Wake Me Up escrita por Rhyenx Seiryu


Capítulo 42
Quando o Tempo Não é o Bastante


Notas iniciais do capítulo

Olá,
Eu sei, ninguém esperava me ver por aqui, afinal, eu disse que ia responder aos reviews e que só voltaria quando terminasse, mas eu não resisti... Como fim de ano não tem absolutamente nada para se fazer no meu trabalho, eu estou usando todo o tempo que passo lá para escrever novos capítulos, já que o Nyah não abre por lá e eu não tenho como responder aos reviews. Sendo assim, consegui terminar o capítulo 42 e realmente não consegui esperar para postar ^^
Vim aqui mesmo só para postá-lo e já vou voltar para os reviews, pois consegui responder há 5 capítulos, mas ainda faltam 11.
Boa leitura.



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A primeira coisa que Rebecca pode dizer sobre Briana Hamilton é que ela era uma mulher elegante. Mesmo ao entrar no saguão frio e estéreo de um hospital, quase às onze da noite, a mãe de Aaron ainda estava tão bonita e bem-vestida quanto qualquer uma dessas modelos de catálogo de lojas de grife.

Briana tinha cabelos castanhos escuros de tamanho médio e cortados em um estilo degradê. Seus olhos eram verdes, do mesmo tom floresta que os olhos de Christopher e Rebecca podia notar muitas outras semelhanças entre os dois, como o formato do rosto e do nariz e o ângulo do arco das sobrancelhas. Christopher tinha herdado muitas características da mãe, mas Aaron, por sua vez, parecia ter herdado quase todos os traços do pai, desde o tom dourado dos cabelos loiros até os olhos verdes claros e brilhantes.

Era fato que, ao passar pela porta de entrada do hospital, trajando um vestido azul-marinho, adornado com um belo suéter preto de caxemira e scarpins da mesma cor, Briana Hamilton tinha chamado a atenção de muitas pessoas por seu corpo bem-feito e sua postura imponente, apesar do rosto abatido e da visível preocupação em seus olhos, mas o que realmente despertou a curiosidade de Rebecca não foi a elegância da mulher ou sua jovialidade, apesar de já ter passado da casa dos quarenta anos. O que realmente chamou sua atenção foi o rapaz, vestido quase inteiramente de preto e usando botas e uma jaqueta de couro, típica de motoqueiros, que entrou no hospital logo depois dela.

Ele era alto. Cerca de dez centímetros mais alto que Aaron, apesar de os dois compartilharem o mesmo tipo de corpo atlético e forte. Seus cabelos eram negros e cumpridos, chegando à altura dos lábios e seus olhos eram de um azul tão claro que pareciam acinzentados. Seu rosto possuía traços fortes e bem pronunciados, combinados com lábios cheios onde repousava um pequeno piercing de argola, adornado com um cristal brilhante quase imperceptível. Era um belo espécime masculino, Rebecca percebeu, mas também era um tanto assustador com sua expressão dura e postura rígida e foi exatamente para ele que a atenção de Aaron também se voltou.

– O que está fazendo aqui? – ele perguntou cerrando os punhos com uma fúria que Rebecca nunca o tinha visto exprimir antes, apesar de já tê-lo visto bastante irritado uma ou duas vezes desde que o conhecera.

Os olhos azuis do rapaz se fixaram nele, mas, ao contrário de Aaron, sua expressão nada revelava.

– Eu vim porque a sua mãe me pediu. – ele respondeu, simplesmente e aquilo pareceu deixar Aaron ainda mais furioso.

– Você não deveria estar aqui. – ele enunciou, praticamente fuzilando o garoto com seus olhos verdes – Dê meia volta e vá embora.

Um leve sorrisinho de escárnio retorceu os lábios do garoto.

– Não sabia que você tinha comprado o hospital, A.J..

Aaron avançou para cima dele tão rápido que Rebecca quase fechou os olhos à espera do barulho de um soco, mas a mãe de Aaron foi mais rápida e se postou entre eles, erguendo as mãos para manter o filho à distância.

– Vocês não vão brigar dentro de um hospital. – ela disse com seriedade – Não é hora e nem lugar para isso.

