Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 1
Capítulo 1: Estabilizando a vida


Notas iniciais do capítulo

Primeiro post. Se gostarem deixem coments que eu continuo os posts.



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Faz pouco mais de dois anos que estou morando em Nova Iorque.

Meu pai sempre fez o melhor por mim, nos mudamos muito, dês dos oito anos minha vida é o inferno de mudanças repentinas, vivendo em cada ponto dos EUA, já vivi em New York, Alabama, Arizona, Califórnia, Califórnia do Norte e do Sul, Colorado, Connecticut, Delaware, Flórida, Geórgia, Kansas e Nebraska.

Nenhum lugar se encaixava na vida do meu pai, e nem na minha. Califórnia foi o pior lugar, meu pai nunca me dizia o motivo para tantas mudanças, tanta correria, nunca me explicava o motivo de praticamente me manter em “cativeiro”. Sempre dizia: "Nada de namorados, amigos, sua vida é casa, escola, escola, casa; nada a mais, nada a menos; se quiser um lugar só seu então feche a porta do seu quarto".

Porém, agora em meus 15 anos, minha vida pareceu aliviar-se um pouco. Retornamos a Nova Iorque.

Atualmente estamos morando em um apertado apartamento na Times Square. Não tinha como ser mais caótica, movimentada, nunca para e o alvoroço estressante que não me deixa dormir direito.

–“Amanhã é um novo dia”- Eu falava comigo mesma bufando de frustração em frente ao espelho em quanto tentava ajeitar uma maldita mecha de cabelo negro que insistia em ficar fora do rabo de cavalo. –“Novo dia, nova vida. Nova escola, tudo novo e tudo tão velho” –Larguei a mecha de cabelo com raiva, a movimentação dos carros ecoavam por todo o quarto e me deixavam com enxaqueca.

Ando batendo o pé pelo minúsculo quarto branco ovo, me atiro na cama de bruços enterrando a cabeça no travesseiro branco.

Prossigo com a maior batalha da minha vida, deixar meu cabelo sob controle pelo menos uma vez na vida. Passo levemente a mão pelo meu pescoço sentindo o pequeno pingente em formato da flor de uma papoula.

Meu pai havia me dito que foi dado a mim pela minha mãe, eu nunca a vi, nem mesmo sei o nome dela. Sentia raiva, ela nos abandonara, nos deixara só.

–Eu te odeio! –Gritei fechando a mão ao redor da papoula de bronze na esperança de que ela pudesse ouvir. Era frustrante, nenhum som, nenhum ruído, aquelas palavras... minhas palavras... elas ecoavam pelos meus ouvidos como se pesassem.

Não, ela não me ouviria, nem mesmo sei se ela está viva. Não faz diferença, não preciso do desgosto de saber sobre ela.

A porta do meu pequeno quarto se abriu, o ranger daquela porta verde musgo que não combinava com nenhuma única cor do quarto. Meu pai pôs a cabeça pra dentro do quarto com um prato na mão, duas fatias de pizza uma em cima da outra, pacotinhos de catchup e maionese; na outra mão ele segurava uma latinha de coca-cola.

Meu pai, um homem que acabara de fazer 31 anos, sem emprego fixo, cabelo castanhos sempre desarrumados que já formavam alguns cachinhos perfeitos nas pontas, pele clara metálica, uma linha de expressão fraca na testa; seus olhos eram num tom castanho escuro que quase não se diferenciava se era castanho ou negro. Mãos calejadas e grossas. O jeans que ele sempre usava era preto desgastado um tanto que justo no corpo dele, camisa polo branca realçando o tórax.

Bateu de cintura com a porta fazendo-a abrir em quanto ele deslizava com os pés descalços para perto da cama. Sentei-me e recostei as costas contra o batente da janela. O Black Out da janela roçou contra minha nuca em quanto uma brisa fria da noite entrava por de baixo da cortina.

–A pizza chegou. –Ele deu um sorriso alegre, eu estava a ponto de chorar, me recompus e ri junto a ele.

Logo sentou-se ao meu lado na cama fazendo-a soltar um pequeno ranger. Depositou o prato entre mim e ele, sua mão agarrou um pacotinho de catchup e o despejou por cima das duas fatias de pizza.

Peguei a de bacon com catupiry. O estalo da lata de coca-cola sendo aberta ressoou quase imperceptível por entre algumas buzinas de carros lá fora.

–Tá pronta para amanhã? –Ele parecia preocupado, eu sei que ele sempre teve dificuldade com o trabalho, por isso sempre esperava o melhor de mim. Eu era forte por ele, e ele era forte por mim. Pelo menos isso eu sabia.

–Sim, já separei tudo, mas ainda falta comprar meu livro de física. –Reconcertei minha postura me inclinando para frente e cruzando as pernas em cima da cama, abocanhei um pedaço da pizza.

Papai deu uma risada e limpou o canto da minha boca com o dedão.

–Amanhã de tarde estarei com o seu livro, senhorita bigode de catchup. –Ele voltou sua atenção para a outra fatia de pizza, passou para mim a latinha de coca-cola e quase levou a metade da pizza com uma abocanhada só.

–Voltará a trabalhar como modelo aqui? –Dei uma golada na coca-cola e funguei sentindo o gás arder a garganta.

–Sim, Srta Kelly abriu uma vaga para mim mais uma vez, você vai para a Academia Yancy. –Ele suspirou tentando encontrar palavras. –Nada de namoro, amigos, não se apegue a... –Eu o interrompi.

A Academia Yancy era um colégio para alunos "especiais", a vista do meu pai eu era "especial". Crianças problemáticas que não conseguem ficar quietas, ou que aprontam demais em escolas comuns. Eu nunca havia dado trabalho para o meu pai, mas ele insistiu em me colocar na escola, por eu ter alguns problemas de temperamento.

