Wake Me Up escrita por Rhyenx Seiryu


Capítulo 15
Quando os Demônios Choram


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo.
Prontos para mais um capítulo? Se sim, então aproveitem XD
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/406674/chapter/15

Rebecca bateu à porta do novo apartamento de Margareth no domingo à tarde. Na noite anterior, depois de passar um tempo com Vlad – seu, agora, namorado – havia ligado para Margareth, como prometido, para pegar seu endereço e aproveitou para marcar a visita.

Ainda não tinha contado sobre o pedido de namoro de Vlad para ninguém além de Cadence – que pareceu mais feliz que ela própria quando soube da novidade – e, enquanto esperava que Margareth abrisse a porta, imaginava qual seria sua reação quando contasse.

Margareth abriu a porta sorridente, encontrando uma Rebecca ainda mais sorridente do outro lado, que pulou sobre ela apertando-a em um forte abraço.

– Maggie! – ela exclamou depositando um beijo barulhento no rosto de Margareth, pegando-a de surpresa.

– O que é isso, Rebecca? – Margareth sorriu – Está pior que o Ty. Vamos, entre logo.

Assim que Rebecca a soltou e entrou no apartamento, Margareth fechou a porta e se virou para ela, com um largo sorriso.

– O que achou? É um belo apartamento, não é? – perguntou.

Rebecca olhou ao redor, assentindo.

– Meus pais têm bom gosto para imóveis.

– Têm mesmo. – Margareth concordou, puxando Rebecca pela mão – Venha, vou te mostrar o restante.

Margareth levou Rebecca para um pequeno tour pelo apartamento, mostrando-lhe todos os cômodos do imóvel. O apartamento havia sido alugado juntamente com a mobília que havia nele, mas Margareth havia comprado alguns objetos para decorá-lo, já que aquela seria sua casa pelos próximos quatro anos. Ela já havia instalado porta-retratos com fotos de sua própria família e da família de Rebecca por todos os lugares, além de quadros, vasos de plantas, pequenos anjos de porcelana, uma verdadeira coleção de canecas decoradas e outros tipos de enfeite, que fez questão de mostrar para Rebecca.

Margareth costumava dizer que um lugar só se tornava o lar de alguém quando adquiria a personalidade da pessoa, então, lá estava ela dando ao seu novo apartamento sua personalidade e Rebecca sorriu ao ver que o apartamento, agora, se parecia muito com o quarto que Margareth tinha em sua casa.

– Acho que vou comprar uma bela toalha de mesa que vi em uma loja um dia desses e substituir essa. – disse Margareth quando ela e Rebecca chegaram à cozinha – Essa toalha aqui é horrível.

– É verdade. – Rebecca fez uma careta para a toalha de mesa florida que havia ali – É totalmente fora de moda.

– Com certeza. – Margareth concordou – Você já almoçou?

– Ainda não.

– Ah, que ótimo. – ela disse satisfeita por poder entupir Rebecca de comida – Vou preparar um almoço especial para nós. Sinta-se a vontade para assistir TV enquanto isso.

– Agora não. – Rebecca segurou a mão dela e a puxou para perto, sentando-se à mesa da cozinha – Tenho uma novidade para te contar antes.

– Novidade? – Margareth franziu a testa para ela e Rebecca não soube dizer se aquilo exprimia apenas curiosidade ou se também exprimiu certa preocupação – Que novidade?

– Bem, você sabe que ontem eu fui ao cinema com o Vlad, não é? – Rebecca começou e Margareth assentiu com um breve aceno, sentando-se à mesa também para prestar mais atenção ao que ela lhe contaria – Então, depois de ir ao cinema, o Vlad me levou a um restaurante próximo dali para que pudéssemos jantar e, quando voltamos para a universidade, ele... Ele me pediu em namoro e eu... Aceitei. – Rebecca contou com um sorriso.

Margareth levantou-se da mesa com um salto.

– O que?! – exclamou de olhos arregalados.

Rebecca olhou para ela assustada. Não soube dizer se ela estava contente, em choque ou se não tinha gostado da novidade, então, apenas abriu um sorrisinho amarelo para Margareth, desejando que estivesse enganada quanto ao fato de achar que Margareth não tinha gostado do que havia acabado de lhe contar.

– Eu disse que o Vlad me pediu em namoro ontem e que eu aceitei. – Rebecca repetiu baixinho.

– Sim eu ouvi. – disse Margareth descartando sua explicação com um aceno rápido – Foi apenas uma pergunta retórica, Rebecca. É que você me pegou de surpresa.