Aaron recuou um passo, ainda encarando o garoto como se pudesse matá-lo com o poder da mente e este, por sua vez, apenas relanceou os olhos azuis-claros em sua direção e, depois, se voltou para a mãe de Aaron.

– Vou procurar uma máquina de café. – avisou e, então, seguiu pelo corredor sem olhar para trás.

Os olhos de Aaron se fixaram na mãe no instante em que o outro desapareceu pelo corredor.

– É sério? – ele questionou irritado – Depois de tudo o que ele fez, você simplesmente o traz até aqui?

Sua mãe soltou um suspiro cansado.

– Seu telefonema me deixou nervosa, Aaron. Eu não tinha condições de dirigir até aqui sozinha e o Erick está em um evento em Cingapura.

– Viesse de ônibus. – Aaron retrucou de maneira fria e os lábios de sua mãe se franziram em desgosto.

– Eu pensei nisso. – ela admitiu – O problema era que o próximo ônibus para Oxford só sairia do terminal amanhã de manhã e eu não podia esperar todo esse tempo. Também não consegui encontrar nenhum taxista disposto a fazer uma viagem até aqui a essa hora da noite.

Aaron pareceu compreendê-la, mas, ainda assim, não deu o braço a torcer.

– O Joseph? – ele insistiu, parecendo verdadeiramente desapontado e enraivecido – Dentre todas as pessoas no mundo você tinha que vir com o Joseph?

– Aaron, sei que você e ele têm suas desavenças…

– Desavenças? É assim que você chama o fato de ele ter assassinado o meu cachorro na minha frente?

– Sei que aquilo foi horrível. – sua mãe refutou, visivelmente cansada – Não tiro a sua razão de estar enraivecido comigo e com ele, mas isso foi há sete anos, Aaron.

– E o meu pai morreu há dezessete. – Aaron a encarou com seriedade – Acha que tem doído menos desde então, mãe?

Sua mãe o encarou por um instante, seus olhos refletindo toda a tristeza que ela via nos olhos do filho mais velho e, então, ela passou os dedos pelo cabelo castanho escuro e respirou fundo.

– O Joseph vai embora amanhã. – disse como que para encerrar o assunto – Ele deve ir para algum hotel daqui a pouco, então, tente suportá-lo apenas por algumas horas, está bem?

Aaron não respondeu, nem assentiu, mas sua mãe deve ter entendido seu silêncio como um acordo, porque ajeitou melhor seu suéter de caxemira no corpo e se aproximou um pouco mais dele.

– Como está o seu irmão?

O olhar de Aaron vagou pelo saguão do hospital, encontrando os olhos castanhos de Rebecca, que estava sentada ali, com Margareth, há algum tempo e, depois, voltou ao rosto da mãe.

– Eu não sei. – disse com um quê de tristeza, que foi muito mal disfarçado por sua expressão de arrogância – Parece que os médicos já o examinaram, mas nenhum deles me deu qualquer informação. Acho que estavam esperando para falar com você.

Sua mãe assentiu levemente, como se estivesse pensando a respeito, mas antes que ela pudesse dar um só passo em direção ao balcão de informações do saguão, Aaron a segurou pelo pulso e a fez olhar para ele.

– É grave, não é? O que o Christopher tem. – ele perguntou com segurança – É por isso que não quiseram me dizer nada, certo? Porque é muito ruim e porque você, provavelmente, já sabe do que se trata?

Sua mãe engoliu em seco, mas não quis responder.

– Vou ver se consigo falar com um dos médicos. – ela disse apenas – Falarei sobre isso com você depois. – então, soltou-se das mãos dele e se dirigiu ao balcão de informações do hospital.

Com ela longe, Rebecca finalmente se sentiu segura para se levantar de seu assento e ir ao encontro de Aaron. Preferiu se manter a distância porque sabia do relacionamento conturbado que ele tinha com a mãe e não queria se intrometer em seu primeiro encontro, após tantos anos afastados. O que presenciou, entretanto, não a surpreendeu de todo. Realmente tinha imaginado que aquele não seria um encontro entre mãe e filho repleto de abraços emocionados e pedidos desculpas, mas de fato, havia sido muito mais tenso do que ela suspeitara, principalmente por causa da presença de Joseph.

