.

Corri para fora do quarto já preparando a fustigada para qualquer ser que se pusesse no caminho entre mim e o sótão.


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Notas finais do capítulo

Vou explicar sobre os tais "zumbis" direitinho no próximo cap, não são zumbis de fato, só falei isso pra vcs não pensarem que tô colocando um apocalipse zumbi, vão entender quando explicar melhor.



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