Margareth abriu um sorriso e Rebecca respirou aliviada, feliz por saber que realmente havia se enganado em pensar que Margareth não tinha gostado da notícia.

– Desculpe. – Rebecca sorriu também – É que a sua reação me assustou. Por um minuto achei que não tivesse gostado de saber que estou namorando...

– Está brincando?! – Margareth a interrompeu – É uma ótima notícia!

– Você acha mesmo? – Rebecca perguntou animada.

– Claro que sim! Ah, meu Deus, Becca! Você está namorando! – Margareth a envolveu em um forte abraço.

– Pois é. – Rebecca retribuiu ao abraço com um sorriso que ia de orelha a orelha – Eu estou tão feliz, Margareth! Eu nunca achei que ia ficar tão feliz na minha vida.

– Eu estou ainda mais feliz por você, minha pequena. O Vlad me pareceu um bom garoto e é maravilhoso saber que estão finalmente namorando.

– O Vlad é um garoto muito legal. – Rebecca concordou – Eu realmente gosto muito dele e acho que ele também gosta mesmo de mim.

Margareth a abraçou com força outra vez.

– Minha garotinha está namorando. – ela cantarolou agarrada a Rebecca – Mal posso acreditar nisso.

– Eu também quase não pude acreditar quando ele me pediu em namoro ontem. – disse Rebecca, quase sufocando por causa do abraço forte de Margareth – Acredite, eu praticamente nem dormi essa noite. Fiquei sonhando acordada por um tempão.

– Eu imagino. – disse Margareth, finalmente soltando-a – Lembro-me muito bem que quando comecei a namorar o Francis eu quase não consegui dormir por uma semana.

Rebecca riu.

– Meu Deus! Uma semana é muito tempo, Margareth!

– Não é, não. – Margareth respondeu – Naquele tempo, quase ninguém se casava por amor, Rebecca. Geralmente quem escolhia o namorado e futuro marido dos filhos eram os pais, mas eu gostava do Francis desde que éramos crianças e, quando os meus pais concordaram em nos deixar namorar, foi como se eu estivesse sonhando. – ela sorriu – Acredite quando eu digo que, quando você realmente gosta da pessoa, uma semana é o mesmo que cinco minutos. Você só consegue pensar nela e nem percebe o tempo passar.

–Acho que estou me sentindo mais ou menos assim agora, mas espero não ficar acordada por uma semana. – Rebecca riu.

Ela olhou para Margareth por um breve momento e logo o sorriso que havia em seus lábios morreu, fazendo Margareth olhá-la com preocupação.

– O que foi, Becca? – Margareth perguntou aproximando-se dela.

– Agora que você me falou sobre como eram os pais que escolhiam os pretendentes dos filhos antigamente, eu me Lembrei dos meus pais. – Rebecca explicou de forma triste – Eles ainda não sabem do meu namoro e acho pouco provável que eles o aprovem quando souberem.

Margareth olhou para ela retribuindo seu olhar. Conhecendo Benjamin e Samantha como conhecia, sabia que Rebecca estava certa em ficar triste. Seus pais eram protetores ao extremo, ainda mais quando se tratava de um possível namoro. Na mente deles, Rebecca era como um diamante que eles poderiam entregar apenas a quem merecesse. O problema é que eles achavam que ninguém, algum dia, mereceria.

– Não precisamos contar nada a eles agora. – disse Margareth segurando a mão de Rebecca de forma terna – Apenas curta o seu namoro. Depois encontraremos uma maneira de convencer seus pais a deixá-la namorar.

– E se não conseguirmos convencê-los? – Rebecca perguntou receosa – E se eles quiserem me separar do Vlad.

– Não pense nisso agora. Eu acharei um jeito de convencê-los. Prometo!

Rebecca abriu um pequeno sorriso para Margareth e a abraçou com força.

– Obrigada, Maggie. Não sei o que eu faria sem você em minha vida.

– Não precisa agradecer, Rebecca. Você sabe muito bem que você e seus irmãos são como filhos para mim. Principalmente você e o Ty. Sempre farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-los.

– Eu acho que você era quem devia ser nossa mãe de verdade e tenho certeza que o Ty também pensa assim.

– De certa forma eu já sou. – disse Margareth com um sorriso – Afinal, fui eu quem trocou todas as suas fraldas quando vocês eram bebês.

– Ai, minha nossa! Podia ter guardado essa, Margareth. – disse Rebecca rindo.