– Você está bem? – Rebecca sabia que aquela era uma pergunta idiota, porque depois de tudo o que havia acontecido era óbvio que Aaron não estava bem, mas, ainda assim, ele teve que perguntar.

– Acho que vou ficar algum dia. – ele a abraçou como se buscasse algum consolo em meio a tudo àquilo.

Rebecca retribuiu ao seu abraço, bastante ciente dos olhinhos curiosos de Margareth em suas costas e depositou um breve selinho em seus lábios.

– Acha mesmo que a sua mãe sabe o que o Christopher tem?

– Acho. – Aaron assentiu – Eu só espero que ela me conte antes que a gente acabe brigando de novo.

– Vocês não deveriam brigar assim. – Rebecca segurou o rosto dele entre as mãos – Vocês tiveram seus momentos ruins, mas ela ainda é sua mãe. Devia dar uma chance a ela.

– Eu dei a ela dezessete anos de chances, Bee. Acho que foi mais que suficiente.

– Então, você nunca vai perdoá-la?

– Pelo quê, exatamente? – Aaron a encarou, mas apesar de estar sério não havia raiva ou qualquer sinal de impaciência em seus olhos – Por ter me afastado do meu pai, quando era óbvio que ele precisava de nós? Por ter se casado com o Erick e deixado que ele me espancasse sempre que quisesse? Ou por ter desistido de mim há sete anos? Talvez eu devesse perdoá-la por nunca ter se esforçado, pelo menos um pouco, para ficar ao meu lado ou, então, por saber que o meu irmão estava doente e por não ter me contado antes. São tantas coisas pelas quais eu preciso perdoá-la que eu nem sei por qual começo, Bee. Sinceramente, eu também nem sei se consigo.

– Você pode tentar. – Rebecca o aconselhou, entristecida por ver toda a mágoa que Aaron carregava dentro de si – Não precisa se forçar a nada, só tente. Senão pela sua mãe, pelo menos pelo seu irmão. Quando o Christopher acordar ele vai ficar contente por saber que vocês, pelo menos, tentaram se resolver enquanto ele estava doente.

– Eu posso pensar a respeito. – Aaron concordou, mas Rebecca não sentiu qualquer firmeza em suas palavras. Estava na cara que pensar a respeito era a última coisa que ele faria em se tratando do relacionamento que tinha com a mãe.

Quase no mesmo instante em que um dos médicos de plantão conduziu a mãe de Aaron para uma conversa particular no consultório, Joseph voltou de sua busca por uma máquina de café com um grande copo de capuccino nas mãos.

Ele se sentou nos bancos mais afastados do balcão, ganhando um olhar curioso de Margareth, ao qual nem se deu o trabalho de retribuir e a tensão que, aos poucos, tinha começado a diminuir no corpo de Aaron ressurgiu com força total, obrigando Rebecca estreitar um pouco mais os braços ao redor do corpo dele, para evitar que outra discussão começasse.

– Sua mãe disse que ele vai embora em breve. – ela fez questão de lembrá-lo – Tente se acalmar um pouco.

– Não consigo ficar calmo olhando para ele.

– Então, finja que ele não está aqui. Haja como se ele fosse invisível.

– Ele não é.

– Por Deus, Aaron. Eu sei que você o odeia, mas isso ainda é um hospital. Você quer mesmo começar uma briga aqui e terminar a noite na cadeia por perturbação da ordem? Por favor.

Aaron relaxou um pouco diante de suas palavras, mas ainda parecia irritado o suficiente para voar no pescoço de Joseph a qualquer instante e Rebecca achou melhor não soltá-lo. Poderia até parecer a namorada mais grudenta do mundo aos olhos de todos os funcionários de plantão, mas era melhor isso que correr o risco de deixar Aaron livre por um segundo e precisar separá-lo de Joseph depois.