–Eu sei, eu sei –Levantei os braços como se pedisse para ele parar, mordi a pizza que já estava quase acabando e passei a lata de refrigerante para ele. –Eu me lembro das regras.

–Ótimo, essa é minha garota. –Ele se levantou levando o prato vazio e a latinha de refrigerante pela metade. –Ah, mande meus cumprimentos ao Sr. Nicoll. Se não fosse pelo amigo do vovô você não... –O interrompi de novo.

–Pai –Fitei-o com uma cara perfeita de paisagem. –Eu mando lembranças, só não sei se vou gostar dele. Latim não é minha língua. –Suspiro com raiva. –Pelo menos na escola tem botânica.

–Certo, certo, boa noite. –Ele foi fechando a porta lentamente, desligou a luz com a lata de refrigerante e pôs a cabeça para dentro de novo. –Nada de namorados! –Joguei um travesseiro na porta que ia pegar na cara dele, porém, ele foi mais rápido e saiu correndo porta a fora.

Desabei na cama, não conseguia dormir com toda aquela barulheira lá fora. Me levanto e caminho pelo quarto, reviro minha bolsa floral procurando algum remédio que me ajudasse a dormir ou então um abafador de som.

Não encontro nada, pego meu travesseiro no chão e salto pra cama colocando os lençóis na cabeça para abafarem o som.

Depois de 1h lutando contra a insônia, consigo dormir mas aquela sensação de agonia não sai da cabeça.

Lá estava eu, parada em alguma calçada de frente a um prédio com a entrada vermelho tomate, mas a minha visão estava enevoada, como se neblina cinza quase negra embaçasse minha visão. Adolescentes corriam de um edifício em chamas, tossindo, espirrando, vomitando, alguns estavam até mesmo tirando a roupa que pegava fogo. Uma garota loira surgiu pela porta, ela segurava uma faca da mesma tonalidade que meu pingente, na outra mão um boné dos Yankess.

Em uma fração de segundo os olhos dela pousaram nos meus, olhos cinzas como uma tempestade no atlântico; eu poderia sustentar seu olhar por anos e continuaria a observa-la da mesma maneira que a um segundo atrás. Carregava um mochila marrom tijolo nas costas; a garota saltou dando um mortal nas escadas do edifício vermelho caindo direto no asfalto em frente a placa do jardim. “Yancy Academy”.

Aquela era a minha nova escola, estava pegando fogo...

Em seguida uma garota com cabelos escuros e repicados sai correndo com uma lança que faiscava na lamina. Ela salta sobre o gramado caindo deitada, rolando o corpo dando voltas para apagar as chamas em sua calça camuflada.

–Annabeth! Em guarda! –A garota no chão gritou dando um salto do chão igual a aqueles filmes asiáticos de luta. Ela derruba sua mochila ao chão e do nada surge um escudo de bronze em seu braço esquerdo.

–Clarisse, cadê a novata? –A menina loira olhava ao redor mantendo uma postura de combate com a faca que eu desconhecia, porém, sabia nas entranhas que aquilo me era familiar. É como uma memória que você não consegue se lembrar.

–Está com aquele sátiro, tire a garota daqui, eu mesma cuido dessa coisa feiosa. –A tal Clarisse urrou e correu para dentro do edifício, Annabeth se recompôs e correu até o pequeno matagal de pinheiros ao lado da escola e assim sumiu por entre as arvores.

O despertador tocou sem cessar, acordei ensopada de suor.

–Mais que diabos... –Esfreguei os olhos e olhei para o quarto.

Joguei o lençol pela cama, peguei minha camisa polo preta com desenhos florais que se destacavam por serem mais escuros do que o tecido negro da camisa, meu jeans surrado cinza com rasgos decorativos nos joelhos e minha lingerie vermelha.

Corri para o banheiro, tranquei a porta e parei a frente do espelho.

–Pesadelo horrível... –Meus cabelos pareciam um furacão, literalmente, mais em pé do que cabo de vassoura. –Droga de cabelo maldito.

Tiro minhas roupas e entro no boxe, a essa hora meu pai já devia estar no trabalho.

Relaxei no banho quente e quando finalmente acabei começava mais uma vez minha batalha. Hora de enxugar o cabelo. Olhei o relógio e ainda marcavam 7:10, as aulas começavam as 9:30, então eu tinha tempo.

Me vesti e fui pegar o secador, gastei uma hora só para enxugar o cabelo, aquela mecha rebelde continuava se soltando do meu rabo de cavalo, então deixei-a cair sobre a testa descendo pela lateral do meu olho esquerdo. Ficou até bom esse visual, quem sabe assim esse cabelo deixasse de me atrapalhar.

–Hora da aula. –Pego o meu fichário, meu caderno, minha bolsa pequena de maquiagem só por precaução.

Minha bota incomodava um pouco pois não tinha à amaciado; segui pela sala até a porta.

Depois de pegar o elevador e chegar em um dos pontos de ônibus da Broadway, minha garganta já ficava seca, eu tinha o pressentimento de que algo estava errado, de alguém estar me observando.

O ônibus segue até eu me perder naquele mar de arranha-céus, quando menos espero, já estou em meu ponto de partida e ainda eram 9:00h.

Caminho pelo longo jardim ao redor daquele edifício vermelho tomate. Na placa de entrada lia-se Yancy Academy.

–“É sua hora no inferno, Phoebe” –Suspiro com frustração.

Sigo para as portas duplas de vidro escuro, o alvoroço lá dentro já dava para perceber o movimento dos alunos que ainda não entraram nas salas. Agora eram 9:20, abri as portas duplas e por fim eu havia realmente entrado no inferno que era a escola.


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Notas finais do capítulo

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