– Podia, sim, mas preferi deixar isso bem claro. – Margareth soltou Rebecca – Vou fazer uma bela macarronada à bolonhesa para comemorar o seu namoro com o Vlad. O que você acha?

– Com queijo parmesão por cima? – perguntou Rebecca contente.

– Com muito queijo parmesão por cima. – disse Margareth apertando suas bochechas.

Rebecca deu um pequeno beijo no rosto de Margareth e saiu da cozinha para deixá-la preparar o almoço com calma. Aproveitou para dar mais uma olhada no apartamento, começando pela bela decoração que havia na sala e depois se dirigindo até a janela para olhar a paisagem.

O apartamento de Margareth ficava no 9º andar do prédio e, dali, Rebecca conseguia ver parte do bairro, incluindo a Oxford High School – a bela escola de ensino médio de Oxford – à sua esquerda e conseguia divisar uma parte do grande rio Cherwell à sua direita. A sua frente, não havia muito para olhar além da coleção de grandes janelas de vidro do prédio vizinho, que mais pareciam paredes devido ao tamanho.

Rebecca deu uma rápida olhada nelas, admirando a beleza de alguns apartamentos que estavam com as cortinhas abertas e, já estava virando-se para explorar de novo o restante do apartamento de Margareth, quando a cortina de outro apartamento ali foi aberta com brutalidade. O gesto chamou sua atenção e ela se inclinou um pouco mais na janela para observar melhor.

O apartamento era amplo e bem decorado e, de onde estava, ela conseguia ver boa parte da sala, que continha um grande sofá branco de aparência confortável, uma mesinha de centro feita de vidro onde havia um pequeno arranjo de flores, um tapete também branco e uma pequena estante com TV, vídeo game e outro aparelhos eletrônicos.

O homem que havia aberto as cortinas usava um terno preto bem alinhado e tinha os cabelos negros e lisos perfeitamente penteados para trás, mas permaneceu parado de costas para a janela impossibilitando que Rebecca visse seu rosto.

Observou-o por alguns instantes, já se perguntando por que estava espionando o apartamento dos outros – algo que achava o cúmulo da indiscrição – quando outra pessoa entrou em seu campo de visão e sentou-se no sofá, parecendo muito interessada em observar a paisagem que havia através da janela.

Rebecca olhou para o apartamento arregalando os olhos por causa do choque e teve de esfregá-los três vezes antes de conseguir acreditar no que via quando se deparou com a conhecida figura de Aaron ali.

Ele usava uma camiseta branca simples e uma bermuda preta e havia alguns hematomas roxos espalhados por seu rosto, que certamente eram um resultado da briga que tivera com Vlad na festa.

Rebecca quase sorriu com aquela terrível coincidência que era o fato de Margareth ter justamente se mudado para um prédio que era vizinho ao dele e de onde ela podia vê-lo tão perfeitamente daquela forma. Tinha que fugir tanto de Aaron na universidade e agora correria o risco de encontrá-lo sempre que viesse visitar Margareth, então só podia pensar em duas coisas: ou o mundo era muito pequeno ou seu azar era muito grande. E por seu histórico, achava que a segunda opção era a mais viável.

No prédio vizinho, Aaron e o homem pareciam conversar, mas pela cara com que Aaron encarava a janela a sua frente ficou claro para Rebecca que ele não estava gostando da conversa e que parecia gostar menos a cada minuto que se passava porque sua expressão de completo tédio foi, aos poucos, se transformando em uma expressão de fúria, e então Aaron se colocou de pé, cerrando os punhos para o homem a sua frente.

Rebecca logo se pôs a imaginar que tipo de coisa Aaron poderia ter feito dessa vez, afinal, já tinha uma grande experiência com suas atitudes para saber que sempre que Aaron discutia com alguém era porque ele próprio havia aprontado alguma.

Estava justamente cogitando as possíveis hipóteses para aquela discussão, quando o homem agarrou Aaron pela gola da camiseta, fazendo-a abandonar seus pensamentos rapidamente.

Aaron se afastou do homem e pareceu gritar alguma coisa para ele, que se aproximou novamente e o encarou com um sorriso por um pequeno instante, antes de desferir um forte tapa em seu rosto que logo foi acompanhado por outro, o que fez Rebecca soltar um grito baixo e abafado e levar as mãos à boca assustada com toda aquela cena.