Os minutos pareceram se arrastar enquanto Aaron, Rebecca e, até mesmo, Margareth aguardavam por alguma informação e, quando a mãe de Aaron finalmente terminou sua conversa com o médico e voltou para o saguão, a expressão no rosto dela era muito indefinida para que Rebecca conseguisse perceber se portava boas ou más notícias.

– O Christopher está sedado, mas o estado dele é estável. – ela anunciou e Rebecca sentiu um suspiro de alívio inundar o seu peito no mesmo instante – Podemos entrar para vê-lo, mas só duas pessoas por vez – seus olhos se fixaram em Aaron e Rebecca percebeu que ela o estava convidando para ir primeiro, então, retirou os braços da cintura dele e se afastou um passo para que ele pudesse seguir a mãe.

Aaron não fez isso de imediato. Ele ainda a encarou por um breve instante, como se ponderasse se aquela seria ou não uma boa ideia, mas finalmente desistiu de pensar a respeito e depositou um beijo na testa de Rebecca, antes de passar pela porta da ala hospitalar que Briana mantinha aberta.

– Você vai querer entrar depois dele, Joseph? – a mulher perguntou como se já soubesse a resposta e, confirmando suas suspeitas, Joseph apenas balançou a cabeça e se ajeitou um pouco melhor em sua cadeira.

– Não. – respondeu e voltou a beber seu café, enquanto Briana lhe virava as costas e seguia com Aaron pelo corredor.

Era até esquisito ver como a relação que ambos os garotos tinham com Christopher era diferente, tendo em vista que o parentesco entre eles era o mesmo. Enquanto Aaron estava quase morrendo de preocupação com o estado de saúde do meio irmão, Joseph parecia não sentir absolutamente nada em relação àquilo, fosse algo bom ou ruim. Não era como se ele odiasse Christopher e a mãe de Aaron com toda a força de seu ser, como Aaron já havia lhe contado antes. Era realmente como se ele não sentisse nada por eles, nem amor, nem ódio, nem compaixão, nem empatia. Como se eles não existissem em sua vida. Simples assim.

Esfregando os braços por causa do calafrio que percorreu seu corpo de repente, Rebecca voltou a se sentar na cadeira ao lado de Margareth, ganhando um abraço repleto de consolo da tutora. Ela resistiu o quanto pode à vontade de olhar para trás e verificar se Joseph não a estava encarando com um olhar assassino, mas, quando finalmente se rendeu, percebeu que ele não a estava encarando de modo algum. Os olhos azuis de Joseph estavam concentrados na placa de pedido de silêncio na parede do hospital e, se ele sequer percebeu que Rebecca o estava observando, não demonstrou. Parecia que tanto Rebecca quanto Margareth também não existiam para ele.

***

Enquanto seguia os passos da mãe pelo corredor que levava ao quarto de Christopher, Aaron não sabia realmente se queria entrar ali com ela. Já tinha plena certeza de que a mãe finalmente lhe contaria o que havia de errado com o irmão, mas não tinha certeza se queria realmente saber do que se tratava. Seu estômago parecia ter virado pedra dentro de seu corpo, ao passo que nem aquele famoso frio na barriga ele conseguia sentir mais, de tão entorpecido que estava, mas sua vontade de dar uma olhada no rosto de Christopher e constatar que ele, de fato, estava vivo falava mais alto.

Conforme a mãe o havia alertado, Christopher estava sedado e os monitores aos quais seu corpo estava conectado ressoavam com alguns bips, mostrando que tudo parecia estar certo ali. Aaron poderia ter se deixado reconfortar por esse fato, mas o simples fato de haver aparelhos ali e de uma agulha intravenosa estar espetada no braço do irmão caçula já o deixava preocupado. Não haveria aparelhos ali se seu problema não fosse grave, haveria?

Sua mãe lhe indicou uma das cadeiras ao lado da cama hospitalar confortável sobre a qual Christopher estava, mas Aaron preferiu não se sentar. Em vez disso, se aproximou do irmão e tocou seu rosto, que parecia bem mais pálido que da última vez em que o vira, debatendo-se no chão do quarto.