Antes que o homem pudesse atingi-lo com um terceiro tapa, Aaron segurou sua mão e o encarou furioso. Eles trocaram mais algumas palavras – as quais Rebecca poderia apostar que eram ofensivas – e depois o homem se afastou de Aaron sumindo do campo de visão de Rebecca, que se inclinou um pouco mais na janela do apartamento de Margareth tentando encontrá-lo sem sucesso.

Ela observou enquanto Aaron permaneceu parado onde estava, apenas encarando o local para onde o homem havia se dirigido, algo que era uma atitude estranha de sua parte, já que Rebecca o conhecia o suficiente para saber que ele jamais deixaria aquela discussão terminar daquela forma.

Aaron era egocêntrico e adorava ser aquele que dizia a última palavra em tudo. A atitude que Rebecca esperaria dele naquele momento, era que ele corresse atrás do homem para tirar satisfações ou para retribuir os tapas que havia ganhado, afinal, era assim que Aaron Greed agia. Entretanto, Aaron apenas continuou parado onde estava. Não deu um único passo para lugar algum do apartamento e, um tempo depois, ergueu uma das mãos e tocou o próprio rosto devagar, olhando descrente para sua mão em seguida.

Rebecca concentrou-se um pouco mais nele e então percebeu que ele não havia apenas tocado o rosto. Aaron estava chorando e aquele gesto fora feito para secar as lágrimas que brotavam em seus olhos, o que a deixou ainda mais intrigada.

Daquela distância Rebecca não era capaz de ver as lágrimas no rosto de Aaron, mas só de olhá-lo podia ter certeza de que elas estavam ali e sentiu um estranho peso apoderar-se de seu peito ao ver aquilo.

Jamais esperava que algum dia fosse ver Aaron Greed chorar – mesmo que fosse à distância e que ela não tivesse plena certeza de que era aquilo mesmo que estava acontecendo naquela ocasião. Para Rebecca, Aaron era como um demônio sem sentimentos que apenas se alegrava ao ver o sofrimento dos outros. E, como qualquer demônio, ela nunca imaginou que Aaron fosse capaz de derramar uma lágrima sequer, mas ali estava ele, contrariando todas as suas suposições de uma forma que ela nunca havia imaginado que aconteceria.

Aaron era um idiota, era verdade, mas ninguém que visse aquela cena poderia negar que ele parecia estar sofrendo e, por pior que ele fosse, Rebecca não pode deixar de sentir certa tristeza por ele.

Observou-o por mais alguns instantes, sentindo uma estranha e súbita vontade de chamá-lo e dizer a ele que tudo ficaria bem e que ele não precisava chorar, mas sabia muito bem que, pelo fato de suas janelas estarem fechadas e pela distância entre o apartamento dele e o de Margareth, mesmo que ela o chamasse ele não a ouviria.

Ainda estava pensando nisso quando Aaron, finalmente, se moveu em seu apartamento. Ele se dirigiu até a mesinha de vidro no centro da sala e, como um chute, a fez se partir em milhares de pedaços, deixando Rebecca horrorizada. Logo depois Aaron fez o mesmo com o restante dos móveis e objetos de sua sala, destruindo tudo ali com uma fúria que Rebecca nunca tinha presenciado antes.

– Em dez minutos nosso almoço ficará pronto. – disse Margareth entrando na sala de repente e fazendo Rebecca soltar um grito por ter sido pega de surpresa daquela forma. Assustada, Margareth levou a mão ao peito e praticamente pulou um passo para trás – O que foi? – ela perguntou olhando ao redor, nervosa, como se procurasse algum bicho ou algum invasor pelo apartamento.

– Puxa vida, Margareth! Que mania irritante de aparecer assim, de repente, como se fosse um fantasma. – Rebecca gritou, fechando rapidamente a cortina da janela e afastando-se de lá – Porque você não avisa que está chegando?

Margareth olhou para ela sem entender o motivo de todo o seu sobressalto.

– Avisar como? – perguntou confusa – E que diabos você estava olhando aí para se assustar assim comigo?

– Nada demais. – Rebecca mentiu, sentando-se no sofá – Estava apenas olhando o rio Cherwell e me distraí. Por isso me assustei quando você chegou.

– É mesmo? Estava apenas olhando o rio Cherwell? – Perguntou Margareth descrente.

– Sim, eu estava. – Rebecca afirmou – Dá para vê-lo um pouco aqui do seu apartamento.

Margareth dirigiu-se até a janela e abriu a cortina

– Onde? – perguntou encarando Rebecca.