– Acho que você está esperando por uma explicação. – sua mãe murmurou em um tom de voz tão baixo que Aaron quase não a escutou. Ele não sabia se ela estava falando daquele jeito porque era uma exigência do hospital, para não perturbar os pacientes, ou se era apenas porque ela já não tinha mais forças.

– Não tenho certeza se eu realmente quero ouvir uma explicação. – Aaron respondeu com toda a sinceridade que tinha.

Sua mãe assentiu.

– Eu entendo o que quer dizer.

O silêncio pareceu ecoar mais alto que qualquer outro som que Aaron já tinha ouvido antes, tendo-se em vista que não havia nada para ouvir realmente e, sem conseguir adiar aquilo por mais um minuto que fosse, ele resolveu que já estava na hora de deixar de ser tão covarde e realmente escutar o que a mãe tinha a dizer.

– É muito ruim? – aquela era pergunta que vinha corroendo-o há horas, desde que havia entrado naquela ambulância com Christopher até aquele momento. Se a resposta fosse “não”, sabia que jamais se sentiria tão aliviado quanto naquele momento, mas se a resposta fosse positiva, não sabia se conseguiria se manter de pé.

– Antes de qualquer coisa, eu quero que saiba que eu quis te contar. – Briana explicou – Peguei o telefone várias vezes e pensei em te ligar, mas…

– Só responda à droga da minha pergunta. – Aaron a cortou de maneira fria – É muito ruim?

– É. – sua mãe confirmou com um leve aceno e, de repente, aquele quarto pareceu pequeno demais.

Aaron não sabia se queria ouvir o resto da história. Saber que era algo grave já era terrível o suficiente, mas ele não conseguiria conviver consigo mesmo se não soubesse de mais, se não tivesse plena certeza do que Christopher tinha.

– Ele vai morrer? – foi o que acabou perguntando em vez disso e podia sentir as lágrimas se acumulando em seus olhos, prontas para se libertarem a qualquer instante, caso ele se distraísse.

– Eu não sei. – sua mãe respondeu com sinceridade e ele sentiu quando ela tentou depositar a mão sobre a dele, mas a afastou dali rapidamente. Não queria que ela o tocasse agora. Não sabia se algum dia iria querer que ela o tocasse de novo. Sua mãe pareceu entender o recado. – Há cerca de três meses o Christopher começou a sentir dores de cabeça – ela voltou a explicar – Eu o levei ao médico e ele fez alguns exames, tomografias e coisas assim. Os médicos descobriram que ele tinha um pequeno tumor na região do gânglio basal.

Aaron sentiu seus dedos se fecharem ao redor da pequena grade ao lado da cama de Christopher, apertando-a com força.

– Está me dizendo que o meu irmão tem um tumor no cérebro e que você não me contou nada?

– Eu pensei em contar. – ela se defendeu – Quando os médicos descobriram, eu pensei em ligar para você e avisar, mas o Christopher me pediu para não dizer nada.

– O Christopher te pediu? – Aaron nem conseguia olhar para ela – Ele tem quatorze anos, mãe. É praticamente uma criança e você acha que ele pode tomar uma decisão como essa? É você quem é a mãe dele, caramba.

– Mas essa é a vida dele. – Briana retrucou – Ele não queria que você soubesse, porque achava que você já tinha enfrentado coisas ruins demais. Seu irmão não é bobo, Aaron. Ele podia nem ter nascido quando o seu pai... Quando o Anthony... – ela não conseguiu dizer as palavras, então, continuou o raciocínio sem isso – Ele sabe o quanto a morte do seu pai foi difícil para você. Não queria te fazer sofrer ainda mais com essa notícia.

– Ele não tinha o direito de esconder isso de mim. – Aaron finalmente olhou para ela – Nenhum dos dois tinha. Alguém deveria ter me dito alguma coisa.

– E você teria feito o que? – Briana o encarou como se suplicasse para que ele compreendesse as suas decisões – Isso não é como defendê-lo de um grupinho de valentões na escola ou como não deixá-lo cair enquanto você o ensina a andar de bicicleta, Aaron. Eu fiz tudo o que pude fazer. Eu o levei aos melhores hospitais, fiz todos os exames possíveis. Não há nada que você pudesse ter feito que eu já não tenha feito por ele, você entende?

De certa forma, Aaron até entendia, mas a mágoa por sua mãe não ter lhe contado algo tão importante o impedia de concordar com ela.

– E agora? – foi tudo o que ele conseguiu perguntar.

Sua mãe suspirou.

– Quando descobrimos o nódulo, os médicos preferiram não operar. – ela continuou – Ele é pequeno, mas está localizado em uma área complicada e seria difícil retirá-lo sem causar alguma sequela, então, eles optaram pela radioterapia. É um tratamento agressivo, mas o Christopher fez duas sessões e a resposta dele ao tratamento foi bastante satisfatória. O tumor regrediu bastante e foi por isso que eu permiti que ele fosse a essa viagem à França que sua turma faria essa semana. Porque ele estava se sentindo muito melhor e ele ficou insistindo que queria ir. Mal sabia eu que ele estava apenas mentindo para poder vir atrás de você.

– Tem certeza de que ele estava se sentindo melhor? Se ele realmente estivesse bem ele não estaria nesse hospital agora, estaria? Você não disse que a radioterapia estava funcionando?

– E estava. – Briana confirmou – Eu realmente não sei dizer o que aconteceu. Os médicos fizeram novas tomografias aqui e constataram que o nódulo voltou a crescer. Foi por isso que ele teve aquela convulsão. Porque o tumor está localizado em uma área do cérebro que é responsável pelas funções motoras e pela fala e... – ela não conseguiu terminar a explicação. Seu rosto estava totalmente tomado pelas lágrimas e um soluço sôfrego escapou por seus lábios, fazendo com que Aaron chegasse a ter vontade de abraçá-la para reconfortá-la diante de toda aquela situação, mas essa vontade passou tão rápido quanto surgiu e ele não moveu um só músculo.

– Se a radioterapia não deu certo o que mais os médicos podem fazer por ele? – Aaron quis saber – Quimioterapia? Algum tratamento à base de remédios naturais? Tem que ter alguma coisa, certo? Essa não é a única solução.

– A única alternativa agora é a cirurgia. – ela respondeu com tristeza – É arriscada, mas os médicos acham que há chances significativas dela ser bem sucedida, então, talvez ele não fique com nenhuma sequela e... Aaron! – ela o chamou quando ele se desviou dela e seguiu para fora do quarto.

Ele não conseguia mais ouvir coisa alguma. Não conseguia ficar ali enquanto sua mãe lhe dava uma péssima notícia atrás da outra. Enquanto ela lhe dizia que seu irmão – que tinha apenas quatorze anos! – talvez não morresse ou não ficasse com algum tipo de sequela após a droga de uma cirurgia. Aaron nem conseguia pensar sobre aquilo. Ele só queria ir o mais longe possível daquele quarto, como se ao se afastar da mãe, as coisas fossem voltar a ter um pouco de normalidade, voltar a fazer algum sentido para ele.

Ele saiu da ala hospitalar e atravessou o saguão do hospital sem nem parar para falar com Rebecca, que o encarou assustada quando ele passou. Será que ele estava chorando? Sinceramente ele nem sabia, mas se estivesse também não se importava. Só diminui o passo quando chegou do lado de fora do hospital e sentiu o ar frio da noite preencher seus pulmões. Achou que ali finalmente estava livre, mas sua mãe o alcançou novamente e tentou segurá-lo pela mão, forçando-o a afastá-la com severidade.

– Não encosta em mim. – Aaron gritou para ela, mas ele nem sabia se estava mesmo gritando. Sua mente estava tão confusa que sua voz podia não ter sido mais que um sussurro, mas pareceu ecoar dentro dele tão alto quanto um rugido.

– Aaron...

– Você não tinha o direito de me esconder algo assim. – ele se ouviu reclamar em meio a toda a bagunça que havia em sua cabeça – Nenhum de vocês dois tinha. Eu precisava saber, caramba! Alguém tinha que ter me dito!

– Aaron. – dessa vez foi a voz preocupada de Rebecca que se fez ouvir, mas ele não estava disposto a escutar coisa alguma naquele instante.