Rebecca levantou-se, agradecendo mentalmente por ter inventado uma desculpa que pudesse usar de verdade e aproximou-se de Margareth apontando à direita para o pequeno risco azul e brilhante que era o rio Cherwell àquela distância.

– Viu só? – ela olhou para Margareth – Acredita agora?

– Tudo bem. – disse Margareth sorrindo – Acredito em você. Mas ainda estou me perguntando como conseguiu se distrair tanto ao ponto de se assustar daquele jeito. Você quase me fez ter um infarto.

– Não seja dramática e você sabe que eu me distraio fácil. – Rebecca se defendeu.

– Sim, eu sei. – Margareth voltou a olhar pela janela – Esse rio passa bem ao lado do St. Hilda’s também, não é?

Rebecca assentiu.

– Acho que ele corta a cidade inteira. – disse sem olhar para Margareth.

Sua atenção estava voltada para o apartamento de Aaron onde praticamente todos os móveis e objetos da sala estavam quebrados ou espalhados pelo chão. Aaron, porém, já não estava mais a vista, mas Rebecca não teve muito tempo para tentar procurá-lo porque Margareth fechou a cortina novamente e virou-se para ela com um sorriso no rosto.

– Sabia que ontem mesmo eu olhei por essa janela e não vi o rio. – disse ela – Engraçado como parece que só prestamos atenção naquilo que queremos ver, não é?

– É. – Rebecca respondeu apenas.

Margareth olhou para ela preocupada.

– Tudo bem com você? Está tão estranha, Rebecca.

– Estou bem. Só... Estou pensando naquele assunto dos meus pais. – Rebecca mentiu novamente.

Por um motivo que ainda não conseguia entender bem, não queria que Margareth soubesse da cena que havia acabado de presenciar no apartamento de Aaron e preferia guardar tudo para si, pelo menos por enquanto.

– Já disse para não ficar pensando nisso. – Margareth a abraçou e a guiou em direção à cozinha – Venha, vamos ver se a macarronada está pronta.

Elas esperaram mais alguns minutos até o macarrão ficar totalmente cozido e, depois de ajudar Margareth a colocar o molho sobre ele, Rebecca se sentou a mesa com um prato de macarronada a sua frente, que Margareth logo cobriu com uma grande quantidade de queijo parmesão.

Aquela era a comida favorita de Rebecca, mas naquele momento sua mente estava tão voltada para a cena que presenciara minutos antes no apartamento de Aaron que ela mal conseguiu reparar na refeição a sua frente e comeu em silêncio, apenas assentindo ou dando respostas curtas quando Margareth dizia alguma coisa e, apesar de ter reparado em sua estranha atitude, Margareth nada disse por que achava que Rebecca ainda estava incomodada com a ideia de seus pais não aprovarem seu namoro com Vlad.

Depois do almoço, elas assistiram um pouco de TV e por volta das seis horas da tarde, Margareth acompanhou Rebecca até a porta do edifício onde um táxi que já havia sido previamente chamado a aguardava para levá-la de volta a universidade.

Rebecca se despediu de Margareth com um beijo e deu uma ultima olhada para o prédio onde o ficava o apartamento de Aaron antes de entrar no táxi. Por todo o caminho até Universidade de Oxford não conseguiu parar de pensar em toda a briga que assistira. Ver Aaron apanhar daquela forma, tinha sido totalmente diferente de vê-lo apanhar de Vlad na festa de boas vindas.

Com Vlad Aaron tinha revidado e, no fim, a briga dos dois não tinha sido muito diferente das brigas de colegial que costumava se ver nos filmes juvenis, mas com aquele homem – que sem dúvidas era mais fraco que Aaron – tudo tinha sido muito estranho. Aaron não havia feito nada para impedir a agressão e isso apenas fazia Rebecca pensar que havia muito mais coisa envolvida ali, que um simples desentendimento.

Tudo aquilo a deixara intrigada e curiosa e, agora, ela queria descobrir qual o motivo da briga e porque Aaron havia apanhado sem revidar nenhuma só vez, mas acima de tudo isso, queria descobrir quem era aquele homem que havia sido capaz de fazer Aaron Greed chorar como se ainda houvesse alguma humanidade por trás de sua alma gelada e perversa.

E ela faria o que pudesse para descobrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olha a Rebecca começando a se preocupar com o nosso garoto. E essa investigação que ela pretende fazer, hein? Onde será que isso tudo vai dar? Espero que tenham gostado e que continuem acompanhando ^^
Beijos e até o próximo.