– Ele não é só o seu filho, você entendeu? Ele também é meu irmão. Você sabe o quanto ele é importante para mim e você não me disse nada, mãe! Três meses! – ele se ouviu gritar novamente – Ele está doente há três meses e eu não sabia de nada! Quando você ia me contar sobre isso? Quando ele morresse?! Era aí que você finalmente ia perceber que deveria ter me contado antes?!

– Aaron! – ele sentiu Rebecca abraçá-lo pela cintura – Por favor, fica calmo.

– Ele está morrendo. – ele finalmente sentiu a dor consumindo-o por inteiro e nem o fato de Rebecca estar segurando-o foi suficiente para impedi-lo de desabar de joelhos no estacionamento – Eu não sei o que fazer.

– Meu filho...

– Fica. Longe. De. Mim. – Aaron a alertou novamente e isso foi o que bastou para que Margareth tomasse partido da situação e segurasse Briana pelos ombros conduzindo-a para longe dali, enquanto Rebecca se abaixava perto de Aaron, tentando-o confortá-lo de alguma forma.

Por um longo instante ela não conseguiu dizer absolutamente nada. Apenas ficou ali no chão, sentada ao lado dele, sem saber o que fazer. Não sabia exatamente o que Christopher tinha, mas pelo que conseguiu apreender da discussão, era algo grave e ela estava dividida entre o próprio medo da situação e a necessidade de dizer a Aaron que tudo ficaria bem.

– Quer conversar sobre isso? – foi tudo o que ela conseguiu dizer, quando o silêncio finalmente se tornou insuportável e ela tomou coragem para segurar as mãos de Aaron e fazê-lo se levantar.

Ele apenas sacudiu a cabeça dizendo que não.

– Tudo bem. – Rebecca o abraçou e apoiou a cabeça em seu peito – Quando quiser conversar, eu estarei aqui. Só não se fecha para mim, tá bom?

Aaron apenas assentiu.

Eles ficaram ali fora, abraçados, pelo que pareceu uma eternidade, até que Margareth saiu para avisar a Rebecca que estava indo embora e para perguntar se ela iria junto. Já passava da meia noite e Rebecca tinha plena consciência de que, na manhã seguinte, tinha que entregar um trabalho que ela ainda nem tinha terminado, mas ainda assim ela não estava disposta a sair dali. Se reprovasse, receberia uma bronca dos pais, mas poderia fazer a matéria novamente no próximo semestre e tudo ficaria bem. Se fosse embora agora, ela não se perdoaria jamais por ter deixado Aaron sozinho em um momento como aquele.

– Eu vou ficar aqui. – ela avisou e se afastou de Aaron apenas o suficiente para perguntar: – A Sra. Hamilton está bem?

Margareth assentiu levemente.

– Está triste pelo fato de um filho estar no hospital e o outro não querer nem olhar para ela, mas está bem. – Margareth lançou um rápido olhar para Aaron e, depois, se voltou para Rebecca – Me mantenha informada sobre o estado do Christopher e tenha cuidado com aquele outro garoto. – ela meneou a cabeça, referindo-se a Joseph – Tem algo de muito errado com ele.

– Eu sei. – Rebecca a abraçou e, então, Margareth seguiu para o táxi que ela já havia chamado previamente.

Podia ser quase uma hora da manhã, mas Rebecca sabia que a noite ainda seria muito, muito longa.


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Notas finais do capítulo

Então... vocês finalmente conheceram a Sra. Briana... O que vocês têm a me dizer sobre ela? Já vimos que a relação dela com o Aaron está indo de mal a pior, né? E a do Aaron com o Joseph, então? Aliás o que vocês acharam dele? E ainda tem o Christopher coitado... É muita tragédia para um único capítulo. Vocês devem estar querendo me matar.
De qualquer forma, espero que tenham gostado do capítulo (até onde é possível gostar) e que tenham gostado de conhecer os novos personagens. Aliás, vem mais personagem novo por aí, daqui há uns dois capítulos e também vem mais treta. Se segura!
Beijocas e até o próximo capítulo e agora deixem eu voltar aos reviews XD



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